sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Capítulo 4: O Segredo de Rebecca (Parte 2)



Finalmente "aceitando" sua nova condição. Rebecca se recolhe em seu quarto, e chora por horas. Ela pensa em tudo o que fez para contribuir para a falência de seu pai e também pensa na humilhação que será quando todos seus amigos descobrirem.


O celular de Rebecca toca. É Sara. A melhor amiga de Rebecca desde sua infância.


Rebecca atende. E Sara logo dispara a falar, pois está ansiosa pelo dia de amanhã, quando seu namorado finalmente voltará de sua viagem como voluntário para construção de casas para pobres. Ao pensar nisso Rebecca se pega querendo rir, será que Ricardo construirá uma casa para ela e seu pai quando não mais conseguirem pagar as contas do condomínio do prédio em que vivem?


Sara está tão animada que a princípio não percebe o desânimo de sua amiga, mas após longos minutos falando praticamente sozinha, a Sara resolve perguntar.


– Becca, você está bem?


– Estou. – Rebecca confirma, mas não a convence.


– Tem certeza? Não está doente nem nada? – insiste.


– Não. – Rebecca diz, mas percebe que não vai chegar a lugar nenhum assim, Sara a conhece bem demais. – Estou com um pouco de dor de cabeça, só isso... – isso não era necessariamente uma mentira. Todo o choro e desespero tinha lhe dado uma enxaqueca.


– Você quer que eu vá aí? – sugere Sara, preocupada com a amiga.


– Não precisa. Eu já tomei um remédio, devo ficar bem em breve. –  ela responde. – E você sabe como funciona esses remédios, não é? Daqui a pouco eu vou apagar de sono.


 – Tem certeza?


 – Tenho, de verdade. Amanhã eu vou estar bem melhor, e a gente vai poder conversar bem mais... Quer dizer, isso se o Ricardo deixar.  – força uma risada.


 – Ai, estou tão feliz pela volta dele...  – Sara volta a falar sobre o assunto, deixando de lado a preocupação com a dor de cabeça da amiga.


A campainha bate. Rebecca ignora. Alguém irá atender, mas depois ela se lembra, não há mais ninguém, não há mais funcionários, não há mais mordomias.


– Sara, eu preciso atender a porta, tem alguém chamando. – diz, dando claros sinais de que quer encerrar a ligação.


– Você? Atender a porta? – a amiga pergunta com voz de humor. – Deixe que algum funcionários atenda. – diz. – Vamos conversar sobre você, só eu falei a ligação inteira. – O coração de Rebecca dá um pulo ao perceber a gafe que acabara de cometer.


– Meu pai resolveu dispensar todos os funcionários mais cedo hoje. – Rebecca mente. – Então sobrou eu para lidar com isso.


– Mas que horror. Porque seu pai fez uma loucura dessas? – Sara pergunta.


– Não sei. – a campainha toca novamente. – Sara, eu realmente queria continuar a ligação, mas preciso mesmo desligar. – diz, enquanto se levanta da cama, para ir atender a porta.


– Tudo bem. – Sara diz um pouco cabisbaixa. – melhoras, amiga. – deseja.


– Obrigada. Até mais.


Quando as duas se despedem, Rebecca já está na sala, a poucos passos da porta de entrada.


Rebecca abre a porta e dá de cara com a última pessoa que queria ver na vida. Lucas.


Eram poucas as pessoas capazes de gostarem de Lucas, ele é brincalhão, mas não do tipo que todo mundo gosta, ele é mais do tipo que irrita, perturba, mexe na ferida. Isso o faz ser alguém com poucas amizades na escola, e as suas amizades, na maioria, são claramente falsas, por puro interesse, mas isso nunca o incomodou. Rebecca, pode-se dizer, é uma das poucas pessoas que o suportam, mas isso varia muito, o relacionamento dos dois vai de amor ao ódio em questão de minutos e isso tinha ficado bem explícito nessas férias.


– O que você está fazendo aqui? – ela pergunta já nervosa.


– Você deveria ser mais gentil comigo. – diz o garoto, que sorri largo.


– Se você já se arrependeu do nosso término, saiba que eu ainda não...


– Deixe de ser metida. – Lucas a interrompe. – Aquilo não foi nada para mim. – ri.


Rebecca e Lucas tiveram um brevíssimo relacionamento nas últimas duas semanas. Desde o início foi combinado que seria apenas um lance, nada sério e que não era algo que deveria ser espalhado para ninguém. Rebecca havia contado apenas a Sara, que claramente a julgou muito, mas foi obrigada a aceitar; já Lucas se manteve calado e não contou nada a ninguém. Juntos, os dois passaram dias de puro fogo e intensidade, mas o fim foi numa briga fulminante. Desde então os dois não se falaram. Rebecca não queria assumir, mas ela tinha nutrido um sentimento um pouco mais forte por Lucas durante esses poucos dias de namoro e a separação não tinha sido tão fácil como ela pensou que seria.



– Vai deixar-me entrar ou não? – ele pergunta. Como resposta ela apenas permite que ele passe e adentre ao seu apartamento.


Lucas entra como se morasse por lá. Senta-se espalhado pelo sofá e coloca o pé encima da mesa de centro. Ele participa do time de futebol da escola e graças a isso conquistou um corpo escultural, cabelo preto, pele branca, olhos esverdeados, recentemente, num ato de rebeldia, colocou um alargador em sua orelha esquerda.


– Você não vai me oferecer algo para beber? – pergunta assim que vê Rebecca se sentar no sofá a sua frente.


– Eu não estou no clima para sua má educação, Lucas, diga o que quer logo. – Rebecca começa a se estressar.


– Eu sei que você não está no clima. – ele diz óbvio e divertido. – Quem ficaria no clima para qualquer coisa quando se é pobre? – ri.


– Não sei do que você está falando. - Rebecca tenta disfarçar.


– Não sabe? - Lucas se ajeita. Sentando-se mais elegantemente no sofá e olhando diretamente para Rebecca. –  Você e seu pai estão falidos, totalmente falidos, pobres, muito pobres, pobrissimos…


– Cale a boca. - Rebecca grita, interrompendo-o. – Saia de minha casa. - ela se levanta.


–  Você não deveria tratar assim a única pessoa que está disposta a te ajudar.



Olá a todos(as), resolvi cortar O Segredo de Rebecca em 3 partes para que não fique um capítulo muito grande, para compensar esse monte de cortes na história dela, tentarei postar o próximo capítulo ainda amanhã. 


Obrigada e bjss




Nenhum comentário:

Postar um comentário