_ Wilmer. – interrompi-o.
_ Não se pode sentir falta do que nunca se teve.
10
de dezembro de 2000
Poderia parecer um
momento mãe e filha como outro qualquer, ambas se arrumando no quarto e
conversando. Seria lindo se não fosse uma completa ilusão. Aquelas eram Diana e
Demetria Lovato, claro que as duas juntas não estariam se relacionando com
amor. Tudo bem que Demi estava fazendo o seu melhor para agradar a mãe, seus 8
anos de pura inocência ainda não a permitia enxergar o quão maligno aquele plano
que ela fora designada a cumprir era. Os pais necessitavam de Demi para poder
manter o nome da família limpa perante a sociedade e a impressa, e também para
poder destruir com a vida daquele que ousou a suja-la. Ela não sabia, mas
aquela seria a primeira vez de muitas, um ciclo de mentiras começaria ali. Um
ciclo, vicioso e destrutivo.
_Você entendeu bem o que
tem que dizer, não é? – perguntou Diana.
_
Mas isso é mentira. – protestou Demi.
_
Mas você terá que fazer com que pareça verdade. – disse Diana, enquanto
ajeitava o vestido que escolhera para a menina. Um vestidinho branco, com
delicados bordados de flores, na borda, combinada com um sapatinho de pequeno
salto branco e uma tiara também branca, que se destacava entre a os cabelos
lisos e pretos de Demi. Um verdadeiro anjinho.
_
Mas Maria me ensinou que não se deve mentir.
_
E você vai escutar Maria? Ela é apenas uma empregada, eu sou sua mãe, você me
deve obediência. – falou Diana, já irritada com Demi.
_
Mas...
_
Cale-se. – interrompeu. _ Apenas faça o que eu te disse para fazer e no final
você receberá o presente que você quiser, desde que siga todas as regras,
entendeu Demetria? – Demi calou-se. _ Então vamos repassar a historia. – disse
Diana, sentando Demi na cadeira de seu quarto e se pondo de pé frente a menina,
se a intensão foi intimida-la, sem duvidas havia conseguido. _ Se te
perguntarem o que você fez de errado, o que você responderá?
_
Que eu destruí todo o planejamento de trabalho dele enquanto brincava de tinta
em seu escritório. – respondeu a menina, já querendo chorar. Sua voz saia como
um fio e ela não conseguia olhar para a mãe, primeiro porque o olhar de Diana a
intimidava e depois porque estava envergonhada por mentir.
_
Se te perguntarem se a foto que saiu de seu pai lhe agredindo é verdade ou não,
o que você responderá?
_
Que é falsa, que meu pai nunca me agrediu, ele apenas brigou comigo e me pôs de
castigo.
_
Se te perguntarem sobre o machucado em seu braço?
_
Eu direi que foi culpa do nosso motorista.
_
E se perguntarem o que aconteceu com o motorista que lhe machucou e porque ele
te machucou?
_
Eu direi que ele era um péssimo motorista que ele sempre foi mal comigo, e que
eu sempre tive medo de contar para vocês o que ele fazia comigo e só agora
vocês o tinham descoberto e quando descobriram o despediram na hora.
_
Tem mais coisa...
_
Vocês ficaram chocados e muito preocupados comigo.
_
Mais...
_
Vocês me amam muito, jamais fariam ou desejariam mal a mim. – finalizou Demi.
Tudo
aquilo era mentira, nem mesmo chegava perto de ser verdade.
Eddie
em um dia de nervosismo se estressou com Demi, porque ela simplesmente lhe
queria mostrar um desenho que havia feito na escola. Eddie explodiu, gritou com
Demi e a agrediu fisicamente. Isso não era tão incomum assim, Eddie não tentava
se controlar e nem escondia suas agressões a Demi quando estava em sua casa.
Cansado de ter que presenciar tal covardia, Alexandre, motorista da casa,
secretamente tirou fotos do acontecido, logo aquelas fotos foram parar para
toda a imprensa. Eddie fora massacrado pelos jornalistas. Para limpar seu nome,
Eddie inventou toda uma história que pudesse justificar todo o acontecido, inclusive
a demissão de seu motorista.
As
caras feias direcionadas à Eddie não podiam ser despercebidas, todos estavam
com o mesmo pensamento, como um pai podia agredir uma menina daquela maneira?
Como
se tivesse previsto, os jornalistas fizeram as mesmas perguntas que Diana havia
feito Demi treinar para falar, poucas coisas foram mudadas e sempre que a
menina dava sinais de que ia gaguejar ou não sabia como responder, Diana
intervia e crescia a mentira.
Demi
chorou e quase não tinha olhado para câmera, sentia-se envergonhada e muitos
interpretaram aquilo como o medo que a menina tinha de seu motorista ou sua
timidez de menina pequena.
Alguns
acreditaram, muitos duvidaram, mas no fim o falatório mudou de “Eddie agrediu a
filha” para “A filha Lovato é agredida pelo motorista”.
Alexandre
nunca mais conseguiu um emprego descente...
(...)
_
Parabéns Demetria. Você fez do jeito que eu lhe pedi. – parabenizou Diana,
assim que retornaram a casa. _ Pode pedir o que você quiser. Eu e seu pai lhe
daremos o que você quiser. – Demi já não chorava mais, ainda estava triste, mas
já havia se acalmado, afinal aquele torturante interrogatório havia acabado.
Demi
pensou um pouco, dando tempo para que seu pai também entrasse na conversa, a
menina estava indecisa sobre o que pedir, afinal de contas ela tinha tudo, os
pais sempre a deram tudo, até mesmo o que ela não queria, menos um coisa...
_
Eu quero que vocês passem um dia todo comigo. – pediu, deixando que crescesse
uma animação em seu coração, imaginar-se tento um dia igual as das amigas, com
os pais, fazendo piquenique, indo ao shopping, assistir filme ou simplesmente
conversando, isso nunca foi possível com Demi, mas ela sempre quis.
_
Não. – disse Eddie, sem pensar duas vezes. _ Não tenho tempo para isso, não
agora. – O sorriso de Demi se desmanchou instantaneamente.
_
Talvez algum dia... – respondeu Diana, dando de ombros e deixando a filha
sozinha junto ao pai, que nem mesmo prestava atenção na menina, mas sim na
conversa que havia começado a ter no telefone.
_
Pai. – chamou Demi, com medo da reação do pai. _ Pai?
_
Espere um momentinho Demetria. – respondeu Eddie nervoso, com a intromissão de
Demi. Com medo de novamente ser agredida, Demi calou-se. _ Daqui a pouco eu te
dou atenção.
Esse
“daqui a pouco” nunca chegou...
Naquela
noite Demi choraria sozinha em seu quarto durante horas e prometeria ser forte
e não que não se curvaria tão fácil aos pais. Levou alguns anos para que
conseguisse cumprir sua promessa – pelo menos parte dela –. Não era de hoje que
Demi sofria com a rejeição dos pais, mesmo pequena sabia que eles não iriam
mudar, então por isso Demi decidiu mudar a si mesma.
Agora
Meu
dia já estava péssimo, mas era claro que iria piorar.
Novamente
fui despertada pelos enfermeiros de madrugada, mais torturantes seções de
fisioterapia, e como se já não fosse tristeza de mais para só um dia, pela
primeira vez, cumprindo uma promessa, lá estava ela, parada ao meu lado. Diana,
a mulher que se diz minha mãe, demonstrando todo o seu “amor”. O grande e falso
amor...
Ignorar
sempre foi a minha melhor tática, isso não é fácil, principalmente se a pessoa
na qual você esta tentando ignorar esta gritando bem ao seu lado. Se há uma
coisa que eu odeio na minha mãe é isso, ela nunca fala comigo normalmente, ela
sempre grita, a não ser, claro, quando ela precisa de um favor meu.
_
Você sempre dá um jeito de se superar, não é Demetria? – gritava Diana. Ela
andava de um lado para o outro do quarto em que eu estou internada, eu não
olhava diretamente para ela – o que a deixa mais irritada ainda -, mas de canto
de olho podia ver seu descontentamento e desespero. _ Você sempre esta fazendo
as coisas erradas, você nunca acerta nada, você quer destruir a nossa família!
– acusou-me. _ Demetria olha para mim! Escute-me! – gritou. Virei os olhos. _
Tudo tem um limite e você já ultrapassou a todos!... Demetria. Olha. Para. Mim.
– tornou a gritar, a contra gosto olhei-a. Fitamo-nos por um longo minuto, eu
podia ver o fogo da raiva em seu olhar sobre mim, ela estava pronta para
explodir... Eu só não sei se estava preparada para a explosão. _ Você faz ideia
de quanto custou aquele carro? – perguntou. Inacreditável. _ Você faz ideia de
que você destruiu um carro caríssimo? – continuava a me perguntar.
_
Ah desculpa, eu estou mais preocupada com minha perna, que eu não consigo
mover! – gritei em resposta.
_
Você esta assim porque quer. – gritou ela. Normal, nem um pouco de preocupação.
Eu estava fazendo fisioterapia, presa em uma cama de hospital e minha mãe
estava preocupada com um carro caro, como se ela não tivesse dinheiro o
suficiente para comprar toda a fábrica. _ Como você põe um carro daquele na mão
de um qualquer?
_
O Travis é meu amigo!
_
Amigo. Grande amigo esse seu, não sabe nem dirigir... Não, pior, ele estava
bêbado Demetria, bêbado!
_
Eu precisava voltar para casa, ok?
_
Porque você não chamou nosso motorista?
_
Talvez porque da última vez que eu fiz isso, você e o papai me xingaram falando
que os empregados da família não podiam me servir, já que eu não morava mais na
casa da família. – respondi aos gritos. Eu até poderia não ser inocente nesta
historia, mas ela também tem culpa no cartório, eu não vou carregar esta cruz
sozinha.
Diana
ficou me olhando, ela estava ofegante, ela, todavia não tinha despejado toda
sua raiva encima de mim, e sua raiva havia piorado após minha última resposta.
Ela odeia que a contradiga.
_
Sabe de uma coisa Demetria? Você é um erro. Você é o erro em pessoa. – disse
ela, agora ela não mais gritava, porém mostrava um nojo enorme, evidenciado
pela sua expressão. Eu me senti um lixo.
_
Aé? Então vai lá para sua filhinha exemplar, a Madison! – gritei, tentando me
defender. Meus olhos já ardiam.
_
A Madison é exemplar mesmo! – gritou de volta. _ Já você... Você não foi
planejada, não foi esperada e muito menos desejada... E olha no quê que deu?
Nisso!? Você não faz nada, uma inútil e ao invés de ficar quieta, não
atrapalhar, você vai lá e faz uma merda atrás da outra! Arrependo-me do dia que
eu resolvi deixar você viver! – gritou alto o suficiente para que todo o
hospital escutasse.
Eu
já tinha me acostumado com a rejeição, tanto por parte materna como por parte
paterna, os seus xingos e reclamações costumavam entrar por um ouvido e sair
pelo outro, já não me atingiam, porém nunca, em todas as humilhações que eu já
passei por parte deles, eu nunca passei por uma que fosse igual a essa.
Escutar
sua própria mãe dizendo que se arrepende de não ter te abortado ou matado, isso
é demais, até mesmo para mim que havia prometido a mim mesmo não me deixar
abalar por nada que eles dissessem.
_
Sai daqui! – gritei o mais alto que consegui. Ela se assustou com minha
agressividade. _ Sai! – gritei a pleno pulmões. _ Sai! – repeti, ela ficava me
olhando com cara de espanto. _ Sai! – peguei o travesseiro de minha maca e a
joguei, só aí ela reagiu.
_
Não destrua este quarto garota. – gritou ela.
_
Sai! – tornei a gritar. As lágrimas brotaram nos meus olhos e saíram
descontroladamente face a baixo. _ Sai! – eu já nem tinha mais força para
gritar, porém ainda sim continuei. _ Sai. – ela começou a se afastar à porta, e
no mesmo momento a porta abriu, enfermeiros entraram e vieram para cima de mim,
tentando me controlar. _ Sai! – pude gritar pela última vez, antes que ela
saísse do quarto correndo.
No
fundo eu acho que foi totalmente desnecessário, eu iria me controlar sozinha,
mas os enfermeiros me sedaram a força.
Quando
acordei, lá estava Maria, sentada a cadeira de visitas, ela, cansada, acabara
cochilando, toda sem jeito na cadeira.
_
Maria? – chamei-a com cuidado. _ Maria? – tornei a chama-la após um tempo. Só
aí ela começou a se despertar preguiçosamente.
_
Oh minha pequena Demi, você já se despertou. – disse, se recompondo. _ Eu nem
percebi que dormir.
_
Maria? – chamei-a, ela me olhou com seus olhos ternos, ela já sabia o que eu
iria falar. _ Você escutou o que ela me disse? – perguntei, minha garganta
fechou-se.
_
Oh minha linda. – disse Maria, se levantando, para que ficasse mais perto de
mim. _ Ela estava nervosa, pessoas nervosas dizem o que não deveriam. – tentou
justificar.
_
Maria, não tente me consolar, Diana estava sendo 100% sincera comigo ao me
dizer aquilo.
_
Você vai perceber que não. Deixe as coisas se acalmarem, você vai ver que tudo
ficará melhor...
CONTINUA...
Como prometido, postado, espero que gostem.
Não sei que dia voltarei a postar, mas posso garantir que será antes de
domingo.
Não se esqueçam de comentar/avaliar
P.S.: No próximo capítulo já teremos um “encontro” Jemi no presente :D
Yumi
H. e Rafa S.: Muito obrigada por comentar, bjss linda J