Rebecca pensa por alguns segundos.
– Como você sabe que meu pai faliu? - ela pergunta e Lucas ri e se faz de difícil.
– O que você tem para me oferecer? - pergunta.
– Lucas. - ela pede. – Por favor, me responda. - Lucas se mantém firme e Rebecca acaba cedendo. – Tem chá e suco.
– Assim que eu gosto. Mansinha. - continua sorrindo. – Suco. Com adoçante. - exige e Rebecca bufa.
Após se retirar da sala e ir até a cozinha da cobertura, que tem bancadas de mármore banco e uma grande geladeira, onde ela encontra a jarra de suco de uva. Logo após ela enche um copo de cristal, pega o pequeno pote de adoçante e retorna para sala. A garota entrega o copo com o suco e o adoçante para Lucas sem muita delicadeza, mas ele não parece esperar nada diferente da garota.
Rebecca então se senta no sofá de frente a ele e espera que o rapaz comece a falar.
– Eu estou ajudando meu pai na empresa dele. - Lucas começa, sem nem mesmo dar um gole do copo de suco. – Afinal de contas, herdarei o império dele. - diz orgulhoso e Rebecca revira os olhos.
– Vá direto ao ponto. - Rebecca pede.
– Para uma pobre você exige muito. - Lucas responde.
– Sua ajuda é essa? Me humilhar?
– Eu não estou te humilhando. - Lucas não gosta da fala da moça. – Que seja. - ele então decide dar de ombros. – Seu pai apareceu na minha futura empresa hoje, ele tinha uma reunião com meu pai e eu pude participar. Seu pai foi pedir ajuda, queria que meu pai o emprestasse dinheiro, para que ele pudesse se reerguer.
– E seu pai o fez? - Rebecca pergunta ansiosa.
– As fábricas de seu pai estão completamente paradas, não há um funcionário que não esteja há pelo menos quatro meses sem receber o salário; ele tem quatorze processos trabalhistas correndo em segredo de justiça, e que provavelmente vai perder... Emprestar dinheiro para seu pai se reerguer seria jogar dinheiro fora. - Lucas diz e Rebecca fica sem ação. – Não me leve a mal, Rebecca, mas seu pai se permitiu chegar a esse ponto, e não cabe ao meu pai reergue-lo.
– O que você quer então? - Rebecca perguntou sem conseguir olhar nos olhos do garoto a sua frente.
– Eu venho cuidando de um negócio, próprio meu, para conseguir um dinheiro extra. Tenho ganhado bem, e creio que posso lhe contratar com um salário bem alto, maior que a média.
– Negócio próprio? Você nem se formou ainda. - Rebecca desdenha.
– Eu sou um empresário nato, está no meu sangue. - Lucas diz confiante. – Meu pai também começou pequeno e olha tudo o que ele conquistou… - Rebecca suspira, ela sabe que a relação de Lucas com o pai sempre foi conturbada e que o garoto apenas o enaltece agora para humilhar Rebecca ainda mais.
– E porque você faria isso? - ela pergunta desconfiada. – Me ajudar?
– Porque eu preciso de ajuda, e você precisa ser ajudada. Simples.
– E o que seria? O que eu devo fazer?
– Entregas. - responde simples.
– Entregas? - ela quer saber mais. – Para isso existem motoboys, chofer, correios, coisas do tipo...
– São entregas especiais. Não posso deixar na mão de qualquer um.
– Especiais? - Rebecca não confia no garoto.
– É tudo o que você precisa saber.
– Eu preciso saber o quê estou entregando.
– Você precisa de dinheiro, Rebecca, é disso que você precisa. - Lucas contrapõe.
Rebecca não é boba, ela sabe que se aceitar a proposta de Lucas estará entrando em uma encrenca. Mesmo tendo se permitido relacionar com ele por breves semanas (e até se apaixonado por ele), ela sabe bem que nada do que vem dele é algo bom. Mas se o pagamento for real, ao recusar a proposta do garoto, ela também estará encrencada. Naquele momento ela não tinha nenhuma saída.
– E eu posso lhe pagar um adiantamento ainda hoje, basta você parar de fazer perguntas e aceitar minha proposta. - Rebecca segue cautelosa. O que seria pior? Ficar pobre ou sabidamente entrar em uma encrenca?
Rebecca olha para o relógio pendurado na parede que fica atrás de onde Lucas está sentado. Agora já se passa das cinco e meia da tarde, ela ainda pode voltar à loja de roupas em que seu cartão fora negado e salvar seu nome, mas para isso ela teria que ser rápida.
– Já se decidiu? - Lucas a pressiona.
– Você pode me adiantar um valor ainda hoje? - ela pergunta.
– Foi o que eu disse. - ele responde.
– Você pode me adiantar um valor agora? - ela se especifica e Lucas gargalha e suspira satisfeito.
– Você pode começar ainda hoje? - ele pergunta.
– O dinheiro primeiro. - ela insiste.
[...]
Os dois já haviam ido à loja para pagar a dívida de Rebecca e já haviam voltado ao apartamento da menina; agora ela se aprontava para seu primeiro dia de trabalho. Lucas não deu muitos detalhes, mas disse que ela deveria se vestir como se fosse a uma festa de luxo, porém com a roupa um pouco mais provocante. Elegante porém sexy.
Rebecca se veste e se maquia da melhor maneira possível, mesmo tendo salvado seu nome das más línguas da loja, nem tudo estava resolvido, ela ainda está preocupada com seu pai, que ainda não deu sinal de vida.
A garota veste um vestido preto de seda, ele é longo e possui um longo decote que vai até quase seu umbigo. Por já estar de noite, ela não economiza na maquiagem, apesar de Lucas ter deixado subentendido que essa parte não era tão necessária. Base, sombra, cílios postiços, batom vermelho vinho que fazem sua boca parecerem mais carnudas e delineador feito com perfeição.
Ao vê-la assim, Lucas assobia.
– Maravilhosa.
– Eu sei. - ela responde e o garoto ri.
[...]
– Sorria, Rebecca. - Lucas ordena assim que os dois chegam a um prédio de dois andares, escuro, sem nenhuma identificação além do número 305. A fachada simplória deixa o lugar escondido e passa despercebido na avenida movimentada e iluminada.
– Tem certeza que é aqui? - Rebecca pergunta nervosa.
Sim, desde o início ela sabia que estava entrando numa roubada, e ela aceitou apenas para limpar seu nome, salvar sua reputação enquanto seu pai arranja uma forma de se reerguer, porém, a total falta de informação sobre o que deve fazer, combinado com a lugar estranho que Lucas está a levando, a deixou mais apreensiva do que ela gostaria de estar.
– Claro que sim. - diz, abrindo com um forte empurrão a grande porta cinza escuro, que parece ser feita de algum metal maciço. Os dois passam por um corredor escuro. Ao percorrer o corredor, Rebecca vê que no fim há uma cortina de panos leves, que se esvoaçavam e revelavam uma música alta e animada e um jogo de luz intenso. Parece se tratar de uma boate secreta.
– O que tenho que fazer agora? - ela pergunta.
– Coloque isso. - ele pede, aparecendo do nada com uma máscara veneziana, da cor preta, com brilhos na borda e algumas plumas no topo. Era exagerado para o gosto de Rebecca, mas ela não podia negar que era uma máscara bonita. Rebecca faz uma careta. – Eu disse que não precisava de tanta maquiagem. - Lucas a lembra.
– Não podia ser uma máscara mais simples? Que não escondesse tanto minha maquiagem?
– Não. - responde seco.
– Por quê? - ela questiona.
– Apenas faça. - Lucas começa a se irritar com as perguntas de Rebecca. – Eu fiz minha parte, não fiz? - Rebecca assente. – Então agora cumpra a sua. - ordena.
Rebecca coloca a máscara na face e Lucas a ajuda a amarrá-la atrás da cabeça da garota.
Após ajustar a máscara ao rosto, Rebecca suspira, se preparando para o que enfrentará após adentrar ao local.
É um grande salão, com pilastras no entorno, sem janelas aparentes e um pé direito bem alto, parece ser um lugar bonito, mas as luzes dançantes não permite que a garota capte os detalhes de imediato. Há muita gente, o público presente é principalmente de homens. Homens maduros, velhos, nenhum aparenta ter menos de 30 anos, a maioria parece ter saído de seu trabalho e vindo direto para cá, pois vestem ternos e trajes sociais. Há um bar extenso, onde garçons correm para atender a todos os clientes, há um palco grande, onde há um poste de fazer pole dance bem no meio, e do palco se estende uma passarela em formato de “T”, não há ninguém lá agora.
Mulheres, em trajes curtos e justos se jogam nos braços dos homens e os acariciam. A menina logo percebe que as mulheres também usam máscaras venezianas, cada um tem um estilo, algumas coloridas e bem extravagantes, outras mais simples, mas sempre de máscara.
– Você não quer que eu... - Rebecca grita, mas Lucas a interrompe.
– Não, Rebecca, você fará entregas, apenas isso. Eu ficarei no bar e você chegará nos clientes que eu indicar, e entregará as encomendas da maneira mais discreta possível.
– E quando você diz: discreta...
– Sim, você vai agir como essas meninas, mas não será uma delas. - Lucas garante.
Rebecca suspira.
– Eu já lhe paguei. - ele relembra.
– Eu sei. - ela cerra os dentes. – Eu sou uma traficante agora. - ela bufa. – Não é? - pergunta.
Lucas poderia ter mantido segredo sobre seu negócio até aquele momento, mas Rebecca é esperta e aos poucos estava juntando os detalhes. Ela agora sabe do que se trata e o confronta.
– Sim. - ele não nega. – E é melhor você começar a fazer seu trabalho rápido. Pois do mesmo jeito que eu lhe contratei, posso lhe despedir. - ele diz e Rebecca estremece pelo tom de sua voz.
– Isso é temporário. - ela diz e Lucas ri.
– Eu não me importo. - ele dá de ombros. – Só faça seu trabalho.
– Ninguém pode saber disso. - ela fala.
– Eu te mato se você falar disso para alguém. - Lucas ameaça.
E ali fez-se um acordo. Este era o segredo de ambos... Porém não é o único segredo de Lucas...
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