terça-feira, 29 de setembro de 2020

A Batalha

 Quando acorda, a primeira imagem que Lia vê é o céu cheio de estrelas que brilham como nunca. Aos poucos ela se levanta e percebe com espanto que não há ninguém nem nada ao seu lado. Ela ainda pode reconhecer a aldeia em que chegara junto a Quaraça, mas agora tudo está vazio, não há índios, nem ocas, fogueira. Nada. Por milésimos de segundos ela pensa que talvez tudo tenha sido uma grande alucinação sua, desde o início, desde o encontro com pássaro homem quando ia comprar gasolina até o momento em que veio parar neste lugar.


Ao se levantar, porém, ela sente que há alguém ali. 


Sobre as árvores que rodeiam o grande campo aberto em que a aldeia havia sido montada, algo lhe chama a atenção. O canto do pássaro lhe conforta o coração. Ela começa a caminhar em sua direção, mas o pássaro voa alto e se afasta dela. Lia sente que deve segui-lo e assim o faz.


Lia dirige com sua atenção dividida entre a estrada e o pássaro que voa incansavelmente sobre o céu. Quando menos percebe, já está de volta à capital mineira, ela para seu carro na esquina da avenida Amazonas com a Avenida Afonso Pena, algo inimaginável num dia comum, mas cá estava ela se vendo como em seu sonho. 


A avenida está vazia, a luz brilha grande no céu, ela não vê o pássaro, mas de longe o escuta. Ela começa sua caminhada pela avenida se prolonga até que chega perto do Parque municipal. Algo dentro dela ferve, vibra, como se seu instinto lhe dissesse que há algo de errado ali.


Uma figura pálida, cadavérica, de olhos pretos e profundos. A figura começa a vagarosamente a sair por entre as árvores do canteiro central e assim sua figura horrenda ganha mais detalhes. Com a camada de pele seca que está totalmente incrustada no esqueleto, fazendo com que cada osso e cada espaço vazio ficasse pronunciado com sombras e relevos, Os olhos negros e grandes se constratam com a palides de sua pele ressecada. 


Corpo-Seco.


Lia sente seu estômago revirar, a figura horrenda anda em sua direção e então ela percebe que aquilo é real, não mais parte de um sonho, não é apenas um pássaro que se transforma, mas um ser tão sinistro que nem mesmo o próprio inferno quis receber, tão repulsivo que a terra lhe vomitou e que mesmo morto continua a fazer o mal a pessoas inocentes e ela, somente ela poderia pará-lo, mas como? 


Lia se mantém parada, esperando por uma ideia, um sinal, o ritual deve lhe iluminar, deve estar acontecendo algo dentro de si para derrotá-lo, mas a cada passo que o monstro a sua frente dá, fazendo com que seu cheiro podrido seja percebido pela mulher, menos ela se sente confiante de que algo acontecerá num passe de mágica. 


Pouco menos de meio metro lhes separa, mesmo sem expressão Lia sente que o Corpo-Seco ri, feliz por achar mais uma vítima. 


Lia olha em volta a busca de algo que pode usar como arma, ela não sabe lutar, nunca precisou aprender, mas agora teria que fazê-lo. 


Lia vê um pedaço de galho a poucos passos à sua direita, ela corre para pegá-lo. Dá para ver que o galho não é muito resistente, mas neste momento está é a sua única defesa. O monstro a sua frente não é muito rápido, com sua mudança de trajeto, mesmo que mínimo, o deixou levemente desorientado. Mas logo ele se volta para ela e retoma uma caminhada um pouco mais rápida do que a primeira. Lia sente que o irritou e percebe que isso o torna mais perigoso. 


O monstro a ataca, mas ela o bate com toda a força com o galho em sua mão. Isso parece freia-lo, porém não é o suficiente para detê-lo. Lia o bate mais uma vez e escuta um estalo, ela tem a esperança de ser uma fratura no monstro a sua frente, mas é seu galho, que não irá sobreviver por muito mais tempo. Lia corre, foge de Corpo-Seco, mas sua teoria de que irritá-lo o fazia mais forte se mostra real e o monstro que antes arrastava os pés ao caminhar, agora anda rápido, quase que corre atrás dela.

Ela sabe que não deve fugir, que tem que encará-lo, mas não sabe o que fazer, não é como se existisse uma caverna próxima na qual ela pudesse prendê-lo. Teria ela que correr até outra cidade para aprisioná-lo? Ela teria forças para fazer isso? Ele continuar a segui-la após quilometros? Lia não estava preparada para isso, ela deveria ter perguntado mais, porém na urgência de salvar vidas, se jogou numa aventura que, ela até poderia ser predestinada a enfrentar mas, não sabia como proceder.


Lia para e joga de lado o galho, no chão, perto da calçada, vê umas pedras soltas, ela pega e as joga contra o monstro, o que parece fazer mais efeito no monstro do que o galho, mas, como previsto, não o para, apenas o enfada. 


Internamente Lia clama por Uirapuru, para que ele a guie e a salve dessa situação, mas nem mesmo a voar sobre o céu ela o vê mais. 


Corpo-seco volta a ficar próximo demais dela e como uma última tentativa de defesa ela resolve atacá-lo com um soco, porém, mais ágil do que deveria ser (para um ser morto), o mesmo bloqueia seu golpe e a segura fortemente pelo braço. Lia começa a sentir uma dor descomunal em seu pulso e vê que na parte onde o monstro a toca, sua pele começa a enrugar-se. Ele estava a matando! 


Lia tenta se soltar, mas o mesmo agora parece ter a força de um touro e tenta agarrá-la pelo outro braço, ela desvia, tenta golpeá-lo, tenta chutá-lo, mas a dor que sente em seu braço, que agora já se seca até os cotovelos a deixa fraca para lutar. 


Aquilo não podia ser real. Lia deseja que seja mais um sonho, que ela ainda esteja na aldeia desacordada, ou que esteja dormindo em seu sofá, mas ao abrir os olhos novamente ela ainda está ali, sendo tomada pela dor, tendo o seu braço dissecado por um ser maligno que parece ganhar força com sua fraqueza. Num último grito de esperança, Lia clama novamente pelo pássaro e desta vez ela é atendida. 


Seu piar se torna claro, o monstro a sua frente percebe e, apesar de não soltá-la, afrouxa o aperto em seu pulso. Quaraça surge como pássaro a sua frente e começa a rodear o monstro que se distrai com sua presença e assim solta a Lia. 


Uirapuru então voa alto e ao descer novamente a terra, se torna humano. Ele se posiciona entre Lia e o Corpo-Seco. 


–  Chame pelos seus antepassados, Lia! Chame pelos guerreiros, pelos escravos, pelos inocentes que por ele morreram! - o índio diz e o inesperado ocorre. 


Corpo-Seco o ataca num abraço forte, crava suas unhas sobre suas costas nuas, seus dentes em seu pescoço. Quaraça não reluta, não se torna pássaro novamente, apenas cai de joelhos, provavelmente agoniado pela dor intensa que deve estar a sentir, seu corpo aos poucos se seca e Lia se desespera, grita e lágrimas escorrem pelo seu rosto. Um ódio a consome e ela pula no monstro, o golpeando com tapas e soco até que ele solte a Quaraça, mas é tarde demais para ele, o mesmo já está mais seco do que vivo. O monstro torna a Lia, sedento por também a dissecar, mas Lia pensa em sua avó, pensa em seu cheiro, no cheiro de sua comida feita no fogão a lenha. Uma paz em meio ao ódio lhe invade e como numa explosão Lia irradia uma luz, a luz da fogueira, a luz que revela os espíritos que a ela se uniu. Um a um, lado a lado, prontos para encarar junto a ela o corpo-seco. 


Sua avó está bem a seu lado, com seu meigo sorriso costumeiro. 


–  Onde vamos prendê-lo, vozinha? - Lia pergunta, sentindo-se poderosa, porém ainda perdida. 

–   Não vamos mais prendê-lo, minha pequena. Desta vez vamos derrotá-lo! - diz convicta. 

–   Mas ele não pode morrer. - indaga.

–   Há muito mais que a vida e a morte, minha pequena, há muito mais do que podemos sonhar. 

Lia não discute, apenas confia. Os espíritos começam a fechar o círculo em volta de corpo-seco e o mesmo parece sentir que poderá ser derrotado. Ela se põe em posição de ataque, mas não sabe a quem atacar. Muitos dos espíritos que ali estão foram vítimas dele e querem redenção através de sua derrota. 

O círculo se fecha da vez mais e Corpo-Seco fica mais acuado, sem saber o que fazer. Quando o círculo já está fechado demais, os espíritos se unem novamente no corpo de Lia, mas desta vez o sentimento é diferente, desta vez ela os sente, ela sente a força que possui. 


Corpo-seco, ao vê-la novamente “sozinha”, volta a ataca-la, mas desta vez o seu toque não a machuca, até mesmo seu braço que havia murchado está como antes novamente, graças a força dos espíritos. 

Desta vez o toque do monstro causa dor nele, fumaça sai da mão que a toca e ele logo a solta e vê sua mão tornando-se cinzas. 


O monstro se afasta, mas Lia não permite ir muito longe. O que ela faria seria por todos os que sofreram pelas mãos deles, quando o mesmo ainda estava em vida e depois quando se tornara o monstro que é. E principalmente pela morte de Quaraça. 


Lia o agarra, assim como ele fizera com Uirapuru. Ela sente a luz irradiar novamente de seu corpo e isso aos poucos destrói a Corpo-seco que se esfarela com cinzas no chão. 


Quando já nada mais sobra do monstro, Lia desaba no chão, exausta. Ao olhar para o céu, ela vê as almas que a ela se uniu, elevarem-se. Ela sorri quando a alma de sua avó e se alegra quando vê o pássaro entre os que se elevam. Ele canta. Ela canta para ela, para parabeniza-la. 


Lia venceu.


...


Fim da história, agradeço a todos que acompanharam a história até aqui e espero que tenham gostado. Tentarei começar uma nova história ainda no inicio do próximo mês, então, fiquem de olho no blogger ;)

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O Ritual


Lia nem mesmo sabe como chegou a seu trabalho, toda aquela história contada pelo jovem guerreiro apaixonado lhe tirara todo o rumo. Assim que entra na redação ela vai direta para a mesa de Carlos Mendes, ele era o chefe da área de noticias do site, se existe alguém que poderia confirmar a informação passada pelo homem pássaro, era ele.


– Claro que você pode me perguntar o que quiser. - ele sorri simpático. Carlos é um homem de meia idade, com reentrâncias na cabeça e barrigudo. Mas o que mais lhe representa é sua constante simpatia.

– É sobre o caso de ontem, das mortes misteriosas. - ela inicia 

– Já sei, você tem uma teoria? - ele pergunta. – Olha, duvido muito você me surpreender, o pessoal na internet estão bem criativos. 

– Não, na verdade eu queria saber se você chegou a ver os corpos… Se tem algo a mais que os arranhões e os ossos quebrados. - Carlos arregala os olhos; se levanta de sua cadeira e olha para os lados, checando se havia alguém escutando a conversa deles. Mesmo não vendo ninguém, ele se aproxima de Lia ao falar e sussurra. 

– Você também sabe? - ele pergunta. – Sobre o…

– Sangue? - Lia conclui.

– Ou sobre a falta dele. - Carlos diz ainda aos sussurros. – Tem muita coisa estranha nesse caso, a polícia exigiu que a imprensa ocultasse algumas informações para não apavorar ainda mais a população, mas… Sendo bem sincero, eu estou ficando apavorado. 

– Eles tem alguma teoria? 

–  Um ritual macabro feito por um grupo bem grande, talvez com algum tipo de químico ou máquina capaz de tirar todo o sangue de uma pessoa em pouco tempo, já que todas as vítimas foram vistas por alguém pouco tempo antes de serem encontrados mortos. Para ser real, eles estão tão perdidos quanto qualquer um. 

– Mas e você? O que você acha?

– Eu sou bem cético, mas… Eu acho que não é algo humano. - Carlos a olha como se esperasse pelo seu julgamento, mas Lia apenas assente, pois agora ela sabe que por mais ridícula e louca que a história contada pelo Quaraça fosse, ao que tudo indica, o mesmo estava a falar a verdade.


O dia passa e Lia não consegue focar em nada, se não fosse por sua equipe, provavelmente não teria conseguido postar nada na área de gastronomia, dois dias seguidos de conteúdo pobre poderia significar um demissão. 


Quando seu turno acaba Lia nem mesmo se despede de ninguém, corre para seu carro e dirige no limite que é permitido, faz ultrapassagens que não deveria fazer, tudo para chegar o quanto antes em seu prédio. 


Ao adentrar em seu apartamento ela se dá conta da loucura que ela quer fazer. Ela é a única capaz de derrotar o Corpo-Seco e evitar mais mortes, mas como ela, uma mulher não ativa, que mal consegue subir dois lances de escadas sem sentir que vai infartar poderia lutar contra esse monstro? Ela nem mesmo sabia como encontrá-lo! Será que ele morre com tiro? Mas onde ela iria arranjar uma arma? Só uma pessoa, ou ser, ou ave, vai lá saber, saberia responder essas questões. 


Lia vai até a janela de seu quarto e a abre, ela se senta na cama e fica olhando para o céu a escurecer, há muitas nuvens e tudo indica que amanhã seria um dia chuvoso. Lia espera, mas o pássaro não aparece. Lia vai até a janela novamente e começa a chamar pelo pássaro.

–  Passarinho! Pspsps! Vem cá passarinho! - não demora muito para que Lia perceba o quão idiota era o que ela estava fazendo, mas que culpa ela tem? Como ela vai ser a melhor forma de chamar um pássaro? 

Lia então procura na internet um vídeo de um uirapuru cantando, quem sabe o homem pássaro escuta e isso o atraia até a ela. 


Quinze minutos de áudio é o limite para que Lia perceba que não dará certo. Ela teria que suportar sua ansiedade e aguardar que o pássaro decida que quer voltar. 


Lia então percebe que mal se alimentou durante o dia, então vai até a cozinha, prepara um chá de maracujá e abre um pacote de biscoito de polvilho. 


Quando já está prestes a acabar sua refeição, alguém bate a porta. Lia estranha, pois não espera ninguém, mas decide atender. 


Ao abrir a porta encontra o homem pássaro, ele veste uma calça de moletom que está claramente larga e uma blusa do flamengo. Ele ri embaraçado. 

– Você falou roupas. - ele a lembra. – Talvez eu seja preso por isso. - ri. Lia também ri e a ideia de que um pássaro roubara essas roupas de alguma loja a faz esquecer de sua ansiedade por breves segundos. 

– Então eu tenho que matar um vampiro? O que eu preciso? Alho? Uma estaca de madeira?. - Lia pergunta enquanto abre espaço para que ele adentre a seu apartamento. O homem ri.

–  Ele não é um vampiro, você não precisa ser especial para matar um vampiro. - ele responde e Lia não sabe se ri ou se fica com medo, afinal, vampiros são reais?. – Fora que você não irá matá-lo. - diz penoso. –  Ele já está morto, não tem como matá-lo novamente. 

– Então vou lutar contra um zumbi? Tenho que acertar a cabeça?

– Quanta loucura, zumbis não existem. - acha graça o homem que é pássaro.

–  Mas… Mas então o que devo fazer? 

– Terá que aprisioná-lo novamente.

–  Mas como farei isso?

–  Você é a predestinada a isso, mas não está preparada ainda. - Quaraça revela. Lia cruza os braços impaciente, pessoas estão morrendo e ela inda vai precisar perder tempo para se preparar? –  Calma. - ele percebe sua inquietação. –  você precisa passar por um ritual do nosso povo, para que os espíritos dos nossos ancestrais se una a você e te guie até ao Corpo-Seco. 

– Esse ritual também me dará a força que preciso? - Quaraça dá um sorriso largo, mas não responde a pergunta.

–  Se quiser, podemos fazer o ritual ainda hoje, você está preparada?  


Uma viagem de duas horas de carro os leva a uma pequena reserva indígena que fica na região metropolitana da capital mineira. Ao chegar lá, eles são bem recebidos, já é quase meia noite, mas eles pareciam preparados para recebê-los. 


Uma fogueira no meio da aldeia está acesa, todos os homens da tribo formam um círculo grande e se ajoelham, em suas mãos carregam lanças e é possível escutar que eles murmuram uma canção. As mulheres da tribo estão em um círculo menor, de pé, elas cantam alto e dançam. Uma índia mais velha, de longos cabelos brancos se aproxima de Lia, que está sentada próximo a fogueira. O calor e a fumaça a incomoda, mas ela não reclama, apenas se permite apreciar tal celebração. A índia pega uma tigela feita com a casca de coco e logo Lia percebe que se trata de tinta, pois a idosa coloca o dedo e passa no rosto de Lia. A tinta é gelada e cheira a cúrcuma. Uma outra indígena surge pelas costas de Lia e lhe põe no pescoço um colar ornamental, feito com flores, folhas, pequenas pedras e sementes. O colar é bonito, porém pesado. Uma terceira índia aparece com um defumador, Lia não sabe quais plantas e ervas estão sendo queimadas no defumador, mas ao exalar o cheiro que expele, ela se sente calma e forte ao mesmo tempo.

– Olha fogueira. - diz a velha índia. – olha direto. 

A claridade incomoda a Lia, mas ela assim o faz. Como se entrasse em um transe, Lia vê rostos desconhecidos, porém todos parecem fortes, guerreiros, negros, índios, brancos. Esses rostos se aproximam, tomam forma, criam corpos e se unem a Lia, ela vai se sentindo cada vez mais forte, cada vez mais poderosa, como se ela fosse explodir. E quando ela acha que não vai mais aguentar, ela visualiza sua avó. 

–  Vó? - ela a chama. A velha senhorinha, de sorriso meigo, cabelos curtos e bochechas grandes a olha com um olhar amoroso. 

–  Então você irá enfrentá-lo, minha pequena. Estou orgulhosa.

–  Como você sabe disso? 

–  Eu também fui chamada… Mas nada pude fazer. - a velha abraça a Lia e a jornalista percebe que a presença da avó não é física e sim espiritual. Nós iremos lhe guiar, minha pequena, e você o derrotará. 

Lia quer dizer algo para avó, dizer como sente sua falta, como está feliz em poder vê-la, mas a mesma sente os olhos pesarem e o corpo amolecer. 

Escuridão.


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Corpo Seco

Lia corre. Ela sente seu coração na boca, o ar do qual seus pulmões se enchem não parecem suficiente, mas ela não para até encontrar o posto de gasolina. Quando chega, os frentistas logo percebem seu desespero e os que não estão atendendo alguém, correm para ajudá-la.

– O que aconteceu moça? - pergunta um dos frentistas ao segurar seu braço, já que a mesma aparenta estar cansada demais para se manter de pé. 


O outro frentista corre e pega um banquinho para que ela se sente, o mesmo, logo após ver que a jornalista ainda está desesperada vai até o bebedouro e a traz água.

Aos poucos sua respiração volta ao normal e seu coração se acalma, mas a pergunta, que novamente é feita, continuar sem respostas. 


– O que aconteceu? Foi assalto? - o frentista pergunta novamente. Lia o olha se saber o que dizer, como falar que um pássaro se tornou homem e falou com ela, sem soar como uma doida?

– Sim, foi isso, tentaram me assaltar. - ela mente. 

– Você quer que chame a polícia? Levaram algo?

– Não, não levaram nada, não precisa chamar a polícia. - o frentista assente. – Preciso de gasolina, meu carro parou a duas quadras daqui. - o frentista pega o galão com uma careta, eles nunca gostam de vender gasolina assim, mas ele decide ter compaixão pela moça a sua frente. 

Ao voltar com o galão cheio, Lia paga pela gasolina. 

– Você vai voltar para seu carro sozinha? - o frentista pergunta. – É perigoso uma mulher andar sozinha assim, já é noite. - ele a lembra de algo que toda mulher já aprende desde muito nova. 

– Eu sei, mas terei que arriscar, não posso deixar meu carro lá. 

– Entendo… Se quiser esperar um pouco, em meia hora termino meu turno, posso lhe acompanhar até seu carro. - assim como toda mulher sabe bem que andar de noite sozinha é perigoso, ela também sabe que andar com um desconhecido é tão perigoso quanto. 

– Eu estou bem. Creio que ele também correu, qualquer coisa taco esse galão na cabeça dele. - ela ri e o frentista também. 

–  Você que sabe, moça. Qualquer coisa grita bem alto, se eu escutar corro atrás. - Lia agradece ao frentista do qual nem mesmo perguntou o nome e a passos largos volta pela mesma rua que teve aquele estranho encontro. 


Quando chega perto da árvore do qual o uirapuru surgira, Lia olha para todos os lados, preparada para ver o homem pássaro novamente, mas nada vê, então ela apura seus ouvidos, a procura de seu piar. O silêncio impera. 


Já no seu apartamento, ela troca de roupa, cansada demais para tomar mais um banho, apenas coloca seu pijama e procura na geladeira algo que comer. 

No fim ela decide fazer um chá de erva cidreira e comer torradas com requeijão. Lia se joga no sofá e liga a TV, no canal passa um filme. Ela não presta atenção no filme, nem mesmo sabe qual é, pois logo se distrai com seu celular. Quando assusta, ela cochila com a TV ligada e celular na mão. Lia não queria dormir, depois da experiência de hoje tinha medo de sonhar com o pássaro, mas ela sabia que não conseguiria se manter acordada por muito tempo, ela já sentia seus olhos pesados. 


Ela vai para seu quarto e tenta enrolar um pouco mais lendo o livro O Grande Sertão: Veredas, do autor brasileiro João Guimarães Rosa. 

Ao terminar um capítulo o sono já lhe consome por inteiro, não há mais como lutar. 


Ao contrário do que ela poderia imaginar, ela dorme tranquilamente, não sonha com nada, apenas descansa como nunca antes. 


Entretanto sua paz logo lhe é tirada no momento em que desperta. O susto que ela toma a faz pular da cama, pegar seu abajur e jogar direto no homem sentado em sua cama. O mesmo é atingido em cheio na testa. Lia sabe que deveria correr, aproveitar que desestabilizou o invasor e partir numa fuga, mas logo ela o reconhece, é o homem pássaro, novamente. 


– Como você conseguiu entrar aqui? - ela pergunta agressiva. 

– Entrei pela janela. - ele responde calmamente, ainda sentado no mesmo lugar, no canto da cama de Lia. – Você deixou a janela aberta. - Lia se permite olhar rapidamente para constatar o que o invasor diz. E ele não mente. 

– Esse é o sétimo andar de um prédio, não tem como você pular a janela.

– Eu sou um pássaro, eu voo. - ele diz obvio. 

– Mas você é um homem! 

– Também. - admite.

– É você está nu! - Lia agora percebe e se vira para não mais olhá-lo diretamente. 

– Pássaros não usam roupas. - ele responde sem pestanejar.

– Mas você é um homem! - ela repete, irritada. 

– Também. - ele também se repete. 

Lia suspira frustrada. Ela tem medo, mas sabe que tem que considerar múltiplas variantes antes de reagir novamente. 

  1. Ao que tudo indica aquele homem pássaro já estava em seu quarto por um tempo razoável, se ele quisesse matá-la, já teria. 

  2. Ela realmente o viu se transformar de pássaro a um homem na noite anterior, então ele ter entrado pela janela voando não deveria ser mentira.

  3. Ela ainda poderia estar sonhando, talvez impressionada pelo encontro da noite anterior. 

  4. Ela realmente sonhava com o som daquele pássaro desde muito nova e talvez, agora, prestes a completar 30 anos, ela finalmente descobriria o motivo de seus sonhos. 


– Pelo menos se cubra com o lençol, não sou obrigada a vê-lo nu. - ela diz e escuta o barulho do seu lençol sendo puxado. 


Ao se virar novamente ao homem, Lia agora pode observá-lo melhor. É um homem por volta dos 1,70, magro, de pele morena, cabelo liso, preto indo até suas orelhas, nariz largo, rosto arredondado, parece bem jovem, até mais jovem que Lia. O mesmo tem algumas pinturas na cara que muito se assemelham as pinturas indígenas. 

– Quem é você? Qual o seu nome? O que você quer comigo? - Lia dispara. 

– Me chamo Quaraça, sou um homem guerreiro indigena, mas… Também sou o uirapuru.

– Como isso pode ser possível? 

– Você conhece a minha história? A minha lenda? - ele pergunta. Lia pestaneja. Ela muito pesquisara sobre o pássaro e seu significado, muitos creem que ele é o símbolo da felicidade e que quem o encontra pode ter um desejo realizado, mas nunca parou para ler sobre sua lenda. Ao perceber isso Quaraça começa – Eu adorava passear pelas matas tocando minha flauta de bambu, mas eu era mais apaixonado ainda pela bela índia, Anahí…. Mas ela era casada com o cacique da tribo… Sofri muito, pois sabia que meu amor jamais seria correspondido, por isso fui à floresta e pedi ajuda ao deus Tupã. Tupã me transformou num pássaro e assim eu pude voar e sempre que via minha amada, pousava perto dela e cantava. Ela ficava maravilhada com meu cantar… - o sorriso que o índio tem em seu rosto mostra o quão apaixonado o mesmo era (ou talvez ainda seja) pela Anahí… Mas o cacique também se encantou com meu canto e começou a me caçar, para me aprisionar, mas eu o fiz se perder na floresta e assim pude ficar ao lado de minha amada, até que ela percebesse quem eu era, e assim quebrasse meu encanto.

Lia não fala nada de pronto. Ela tenta assimilar a história, o que não é muito fácil. 

– É uma… Bela história… - se limita a dizer. O homem na sua frente espera pela próxima pergunta, mas como a mesma não vem, ele se adianta. 

– Venho tentando me comunicar com você por anos, sinto muito lhe assustar assim, mas se você não agir agora, muita gente corre perigo. 

– Do que você está falando? 

– Do Unhudo ou Corpo-Seco, não sei como você o chama. 

– Eu não o chamo de nada, pois não faço ideia do que você está falando. 

– Entendo… Para muitos ele também é uma lenda, mas assim como eu, ele é bem real… E muito mal. - na sua voz é perceptível o pavor.

–  Quem é esse corpo-seco? - Lia pergunta. 

– Bom, ele era um fazendeiro chamado Antonio Miguel, ele sempre foi maquiavélico, na época da corrida do ouro, todos os garimpeiros temiam a ele. Ele era muito rico, mas muito ruim, ele batia na mãe, na mulher e na filha, tanto que elas fugiram dele. Ele mandava os seus escravos mais velhos cavarem uma cova e depois ele mesmo os jogava na cova e os enterrava ainda vivos. Ele tinha muito ouro escondido, mas do que se podia imaginar, e aqueles que descobriam, eram assassinados cruelmente. Cometeu tantos crimes que nem mesmo posso enumerá-los. Mas na maioria das vezes suas vítimas eram seus escravos e os crimes contra escravos não era vistos como crime pela coroa portuguesa, Miguel Antônio nunca foi julgado por essas mortes. Ele viveu até os 115 anos e morreu de uma doença estranha, que fazia o corpo queimar. Contudo, nem mesmo ao ser enterrado o mesmo descansou. Sua alma era tão imunda que nem o céu e nem mesmo o inferno o aceitou, a terra tampouco o queria, enojada por sua carne a terra o repeliu, fazendo-o submergir, e ele, de certa forma, pode voltar a viver. 

“Ele não mais possui fortunas, seu corpo é seco, de pele engelhada sobre os ossos, tem nas mãos garras afiadas…Ele vive de sugar a vida, quando na mata, ele se esconde nas árvores porém para sobreviver ele tem que se alimentar, e a única coisa que o sustenta é sangue humano... Há muitos anos atrás, uma mulher muito poderosa, líder de uma tribo conseguiu aprisioná-lo numa caverna, para que ele não mais pudesse se alimentar de mais ninguém. Mas há alguns anos ele foi libertado e aos poucos vem ganhando força. E só você pode nos salvar. Só você pode impedi-lo”

– Não, não e não! Espere aí, você por acaso é louco? - Lia se indigna. – Sua história é bonitinha, romântica, parabéns… A história do… Corpo-Seco… É horrível, arrepiante. Mas nada disso faz sentido. Porque você, que só queria amar sua Anahí, está me perturbando por causa de um tal de Corpo-Seco? E porque eu?

– Eu sei, você deve estar confusa, é muito para absorver… Como eu disse, uma líder indigena o prendeu na caverna, ela era de uma linhagem bem específica de indígenas, que foram abençoadas pelo deus Tupã para serem guerreiras contra os maus espíritos. Você é descendente dessa india. - Ele explica. – Eu entro nesta história porque essa linhagem vem da minha amada, Anahí. 

Lia não diz nada. Nada daquilo fazia sentido.

– Se você não acredita em mim, lhe darei mais uma prova. Estão escondendo um detalhe muito importante sobre as mortes misteriosas, em que as pessoas estão sendo arranhadas e esmagadas… O sangue deles foi completamente drenado e ficaram com a pele seca, assim como seu assassino. 


Lia assente, ela iria procurar por essa confirmação.

– Posso voltar amanhã? Para lhe explicar o que você deve fazer? - ele pergunta.

– Somos parente? - Lia pergunta, só agora começando a digerir a história. Quaraça ri divertido.

– Distante, mas sim.

–  Então sou indígena. - conclui.

–  Todo brasileiro tem um pouco de índio, escravo e europeu. - Lia concorda e suspira, sua cabeça já está cheia demais.

– Venha vestido da próxima vez.


.... 

Olá gente, peço desculpas por não ter postado ontem, mas hoje vim com o capítulo. Espero que estejam gostando da história. 

Os comentários estão sendo respondidos nos próprios posts. 

obrigada e beijos

terça-feira, 22 de setembro de 2020

O Encontro

Caso queira ler a versão completa, é só prosseguir com sua leitura aqui mesmo, porém, se preferir ler a versão resumida, basta entrar neste link A Lenda (Versão Resumida)


...

Ao acordar Lia se dirige até o banheiro e permite se encarar no espelho por alguns segundos. Ela não se deixaria abalar pelo novo rumo em seu sonho, o roteiro e suas pequenas variantes já a acompanham por tempo o suficiente para ela não mais se importar.  

Após tomar banho e arrumar seu cabelo, deixando seus finos cachos mais volumosos e definidos, Lia coloca uma calça jeans e uma blusa de manga que vai até os cotovelos, soltinha de pano leve e de botões, da cor branca. Lia deixa a maior parte dos botões da blusa fechados, para que o seu decote não chame muita atenção no seu meio de trabalho, apesar de ter a sorte de trabalhar em uma empresa bem livre, onde o que o que cada funcionário veste nunca é questionado, Lia ainda gosta de manter certa classe.  

Lia trabalha na redação de um site de notícias e entretenimento voltado para o estado de Minas Gerais, o site tem grande influência nas redes sociais e ela é a responsável pela parte da gastronomia. Apesar de não poder se considerar uma Masterchef, a culinária sempre foi sua paixão, as melhores lembranças da sua infância giram em torno do fogão a lenha de sua avó, no sítio da família. Embora tenha paixão pela comida, quando precisou escolher sua faculdade, decidiu-se pelo jornalismo. Por sorte pode dizer que não se arrependeu de sua escolha e ainda pode comemorar o fato de ter alcançando um bom cargo numa boa empresa com a possibilidade de juntar suas duas paixões.  

Ao terminar de se arrumar, Lia desce até a garagem do prédio em que vive e entra em seu carro, um corsa cinza. Logo que entra, já liga a rádio, ela sempre gosta de escutar as notícias enquanto se dirige ao trabalho. 

Após tocar uma música da Marília Mendonça o radiologista começa a dar as notícias do dia: 

" Ambulantes encontraram mais um corpo na rua, desde vez a vítima se encontrava próximo ao complexo da Lagoinha. A causa da morte ainda não  foi oficialmente revelada, mas as informações que temos torna essa morte muito semelhante a outros dois casos que ocorreram na semana passada, em que as vítimas foram encontradas com arranhões pelo corpo, e com os ossos do tórax quebrados, como se o indivíduo tivesse sido esmagado. O nome da vítima não foi revelado, mas sabemos que se tratava de um homem de aproximadamente 20 anos que era morador da região.  

A polícia não descarta a possibilidade de um possível assassino em série estar atuando na capital, mas pede que a população mantenha a calma, e garante que estão trabalhando com empenho para prender o assassino. Qualquer Informação deve ser notificada a polícia através do número 181, você não precisa se identificar…" 

Lia já pensa no caos que estará a redação quando chegar no trabalho. Nos casos da semana passada, a cobertura da notícia rendeu um número de interações recorde para o site e várias teorias já haviam sido criadas pelos leitores, desde de um bicho selvagem a solta à um estranho ritual pagão. Provavelmente hoje tudo seria ainda maior já que a própria polícia acredita na possibilidade da existência de um assassino em série… Se não queriam causar pânico, pode-se dizer que falharam.  

A redação fica no segundo andar de um prédio comercial na região centro-sul da cidade de Belo Horizonte, e como previsto, todos estavam como loucos a buscar mais informações sobre o novo caso, até mesmo alguns jornalistas responsáveis por outras áreas estavam juntos na busca de qualquer pista. Provavelmente Lia seria deslocada para essa função também. Tudo para que fossem os primeiros a noticiarem todos os detalhes possíveis.  

O dia de trabalho é cansativo, o horário de almoço é corrido e o estresse domina a redação. Praticamente todos estavam focados em descobrir mais sobre as mortes e por isso as outras áreas do site foram quase que abandonadas. Lia teve que se contentar em postar apenas uma receita de galinhada com fotos de arquivo. Depois disso teve que ajudar nas atualizações do caso, a cada nova pista, uma nova postagem era feita às pressas, e para garantir a qualidade, todos tinham que correr contra o tempo para averiguar a notícia, fazer a reportagem, revisar o texto, criar uma chamada, procurar imagens e publicar de maneira apropriada nas diferentes redes sociais.  

Quando seu turno finalmente acaba, o sol já desce no horizonte e ela não aguenta mais ouvir sobre ossos esmagados, arranhões, e teorias de monstros, ets e psicopatas. Lia só queria que aquele tormento acabasse. 

A volta pra casa tampouco é das melhores, o trânsito está infernal. Para tentar contornar o engarrafamento infinito, Lia faz uma rota diferente, fugindo das avenidas principais e cortando  caminho por ruas domiciliares. A volta seria maior, mas pelo menos ela sairia do lugar.  

Como se o universo estivesse num complô contra a jornalista, seu carro para e só aí ela percebe que está sem gasolina. Ela deveria ter prestado atenção, mas o cansaço do dia lhe sugara a energia.  

Lia procura pelo Google Maps qual o posto de gasolina mais próximo, na esperança de não precisar chamar um reboque para algo tão simples. Felizmente um posto de gasolina está aberto a dois quarteirões de distância.  

Lia pega um galão de 3L no porta mala e sua bolsa, carteira, celular e a chave do carro. Ela não sabia dizer se era seguro deixar seu carro ali, pois não conhecia a rua, mas no pior dos casos, teria os quatro pneus roubados, já que o carro não andaria.  

Ela ainda caminha pelo primeiro quarteirão quando um som a surpreende. Por ser tão familiar, ela não percebe de início, mas assim que compreende, ela para de andar.  

O piar vem de muito perto. Ela olha para todos os lados a procura do Uirapuru, mas não o vê. 

Ela volta a andar, aquilo não era possível, aquela ave não migrava para o sudeste, pelo menos era o que ela achava... O cantarolar do pássaro deveria ser coisa da sua imaginação.  

No entanto ela não vai muito mais longe, o piar se intensifica perto de uma árvore de ipê, e lá ela vê o pequeno pássaro.  

O choque a faz paralisar por alguns segundos. O pássaro para de piar ao vê-la, mas o mesmo não foge, muito pelo contrário, com um curto voo ele para bem a sua frente. Lia observa aquilo sem acreditar no que vê.  

O passarinho voa e Lia pensa em retornar sua jornada ao posto de gasolina, tentando não se impressionar com o que acabara de acontecer, mas poucos passos são dados quando o barulho das asas do pássaro batendo chama sua atenção, o barulho é mais alto do que deveria.  

Lia se torna em direção do barulho e o que vê a faz soltar um grito. O pássaro, ainda no ar, aos poucos se transforma na figura de um homem. 

Ela tem que estar sonhando, aquilo não poderia ser real! 

Lia começa a correr, seu grito de espanto faz com que os cães das casas ao redor comecem a latir com intensidade, logo alguém iria aparecer para ver do que se tratava e ela não gostaria de ter que se explicar, ninguém iria acreditar no que ela vira, pois nem mesmo ela crê.  

O homem, porém, também corre atrás dela e logo a alcança, segurando-a pelo braço.  

É tão real que Lia sente que vai desmaiar, mas quando vê o olhar do pássaro que é homem ou do homem que é pássaro ou seja lá o que isso seja, Lia se surpreende mais uma vez: ela reconhece esse olhar. É o mesmo olhar do pássaro do sonho.  

Prendida por esse fato inesperado, Lia para de se contorcer para se soltar, e percebendo que ela não mais reluta, o homem-pássaro a liberta.  

O coração de Lia está acelerado, ela quer fugir, ela quer acordar desse sonho/pesadelo, mas a confusão não a deixa fazer nada.  

O homem pássaro então reage e fala com uma voz que ela também pode reconhecer do sonho que teve na madrugada anterior, a frase, inclusive, é a mesma.  

– Nos ajude!

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O Chamado

Bom, antes que comecem a ler a história, gostaria de deixar mais algumas informações. 

Como foi dito anteriormente essa história faz parte de um desafio. Como todo desafio há  regras a serem cumpridas e (como esperado), me empolguei e excedi o número de palavras. 

Decidi postar aqui no Blogger a versão completa e no Wattpad a versão resumida, que cumpre a regra de limite de palavras. 

Caso queira ler a versão completa, é só prosseguir com sua leitura aqui mesmo, porém, se preferir ler a versão resumida, basta entrar neste link A Lenda (Versão Resumida)


...


Lia anda sobre a avenida, seus cabelos cacheados voam com a brisa gélida da madrugada, o pássaro canta sobre a lua. Nenhum carro passa pela rua, o que é  estranho, ela não sabe dizer muito bem onde está, mas a larga avenida e o canteiro central muito se assemelha a Avenida Amazonas, no centro da capital mineira. 


O sonho era quase sempre o mesmo, desde quando Lia ainda era bem pequena, mas a medida que a sua idade avançava o sonho se tornou mais vivo e ganhava novas partes, mas a essência ainda estava ali. 


No começo, até meados dos seus 10 anos, o sonho sempre se passava em uma estrada simples de chão batido, numa floresta densa que a levava para uma caverna e como seu guia, sempre tinha um pássaro a cantar, seu piar é mavioso, longo e melodioso, parecido com uma flauta. Aos 12, pela primeira vez, quando chegou perto da caverna, o pássaro se calou, mas um grito horrendo ecoou pela entrada da mesma, a jovem ficara muito traumatizada com aqueles sonhos, tanto que evitava ao máximo entrar em sono profundo, mas é claro que às vezes o cansaço a vencia e lá estava sua jornada até a caverna. 


Por volta dos seus 19 anos, no sonho, ela não mais caminhava pela floresta em direção a caverna, ela agora andava sobre as ladeiras do que parecia ser uma cidade histórica, como Ouro Preto. Sobre as ruas de pedra e casas construídas no estilo barroco que se desenvolveu no estado de Minas Gerais entre o início do século XVIII e o final do século XIX, ela sobe a ladeira. O pássaro se mantinha o mesmo, mas ao chegar ao que seria seu destino final, ela não mais escuta o grito que tanto a atormentava, mas uma risada. A risada não era contagiante, chegava próximo a uma risada maléfica, mas naquele ponto, desde que não fosse o grito, Lia não mais se importava com o que escutaria no final.


O sonho hoje mudara pela primeira vez em muito tempo. Ela agora está na capital, no meio urbano. A avenida está vazia e o pássaro canta. A caminhada parece mais longa desta vez e o piar do pássaro se torna mais forte a cada passo. Lia espera pela risada ou pelo grito, mas no fim, no meio do asfalto ela apenas vê um pequeno pássaro com os pés grandes e plumagem pardo-avermelhada.


Lia já sabia que se tratava de um Uirapuru, um pássaro  mais comumente encontrado (apesar de hoje estar na lista de animais em extinção) no norte do Brasil, principalmente na floresta Amazônia. Ainda assim, mesmo nunca tendo saído de Minas Gerais, Lia conhece sua melodia, já que seu som a persegue em seus sonhos desde muito nova. Esta porém é a primeira vez que o pássaro dá o ar de sua graça.


A pequena ave a fita com intensidade, seus olhos não parecem selvagens, mas sim algo próximo de um olhar humano, o que surpreende a Lia. 


Quando ela sente que irá despertar do seu sinistro sonho, algo ainda mais inesperado acontece. O pássaro fala, não, ele não pia, ele não canta, ele fala:


– Nos ajude!


sábado, 19 de setembro de 2020

Sinopse de A Lenda

Lia é uma mulher prestes a completar 30 anos, jornalista, que vive na capital de Minas Gerais, Belo horizonte, desde muito nova tem um sonho recorrente. O que ela mal sabe é que esse sonho é um chamado real, onde ela é a única capaz de atender e assim salvar várias de vidas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Nova História para o Desafio

 Olá a todos, eu vou falar um pouco sobre as próximas postagens. Estou no processo de reescrever Secrets e também estou com uma nova história sendo escrita que até então se chamará Red Blood Lipstick, mas a próxima história a ser postada será a que fará parte do novo desafio da página Fábricas de Histórias. Como eu disse anteriormente, essa história será umas das minhas primeiras tentativas de escrever uma história de fantasia. Para ser honesta, já escrevi histórias de fantasia antes, mas nunca as postei, então essa, de certa forma, será um teste, e conto com vocês para ler e opinar de forma sincera nos pontos em que acertei e nos que errei. 

Para adiantar um pouco mais do que virá, falarei um pouco do desafio e do rumo que levarei. 

Nesse mês o Brasil comemora sua independência e fomos desafiados a escrever uma história ambientada no Brasil. No primeiro momento pensei que seria muito fácil, afinal nasci e fui criada no país, porém percebi que ainda assim tudo o que eu pensava acabava levando a história para um caminho estereotipado o que não quero que aconteça. 

Por essa razão eu vou falar de algo mais focado na própria cultura do Brasil, como o folclore e crendices. Vou utilizar de folclores conhecidos no país, mas claro, farei algumas sutis adaptações para caber no enredo que criei. 

Sobre o cronograma para as postagens:

Sinopse: 19/09

Capítulo 1: 21/09

Capítulo 2: 22/09

Capítulo 3: 23/09

Capítulo 4: 25/09

Capítulo 5 (final): 26/09

Bom, basicamente é isso, espero que gostem da nova história.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Futuro do Blogger e Resultado do Desafio

 Oi, quero justificar meu desaparecimento, pois meu notebook estava com defeito e isso me impediu de voltar a postar aqui mais prontamente. Mas agora estou de volta e tenho muito a falar.

Primeiramente digo com muita felicidade de fui uma das vencedoras do Desafio Literário o que foi um grande incetivo para mim, afinal, apos tanto tempo longe da escrita, saber que meu conto foi aprovado por um grupo de jurados super respeitado é indescritível. E dito isso confirmo de antemão que irei participar de mais um dos desafios. 

Ainda estou criando a historia, mas posso adiantar que esse terá uma pegada diferente do que a que vocês estão acostumados a me ver escrevendo, pois terá muita fantasia... Em breve devo postar mais informações.

Segundamente (ou eu devo considerar como terceiramente?) voltarei a escrever mais ativamente por aqui. Tenho varias historia em mente, mas creio que a primeira que pretendo postar é Secrets. Quero reescrever a historia desde o inicio, não devo mudar muito do enredo original, mas creio que hoje tenho mais maturidade para escrever sobre os assuntos abordados na historias, já que nela havia assuntos delicados e sérios, dos quais só hoje percebo que devo tratar com mais respeito e delicadeza. 

Bom, creio que estas são as novidades. Deixarei a baixo o Selo que ganhei com o conto Exile e também o Podcast onde você pode conferir os outros vencedores.