Domingo
Raj segura
minha mão, mas isso não me impede de seguir tremula.
Olho para o
alto e ele sorri para mim, acalmando-me.
– Vai ficar tudo bem. – ele diz.
–
Não sei. – digo.
–
Ele vai gostar de você. – ele garante. – E você vai gostar dele. Vocês serão
felizes juntos. – ele insiste.
–
Não sei. – repito ainda mais cabisbaixa.
Ele
percebe minha tristeza, solta minha mão e se abaixa, para ficar a minha altura.
Raj
é alto, ele tem quase 2 metros, já eu sou baixinha, mesmo já tendo 18 anos, não
passei de 1,54. Ao abaixar-se ao meu lado, ele fica bem pouco abaixo de mim.
–
Não fique assim, menina Kami, os seus pais não lhe entregará para uma família
qualquer. – ele diz com sua voz doce.
Raj
não e apenas um empregado de nossa família, ele é O empregado.
Minha
família é rica, nossa casa é grande e para manter a ordem mantemos um grande
número de empregados. Alguns passaram a vida inteira aqui, outros já foram
demitidos ou pediram demissão com menos de uma semana de serviço. Raj está aqui
desde que eu sou pequena, ele me viu dar os meus primeiros passos.
Ele
começou como motorista, mas hoje é praticamente o mordomo da casa. Ele é bom,
sempre esteve ao meu lado e sempre cuidou de mim. Arrisco-me a dizer que ele é
como um pai, ele sempre esteve mais presente em minha vida do que meu pai
biológico.
–
Eu não quero ir. – digo. – Eu não quero me casar.
–
Você ainda não sabe. – ele acaricia minha bochecha direita. – Casamento é algo
bom.
–
Meus pais simplesmente pegaram o cara mais rico que encontraram. – digo. – É
tudo por status.
–
E isso é bom, sua vida vai melhorar.
–
Minha vida já esta boa.
–
Kami, não fique assim, você pode se surpreender.
–
Mas Raj.
–
Olhe. É difícil para seu pretendente também. Faça por ele.
–
Eu não quero. – digo e sei que estou sendo chata, mas não consigo evitar.
–
Então faça por mim. – ele pede.
Equilibro
a bandeja com Chaí, e ando devagar para não deixar cair. Estou nervosa e minha
mão treme o que faz que esta tarefa simples se torne complicada.
Após
colocar a bandeja na mesa de centro e servir aos pais do meu pretendente e ao
meu pretendente sento-me no centro do sofá, no meio de meu pai e minha mãe.
–
Kami foi educada nas melhores escolas do país, é uma menina prendada e muito educada.
– meu pai diz.
–
E muito bonita, pelo que vejo. – quem diz é a mãe do meu pretendente.
Eu
sorrio fraco.
–
A menina tem voz? – ela pergunta.
Olho
para minha mãe e ela não demonstra nada, nem apoio, nem repreensão, olho então
para meu pai e ele nem mesmo me olha. Sinto meu coração disparar, devo ser
discreta, mas também devo ser educada, falar algo pode me manter no quesito
educação, mas me fará sair do quesito: discreta.
Então
o que fazer?
Nem
mesmo sei por que meus olhos se focam neste ponto em particular, mas logo vejo
um movimento pequeno num breve vão que tem na porta que separa a sala do
corredor que fica o escritório de meu pai, a biblioteca e outros cômodos não
muito utilizados e a sala em que estamos.
É
Raj, ele tenta me dizer algo, pressiono os olhos na esperança de vê-lo melhor.
Ele
quer que eu fale.
Abro
minha boca, pronta para dizer algo, mas o que dizer? Fecho-a novamente. Olho
para a mulher que poderá ser minha futura sogra, e ela não parece muito feliz
com minha demora.
–
Eu falo. – digo baixo, mas audível. Isso é tudo o que tenho para dizer.
–
Já estava apensar que a menina era muda. – quem diz é o pai do meu pretendente,
ele ri no fim da frase.
–
Perdão. – digo.
–
Ela é um pouco tímida. – meu pai justifica em meu lugar.
–
Vejo. – a mulher responde. – Isso é algo bom. – ela continua. – Assim ela
saberá onde é o seu lugar. – olho pra meus pais e eles não parecem se importar
com a frase dela, meu pai parece até mesmo concordar. Porém eu fico com um
claro medo.
–
Eu quero falar com ela sozinha. – surpreendo-me com a voz do garoto, é uma voz
firme e adulta.
–
Não sei se está é uma boa ideia. – quem diz é meu pai.
–
Meu filho é um menino respeitador. Não fará nenhum mal a sua filha. – o meu possível
futuro sogro diz.
Meu
pai hesita, ele é mais ligado às tradições do que minha mãe. É mais por ele do
que por ela que agora estou neste casamente arranjado.
–
Por alguns minutos apenas. – meu pai responde sem muito animo. – Vamos a meu
escritório.
Meus
pais e os pais do garoto se levantam, mas antes de sair, meu pai se abaixa e
diz.
–
Cuidado com esse aí, não criei minha filha para ela ficar mal falada. – dito isso
ele sai, levanto todos ao seu escritório.
Belas palavras, papai.
Ficamos
quase um minuto inteiro calados. Olho para meu pretendente, e seu cabelo é de
um preto tão escuro que nem sei com o quê comparar, sua pele é morena e lisa,
ele ensaia o crescimento de uma barba, não sei se é porque ainda está rala e
falha ou se realmente ele não combina com barba, só sei que estraga toda sua possível
beleza. Ele se senta a vontade no sofá, não parece estar nervoso nem mesmo
preocupado.
–
O que há de tão importante em você? – ele pergunta curioso. Olho-o sem entender
sua pergunta. – Dá para você falar alguma coisa? – ele tem bem menos paciência que
sua mãe.
–
Não sei o quê você está falando. – digo.
–
Meus pais parecem bem interessados no meu casamento com você e... Tem aquele
cara também.
Que cara? – penso, mas não pergunto.
–
Não vai me perguntar nada?
–
Não.
–
Então é isso? – ele faz uma careta de desaprovação.
–
Eu não sei aonde você quer chegar. – digo e ele não parece gostar.
Ele
se levanta em um pulo, contorna a mesa de centro, para a minha frente. Olho
para ele, mas presto atenção mesmo é em sua mão, não quero que ele me toque.
Ele
ri ao ver que quero me afastar.
–
Eu até pensei em não fazer isso, mas... Eu prefiro uma mulher mais... Mulher,
você é uma garota. – eu franzo a testa.
–
Você também é um garoto. – ele fecha uma carranca.
–
Você que decidiu seu destino. – ele quase cospe. Vai até a porta. Creio que ele
vai embora. Mas não é. Ele deixa um homem entrar, seu rosto está envolto a
panos.
Levanto-me,
quero fugir ou gritar.
–
O que você quer nessa aí, em? – o garoto pergunta. Porém o homem o ignora e
segue olhando para mim.
–
Ele te incomoda, Kami? – o homem pergunta. – Ele é irritante, não é?
–
Sim. – eu respondo. Meu pretendente não diz nada, apenas começa andar em
direção da janela. Ao chegar nela, ele se senta nela, colocando suas penas para
o lado de fora.
–
Não. – me desespero. –Ele vai cair – grito, não gosto dele, mas tampouco quero
isso. – Ele vai morrer.
–
Fique tranquila – o homem envolto a panos diz. – Você não vai precisar ver
isso. – não consigo ver seu rosto direito, mas sinto como se ele estivesse
sorrindo o dizer isso.
Eu
caio ao chão já quase desacordada, quero gritar, mas não consigo.
Fecho
os olhos e não os abro mais.
Continua
Capítulo postado, espero que gostem.
O capitulo não ficou tão pequeno, como eu gostaria, mas o próximo
ficará menor e trará muita informação.
Fernanda: Acho que quando a
gente mora na cidade a gente não vê muito atrativo mesmo não (a não ser quando
é uma cidade praiana, porque aí fica bem claro porque as pessoas vão visitar
kkkk). Xis, nunca ouvi falar, é feito de quÊ? Muito obrigada por comentar.
Diana: Fique tranquila,
isso do meu nome acontece muito... Eu só comentei lá porque eu achei que tinha
feito algo errado, mas tudo já foi resolvido. Muito obrigada ;)