Eu não sabia, mas
este dia seria muito especial.
Antes que eu
pudesse sair os funcionários fizeram uma pequena festa para mim. Balões, bolo,
salgados e refrigerante. Foi à primeira vez em três meses que realmente comi
coisas com sabores e temperos fortes. Sem duvidas o dia tinha começado bem.
Após a festa eu,
minha mãe e um dos meus primos, Wagner, filho da irmã de meu pai (que de todos,
para mim foi o que menos mudou na aparência, sempre alto, sempre forte, moreno,
cabelo liso, nunca usa barba, sempre usando terno) fomos até a garagem do
hospital. Entro no carro, fico no do passageiro, minha mãe senta no banco de
trás e Wagner dirige.
Pelo que lembro o
hospital não é muito perto de minha casa, teríamos que atravessar toda a parte
central, em que o hospital se localiza, depois mais um bairro e enfim
chegaríamos onde moro. Porém me surpreendo quando após duas quadras, meu primo
começa a desacelerar o carro e estacionar na rua.
_ Vamos visitar
alguém? – pergunto.
_ Não. – ele
responde, puxando o freio de mão. _Estamos em sua casa.
Eu não entendo. O
que não é algo tão incomum ultimamente. Ainda estamos no centro, em uma parte
bem movimentada, fico imaginando porque eu moraria por aqui. Minha mãe sempre
adorou nossa casa, ela sempre viveu no subúrbio e nunca quis sair de lá. Meu
coração dispara quando me lembro de que Demetria queria viver no centro, ela
estava começando a olhar alguns apartamentos nesta região, pois a editora para
qual ela trabalhava (ou trabalha, não sei) fica perto daqui, teria ela comprado
um? No fim sua ausência no hospital poderia ter algum motivo a mais do que ela
simplesmente ter me abandonado. Ela poderia estar em alguma viagem por causa do
trabalho, talvez ela esteja temporariamente incomunicável, talvez algo tenha
acontecido? Eu não sei, eu ainda não me acostumei com a ideia de que ela
realmente me abandonou, apesar de compreender que é a mais provável.
Saio do carro e
vejo minha mãe pegando a chave em sua bolsa, gosto de pensar que ela
simplesmente tem a copia da chave, mas começo a me sentir um iludido. Demetria
tinha ido embora e por algum motivo minha mãe vive aqui, mas... É tão ruim
assim sonhar?
Entramos no
prédio, e este não é dos melhores, parece sujo, não há porteiro, é abafado.
_ Não há elevador.
– minha mãe fala com pesar em sua voz.
_ Eu ajudo. – diz
Wagner. Ele fica ao meu lado. _ Se apoie em mim. – Diz e eu faço. Não tenho
dificuldades para andar, utilizo a bengala por precaução, pois alguma vez,
vezes cada vez mais raras, eu perco o equilíbrio. Mas subir escada ainda é algo
me exige muito de mim.
Subimos dois
andares e entramos na porta que fica a direita da escada. Minha mãe abre o
apartamento, que tem a aparência de ser bem pequeno. Wagner ainda me ajuda a
entrar, mesmo não mais precisando de seu apoio.
Ele me leva até o
sofá, que fica quase encostado na porta de entrada, apenas um passo nos impede
de esbarrar nele. O sofá é o mesmo da casa da minha mãe, a antiga casa de minha
mãe, porém aqui só coube uma parte dele, já que este era grande e o apartamento
é realmente minúsculo.
A sala é acoplada
com uma cozinha bem pequena, e do lado esquerdo tem três portas, onde creio que
ficam os quartos e o banheiro. Pelo menos assim espero.
Sento-me no sofá.
_ Tia, precisa de
mais algo? – pergunta.
_ Não querido. Muito
obrigada por hoje, mas já está tudo bem.
_ Tudo bem, qualquer
coisa você sabe onde me encontrar. Tchau Joseph.
_ Tchau Wagner. –
Wagner sai e nos deixa sozinho.
_ Wagner é um bom
moço, foi de grande ajuda hoje. – minha mãe não se senta. _ Quer sopa?
_ Não, mãe, chega
de sopas, fora que ainda estou cheio da festa.
_ Ah sim, claro. –
ela sorri. _ quer suco? Algo? Qualquer coisa...
_ É aqui que você
mora agora? – pergunto. Ela percebe que quero conversar e não comer ou beber e
se senta ao meu lado.
_ É mais perto do
hospital.
_ E a casa da
família, está com papai? – pergunto, se os dois se separaram provavelmente um
teria que sair da casa do outro e talvez minha mãe tenha decidido sair, talvez
meu pai tenha construído outra família, o que não é algo bom, pelo menos não
para mim, mas, foram 14 anos, é possível que isso tenha acontecido.
_ Vendi.
_ Vendeu? –
pergunto chocado. _ Mas aquela casa era da família. – insisto. _ Eu nasci
naquela casa.
_ Eu sei, mas...
Foi necessário.
_ Papai aceitou
isso?
_ Precisávamos do dinheiro.
_ Para quê? –
pergunto e ela hesita. _ Mãe, foi por mim?
_ Depois de um
tempo o plano de saúde parou de cobrir sua internação... – começa. _ o bairro
era muito valorizado, a casa estava em ótimo estado, nos redeu muito dinheiro. –
mais um efeito colateral do meu acidente. Eu causei tristeza a essa família, eu
separei a minha família.
_ Há quanto tempo?
_ 9 anos. – ela responde.
_ Seu primo nos acolheu, ele mora no apartamento de cima, é no ultimo andar,
então é maior que este, depois de pouco tempo esse apartamento vagou. O preço
não era muito alto, compramos. – eu não digo nada. _ Parece ruim, mas a nossa
casa era longe, era uma viagem todos os dias para chegar ao hospital, morar
aqui me economizou muito tempo, e o apartamento é bom, o prédio parece ruim, eu
sei, mas o apartamento é bom. – ela garante.
_ Papai não
aceitou isso, não é? Por isso vocês se separaram. – concluo, olho a minha mãe,
ela me olha em choque, peguei-a de surpresa. _ Não é mãe?
_ Porque você acha
que nos separamos? – ela pergunta. _ Seu pai sempre foi o amor da minha vida, e
ele também sempre nos amou, ele também viu a necessidade de mudarmos para cá,
não digo que ele ficou feliz, ele sempre foi acostumado a ter quintal, poder
dar churrascos no fim de semana, mas ele sabia que precisávamos mudar.
_ Então porque ele
não está aqui? Porque você fica nervosa e triste quando fala dele? Na verdade,
porque todos te deixam nervosa? Nicholas, Demetria...
_ Ah, por favor,
Joseph, lá vem você, sempre com Nicholas, sempre com Demetria. – ela se
estressa. _ Demetria está no seu passado, passado Joseph, você recebeu uma nova
oportunidade, você pode recomeçar sua vida com outro alguém, e você insiste em
Demetria.
_ Eu só queria
conversar com ela, eu já entendi que ela foi embora mãe, eu já entendi. Mas a
nossa... Separação não aconteceu como
esperávamos... Eu só queria ver como ela está...
_ Bem, ela está
bem. – minha mãe grita. _ Bem e longe de nós. Se ela quisesse te ver ela veria.
_ Ela sabe que
acordei? – minha mãe hesita.
_ Deve saber. – dá
de ombros.
_ Mãe...
_ Eu já falei para
você parar com essa bobagem Joseph, você não sabe de nada, você não sabe o que
ela fez.
_ Como você espera
que eu saiba o que aconteceu se você não me diz nada?
_ Ela te traiu, ela
te abandonou, ela enganou a nós todos. – ela diz.
_ Como assim? –
pergunto.
_ Eu pensava que Demetria
era uma pessoa e no fim ela era alguém totalmente diferente, precisou passar
por uma tragédia para descobrir quem ela verdadeiramente era. Você está feliz agora
Joseph?
_ Ela me traia? –
pergunto.
_ Esquece-a. –
minha mãe pede. _ Pelo amor de Deus, Joseph, esquece-a. – eu não falo nada por
alguns segundos.
_ E Nicholas?
_ Outro traidor...
Outro que nos abandonou... Foi embora, como sempre fazia, nunca conseguiu se
responsabilizar pelo que fez.
_ Como assim se
responsabilizar?
_ Ele te fez
isso...
_ Mãe, eu...
Nicholas é seu filho também.
_ E você acha que
eu não sei disso?
_ E você o culpa
pelo que aconteceu comigo? – nunca escutei um absurdo tão grande em minha vida.
_ Você sempre foi responsável,
nunca andou sem cinto de segurança, sempre na velocidade correta, nunca falou
no telefone ao dirigir, mas... Naquele dia, Nicholas e Demetria, tudo o que
eles fizeram foi te encaminhar para o caminho errado, eles fizeram isso a você
Joseph.
_ Eu que atendi ao
telefone, eu que acelerei o carro, eu que não prestei atenção no que deveria, eu que bati o carro.
_ Porque você se
deixou levar por eles!
_ Mãe! – grito,
agora eu entendia tudo. Demetria não me traiu de verdade, nem mesmo me abandonou
foi minha mãe a culpou pelo que me aconteceu, por isso ela deve ter ido embora,
e o mesmo serve para Nicholas. _ Eu não acredito que você é minha mãe. Você não
era assim.
_ Assim como
Joseph? Justa?
_ Isso não é ser
justa, culpar a inocentes, afasta-los, você... Foi por sua culpa que eles não
vieram me visitar, não é?
_ Não diga o que
você não sabe Joseph.
_ Não, eu sei
muito bem o que estou falando. Você os afastou. – digo. Minha mãe se levanta, e
vai para a cozinha, com dificuldade, me levanto também e vou atrás dela. _ Você
fica nervosa ao falar sobre eles, porque você os culpa e você deve ter os
infernizado tanto que eles foram embora. – digo.
_ Cale sua boa
Joseph.
_ Eles nem devem
saber que eu acordei. Por isso eles não vieram. Ninguém me abandonou ninguém me
traiu. Você que os afastou. – eu me seguro para não explodir. _ E papai? O que
ele fez? Você também acha que ele foi culpado? Porque você o afastou? Pelo
menos para ele você teve a decência de falar que eu acordei? – grito.
_ Seu pai morreu
Joseph. – minha mãe grita e começa a chorar compulsivamente. _ Seu pai morreu!
Continua
Babbi: Como ele lidará com as mortes e nascimentos é algo que
descobriremos logo no próximo capítulo, muitas emoções ainda ;) Muito obrigada
por comentar. Bjsss
Nessa: Postado ;) Obrigada por comentar.
Bjsss
OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG... Tô com ódio da Denise por isso que a Demi abandonou o Joe
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