segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Capítulo 5: Um Policial Inconveniente (Red Blood Lipstick)

 Sofia não tardou em agir com sua missão, sabia que teria muito o que fazer quando a mesma fosse finalizada.


Lisa já havia reportado o sucesso da sua missão, não que houvesse a necessidade disso, naquela tarde a notícia do homem esfaqueado encontrado morto no Motel dominara todos os meios de mídia. Lisa não é do tipo que limpa a bagunça ou a esconde, ela deixa suas vítimas bem visíveis. Ela cuida apenas para garantir que seu material genético não seja encontrado (e caso seja, Vanda esconderia as evidências), no mais se divertia com alvoroço que seus crimes causavam.


Rosa havia dito que também agiria hoje cedo, porém ainda não havia anunciado se tudo havia corrido bem. Sofia estranha a demora para ter notícias, mas sabe que a química é esperta o suficiente para se virar sozinha no caso de algum problema.


O Alvo de Sofia é caminhoneiro, e tem uma rotina de viagens bem intensa. Ao contrário da maior parte dos Alvos que Vanda seleciona, esse não se limita a ser violento apenas com mulheres, mas com todos que possam estar em seu caminho. Ele constantemente se envolve em brigas de bares e brigas de trânsito, já até levou uma facada numa dessas confusões, mas saiu vivo e andando do hospital no mesmo dia.


Contudo, seus crimes contra as mulheres tendem a serem mais violentos. Ele se aproxima delas, as seduz para levá-las até onde ele se hospeda, e ao contrário de cumprir o prometido, enchendo essas mulheres de carícias, ele as agride de forma muitas vezes cruel.


Sofia sabia que o mesmo ficaria na cidade apenas até a madrugada de hoje, na manhã do dia a vir, ele partiria com uma entrega para outro estado.


Não foi difícil de chamar a atenção dele, os critérios do homem são quase inexistentes, basta ser mulher e você já se candidata a ser sua próxima vítima.


O jogo ali era duplo: Ele, achando que havia conquistado Sofia, se preparava para levá-la a um apartamento que alugou para pernoitar na cidade e lá ele se aproveitaria como pudesse dela. Sofia "aceitou" ir a seu apartamento, mas dessa vez ele que se machucaria. E muito.


Os dois supostamente se encontram acidentalmente num bar perto de onde o homem se hospeda. Provocante, Sofia fez de tudo para que ela fosse a única a chamar a atenção dele naquela noite, não dando abertura para que nenhuma outra mulher pudesse se tornar a nova vítima. Em um vestido vermelho provocante, vários homens apareceram se oferecendo a pagar-lhe uma bebida, mas ela apenas aceitou a de um.


Quando o homem se aproximou da mesa em que ela se sentava sozinha, após ela ter aceitado sua oferta de um drinque, Sofia percebeu que suas investidas com olhares indiscretos e roupa chamativa tinha funcionado.


Se não soubesse do passado do homem, a enfermeira poderia dizer que não seria totalmente impossível de ser galanteada pelo homem. Apesar de ter uma beleza mediana, seu xaveco é excepcional. Juntos os dois conversam e bebem. Sofia batiza a bebida do homem com um sonífero bem fraco, apenas para deixá-lo mais vulnerável. A enfermeira é forte e bem habilidosa com armas e luta, porém o local de hoje tem vizinhos bem próximos, barulho de briga poderia chamar atenção indesejada, por isso queria deixá-lo o mais bêbado e sonolento possível.


O garçom chega com a saideira e Sofia finge rir de uma nova piada feita pelo alvo.

– O apartamento é perto? Eu posso nos levar de carro. - Sofia diz. Ela mais fingira beber do que realmente bebeu, mas havia tomado alguns goles de bebida alcoólica.

– Nada disso. Eu levo a gente. - ele dá uma piscadela. Sofia adoraria a ideia, ele provavelmente causaria um acidente e morreria no processo, economizando sua energia. Mas ela deveria seguir seu plano, e com sorte ele iria perceber, assim que levantassem, que está muito embriagado para dirigir.


Último copo de bebida terminado, conta paga. Os dois se levantam para deixar o bar. O homem segura a mão de Sofia como se ambos fossem já íntimos, seu cheiro alcoólico faz com que Sofia queira vomitar, mas ela segue forte. Infelizmente ele parece mais firme do que deveria estar, não bambeia as pernas e anda ereto ao seu lado.


Quando os dois já estão prestes a cruzar as portas do bar, um homem alto os interrompe.

– Sofia! - ele a cumprimenta saudoso. Sofia não o reconhece de primeira, a pouca iluminação não a ajudava.

– Quem é você? - é o homem que acompanha Sofia quem pergunta. O policial o olha de cima a baixo antes de responder.

– Felipe, amigo de Sofia, não se lembra, hoje tem menos sangue né? - ele ri e Sofia finalmente o reconhece. Ele é o policial que gritou com ela no hospital, ele é o policial que está investigando sobre a morte do irmão, irmão do qual Sofia ajudou a matar.


Hoje sua aparência está bem melhor. Suas roupas estão mais casuais, com uma calça jeans e uma blusa simples de gola V. Seu olho não está tão inchado, mas levemente roxo, sua boca parece totalmente recuperada, seus pontos são visíveis, mas não o deixam feio. Como ela já podia imaginar anteriormente, ele é bonito.

– Ela está comigo! - o homem fala.

– Percebo. - o policial diz indelicadamente. – Sofia, posso falar com você em particular? - ele pede.

– Ela está comigo! - o homem repete.

– Eu sei! - o policial agora perde sua paciência. – E eu estou falando com ela! Dá para você se afastar?


Sofia teme. Ela sabe que o homem que a acompanha tem temperamento explosivo, ele vai querer brigar, e mesmo sem conhecer a Felipe, ela acredita que o policial não seja muito diferente.

– Não levante a voz para mim não cara! - o homem solta a mão de Sofia e infla o peito para falar com o policial.

– Quem você acha que é para mandar em mim? - pergunta Felipe.

– Porque você não vai para o carro enquanto falo com meu amigo? Eu te encontro lá. - a enfermeira apazígua a situação. O homem ignora sua fala de início.

– É, cara, porque você não vai para o carro? - o policial provoca.


O homem ao lado de Sofia parece rosnar de raiva, mas sem tirar o olhar de Felipe, decide seguir o conselho da enfermeira e a esperar no carro.

– Se você não aparecer em 10 minutos eu venho te buscar. - ele anuncia.


Sofia espera que seu Alvo saia de vista e encara o policial.

– Então somos amigos agora? - ela pergunta.

– Me desculpe. - ele sorri. – Mas foi necessário.

– Como você lembrou meu nome? - pergunta. – Você está me seguindo? - ela cruza os braços.

– Não... Esse encontro foi totalmente acidental. - ele levanta as mãos se rendendo. – E ainda bem que aconteceu. - completa, mas Sofia ainda espera por mais. – Enquanto você fazia os pontos na minha sobrancelha meu campo de visão ficou na altura do seu crachá. - ele justifica. –Fiquei uns bons minutos apenas lendo o seu nome e vendo sua foto. - ri para tentar acabar com a tensão que sente vindo de Sofia.

– E o que você quer?

– Esse cara... - o policial olha em volta esperando localizar o homem, mas não o vê. – Ele é encrenca, você não pode sair com ele.

– Olha...

– Não estou tentando te atrapalhar. - o policial não deixa que Sofia fale nada. – Mas sou policial.

– Que bom. - novamente Sofia ironiza.

– Algo me diz que você não gosta muito de policiais.

– Nada contra. - ela mente. – Só não gosto muito dos inconvenientes. - Felipe faz uma cara feia, como se tivesse sentido dor.

– Nossa! - fica sem ter o que falar. – Essa foi dolorida... - Sofia nada diz. – Esse cara com que você vai sair, eu já o prendi por duas vezes, ele é extremamente violento, ele inclusive é dado como foragido na cidade em que trabalho. - revela. – Ao ser inconveniente eu posso estar salvando sua vida. - conclui e Sofia se vê sem saída.

– Tem certeza disso? - ela queria que ele estivesse errado, mas ela sabe que não está.

– Infelizmente. - o policial é firme e Sofia percebe que terá de recuar. O policial a reconheceu e também reconheceu o homem, Felipe é uma possível testemunha, o que não pode ocorrer, principalmente agora em que já há tanto em risco. – Olha, você é muito bonita, pode encontrar alguém bem melhor. - ele diz e Sofia ignora.

– Obrigada por me salvar então. - ela diz após um longo suspiro de frustração. – Vou para minha casa.

– Eu posso te acompanhar. - Felipe diz ao vê-la seguindo a pé até o carro dela.

– Não, obrigada. - ela começa a andar mais rápido pelo estacionamento que fica a frente do bar. O bar não é grande, mas fica localizado num centro comercial bem extenso e o estacionamento é comum para todas as lojas, por isso o número de vagas para estacionar é espaçoso. Por ser noite e a maior parte das lojas já estarem fechadas, poucos carro estão parados ali.

– Só pela sua segurança. - ele vai atrás dela, insistente.

– Não, obrigada. - repete.

– Olha... - o policial a alcança e a segura pelo braço de leve, mas forte o suficiente para fazê-la parar. – Eu estava falando sério quando disse que ele é perigoso. Eu posso te levar em segurança, te deixo na porta da sua casa e vou embora, nada mais que isso. - Sofia olha para onde deixou seu carro estacionado, o seu alvo está perto dele, mas parece indeciso se aquele carro é mesmo o dela, já que a unica informação que Sofia havia lhe dado, quando ainda conversavam dentro do bar, é que ela tinha um carro vermelho.

– Você não tem nada mais o que fazer? - Sofia pergunta tentando não soar grossa, porém falhando. – Você ia até o bar, não é? Encontrar alguém? Algum amigo? - ela prefere se livrar do seu alvo ao chegar no carro e perder a chance de completar sua missão, do que ter o policial em seu encalço.

– Não, venho sempre aqui na verdade. - confessa. – E pensando bem, talvez seja melhor eu me afastar um pouco de bares. - ri. – Ainda não estou totalmente recuperado. - aponta para o olho que não mais está inchado, mas que a pele arroxeada mostra que ali houve uma lesão há não muito tempo.

– Você não vai ficar insistindo para que eu libere a ficha do seu irmão, vai? - pondera.

– Não, isso é passado. - ele a tranquiliza. – Já encontrei outra forma para continuar a investigação.

– Como assim outra forma? - a enfermeira o questiona.

– Calma, é totalmente legal e tampouco envolve ficar te irritando. - ele garante. – Meu carro está logo ali. - ele aponta para um carro preto que está estacionado bem perto, a apenas dois carros de distância. 


Sofia porém não olha para onde ele aponta, ela tinha entrado quase que em transe, pensando em 500 coisas ao mesmo tempo:


O que o policial quer dizer com "conseguiu uma outra forma"? Estaria Vanda ciente disso? Sofia tinha que descobrir um pouco mais sobre a nova forma que Felipe encontrou para continuar com sua investigação... Será que ele está mentindo? Seria essa uma forma de persuadi-la para depois tentar convencê-la de liberar a ficha?

– Sofia? - Felipe chama a sua atenção.

– Eu... Deixar meu carro aqui... Não me parece uma boa ideia. - ela finalmente "acorda" – Mas... - ela sabe que tem que aproveitar essa chance que o policial está dando para descobrir mais coisas, então negar a carona não parece ser uma boa ideia. – Acho que aqui é seguro... - ela dá um sorriso forçado.

– Posso vigiar o seu carro pela noite, se você me prometer pegar bem cedo. - ele ri ao se oferecer. 

– Porque você está sendo tão cordial? - Sofia começa a achar estranho o empenho desproporcional do policial.

– Ah... - dá de ombros. – Você "costurou" minha cara e eu fui um grosso com você... Não tenho muito o que fazer por agora... Acho que essa é uma boa forma de pedir desculpas, agradecer e me ocupar. - responde por fim.

– Acho que devem ter câmeras e seguranças que vigiam o centro comercial. - Sofia diz por fim, ela não tem certeza, mas deixar o policial tão perto do seu carro onde tem uma grande quantidade de materiais para queimar e enterrar um corpo, além de armas e munição não lhe parece uma boa ideia.

– Você quem sabe, mas não me importo de ficar aqui. - sorri.


Sofia se rende. Ambos vão até o carro de Felipe, um Chevrolet Onix preto e se acomodam. Quando Felipe dá partida no carro, um barulho de vidro trincando os assusta. Sofia olha para o vidro traseiro do carro e lá está seu alvo, com uma grande pedra na mão. Claramente transtornado, ele irá atacar o carro novamente.


Por impulso Felipe dá marcha-ré e atinge o homem em cheio. Ao sentir que o atropelou, Felipe freia e fica estático com a mão no volante, por mais bem treinado que seja, naquele momento ele não sabia o que fazer. Sofia o olha também assustada. Ela queria matar o homem, mas não dessa forma. 

– Ai meu Deus, eu o matei, não foi? - Felipe pergunta assustado. 

– Talvez. - Sofia sussurra em resposta.



Olá, estou repostando o Capítulo 5 de Red Blood Lipstick que deu um erro na última semana, ainda não consegui descobrir o porque.

Por razões pessoais, já deixo em aviso, que nessa semana não conseguirei atualizar a história "A Origem de Lincoln Campbell". Espero conseguir continuar a postagem das outras histórias normalmente, caso veja que também não conseguirei, vou deixar avisado aqui.
Muito obrigada pela compreensão e até mais.


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Capítulo 4: O Segredo de Rebecca (Parte 2)



Finalmente "aceitando" sua nova condição. Rebecca se recolhe em seu quarto, e chora por horas. Ela pensa em tudo o que fez para contribuir para a falência de seu pai e também pensa na humilhação que será quando todos seus amigos descobrirem.


O celular de Rebecca toca. É Sara. A melhor amiga de Rebecca desde sua infância.


Rebecca atende. E Sara logo dispara a falar, pois está ansiosa pelo dia de amanhã, quando seu namorado finalmente voltará de sua viagem como voluntário para construção de casas para pobres. Ao pensar nisso Rebecca se pega querendo rir, será que Ricardo construirá uma casa para ela e seu pai quando não mais conseguirem pagar as contas do condomínio do prédio em que vivem?


Sara está tão animada que a princípio não percebe o desânimo de sua amiga, mas após longos minutos falando praticamente sozinha, a Sara resolve perguntar.


– Becca, você está bem?


– Estou. – Rebecca confirma, mas não a convence.


– Tem certeza? Não está doente nem nada? – insiste.


– Não. – Rebecca diz, mas percebe que não vai chegar a lugar nenhum assim, Sara a conhece bem demais. – Estou com um pouco de dor de cabeça, só isso... – isso não era necessariamente uma mentira. Todo o choro e desespero tinha lhe dado uma enxaqueca.


– Você quer que eu vá aí? – sugere Sara, preocupada com a amiga.


– Não precisa. Eu já tomei um remédio, devo ficar bem em breve. –  ela responde. – E você sabe como funciona esses remédios, não é? Daqui a pouco eu vou apagar de sono.


 – Tem certeza?


 – Tenho, de verdade. Amanhã eu vou estar bem melhor, e a gente vai poder conversar bem mais... Quer dizer, isso se o Ricardo deixar.  – força uma risada.


 – Ai, estou tão feliz pela volta dele...  – Sara volta a falar sobre o assunto, deixando de lado a preocupação com a dor de cabeça da amiga.


A campainha bate. Rebecca ignora. Alguém irá atender, mas depois ela se lembra, não há mais ninguém, não há mais funcionários, não há mais mordomias.


– Sara, eu preciso atender a porta, tem alguém chamando. – diz, dando claros sinais de que quer encerrar a ligação.


– Você? Atender a porta? – a amiga pergunta com voz de humor. – Deixe que algum funcionários atenda. – diz. – Vamos conversar sobre você, só eu falei a ligação inteira. – O coração de Rebecca dá um pulo ao perceber a gafe que acabara de cometer.


– Meu pai resolveu dispensar todos os funcionários mais cedo hoje. – Rebecca mente. – Então sobrou eu para lidar com isso.


– Mas que horror. Porque seu pai fez uma loucura dessas? – Sara pergunta.


– Não sei. – a campainha toca novamente. – Sara, eu realmente queria continuar a ligação, mas preciso mesmo desligar. – diz, enquanto se levanta da cama, para ir atender a porta.


– Tudo bem. – Sara diz um pouco cabisbaixa. – melhoras, amiga. – deseja.


– Obrigada. Até mais.


Quando as duas se despedem, Rebecca já está na sala, a poucos passos da porta de entrada.


Rebecca abre a porta e dá de cara com a última pessoa que queria ver na vida. Lucas.


Eram poucas as pessoas capazes de gostarem de Lucas, ele é brincalhão, mas não do tipo que todo mundo gosta, ele é mais do tipo que irrita, perturba, mexe na ferida. Isso o faz ser alguém com poucas amizades na escola, e as suas amizades, na maioria, são claramente falsas, por puro interesse, mas isso nunca o incomodou. Rebecca, pode-se dizer, é uma das poucas pessoas que o suportam, mas isso varia muito, o relacionamento dos dois vai de amor ao ódio em questão de minutos e isso tinha ficado bem explícito nessas férias.


– O que você está fazendo aqui? – ela pergunta já nervosa.


– Você deveria ser mais gentil comigo. – diz o garoto, que sorri largo.


– Se você já se arrependeu do nosso término, saiba que eu ainda não...


– Deixe de ser metida. – Lucas a interrompe. – Aquilo não foi nada para mim. – ri.


Rebecca e Lucas tiveram um brevíssimo relacionamento nas últimas duas semanas. Desde o início foi combinado que seria apenas um lance, nada sério e que não era algo que deveria ser espalhado para ninguém. Rebecca havia contado apenas a Sara, que claramente a julgou muito, mas foi obrigada a aceitar; já Lucas se manteve calado e não contou nada a ninguém. Juntos, os dois passaram dias de puro fogo e intensidade, mas o fim foi numa briga fulminante. Desde então os dois não se falaram. Rebecca não queria assumir, mas ela tinha nutrido um sentimento um pouco mais forte por Lucas durante esses poucos dias de namoro e a separação não tinha sido tão fácil como ela pensou que seria.



– Vai deixar-me entrar ou não? – ele pergunta. Como resposta ela apenas permite que ele passe e adentre ao seu apartamento.


Lucas entra como se morasse por lá. Senta-se espalhado pelo sofá e coloca o pé encima da mesa de centro. Ele participa do time de futebol da escola e graças a isso conquistou um corpo escultural, cabelo preto, pele branca, olhos esverdeados, recentemente, num ato de rebeldia, colocou um alargador em sua orelha esquerda.


– Você não vai me oferecer algo para beber? – pergunta assim que vê Rebecca se sentar no sofá a sua frente.


– Eu não estou no clima para sua má educação, Lucas, diga o que quer logo. – Rebecca começa a se estressar.


– Eu sei que você não está no clima. – ele diz óbvio e divertido. – Quem ficaria no clima para qualquer coisa quando se é pobre? – ri.


– Não sei do que você está falando. - Rebecca tenta disfarçar.


– Não sabe? - Lucas se ajeita. Sentando-se mais elegantemente no sofá e olhando diretamente para Rebecca. –  Você e seu pai estão falidos, totalmente falidos, pobres, muito pobres, pobrissimos…


– Cale a boca. - Rebecca grita, interrompendo-o. – Saia de minha casa. - ela se levanta.


–  Você não deveria tratar assim a única pessoa que está disposta a te ajudar.



Olá a todos(as), resolvi cortar O Segredo de Rebecca em 3 partes para que não fique um capítulo muito grande, para compensar esse monte de cortes na história dela, tentarei postar o próximo capítulo ainda amanhã. 


Obrigada e bjss




quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Capítulo 4: Rosa (Red blood lipstick)

Atenção! Essa história aborda assuntos como abuso, sexo, drogas e violência, e pode não ser adequado a todos. Por favor, se algum desses assuntos é gatilho para você, não prossiga com a leitura, e caso você seja menor de idade, não leia esta história, há muitas outras mais indicadas para você!


Agradeço pela compreensão, e aos que podem, boa leitura.


Para todos que conheciam a família que morava na casa em uma rua sem saída no tranquilo bairro familiar, aqueles pais e aquelas crianças educadas, eram o exemplo de família perfeita. O pai trabalhava como corretor de imóveis, e sempre andava muito arrumado e sorridente; a mãe, dona de casa, era um exemplo de dedicação aos filhos, sempre presente nas reuniões com os professores, sempre indo nas festas dos amiguinhos dos filhos e sempre ajudando as outras mães em tudo o que precisavam. Os filhos, dois meninos mais velhos e gêmeos e uma menina, a caçula, eram extremamente educados. Cheios de "por favor", "obrigado", com roupas impecavelmente limpas e cabelos castanhos com corte perfeitos, eles sempre eram colocados como exemplos a serem seguidos pelas outras crianças.

O que as roupas, os sorrisos, os domingos na igreja e a educação admirável escondiam, eram dias e noites de torturas.


Não existia uma justificativa, nem mesmo a tentativa de uma, o processo era o mesmo desde muito pequenos, tanto que numa certa idade as crianças entenderam que aquilo deveria ser normal.


Os pais de Rosa a deixava passar fome por dias a fio, a mesma tinha ossos pontudos, que eram escondidos pelas roupas, na sua maioria, vestidos bufantes e cheios de relevos e cores, que ela era obrigada a usar quando saia de casa, ela os odiava com todas as forças. Quando os filhos podiam comer, comiam restos, algumas vezes coisas estragadas, intragáveis, mas após mais de 10 dias sobrevivendo com alguns pingos de água, contatos num conta gotas, até mesmo pedra parecia apetitoso.


Na escola, Rosa e os irmãos tentavam se alimentar, bebiam água o tempo todo até sentirem que o estômago estava cheio de líquido, mas os pais nunca lhes davam dinheiro para que comprassem o que comer, e como estudavam em escola particular, não tinha como comerem de graça, eles tinham que ficar pedindo pedaços dos lanches dos amigos mais próximos. Isso os sustentavam durante o ano letivo, mas quando as férias chegavam...


A tortura física também era constante. Chicotadas, noites acordados obrigados a ficarem ajoelhados... Os espancamentos sempre se limitavam a partes do corpo que poderiam ser facilmente escondidas com roupas. Os atos de maus-tratos não eram cometidos apenas pelo pai, mas também pela "bondosa e dedicada" mãe, que parecia ser a que mais gostava de cometer tais atrocidades.


Rosa só foi resgatada quando já estava para completar 12 anos, um dos seus irmãos mais velho, na época já com 16 anos, adoeceu. Parecia ser apenas mais uma das milhares de gripes que eles já tiveram, mas o constante desgaste físico causados pelas torturas e dieta precária, não permitia que o corpo oferecesse bons anticorpos. Como nada foi feito enquanto o menino apenas espirrava, tinha febre e dores de cabeça, a doença evoluiu. Quando o irmão foi encaminhado ao hospital (apenas após uma das professoras contactar os pais, pedindo para que algo fosse feito, o que os deixou sem saída) o mesmo já tinha uma pneumonia grave. Os médicos, desconfiados do estado do menino, denunciaram ao conselho tutelar, que descobriu sobre os maus-tratos.


Os pais de Rosa fugiram antes mesmo que a investigação tivesse sido concluída, fugiram antes que o filho, que estava em estado grave, chegasse a óbito. Os dois simplesmente o abandonaram internado, deixando os três filhos sem ninguém.


Rosa e o seu único irmão sobrevivente, passaram o resto da adolescência no orfanato. Vanda, ao escutar a notícia foi prontamente oferecer ajuda a garota, que ao completar 18 anos foi direcionada à ONG de Vanda, que na época ainda estava em reforma para se tornar o que é hoje. Neste meio tempo, a mesma perdera o contato com seu irmão, e mesmo que não diga, isso é algo que a incomoda.


Rosa não foi prontamente requisitada a participar do grupo secreto da ONG, Vanda não acreditava que a mesma seria capaz de acrescentar muito. Mas quando ela começou a se enturmar melhor, se abrir mais, Vanda percebeu o grande potencial que Rosa tinha. A benfeitora lhe pagou uma faculdade de Química, entre outros cursos técnicos na área da biologia.


Mesmo após estar no grupo secreto, e já tendo concluído algumas missões dentro do mesmo, foram necessários mais de dois anos até que os pais de Rosa fossem localizados e ela pudesse se vingar. Ela preferiu não seguir o exemplo de suas colegas, que escolheram uma morte rápida.


Os pais de Rosa estavam em outro estado, numa cidade interiorana morando em uma casa isolada. Perto dali, Rosa construiu um porão subterrâneo. Para não chamar atenção, Rosa, Jane e Vanessa (a mesma que hoje traiu o grupo), construíram o local com as próprias mãos, sem a necessidade de envolver pessoas de fora do grupo na obra. No projeto de construção, as mulheres fizeram questão de que as paredes de cimento fossem grossas e impenetráveis e que a porta de entrada fosse bem pesada e impossível de se abrir por dentro.


Rosa sequestrou seus pais durante a noite, quando os mesmos já adormeciam. Quando eles foram deixados no porão, com as mãos amarradas, a filha apenas os observava sem dizer nada. Havia muito rancor no seu coração, revê-los não estava sendo fácil. 


Os dois tampouco pareciam os mesmos, antes sempre andavam arrumados, e agora estavam velhos e usando maltrapilhos, o destino parecia tê-los feito pagar pelo que fizeram e Rosa seria a responsável por fechar o ciclo.


Rosa os explicou como desatar o nó que prendia as mãos deles, e os deixou com uma garrafa de água de 500 ml e um saco de 500g de farinha de trigo. A água já estava quente, mas era limpa, o saco de farinha de trigo estava furado, mas não estava estragado. Aquele seria o kit sobrevivência dos dois.


A química então os deixou lá, presos, impossibilitados de sair ou de serem escutados por qualquer um. O porão é abafado e a saída de ar era quase inútil. Rosa não sabe dizer quanto tempo levou para os pais falecerem, provavelmente de inanição. Ela retornara ao porão apenas 4 meses após a noite do sequestro e os encontrou num estado de decomposição muito avançado. Rosa não chorou, não se abalou, não sentiu nada. Apenas voltou a fechar o porão, deixando os restos de seus pais jazer ali para sempre.


Sempre empenhada a fazer o melhor, Rosa podia se dar bem em diversos tipos de missões, sendo muitas vezes útil em missões das outras colegas também. Com seus cursos e graduação, Rosa não só tem acesso aos químicos como tem o conhecimento para criar venenos fatais e letais. Quando gostava de algo mais simples, usava de armas para fazer com que seus alvos fossem atingidos. Algumas meninas acham isso ruim, pois geralmente Rosa atira de longe e o alvo não sabia o por que tinha sido alvejado, mas para Rosa o saber o porquê está morrendo, não é tão importante, o fundamental é o resultado final: menos um criminoso a solta.


No caso de hoje Rosa teria que se envolver um pouco mais do que geralmente gosta, a rotina do seu alvo é intensa e o mesmo raramente está sozinho, e para agir sem chamar muita atenção ela teria que ser esperta e paciente.


Durante todo mês ela observou a rotina de seu alvo. Geralmente essa observação dura pelo menos dois meses, mas seu alvo lhe facilitou muito a vida, seguindo horários e rotas fixas todo santo dia, passar mais 30 dias observando-o seria uma perda de tempo.


Ainda cedo ele se dirige ao trabalho no banco, a rota é curta, mas o prédio em que ele trabalha não oferece estacionamento, e ele tem que deixar seu carro num estacionamento pago que fica a duas quadras do banco, este era um dos seus momentos mais vulnerável.


Andando pelo caminho contrário, Rosa propositalmente esbarra no homem e para não cair com a trombada, ela segura forte em seu braço. O homem tem dificuldade para não cair sobre Rosa, o susto pela pancada lhe deixou despreparado e a forma quase agressiva que a mulher desconhecida o segura, não o deixa confortável.


Rosa retoma seu equilíbrio e pede desculpas ao homem, que a olha de cima a baixo e não fala nada em retorno.


Sua falta de educação já era de conhecimento de Rosa, o mesmo parecia tratar quase todos a sua volta com ignorância.


Enquanto o homem volta a sua rota até seu trabalho, Rosa começa a sua espera.


Seu plano era simples, começara no momento em que os dois "acidentalmente" trobaram. De forma discreta Rosa segurava em sua mão uma agulha embebida num veneno não difícil de produzir, tampouco difícil de se detectar, mas que em uma boa dose, leva alguém ao óbito em questão de minutos. Este porém não era o objetivo de Rosa, a quantidade que ela conseguira injetar através da agulha era ínfima, mas faria seu efeito no tempo certo.


Os primeiros sintomas irão surgir em torno das próximas 4 horas, com fortes dores abdominais. Rosa espera que o seu alvo acredite que tudo não passa de uma indigestão pós almoço e que não se importe o suficiente para ir a um médico ou retornar a sua casa antes da hora, mas caso uma das duas situações venham a ocorrer, a mesma tinha como contornar tudo a seu favor.


Hoje é o dia em que a sua doméstica, que fica 24 horas no trabalho, tem uma folga. A mesma ficaria 8 horas longe, deixando-o sozinho, mas caso ele retornasse para casa cedo demais, enquanto a empregada ainda não finalizara seu turno, ela poderia acabar levando-o ao hospital. Para impedir que isso ocorra, Rosa, conseguiu, de forma astuta, furar o pneu do carro do homem, mesmo o carro estando estacionado num estacionamento privado e vigiado. Isso não o impedirá de retornar a sua casa, mas o atrasaria, o que seria o suficiente para ela.


Caso o mesmo fosse procurar um hospital, o mais próximo, coincidentemente, é o que Sofia trabalha, se ele por lá fosse, Sofia a ajudaria a mandá-lo para casa no momento e horário que fosse mais oportuno para Rosa.


Por sorte, o plano mais fácil funcionou, o homem, mesmo com dor, manteve-se trabalhando até o final e quando chegou no estacionamento, furioso, fez com que os funcionários do local trocassem o pneu. O tempo ali perdido já tinha sido mais que suficiente para que a empregada do alvo de Rosa deixasse a residência dele.


Pelo suor que escorria da testa do homem e sua feição pálida, Rosa sabia que o veneno já estava agindo. Explodindo-o vagarosamente por dentro, a começar pelo intestino. Até o fim daquele dia, todos os órgãos daquele homem vão estar rompidos.


Pelo caminho de volta, Rosa persegue o homem com sua moto, e o mesmo, provavelmente sentindo dores horríveis, dirige pessimamente, quase se coloca em um acidente por pelo menos umas três vezes. Quando chega em casa, sai do carro se arrastando, Rosa não sabe dizer se o mesmo já pediu ajuda ou socorro médico, então, mesmo sabendo que ele ainda agonizaria por pelo menos mais 4 horas até finalmente morrer, ela decide agir rapidamente.


O homem não se preocupou (ou talvez não tenha conseguido) em trancar a porta de entrada, Rosa entra na grandiosa casa dele sem precisar se esforçar. O mesmo não tem cachorros ou qualquer animal que pudesse denunciar sua presença, a casa não possui nenhum sistema de segurança. Fácil até demais.


Rosa o encontra debruçado sobre a pia na cozinha, ele cospe sangue e a olha com ar de esperança.

– Socorro. - ele diz com dificuldade, o mesmo já respira com esforço. – Não sei o que... Está... Acontecendo. - puxa o ar com força. Talvez o efeito nele estivesse mais forte do que os cálculos de Rosa indicavam, na situação em que o mesmo está, ele não passaria mais que 2 horas vivo. Talvez ele tenha algum tipo de doença crônica que esteja acelerando seus sintomas. Entretanto, isso tampouco importa, Rosa tem mais o que fazer.


Sem mais hesitação, Rosa tira do bolso da sua calça jeans um par de luvas e logo após, duas fotografias que haviam sido dobradas em quatro partes. Na imagem estava a ex-mulher do homem e a filha do casal, quando a mesma ainda tinha apenas dois anos de idade. Rosa joga as duas imagens sobre a bancada que fica ao lado da pia em que o homem se escora.


Seus olhos se arregalam e ele torna o olhar para Rosa, confuso.

– Você a matou por ciúmes, na frente da sua filha, quando ela tinha 4 anos. - Rosa é direta. – 28 facadas por todo o tórax da sua mulher. - o homem procura por um suporte, para que possa se afastar de Rosa, que se aproxima cada vez mais dele.

– Não fui eu. - desiste de fugir. – Foi o amante dela. - sua voz sai por um fio.

– Foi nisso que a justiça acreditou, mesmo com a menina jurando ter visto o pai cometer o crime. Um homem inocente ficou 10 anos na cadeia pelo que você cometeu.

– Foi ele. - o homem lentamente cai sobre o chão da cozinha. – Foi ele. - repete.

– Faz dois meses que conseguiram provar a inocência dele, finalmente concluíram que a imagem da câmera do estabelecimento em que ele trabalhava na hora do assassinato era real e prova o suficiente para inocentá-lo.

– Injusto. - se limita a dizer.

– Injusto? - questiona Rosa. – Realmente, foram necessários 10 anos para verem o obvio. A sua palavra sozinha se valeu por cima de todas as outras evidências, sobrepôs a voz de sua filha, se sobrepôs às imagens dele no local de trabalho, sobrepôs a todas as testemunhas que foram depor a favor dele...

– Se... - respira fundo. – Se está achando... Que não me importo... Que sou... Culpado... Só porque não... Reabri o... Caso... Não é... Verdade... Só acho que... Ele já... Pagou.

– Pagou pelo quê? Por ter se envolvido com uma mulher casada? Esse foi o crime dele. Agora, 10 anos na cadeia por uma traição é um pouco demais, não é?

– Foi ele. - mais sangue corre por sua boca, Rosa pode ver pelo seu olhar que o mesmo está dominado pela dor, mas nem mesmo forças para gritar ou expressar a dor ele tem.

– Todas as evidências apontavam para você, apenas sua palavra apontava para ele. Todo mundo sabe que foi você, mas ainda assim quem foi parar na cadeia foi ele... Eu me pergunto, esse resultado teria sido diferente se você não fosse um homem branco, com boa condição financeira, amigo de pessoas importantes na política e ele não fosse um simples porteiro, negro, pobre que ainda morava com a mãe? - o homem não diz nada. – O que te irritou de verdade foi o fato dela ter te traído ou o fato dela ter se interessado por homem como ele? Pobre e negro... Ela estava para escolher ele, não estava? Ela ia te largar para ficar com ele. - o homem tosse e mais sangue sai por sua boca.

– Aquela vadia está no inferno. - quase rosna ao falar.

– Se assim for, em breve você vai encontrá-la. - Rosa responde com desdém.

– Eu chamei o socorro, vão me salvar e você vai apodrecer na cadeia, sua idiota.

– No estado em que você está não existe nenhuma possibilidade de ser salvo. - Rosa diz.


Se o efeito estivesse um pouco mais brando, Rosa não poderia descartar a possibilidade do homem sair vivo no caso de ser socorrido em breve; mas por alguma razão, talvez uma doença prévia ou o uso de algum medicamento controlado que ajudava na condução do veneno na sua corrente sanguínea, o efeito está bem mais forte e mais rápido. No ponto em que está, no melhor (ou pior, para Rosa) do casos, ele seria colocado em coma induzido e posto imediatamente numa hemodiálise (sem garantias de que isso funcionaria). Para salvar-se o mesmo teria que ter procurado ajuda ainda na primeira hora do primeiro sintoma, e teria que torcer para que os médicos suspeitassem de pronto do envenenamento, caso contrário, nem mesmo isso teria o salvado.


Rosa escuta o barulho das sirenes se aproximando, o homem não estava blefando, ele havia chamado o socorro.

– Você vai se fud... - Rosa agarra os cabelos do homem e com toda sua força bate a cabeça dele duas vezes contra o chão. A força que a mesma faz é tão grande, que ela pode escutar o trincar do crânio dele, se foi uma fratura grande ou pequena, naquele momento não importava, ela só o fizera para que o homem desmaiasse e assim não falasse sobre ela aos socorristas. Se tiver sorte, quem socorrê-lo achará que uma queda provocou tal ferimento em sua cabeça. Fora isso, Rosa sabe que Lisa estará no IML e se encarregará de esconder toda e qualquer evidência de um envenenamento.


Enquanto os socorristas entram na casa, Rosa corre para se esconder no segundo andar da residência. Ela sabe que muito em breve policiais também seriam chamados ao local, devido a estranha morte do homem, por isso ela teria que ser rápida na sua fuga, afinal sua moto estava estacionada bem em frente a casa, isso poderia gerar suspeitas o que levaria a um investigação direto para ela.


Ela escuta os paramédicos se comunicarem, tentando reanimar e imobilizar o homem que não tem mais salvação. Cuidadosamente ela abre a janela de um dos quartos da casa. A janela dá para a área de trás da casa, e se ela quisesse sair de lá rápido, teria que pular.


A queda não é agradável, mas Rosa não tem tempo para se recompor adequadamente, e ainda sentindo as dores do impacto da aterrissagem se levanta e corre, dando a volta pela parte de fora da casa, tentando sair pela porta da frente, onde está sua moto, mas logo um dos socorristas a vê e desconfiado vai até sua direção.


Rosa age rápido e antes mesmo que o socorrista consiga se aproximar o suficiente, ela corre para o outro lado, entrando mais no quintal da casa do homem que ela acabara de matar.


O socorrista é rápido, mas Rosa ganha vantagem quando a mesma começa a escalar o muro que separa a casa em que estão, da casa do vizinho. Por sorte não há nenhum animal que ataque a Rosa nessa invasão improvisada, e quando o socorrista, com muito esforço, consegue subir no muro, ele para sentado ali mesmo, desistindo de persegui-la, sem dúvidas ele chamará reforços. 


Agora, Rosa, para se livrar, teria que contar não só com a ajuda de Lisa no IML, mas também de Vanda na delegacia. 






terça-feira, 10 de novembro de 2020

Capítulo 3: O Filho Perdido (A Origem de Lincoln Campbell)



Quando Rosalind e sua equipe chega ao hospital que sofrera o ataque, os humanos modificados já haviam escapado. Ao interrogar a enfermeira que havia chamado o socorro, eles descobrem que um desse humanos na verdade trabalhava, também como enfermeiro, no hospital. 


A equipe então levanta a ficha do tal enfermeiro e quando Rosalind olha para a foto do humano modificado na tela do computador, ela, pela primeira vez em anos, não sabe o que fazer. Uma mistura de medo, raiva, confusão, alegria e tristeza inundavam seu coração. 


Claro que ele não estava igual da ultima vez que o vira, anos haviam se passado, o mesmo agora tem uma barba rala, e o cabelo está mais arrumado, e não mais rebelde quando na adolescência. Ele agora não é mais um jovem universitário, mas um homem. Ainda assim, mesmo que anos se passasse, Rosalind jamais iria se confundir. 


Aquele enfermeiro. Aquele humano modificado que aparece na imagem é seu filho.


Rosalind tinha que agir rapidamente. A sua equipe esperava isso dela, o presidente espera isso dela, suas mãos estão atadas, e neste momento a missão se tornara pessoal demais. Deveria ela revelar isso ao presidente? O mesmo deveria ser informado de tudo, porém se ela o fizesse, inclusive sua posição de liderança nesta força tarefa poderia ser comprometida e mais uma vez o filho lhe escaparia pelas mãos. Deveria ela esconder ele de tudo e de todos? Rosalind sabe que para isso teria que burlar leis e necessitaria da ajuda de mais algum agente, provavelmente Banks, mas é um movimento tão arriscado quando a primeira ideia. 


Lincoln precisa ser resgatado, Rosalind deve isso a ele. Hoje, após ter perdido tanto em sua vida, ela percebe que esteve ausente na vida do filho, se ela o capturasse e o levasse para a U.A.C.A., ele poderia ser curado, poderia voltar a ser seu filho, quem sabe até mesmo perdoá-la?


Uma força tarefa é criada as pressas, Rosalind deixa claro a Banks que ele deve capturar Lincoln vivo a todo custo, ela não diz o porque para ela esse humano modificado é tão importante, mas é bem óbvio que ela tem um interesse enorme no enfermeiro. 


Não demora muito para que o encontrem, um grande grupo de agentes é enviado até onde ele se localiza, numa parte mais interiorana, de mata fechada. 


Rosalind aguarda pelo retorno do time com agonia. Em seu escritório ela anda de um lado para o outro, com o seu telefone na mão ela aguarda uma chamada, de minuto em minuto olha pela janela que dá ao lado de fora do prédio, talvez eles não a telefonem, apenas retornassem com o seu filho já capturado, seguro e muito em breve salvo.


O telefonema finalmente chega, Rosalind atende de pronto.

– Sim, como foi a missão? Já estão retornando? - questina ansiosa.

– Senhorita Price, nós o perdemos, teremos que chamar a todos para essa missão. 


O coração de Rosalind se aperta, ela não gostaria de ter que dar o próximo passo, mas suas opções estavam se acabando.


A agente sabia que seu filho não se renderia fácil, ela conhece o seu temperamento forte, mandar agentes armados atrás dele talvez não tivesse sido a melhor jogada, mas ela tampouco poderia aparecer para ele de cara limpa, pois sabe que talvez isso seria ainda pior. 


Fotos de Lincoln são divulgadas em todos os meios de mídia. Agora a U.A.CA., a polícia e o FBI o procuram. Sua cara está pública, civis também sabem de sua existência e alguém em algum momento fará uma denúncia.


Rosalind tem uma noite horrível, se revira na cama sem conseguir dormir, ela tem esperanças de que logo receberá alguma notícia, mas a espera é um tormento. 


Logo cedo ela se reencontra com Banks. No carro oficial eles conversam sobre a falha missão de captura e sobre as mais de 24 horas sem nenhum sinal de Lincoln.

– Ele não sumiu. - ela devaneia entre todas as possibilidades. – a menos que sim… Ele não consegue fazer isso, consegue? - Rosalind pergunta ao agente que está a seu lado.

– Não. - ele garante.–  o negócio dele é eletricidade… Ele vai aparecer. - Banks garante. – Por isso avisamos a população, ele não tem onde se esconder.

– Eu espero que sim. - Rosalind se força para não deixar seu desespero aparecer em sua voz, mas não faz um bom trabalho. Pela primeira vez em toda sua vida profissional, ela teme. – Precisamos começar a fazer progressos, mostrar resultados… - ela tenta fingir que seu empenho descomunal era apenas pela expectativa de reportar resultados ao presidente. 


Uma outra agente, de cabelos castanho e rosto redondo e traços simples a interrompe. Ela senta no banco da frente do carro, ao lado do motorista. 

– Senhora Price, tem uma chamada de vídeo para você.

– Pede para esperarem. - ela responde sem hesitar. 

– É a Casa Branca. - a agente informa. 


Rosalind suspira de olhos fechados. Ela sabe que não será uma ligação muito agradável.

– Pode passar para minha tela. - Rosalind ordena, após gastar alguns segundos tentando se recompor. 


Rosalind se sentiria aliviada, se não estivesse tão apreensiva por tudo o que já estava acontecendo ao seu redor. Ao contrário de ver a imagem do presidente na chamada de vídeo, é o rosto de Phil Coulson que aparece. 


– Coulson. - ela diz monotonica. 

– Me chame de Phil. - ele diz, como sempre mais solícito do que o necessário. 

– Eu não posso é chamá-lo de presidente. - ela responde não tão gentil. 

– Você não é a única pessoa conectada com a casa branca… Bom, a minha é uma conexão pirata via satélite que logo será descoberta, então serei breve. - o seu bom humor é indestrutível. – Está fazendo muito barulho, e francamente me sinto um pouco insultado, está pedindo ajuda para todo mundo: para o FBI, a polícia local e agora para a população… - enquanto Phil fala, o telefone de Banks começa a tocar, ele atende a chamada e  Rosalind mantém sua atenção nas lamentações de Coulson. – A todos, menos as pessoas que realmente sabe das coisas.

– Você quer dizer: você.

– Eu quis dizer, sim. - Coulson assume. – Então vamos nos encontrar. Só nós dois, pessoalmente… – Banks chama a atenção de Rosalind, ele não mais fala no telefone. – terreno neutro… - Rosalind nem mais presta atenção no que Phil está falando. 

– É… Pode me dar licença um momentinho? - Rosalind não espera por uma resposta e já muta a conversa. Ela então se dirige a Banks.

–  O que foi? 

– Já temos a localização do Lincoln Campbell. Ele está hospedado em um apartamento no subúrbio de Chicago.

– Já sabe o que tem que fazer. - Rosalind diz e logo retorna a chamada com Phil. – Tudo bem Phil, vamos nos ver, acho que teremos muita coisa para conversar. 


A aceitação de Rosalind para conversar com Coulson pouco tinha haver com uma real vontade de cooperação dela. Perspicaz, ela logo viu uma chance de resgatar Lincoln sem a intromissão da SHIELD. Se ela fosse capaz de manter o diretor da agência fantasma ocupado o suficiente para que a U.A.C.A tomasse a liderança, ela já poderia contar isso como uma vitória. 


Banks monta um time com os melhores em campo e partem num avião de combate ultraveloz para chegarem a Chicago, de lá usam carros para chegarem ao prédio em que a denúncia foi feita, e assim não chamarem tanta atenção. Porém agentes com equipamentos de proteção e armados quase que até os dentes não passam despercebidos facilmente. 


Ao chegar no apartamento indicado, Banks percebe que Lincoln provavelmente os viu chegar ou foi alertado por alguém. O denunciante, um homem de meia idade, corpulento e entradas nas laterais, está no chão, desacordado. Agentes vasculham por todo o apartamento, mas não encontram o que tanto queriam.


Enquanto isso, Rosalind se desloca até o local de encontro sugerido por Phill. Dirigindo seu próprio carro, ela estaciona em uma bahia próximo a uma praia onde gaivotas cantam e voam livremente. Phill já a aguardar quando ela chega. Ele veste um terno preto e usa óculos escuro. Na sua mão esquerda (que hoje ela sabe que não é real) uma luva preta camufla a prótese tecnológica que ele utiliza no lugar. Parece intimidador, mas Rosalind não se amedronta por aparências. 

– É… Admito que fiquei bem surpresa quando você me ligou. - Rosalind se permite confessar.– Olhe para cá. - ela ordena ao perceber que Phil tem os olhos fixos em seu carro conversível. Pego no flagra Phil sorri.

– Me pegou, desculpe. Obrigado por vir me encontrar. - ele agora presta atenção total em Rosalind. 

– Você me deu uma desculpa para dirigir pela costa. - mente. 

– Ela tem um nome? - Phil se refere ao carro de Rosalind. 

– Eu amo meu carro, mas é apenas um carro. - ela responde. – E é ele. - brinca e Phil ri, deixando-se distrair novamente pelo possante. 

– É… Da última vez que nos encontramos, você me desarmou com suas táticas evasivas. - Rosalind ainda tinha dificuldade para entender como Hunter e Phil, sozinhos, escaparam de uma armadilha com mais de 10 agentes altamente treinados da U.A.C.A.. A história contada por Banks parecia até mesmo mentira, de tão pitoresca, mesmo ela entendo que a mão protética de Phill ser equipada com vários itens que os ajudaram a fugir, toda a situação lhe parecia um tanto louca demais para ser real.

– Entendi a piadinha.

– Não, não! Eu tenho que admitir, fico pensando o que mais tem debaixo da manga.

– De verdade. Eu entendi. - Phil leva as provocações de Rosalind na brincadeira. 

– Imagino que eu não seja a primeira. - diz se referindo as piadinhas sobre a ‘mão’ de Phill.

– Acho que é sim, é bem recente. - Phil explica. 

– É… Desculpa. - Rosalind fica sem jeito. – Eu sei que não deve ser fácil. 

– É… - a história sobre como ele perdera a mão é longa e complexa demais para a ocasião. – Não foi isso que viemos discutir. - Coulson muda de assunto e retira seus óculos com a mão verdadeira.


Rosalind suspira, queria ganhar mais tempo, mas sabia que não poderia enrolá-lo para sempre. 

– Você está usando a abordagem errada. Deixar a população em pânico? Não funciona. Continue fazendo isso e a coisa vai ficar feia. - Coulson começa a orientá-la, o que não a agrada, mas ela o escuta. 

– Olha só, a minha agência só existe porque a sua acabou. 

– Mas nós voltamos, embora com menos propriedades e mais escondidos.

– Esse ‘escondidos’ é que é o problema, ninguém sabe que vocês existem, mas eventos bizarros estão acontecendo, as pessoas tem que se sentirem seguras. 

– Essas notícias sobre ameaças alienígenas é para que as pessoas se sintam seguras? - ele a questiona. – Olha, na verdade é que você não entende com o que está lidando. 

– E você sim? 

– Sim, por isso que eu estou pedindo para que a minha equipe resgate o Lincoln. - Rosalind então percebe que Phil e ela jogam o mesmo jogo. –  Se nós o pegarmos será fácil, se forem vocês pessoas se machucarão. 

– Olha, pode até ser, mas… Eu sinto muito, eu não posso concordar. - Rosalind o desfia. Ela não abrirá mão de ter seu filho novamente ao seu lado e nada que Phil venha a dizer poderá mudar isso. Nem mesmo que ela tenha que jogar sujo. – Ele é extremamente perigoso.

– Não se estiver sob nossa custódia. - Phil o defende sem saber que nem mesmo Rosalind acredita no que fala.

– Não vamos desmembrá-lo para pesquisa, se é isso que lhe preocupa. Nós não somos a HYDRA.

– Você diz isso agora. O que tem de tão importante? - Phil começa a desconfiar das reais intenções de Rosalind. 

– Você está falando sério? Lincoln consegue derrubar um avião...

– Eu tenho outra teoria. O presidente fez esse grande discurso sobre a organização que ele está formando… Imagino a pressão que está sofrendo para mostrar resultados.

– Não está errado. - Rosalind se contorce por dentro por ter que admitir isso. – É por isso que vou prendê-lo. - mas ela aproveita a deixa e faz com que as suspeitas de Coulson pare por aí. Ele não precisa saber que existe ainda mais por trás do seu interesse em resgatar Lincoln. – Mas porque estamos aqui, Phil? Nós vamos ver o pôr do sol juntos? Porque se não veio aqui fazer um acordo, o que você quer? 

– Você tem uma carta na manga e eu cansei de esperar você usá-la. - Rosalind sorri, sabendo do que se trata. 

– Ah! Então é isso? 

– Você tem as filmagens do hospital, o que significa que tem uma outra imagem que escolheu não divulgar na TV.

Rosalind pega seu celular a procura da imagem que Coulson fala.

– Um rosto bem bonito. Mas não tem nome, certidão de nascimento ou nenhum outro documento… Ela é um deles, e ela trabalha para você, não é? - Rosalind o pressiona. Phil pela primeira vez se mostra desconfortável. 

– O que faço para manter isso em segredo? 

– Você sabe o que eu quero. 

Rosalind sabia que guardar o segredo da humana modificada que está a serviço de Phil poderia vir a calhar em algum momento, só não imaginava que isso poderia ser usado tão rapidamente. Mas o que mais importava no final é que graças a isso, nada mais a impediria de resgatar o seu filho perdido.


...




Olá olá, eu sei que esse capítulo deveria ter sido postado ontem, mas vários pequenos ocorridos me impediram de postar o capítulo do dia correto. Ainda assim corri para hoje ter o capítulo postado e espero realmente que gostem, tentarei fazer um capitulo extra nessa semana, mas não consigo prometer nada por agora.

Até amanhã com mais um capítulo de Red Blood Lipstick