quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Capítulo 5




Não me lembro de ser muito amigo de Wagner antes do acidente, ele era o primo mais novo, tinha apenas 14 anos, quase chegando aos 15, vivendo aquela fase de adolescente em que eu já havia deixado para trás, Nicholas era mais próximo dele do que eu, pois mesmo sendo mais velho que Wagner, Nicholas tinha um espirito sempre jovial que o conectava com os jovens, mais do que com as pessoas de sua idade.
Hoje, Wagner está com 29 anos, e por isso sinto-me a vontade junto a ele. Ele fica ao meu lado, enquanto eu fito, sem ação, o tumulo de meu pai. Minha mãe não veio, eu pedi para que fosse assim, eu havia me estressado muito com ela, e não queria brigar em um cemitério.
_ Como aconteceu? – pergunto a Wagner.
_ Ele passou mal, quando a ambulância chegou, ele já estava desmaiado. Ele tinha adquirido diabetes e pressão alta há uns sete anos, ele não se cuidou muito, você conhecia seu pai, gostava de comer bem e sem privações... Quando chegou ao hospital, os médicos o estabilizaram, ele ficou um dia bom, mas depois ele piorou novamente, os médicos disseram que a única chance dele sobreviver seria fazendo uma cirurgia de emergência. Iriam fazer ponte de safena, não sei bem, algo para melhorar o funcionamento do coração de seu pai, mas... Ele morreu na mesa de cirurgia.
_ Três anos, se tivesse acordado apenas três anos antes eu teria me despedido dele. – digo.
_ Seu pai não te abandonou, nem você nem a sua mãe, saiba disso, ele também acreditava que você acordaria. – diz. Não sei se isso ajuda, saber que os últimos anos de sua vida foram perdidos, indo do hospital, para o trabalho, para o apartamento, economizando para mandar o filho em coma no hospital. Não era assim que eu queria que fosse, não era assim que deveria ter sido, ele deveria ter tido a chance de se aposentar, viajar, fazer seus churrascos de fim de semana, eu deveria ter tido a chance de me despedir...
            _ Wagner, eu sei que você já fez muito por mim hoje, mas posso te pedir mais uma coisa?-
Pergunto.
            _ Joseph, eu acho que já sei o que você irá pedir e antes de tudo eu quero que você pense bem, sua mãe te ama, ela saiu do controle, mas simplesmente porque ela te ama.
            _ Eu sei. – eu digo sem saber se devo continuar.
            _ Eu não sei onde Demetria está. - ele diz, respondendo exatamente o que eu queria perguntar. _ Apenas os parentes e amigos bem próximos sabem, e até mesmo estes não passam a informação, não importa para quem seja, nem mesmo para...
_ Para mim? – completo, ao ver que ele não continuou.
_ É. – diz sem jeito. _ Nem mesmo para você.
            _ Então você acha que eles não me passariam a informação? – insisto.
            _ Você pode tentar, mas pode ser que no fim seja apenas perda de tempo.
            _ Mas por quê?  Ela por acaso está se escondendo? - pergunto e ele hesita.
            _ A saída dela da cidade não foi nada fácil Joseph, ela sofreu muito e... – ele para de repente.
            _ E...?
            _ Ela queria que fosse algo definitivo. – ele diz não muito convincente,  como se escondesse algo, ou estivesse falando apenas a metade. _ Procurar ela pode não ser algo bom pra você.
            _ Ela já tem outra família? - pergunto. Pelo jeito que ele e minha mãe falam, é bem provável que ela já tenha outro alguém. Wagner para e parece pensar o que dizer.
            _ Muito se fala e pouco se sabe. Eu não posso lhe afirmar o que eu não sei.
            _ Me leve até os familiares dela, se não der em nada eu paro, eu esqueço, eu deixo para lá.
            _ Não prometa o que você não pode cumprir. - Wagner diz e eu entendo que ele não quer me ajudar. Volto a fitar o túmulo de meu pai, e penso no que ele faria, será que ele concordava com minha mãe ou será que ele me incentivaria a buscar Demi, mesmo com todos dizendo ao contrário? _ Eu te espero no carro. – Wagner diz após quase um minuto.
            Não demoro muito para ir encontra-lo no carro. Ficar ali, olhando para o túmulo de meu pai não adiantaria em nada. Ele não ressuscitaria, e eu jamais poderei dar meu adeus.
            A família de Demetria ainda vive na mesma casa. Antes de chegarmos lá, no percurso acabamos passando pela casa em que eu vivia, a casa continua igual, excerto pelo jardim, que agora não está mais tão bem cuidado. Minha mãe adorava jardinagem, sempre cuidava de suas plantas e flores com muito apego, tínhamos o jardim mais bonito da vizinhança.
            _ Eles destruíram o jardim de minha mãe. – comento, assim que passamos pela casa.
            _ Pois é... Sua mãe fez um jardim no terraço do prédio. – Wagner diz. _ Ficou um espaço lindo, verde no meio do concreto. Ela ia sempre lá, para relaxar. – diz. _ Até mesmo ensinou uns truques para minha noiva.
            _ Noiva? – pergunto surpreso. _ Você não disse que era noivo.
            _ É... – diz um pouco tímido. _ Ainda é algo novo, custou um pouco para todo mundo aceitar a ideia.
            _ Por quê?
            _ Ela é mais velha.
            _ Muito?
            _ Uns oito anos apenas. – ele dá de ombros.
            _ Ela tem a minha idade. – concluo, e quando paro para pensar, percebo o quanto isso é assustador, eu fui dormir com 23 anos e acordei com 37. Eu agora sou um adulto, praticamente estou na meia idade, isso não é nada legal.
            _ Sim, sua idade.        
            _ Eu a conheci? – pergunto.
            _ Acho que sim. – percebo que ele não quer entrar em detalhes, ou talvez ele só quisesse que eu saísse logo, já que acabamos de chegar à antiga casa de Demetria. _ Você acha que consegue ir sozinho? – pergunta.
            _ Sim, eu vou. – respondo.
            Saio do carro, vou até a porta, mas hesito antes de bater a campainha. E se minha mãe e Wagner estiverem certos? E se procurar Demetria fosse um erro?
            Eu já estou aqui, não há como fugir.
            Toco a campainha e não demora muito para que eu seja atendido.
            _ Meu santo Deus. – a mãe de Demetria me recebe com espanto. Ao contrario de minha mãe, a mãe de Demi não mudou praticamente nada, para ser bem sincero; a única diferença foi que antes ela tinha cabelo castanho claro e agora é totalmente loira. _ É você mesmo Joseph? – pergunta.
            _ Sim, sou eu. – confirmo. Ela fica me olhando sem crer por quase um minuto até voltar a reagir.
            _ Entre. – diz e me abre espaço para entrar.
            Entro. A casa não mudou muito, apenas os eletrodomésticos, que estão mais modernos.
            _ Eu não esperava você por aqui, não preparei nada. Você pode comer normalmente, não pode? – pergunta.
            _ Sim, mas não se preocupe com isso, já comi por hoje. Não tenho fome. – ela sorri fraco.
            _ Joseph, eu... – ela não continua.
            _ Você já sabe o porquê eu estou aqui, não?
            _ Sei. – ela responde. _ E não vou dizer que gosto disso, pois não gosto.
            _ Eu já sei o que minha mãe fez, peço perdão por isso. – digo. _ Eu só queria conversar com ela.
            _ Joseph, eu não tenho problemas com sua mãe, eu não sei se reagiria diferente dela se eu estivesse na situação que ela estava, e eu também entendo que depois de todos esses anos você queria reencontrar a Demetria, mas, eu não posso fazer isso.
            _ Fazer isso o que?
            _ Ela foi embora Joseph, ela tem os motivos dela, no começo não concordei, foi uma época difícil, mas hoje eu já a entendo, e é exatamente por entendê-la que eu não posso fazer isso, eu não vou lhe dar o endereço dela, eu a prometi que não faria e não farei.
            _ Ela pediu para que você não passasse o endereço para mim? – pergunto.
            _ Ela não quer que ninguém que possa...
            _ Passar o endereço para minha mãe? – completo.
            _ Entenda Joseph, não foi uma briga, foi uma perseguição, Demetria sofreu.
            _ Eu não vou contar para minha mãe.
            _ E você acha que após todo esse tempo esperando você acordar, ela vai te deixar ir encontrar com Demetria, sem perguntas, sem nada? – ela pergunta e eu hesito.
            _ Mas eu só quero conversar, eu sei que ela deve já ter uma família, mas...
            _ Você não sabe de nada Joseph, de nada. – ela diz e seu tom parece de dó.
            _ Ninguém me diz nada, ninguém me explica nada, ninguém quer que eu contate ninguém. Você não pode me julgar por não saber nada. – digo com o coração apertado. _ Por favor, nem que seja um número de telefone, por favor.
            _ Joseph, acredite, é para seu bem. – ela responde.
            Não consigo ficar mais na casa depois disso, mesmo com a mãe de Demetria tentando relevar e me agradar, como um pedido de desculpas pela sua negativa.
            Volto para o carro e não digo nada, mas vejo que Wagner espera que eu diga algo. Respiro fundo para não me descontrolar. Eu tinha finalmente ganhado alta, eu finalmente estava fora do hospital e o dia parecia que seria perfeito, pois eu finalmente teria as respostas que eu queria tanto ter, eu finalmente poderia retomar minha vida, mas não, minha mãe vive num apartamento horrível por minha culpa, meu pai morreu e não pude me despedir, eu não posso falar com minha noiva, ou melhor, ex-noiva, e todos, todos ainda parecem me esconder algo.
            Maldito acidente! Maldito acidente! Maldito eu! Porque eu não apertei o freio? Porque eu simplesmente não morri? Porque minha mãe não permitiu que desligassem aquelas porcarias de maquinas? Para quê acordar? Para quê ter alta.
            Não percebo, mas estou chorando.
            _ Sua mãe vai me matar por isso. – Wagner diz ligando o carro. _ Mas eu prometi seu pai que lhe ajudaria. – ele começa a dirigir.
            Sei que ele volta para o centro, mas não pega a rota de volta para o apartamento, ele vai para a parte mais boemia do centro, onde a maioria dos bares e boates se concentra. Vejo o quanto a cidade cresceu, os prédios estão maiores e as pistas mais largas, os nomes continuam os mesmo, mas é apenas isso, as lojas que eu conhecia não estão mais no mesmo lugar, lojas que eu nunca ouvi falar aparecem a cada esquina.
            Wagner para frente a um bar que já está aberto, mesmo ainda estando com sol alto no céu.
            _ Não sei se posso beber ainda, por causa dos remédios.
            _ Pare de falar Joseph, antes que eu me arrependa. – diz. _ Saia. – ordena. Eu saio e Wagner também. Ele entra no bar primeiro.
            _ Amor. – uma mulher vem e lhe abraça, não vejo seu rosto, pois ela é bem mais baixa que Wagner e como ele está a minha frente, ele a tampa. Os dois se beijam rápido.
            _ Amor, você se lembra dele? – Wagner pergunta, tirando o corpo da frente para que sua noiva possa me ver. Seu rosto me parece muito familiar, mas não me lembro de quem é até que eu escuto sua voz dizer meu nome.
            _ Joseph? – pergunta incrédula. _ Você recebeu alta.
            _ Marissa?
            _ Eu mesma.
            _ Sua noiva é a Marissa? – pergunto a Wagner.
            _ Sim. – Wagner responde tímido. Marissa estudou comigo e com Demetria no colégio, as duas era melhores amigas, inseparáveis.
            _ Isso é... – fico um pouco sem reação. _ Incrível. – Wagner parece rir aliviado. _ Parabéns para o casal.
            _ Obrigada primo. – ele sorri. _ Amor, o Joseph quer falar com a Demi. – diz.
            _ Claro que quer. – Marissa responde. _ Mas ninguém quer deixar, não é? – começa a falar no meio de um suspiro.
            _ Todos dizem que é melhor eu não procura-la.
            _ E eles têm razão. – confirma Marissa.
            _ Amor. – Wagner repreende.
            _ Ei, razão todos tem, tanto os que não querem que Joseph a encontre, tanto Joseph que quer encontra-la. – Marissa pondera.
            _ Você precisa escolher um lado, amor. – Wagner diz.
            _ Olha, você vai descobrir tudo mais cedo ou mais tarde. Todos querem te proteger do que você vai encontrar, mas, não vai adiantar, nem que sua mãe me esfaqueie ou use alguma das plantas que ela cultiva no terraço para me envenenar, eu vou lhe dar o endereço. – Marissa responde e eu nem sei como expressar minha felicidade, de tão tamanha que ela é.
            Marissa vai até o balcão do bar e pega um papel e uma caneta, escreve o endereço e me entrega.
            _ Só uma pergunta. – peço. _ O que eu vou encontrar é tão ruim assim?
            _ Sim. – Marissa não hesita. _ Mas se você esperar a explicação você verá que não é exatamente assim. – responde. _ Não importa o quão ruim pareça Joseph, eu te juro, existe uma explicação.

Continua


Babii: Talvez nos próximos capítulos você comece a entender a Denise, ou comece a odiá-la mais ainda kkkkkkk. Muito obrigada por comentar bjsssssss

6 comentários:

  1. OMG... tadinho do Joe todo mundo escondendo a verdade dele ainda bem que existe a Marissa também acho que o Nick vai está casado com a Demi e por mais ruins que as coisas que ele vai encontrar sejam ele merece saber a verdade e uma explicação e acho que vou odiar muito a Denise porque a culpa dessa bagunça toda é dela

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  2. Oooh god, já estou ate vendo a Demi casada com o Nick :s

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  3. Oi!
    Vim avisar que foi nomeada para "As Melhores de 2016".
    Link: http://criticasdefanfics.blogspot.pt/2016/12/as-melhores-de-2016-nomeacoes.html

    Pode fazer post para avisar os seus leitores a votarem.
    A nomeação acaba dia 29 de Dezembro.
    Boa sorte!

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  4. Cadê você, já era pra estar quase terminando a fic, estou mtk curios, posta logo! Bjs

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. POSTA PELAAMORDESANTOCRISTONOSSOSENHOR EU TO MORRENDO..

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