Não me lembro de
ser muito amigo de Wagner antes do acidente, ele era o primo mais novo, tinha
apenas 14 anos, quase chegando aos 15, vivendo aquela fase de adolescente em
que eu já havia deixado para trás, Nicholas era mais próximo dele do que eu,
pois mesmo sendo mais velho que Wagner, Nicholas tinha um espirito sempre
jovial que o conectava com os jovens, mais do que com as pessoas de sua idade.
Hoje, Wagner está
com 29 anos, e por isso sinto-me a vontade junto a ele. Ele fica ao meu lado,
enquanto eu fito, sem ação, o tumulo de meu pai. Minha mãe não veio, eu pedi
para que fosse assim, eu havia me estressado muito com ela, e não queria brigar
em um cemitério.
_ Como aconteceu?
– pergunto a Wagner.
_ Ele passou mal,
quando a ambulância chegou, ele já estava desmaiado. Ele tinha adquirido
diabetes e pressão alta há uns sete anos, ele não se cuidou muito, você
conhecia seu pai, gostava de comer bem e sem privações... Quando chegou ao
hospital, os médicos o estabilizaram, ele ficou um dia bom, mas depois ele
piorou novamente, os médicos disseram que a única chance dele sobreviver seria
fazendo uma cirurgia de emergência. Iriam fazer ponte de safena, não sei bem,
algo para melhorar o funcionamento do coração de seu pai, mas... Ele morreu na
mesa de cirurgia.
_ Três anos, se
tivesse acordado apenas três anos antes eu teria me despedido dele. – digo.
_ Seu pai não te
abandonou, nem você nem a sua mãe, saiba disso, ele também acreditava que você
acordaria. – diz. Não sei se isso ajuda, saber que os últimos anos de sua vida
foram perdidos, indo do hospital, para o trabalho, para o apartamento,
economizando para mandar o filho em coma no hospital. Não era assim que eu
queria que fosse, não era assim que deveria ter sido, ele deveria ter tido a
chance de se aposentar, viajar, fazer seus churrascos de fim de semana, eu
deveria ter tido a chance de me despedir...
_ Wagner, eu sei que você já fez
muito por mim hoje, mas posso te pedir mais uma coisa?-
Pergunto.
_ Joseph, eu acho que já sei o que você irá pedir e antes de tudo eu quero que você pense bem, sua mãe te ama, ela saiu do controle, mas simplesmente porque ela te ama.
_ Eu sei. – eu digo sem saber se devo continuar.
_ Eu não sei onde Demetria está. - ele diz, respondendo exatamente o que eu queria perguntar. _ Apenas os parentes e amigos bem próximos sabem, e até mesmo estes não passam a informação, não importa para quem seja, nem mesmo para...
_ Joseph, eu acho que já sei o que você irá pedir e antes de tudo eu quero que você pense bem, sua mãe te ama, ela saiu do controle, mas simplesmente porque ela te ama.
_ Eu sei. – eu digo sem saber se devo continuar.
_ Eu não sei onde Demetria está. - ele diz, respondendo exatamente o que eu queria perguntar. _ Apenas os parentes e amigos bem próximos sabem, e até mesmo estes não passam a informação, não importa para quem seja, nem mesmo para...
_ Para mim? –
completo, ao ver que ele não continuou.
_ É. – diz sem
jeito. _ Nem mesmo para você.
_ Então você acha que eles não me passariam a informação? – insisto.
_ Você pode tentar, mas pode ser que no fim seja apenas perda de tempo.
_ Mas por quê? Ela por acaso está se escondendo? - pergunto e ele hesita.
_ A saída dela da cidade não foi nada fácil Joseph, ela sofreu muito e... – ele para de repente.
_ E...?
_ Ela queria que fosse algo definitivo. – ele diz não muito convincente, como se escondesse algo, ou estivesse falando apenas a metade. _ Procurar ela pode não ser algo bom pra você.
_ Ela já tem outra família? - pergunto. Pelo jeito que ele e minha mãe falam, é bem provável que ela já tenha outro alguém. Wagner para e parece pensar o que dizer.
_ Muito se fala e pouco se sabe. Eu não posso lhe afirmar o que eu não sei.
_ Me leve até os familiares dela, se não der em nada eu paro, eu esqueço, eu deixo para lá.
_ Não prometa o que você não pode cumprir. - Wagner diz e eu entendo que ele não quer me ajudar. Volto a fitar o túmulo de meu pai, e penso no que ele faria, será que ele concordava com minha mãe ou será que ele me incentivaria a buscar Demi, mesmo com todos dizendo ao contrário? _ Eu te espero no carro. – Wagner diz após quase um minuto.
_ Então você acha que eles não me passariam a informação? – insisto.
_ Você pode tentar, mas pode ser que no fim seja apenas perda de tempo.
_ Mas por quê? Ela por acaso está se escondendo? - pergunto e ele hesita.
_ A saída dela da cidade não foi nada fácil Joseph, ela sofreu muito e... – ele para de repente.
_ E...?
_ Ela queria que fosse algo definitivo. – ele diz não muito convincente, como se escondesse algo, ou estivesse falando apenas a metade. _ Procurar ela pode não ser algo bom pra você.
_ Ela já tem outra família? - pergunto. Pelo jeito que ele e minha mãe falam, é bem provável que ela já tenha outro alguém. Wagner para e parece pensar o que dizer.
_ Muito se fala e pouco se sabe. Eu não posso lhe afirmar o que eu não sei.
_ Me leve até os familiares dela, se não der em nada eu paro, eu esqueço, eu deixo para lá.
_ Não prometa o que você não pode cumprir. - Wagner diz e eu entendo que ele não quer me ajudar. Volto a fitar o túmulo de meu pai, e penso no que ele faria, será que ele concordava com minha mãe ou será que ele me incentivaria a buscar Demi, mesmo com todos dizendo ao contrário? _ Eu te espero no carro. – Wagner diz após quase um minuto.
Não demoro muito para ir encontra-lo
no carro. Ficar ali, olhando para o túmulo de meu pai não adiantaria em nada.
Ele não ressuscitaria, e eu jamais poderei dar meu adeus.
A
família de Demetria ainda vive na mesma casa. Antes de chegarmos lá, no
percurso acabamos passando pela casa em que eu vivia, a casa continua igual,
excerto pelo jardim, que agora não está mais tão bem cuidado. Minha mãe adorava
jardinagem, sempre cuidava de suas plantas e flores com muito apego, tínhamos o
jardim mais bonito da vizinhança.
_
Eles destruíram o jardim de minha mãe. – comento, assim que passamos pela casa.
_
Pois é... Sua mãe fez um jardim no terraço do prédio. – Wagner diz. _ Ficou um
espaço lindo, verde no meio do concreto. Ela ia sempre lá, para relaxar. – diz.
_ Até mesmo ensinou uns truques para minha noiva.
_
Noiva? – pergunto surpreso. _ Você não disse que era noivo.
_
É... – diz um pouco tímido. _ Ainda é algo novo, custou um pouco para todo
mundo aceitar a ideia.
_
Por quê?
_
Ela é mais velha.
_
Muito?
_
Uns oito anos apenas. – ele dá de ombros.
_ Ela tem a minha idade. – concluo,
e quando paro para pensar, percebo o quanto isso é assustador, eu fui dormir
com 23 anos e acordei com 37. Eu agora sou um adulto, praticamente estou na
meia idade, isso não é nada legal.
_ Sim, sua idade.
_ Eu a conheci? – pergunto.
_ Acho que sim. – percebo que ele
não quer entrar em detalhes, ou talvez ele só quisesse que eu saísse logo, já
que acabamos de chegar à antiga casa de Demetria. _ Você acha que consegue ir
sozinho? – pergunta.
_ Sim, eu vou. – respondo.
Saio do carro, vou até a porta, mas
hesito antes de bater a campainha. E se minha mãe e Wagner estiverem certos? E
se procurar Demetria fosse um erro?
Eu
já estou aqui, não há como fugir.
Toco a campainha e não demora muito
para que eu seja atendido.
_ Meu santo Deus. – a mãe de
Demetria me recebe com espanto. Ao contrario de minha mãe, a mãe de Demi não
mudou praticamente nada, para ser bem sincero; a única diferença foi que antes
ela tinha cabelo castanho claro e agora é totalmente loira. _ É você mesmo
Joseph? – pergunta.
_ Sim, sou eu. – confirmo. Ela fica
me olhando sem crer por quase um minuto até voltar a reagir.
_ Entre. – diz e me abre espaço para
entrar.
Entro. A casa não mudou muito,
apenas os eletrodomésticos, que estão mais modernos.
_ Eu não esperava você por aqui, não
preparei nada. Você pode comer normalmente, não pode? – pergunta.
_ Sim, mas não se preocupe com isso,
já comi por hoje. Não tenho fome. – ela sorri fraco.
_ Joseph, eu... – ela não continua.
_ Você já sabe o porquê eu estou
aqui, não?
_ Sei. – ela responde. _ E não vou
dizer que gosto disso, pois não gosto.
_ Eu já sei o que minha mãe fez,
peço perdão por isso. – digo. _ Eu só queria conversar com ela.
_ Joseph, eu não tenho problemas com
sua mãe, eu não sei se reagiria diferente dela se eu estivesse na situação que
ela estava, e eu também entendo que depois de todos esses anos você queria
reencontrar a Demetria, mas, eu não posso fazer isso.
_ Fazer isso o que?
_ Ela foi embora Joseph, ela tem os
motivos dela, no começo não concordei, foi uma época difícil, mas hoje eu já a
entendo, e é exatamente por entendê-la que eu não posso fazer isso, eu não vou
lhe dar o endereço dela, eu a prometi que não faria e não farei.
_ Ela pediu para que você não
passasse o endereço para mim? – pergunto.
_ Ela não quer que ninguém que
possa...
_ Passar o endereço para minha mãe? –
completo.
_ Entenda Joseph, não foi uma briga,
foi uma perseguição, Demetria sofreu.
_ Eu não vou contar para minha mãe.
_ E você acha que após todo esse
tempo esperando você acordar, ela vai te deixar ir encontrar com Demetria, sem
perguntas, sem nada? – ela pergunta e eu hesito.
_ Mas eu só quero conversar, eu sei
que ela deve já ter uma família, mas...
_ Você não sabe de nada Joseph, de
nada. – ela diz e seu tom parece de dó.
_ Ninguém me diz nada, ninguém me
explica nada, ninguém quer que eu contate ninguém. Você não pode me julgar por
não saber nada. – digo com o coração apertado. _ Por favor, nem que seja um
número de telefone, por favor.
_ Joseph, acredite, é para seu bem.
– ela responde.
Não consigo ficar mais na casa
depois disso, mesmo com a mãe de Demetria tentando relevar e me agradar, como
um pedido de desculpas pela sua negativa.
Volto para o carro e não digo nada,
mas vejo que Wagner espera que eu diga algo. Respiro fundo para não me
descontrolar. Eu tinha finalmente ganhado alta, eu finalmente estava fora do
hospital e o dia parecia que seria perfeito, pois eu finalmente teria as
respostas que eu queria tanto ter, eu finalmente poderia retomar minha vida,
mas não, minha mãe vive num apartamento horrível por minha culpa, meu pai
morreu e não pude me despedir, eu não posso falar com minha noiva, ou melhor,
ex-noiva, e todos, todos ainda
parecem me esconder algo.
Maldito acidente! Maldito acidente!
Maldito eu! Porque eu não apertei o freio? Porque eu simplesmente não morri?
Porque minha mãe não permitiu que desligassem aquelas porcarias de maquinas?
Para quê acordar? Para quê ter alta.
Não percebo, mas estou chorando.
_ Sua mãe vai me matar por isso. –
Wagner diz ligando o carro. _ Mas eu prometi seu pai que lhe ajudaria. – ele
começa a dirigir.
Sei que ele volta para o centro, mas
não pega a rota de volta para o apartamento, ele vai para a parte mais boemia
do centro, onde a maioria dos bares e boates se concentra. Vejo o quanto a
cidade cresceu, os prédios estão maiores e as pistas mais largas, os nomes
continuam os mesmo, mas é apenas isso, as lojas que eu conhecia não estão mais
no mesmo lugar, lojas que eu nunca ouvi falar aparecem a cada esquina.
Wagner para frente a um bar que já
está aberto, mesmo ainda estando com sol alto no céu.
_ Não sei se posso beber ainda, por
causa dos remédios.
_ Pare de falar Joseph, antes que eu
me arrependa. – diz. _ Saia. – ordena. Eu saio e Wagner também. Ele entra no
bar primeiro.
_ Amor. – uma mulher vem e lhe
abraça, não vejo seu rosto, pois ela é bem mais baixa que Wagner e como ele
está a minha frente, ele a tampa. Os dois se beijam rápido.
_ Amor, você se lembra dele? –
Wagner pergunta, tirando o corpo da frente para que sua noiva possa me ver. Seu
rosto me parece muito familiar, mas não me lembro de quem é até que eu escuto
sua voz dizer meu nome.
_ Joseph? – pergunta incrédula. _
Você recebeu alta.
_ Marissa?
_ Eu mesma.
_ Sua noiva é a Marissa? – pergunto
a Wagner.
_ Sim. – Wagner responde tímido.
Marissa estudou comigo e com Demetria no colégio, as duas era melhores amigas,
inseparáveis.
_ Isso é... – fico um pouco sem
reação. _ Incrível. – Wagner parece rir aliviado. _ Parabéns para o casal.
_ Obrigada primo. – ele sorri. _
Amor, o Joseph quer falar com a Demi. – diz.
_ Claro que quer. – Marissa
responde. _ Mas ninguém quer deixar, não é? – começa a falar no meio de um
suspiro.
_ Todos dizem que é melhor eu não
procura-la.
_ E eles têm razão. – confirma Marissa.
_ Amor. – Wagner repreende.
_ Ei, razão todos tem, tanto os que
não querem que Joseph a encontre, tanto Joseph que quer encontra-la. – Marissa
pondera.
_ Você precisa escolher um lado,
amor. – Wagner diz.
_ Olha, você vai descobrir tudo mais
cedo ou mais tarde. Todos querem te proteger do que você vai encontrar, mas,
não vai adiantar, nem que sua mãe me esfaqueie ou use alguma das plantas que
ela cultiva no terraço para me envenenar, eu vou lhe dar o endereço. – Marissa
responde e eu nem sei como expressar minha felicidade, de tão tamanha que ela
é.
Marissa vai até o balcão do bar e
pega um papel e uma caneta, escreve o endereço e me entrega.
_ Só uma pergunta. – peço. _ O que
eu vou encontrar é tão ruim assim?
_ Sim. – Marissa não hesita. _ Mas
se você esperar a explicação você verá que não é exatamente assim. – responde.
_ Não importa o quão ruim pareça Joseph, eu te juro, existe uma explicação.
Continua
Babii: Talvez nos próximos capítulos você
comece a entender a Denise, ou comece a odiá-la mais ainda kkkkkkk. Muito
obrigada por comentar bjsssssss