domingo, 20 de novembro de 2016

Capítulo 4



Eu não sabia, mas este dia seria muito especial.
Antes que eu pudesse sair os funcionários fizeram uma pequena festa para mim. Balões, bolo, salgados e refrigerante. Foi à primeira vez em três meses que realmente comi coisas com sabores e temperos fortes. Sem duvidas o dia tinha começado bem.
Após a festa eu, minha mãe e um dos meus primos, Wagner, filho da irmã de meu pai (que de todos, para mim foi o que menos mudou na aparência, sempre alto, sempre forte, moreno, cabelo liso, nunca usa barba, sempre usando terno) fomos até a garagem do hospital. Entro no carro, fico no do passageiro, minha mãe senta no banco de trás e Wagner dirige.
Pelo que lembro o hospital não é muito perto de minha casa, teríamos que atravessar toda a parte central, em que o hospital se localiza, depois mais um bairro e enfim chegaríamos onde moro. Porém me surpreendo quando após duas quadras, meu primo começa a desacelerar o carro e estacionar na rua.
_ Vamos visitar alguém? – pergunto.
_ Não. – ele responde, puxando o freio de mão. _Estamos em sua casa.
Eu não entendo. O que não é algo tão incomum ultimamente. Ainda estamos no centro, em uma parte bem movimentada, fico imaginando porque eu moraria por aqui. Minha mãe sempre adorou nossa casa, ela sempre viveu no subúrbio e nunca quis sair de lá. Meu coração dispara quando me lembro de que Demetria queria viver no centro, ela estava começando a olhar alguns apartamentos nesta região, pois a editora para qual ela trabalhava (ou trabalha, não sei) fica perto daqui, teria ela comprado um? No fim sua ausência no hospital poderia ter algum motivo a mais do que ela simplesmente ter me abandonado. Ela poderia estar em alguma viagem por causa do trabalho, talvez ela esteja temporariamente incomunicável, talvez algo tenha acontecido? Eu não sei, eu ainda não me acostumei com a ideia de que ela realmente me abandonou, apesar de compreender que é a mais provável.
Saio do carro e vejo minha mãe pegando a chave em sua bolsa, gosto de pensar que ela simplesmente tem a copia da chave, mas começo a me sentir um iludido. Demetria tinha ido embora e por algum motivo minha mãe vive aqui, mas... É tão ruim assim sonhar?
Entramos no prédio, e este não é dos melhores, parece sujo, não há porteiro, é abafado.
_ Não há elevador. – minha mãe fala com pesar em sua voz.
_ Eu ajudo. – diz Wagner. Ele fica ao meu lado. _ Se apoie em mim. – Diz e eu faço. Não tenho dificuldades para andar, utilizo a bengala por precaução, pois alguma vez, vezes cada vez mais raras, eu perco o equilíbrio. Mas subir escada ainda é algo me exige muito de mim.
Subimos dois andares e entramos na porta que fica a direita da escada. Minha mãe abre o apartamento, que tem a aparência de ser bem pequeno. Wagner ainda me ajuda a entrar, mesmo não mais precisando de seu apoio.
Ele me leva até o sofá, que fica quase encostado na porta de entrada, apenas um passo nos impede de esbarrar nele. O sofá é o mesmo da casa da minha mãe, a antiga casa de minha mãe, porém aqui só coube uma parte dele, já que este era grande e o apartamento é realmente minúsculo.
A sala é acoplada com uma cozinha bem pequena, e do lado esquerdo tem três portas, onde creio que ficam os quartos e o banheiro. Pelo menos assim espero.
Sento-me no sofá.
_ Tia, precisa de mais algo? – pergunta.
_ Não querido. Muito obrigada por hoje, mas já está tudo bem.
_ Tudo bem, qualquer coisa você sabe onde me encontrar. Tchau Joseph.
_ Tchau Wagner. – Wagner sai e nos deixa sozinho.
_ Wagner é um bom moço, foi de grande ajuda hoje. – minha mãe não se senta. _ Quer sopa?
_ Não, mãe, chega de sopas, fora que ainda estou cheio da festa.
_ Ah sim, claro. – ela sorri. _ quer suco? Algo? Qualquer coisa...
_ É aqui que você mora agora? – pergunto. Ela percebe que quero conversar e não comer ou beber e se senta ao meu lado.
_ É mais perto do hospital.
_ E a casa da família, está com papai? – pergunto, se os dois se separaram provavelmente um teria que sair da casa do outro e talvez minha mãe tenha decidido sair, talvez meu pai tenha construído outra família, o que não é algo bom, pelo menos não para mim, mas, foram 14 anos, é possível que isso tenha acontecido.
_ Vendi.
_ Vendeu? – pergunto chocado. _ Mas aquela casa era da família. – insisto. _ Eu nasci naquela casa.
_ Eu sei, mas... Foi necessário.
_ Papai aceitou isso?
_ Precisávamos do dinheiro.
_ Para quê? – pergunto e ela hesita. _ Mãe, foi por mim?
_ Depois de um tempo o plano de saúde parou de cobrir sua internação... – começa. _ o bairro era muito valorizado, a casa estava em ótimo estado, nos redeu muito dinheiro. – mais um efeito colateral do meu acidente. Eu causei tristeza a essa família, eu separei a minha família.
_ Há quanto tempo?
_ 9 anos. – ela responde. _ Seu primo nos acolheu, ele mora no apartamento de cima, é no ultimo andar, então é maior que este, depois de pouco tempo esse apartamento vagou. O preço não era muito alto, compramos. – eu não digo nada. _ Parece ruim, mas a nossa casa era longe, era uma viagem todos os dias para chegar ao hospital, morar aqui me economizou muito tempo, e o apartamento é bom, o prédio parece ruim, eu sei, mas o apartamento é bom. – ela garante.
_ Papai não aceitou isso, não é? Por isso vocês se separaram. – concluo, olho a minha mãe, ela me olha em choque, peguei-a de surpresa. _ Não é mãe?
_ Porque você acha que nos separamos? – ela pergunta. _ Seu pai sempre foi o amor da minha vida, e ele também sempre nos amou, ele também viu a necessidade de mudarmos para cá, não digo que ele ficou feliz, ele sempre foi acostumado a ter quintal, poder dar churrascos no fim de semana, mas ele sabia que precisávamos mudar.
_ Então porque ele não está aqui? Porque você fica nervosa e triste quando fala dele? Na verdade, porque todos te deixam nervosa? Nicholas, Demetria...
_ Ah, por favor, Joseph, lá vem você, sempre com Nicholas, sempre com Demetria. – ela se estressa. _ Demetria está no seu passado, passado Joseph, você recebeu uma nova oportunidade, você pode recomeçar sua vida com outro alguém, e você insiste em Demetria.
_ Eu só queria conversar com ela, eu já entendi que ela foi embora mãe, eu já entendi. Mas a nossa... Separação não aconteceu como esperávamos... Eu só queria ver como ela está...
_ Bem, ela está bem. – minha mãe grita. _ Bem e longe de nós. Se ela quisesse te ver ela veria.
_ Ela sabe que acordei? – minha mãe hesita.
_ Deve saber. – dá de ombros.
_ Mãe...
_ Eu já falei para você parar com essa bobagem Joseph, você não sabe de nada, você não sabe o que ela fez.
_ Como você espera que eu saiba o que aconteceu se você não me diz nada?
_ Ela te traiu, ela te abandonou, ela enganou a nós todos. – ela diz.
_ Como assim? – pergunto.
_ Eu pensava que Demetria era uma pessoa e no fim ela era alguém totalmente diferente, precisou passar por uma tragédia para descobrir quem ela verdadeiramente era. Você está feliz agora Joseph?
_ Ela me traia? – pergunto.
_ Esquece-a. – minha mãe pede. _ Pelo amor de Deus, Joseph, esquece-a. – eu não falo nada por alguns segundos.
_ E Nicholas?
_ Outro traidor... Outro que nos abandonou... Foi embora, como sempre fazia, nunca conseguiu se responsabilizar pelo que fez.
_ Como assim se responsabilizar?
_ Ele te fez isso...
_ Mãe, eu... Nicholas é seu filho também.
_ E você acha que eu não sei disso?
_ E você o culpa pelo que aconteceu comigo? – nunca escutei um absurdo tão grande em minha vida.
_ Você sempre foi responsável, nunca andou sem cinto de segurança, sempre na velocidade correta, nunca falou no telefone ao dirigir, mas... Naquele dia, Nicholas e Demetria, tudo o que eles fizeram foi te encaminhar para o caminho errado, eles fizeram isso a você Joseph.
_ Eu que atendi ao telefone, eu que acelerei o carro, eu que não prestei atenção no que deveria, eu que bati o carro.
_ Porque você se deixou levar por eles!
_ Mãe! – grito, agora eu entendia tudo. Demetria não me traiu de verdade, nem mesmo me abandonou foi minha mãe a culpou pelo que me aconteceu, por isso ela deve ter ido embora, e o mesmo serve para Nicholas. _ Eu não acredito que você é minha mãe. Você não era assim.
_ Assim como Joseph? Justa?
_ Isso não é ser justa, culpar a inocentes, afasta-los, você... Foi por sua culpa que eles não vieram me visitar, não é?
_ Não diga o que você não sabe Joseph.
_ Não, eu sei muito bem o que estou falando. Você os afastou. – digo. Minha mãe se levanta, e vai para a cozinha, com dificuldade, me levanto também e vou atrás dela. _ Você fica nervosa ao falar sobre eles, porque você os culpa e você deve ter os infernizado tanto que eles foram embora. – digo.
_ Cale sua boa Joseph.
_ Eles nem devem saber que eu acordei. Por isso eles não vieram. Ninguém me abandonou ninguém me traiu. Você que os afastou. – eu me seguro para não explodir. _ E papai? O que ele fez? Você também acha que ele foi culpado? Porque você o afastou? Pelo menos para ele você teve a decência de falar que eu acordei? – grito.
_ Seu pai morreu Joseph. – minha mãe grita e começa a chorar compulsivamente. _ Seu pai morreu!

Continua


Babbi: Como ele lidará com as mortes e nascimentos é algo que descobriremos logo no próximo capítulo, muitas emoções ainda ;) Muito obrigada por comentar. Bjsss

Nessa: Postado ;) Obrigada por comentar.  Bjsss

Um comentário:

  1. OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG OMG... Tô com ódio da Denise por isso que a Demi abandonou o Joe

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