Eu estava confuso,
pouco se falava sobre o que havia acontecido. Os médicos me tratavam de maneira
estranha, como se estivessem tomando cuidado com que iriam falar, eu ia de sala
em sala, fazendo vários exames, e o que mais me incomodava em tudo isso era o
fato de que eu só conseguia sair de um lugar para outro na cadeira de rodas.
O primeiro dia foi
estressante, mas nada se compara com o que eu vi quando a noite chegou.
Uma enfermeira me
ajudou a despir-me, o que pra mim foi humilhante. Ela mantem um sorriso
simpático, mas eu não tenho mais energia para retribui-la. O Box do banheiro do
hospital é grande, grande o suficiente para que eu, a cadeira de rodas especial
para banho, em que eu estou sentado, e a enfermeira possamos entrar nele sem
ficarmos apertados. Uma pia num canto, um vaso sanitário no outro e, pela
primeira vez, vejo um espelho, ele é pequeno, mal deve ter meio metro, mas
ainda assim, consigo ver-me. Não vejo meu corpo completo, apenas do inicio do
meu quadril até o meio de meu pescoço.
Fico olhando-me
por vários segundos até concluir que o que vejo é real, aquele no espelho
realmente sou eu.
Nunca fui
musculoso, nem tampouco eu era gordo, mas nunca me vi assim, praticamente pele
e osso.
_ Me traga aquele
espelho. – peço a enfermeira, ela me olha e seu olhar é de compaixão. _
Traga-me aquele espelho. – repito, ao perceber que ela hesita.
_ Ele esta pregado
na parede. – ela responde calma. _ Depois o deixaremos se olhar no espelho. Mas
primeiro, vamos tomar banho?
_ O que aconteceu
comigo? – pergunto, ignorando sua última fala.
_ Você sofreu um
acidente. – ela responde.
_ Mas o que mais?
Porque eu estou assim? – insisto já irritado.
_ Amanhã o doutor
falará com você...
_ Não! – grito. _
Porque eu não vi ninguém? Onde está minha mãe? Meu pai? Meu irmão? Minha noiva?
_ Senhor Jonas, eu
sei que você está estressado, o dia hoje foi cansativo, mas amanhã será bem
melhor...
_Porque eu não
ando?
_ É algo
temporário. – diz, pela primeira vez, realmente me respondendo. _ Vamos para o
banho? – pergunta e eu me sinto como um bebê.
Estou cansado,
deixo que ela me lave. Não consigo olha-la a nenhum momento, mesmo sabendo que
ela provavelmente já está acostumada a essas situações.
Após o banho ela
me seca e me ajuda a por uma roupa, que não é muito agradável, é o tipo de
roupa que todo paciente por aqui usa, parece uma camisola, porém, digamos que, a
parte de trás é mais ventilada do que eu gostaria que fosse.
Volto para meu
quarto, apenas para ser deitado na cama, que não é nada confortável e voltar a
ser espetado por várias máquinas que me monitorariam.
_ Posso ligar a
televisão? – pergunto a enfermeira antes que ela me deixe sozinho. Ela hesita.
_ Podemos colocar
algum filme, caso você prefira. – ela responde.
_ Não precisa
tanto incomodo. – digo. _ Eu assisto qualquer coisa que estiver passando mesmo.
– completo.
_ A televisão aqui
tem uma imagem péssima. – ela sorri nervosamente. _ talvez um filme da sua
escolha seja melhor.
_ Eu não sei qual
filme escolher. – digo um pouco impaciente. _ Pode me trazer um jornal, uma
revista, um livro? Qualquer coisa que me distraia. – peço.
_ Irei
providenciar. – sorri e sai do quarto.
Maldita hora que
não desacelerei o carro para entrar naquela curva. Demetria deve estar com
raiva, e pela imagem que vi no espelho, receio que tenhamos que cancelar o
casamento, eu não poderia subir ao altar parecendo uma caveira.
_ Olá, Joseph. –
entra o mesmo médico que me acompanhou durante todos os exames, ele agora não
está usando seu jaleco. Ele sempre parece feliz, sempre sorridente, sempre
entusiasmado, queria acompanha-lo nesta alegria, odeio ser o chato, mal
humorado do lugar.
_ Olá, doutor. –
digo, não com o mesmo animo dele, mas sorrindo, falsamente, mas o que vale é a
tentativa, não é?
Ele se senta na
cadeira ao lado de minha cama.
_ Estou fora do
meu turno agora. – ele diz. _ pode me chamar de Jacob. – diz, não digo nada,
apenas concordo. _ Sabe Joseph, eu não deveria conversar com você agora, pois
provavelmente o deixarei mais confuso ainda, tenho consciência que estou
colocando a carroça na frente dos bois, mas você me tornou um homem melhor, eu
precisava falar com você. – fico sem ação e ele ri. _ Eu falei que lhe deixaria
confuso. – volta a ri e eu acabo rindo junto, e desta vez verdadeiramente. _
Você é jovem, e muito escutei falar sobre você, enquanto cuidei de seu caso. Um
cara ovo, mas com a vida inteira já programada, você era um jovem até mesmo bem
sucedido, eu já tinha me formado quando você chegou aqui, isso é obvio, – ri
fraco. _ mas eu não tinha metade da maturidade que você possuía. Quando meu
chefe me colocou no seu caso, eu me senti poderoso, eu apenas tinha duas
semanas de serviço e já seria colocado em um caso grave. Eu fiz o meu melhor, claro,
mas ali eu vi o quanto eu não era o que eu pensei que era. Eu não sou um herói,
nem O Imbatível Jacob, o amor que tinha a sua volta era algo que eu nunca tive.
A força que você teve eu não sei se eu teria, eu tive tempo para refletir sobre
o porquê de eu ter decidido ser médico, e percebi que era muito mais do que
mostrar um diploma, ou poder me exibir com meu jaleco, ser chamado de doutor,
eu me formei para salvar vidas como a sua, Joseph, salvar pessoas boas como
você. – demoro um pouco para começar a falar, após Jacob finalizar.
_ Eu fico
lisonjeado com suas palavras, eu não fazia ideia que tinha causado tal impacto.
– digo. _mas... Eu realmente estou confuso. – completo. _ E eu nem mesmo sei
com o quê. – ele ri.
_ Eu sei, eu estou
me adiantando, amanhã será um dia cheio, não farei plantão como fiz hoje, mas
ficarei com você apenas durante a noite, eu queria falar com você enquanto você
está mais calmo.
_ Eu sinto como se
todos estivessem me escondendo algo. – confesso. _ Cadê minha mãe? Eu escutei a
voz dela ontem, doutor, porque eu não a vi hoje? E meu pai? Meu irmão? E minha
noiva? – meu coração se parte ao me lembrar de Demetria, eu queria tanto vê-la.
_ Sua mãe estava
aqui ontem, foi ela que nos alertou sobre o seu despertar. – ele afirma. _Mas
hoje precisávamos que você fosse inteiramente nosso, mas você verá sua mãe. Não
se preocupe.
_ E os outros?
_ Amanhã você
passará por um psicólogo, ele poderá lhe esclarecer melhor, e logo após você poderá
rever sua família. – ele diz.
_ Não. Eu já estou
farto disso. Doutor há algo errado aqui. – me seguro para não chorar, todo o
cansado, a falta de rostos conhecidos, o que eu vi no espelho, minhas pernas,
eu me sinto tão frustrado, vazio, sozinho e pior, me sinto enganado, ninguém me
diz nada, eu só quero saber o que aconteceu. _ Diga-me algo, eu... Porque meu
corpo está assim? Estou puro osso, meu corpo inteiro dói, porque tantos exames?
Porque eu não posso andar? Nem mesmo televisão eu posso ver! Eu só quero a
minha família, eu só quero a verdade.
_ E você a terá,
mas apenas quando estiver pronto.
_ Doutor, você
acabou de me dizer que me considera, você diz que eu lhe ajudei, por favor, se
eu realmente signifiquei ou significo algo em sua vida, me diga o que
aconteceu, e eu não falo sobre o acidente, pois eu sei disso, eu me lembro de
bater o carro. Eu quero saber o que aconteceu após isso, eu quero saber o que
tanto me escondem.
_ Você diz que se
lembra do acidente. – ele começa. _ e depois? O que mais você se lembra?
_ Nada, apenas de
ter acordado aqui, preso por um monte de fios.
_ O que você acha
que aconteceu?
_ Doutor... –
quero começar a reclamar.
_ Apenas responda.
– ele me interrompe.
_ Eu desmaiei, e
fui internado aqui, é isso? – pergunto quase certo que não é só isso.
_ Você entrou em
coma, Joseph. – ele diz, após pensar um pouco. Fico sem reação, meu queixo até
cai um pouco, em coma? Meu Deus, isso quer dizer que meu casamente pode até
mesmo já ter passado e isso justificaria as dores no corpo, o emagrecimento e a
fraqueza.
_ Por quantos
dias? – pergunto na esperança de que tenha sido no máximo cinco dias, e assim
eu ainda teria dois dias para me recuperar e me casar com Demetria.
_ Muitos. – ele
responde, fazendo com que toda minha esperança se esvaísse.
_ Quantos meses? –
pergunto, sentindo um nó na garganta.
_ Você receberá
mais informações amanhã, seu psicólogo é um dos melhores do estado, ele sem
duvidas falará melhor com você. – diz.
_ Doutor, quantos meses? – insisto e ele
hesita e muito. _ por favor.
_ Isso pode me
custar caro, Joseph. – ele diz.
_ Por favor, eu
prometo não falar com ninguém.
_ Duvido muito. –
ele diz.
_ Um ano? –
pergunto e torço para que ele comece a rir e me diga que é uma grande
brincadeira, ele parece ser do tipo que ama pregar peças a todos.
_ Não Joseph...
Foram quatorze.
_ Meses? –
pergunto, não querendo aceitar outra possibilidade.
_ Anos.
Caramba dá uma dor uma tristeza, são 14 anos a Demi não está mais com ele, quando ele ver todo mundo todos vão estar diferentes, com vidas diferentes e ele vai ter que lidar com tudo isso a pergunta que está na minha cabeça é com quantos anos o Joe está ágora? Isso tudo está mexendo com os meus sentimentos e emoções
ResponderExcluirAté me deu pena! Coitado do Joseph. Achar que apenas tinha passado algumas horas, talvez dias e afinal uma vida inteira já passou por ele.
ResponderExcluirEspero pela continuação!
Bjs :)