sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Capítulo 3 - O Filho Perdido (A Origem de Lincoln Campbell)


Não havia muito tempo para melhores explicações, Rosalind ainda tentava digerir a fuga dos agentes da SHIELD quando tem que lidar com o ataque num hospital. Durante o percurso Luther tenta lhe descrever o que aconteceu no vagão enquanto ela atendia a chamada, mas quando ele diz algo sobre uma mão protética, explosão controlada e container voador Rosalind se pergunta se o companheiro de time está bem da cabeça, não tinha como ele colocar isso no relatório da missão.


Quando Rosalind e sua equipe chega ao hospital que sofrera o ataque, os humanos modificados já haviam escapado. A enfermeira que havia chamado o socorro revela aos agentes que um dos modificados, responsável por parte da destruição deixada para trás, na verdade trabalhava como enfermeiro no hospital. 


A equipe então levanta a ficha do tal enfermeiro e quando Rosalind olha para a foto do humano modificado na tela do computador, ela, pela primeira vez em anos, não sabe o que fazer. Uma mistura de medo, raiva, confusão, alegria e tristeza inundavam seu coração. 


Claro que ele não estava igual da última vez que o vira, anos haviam se passado, o mesmo agora tem uma barba rala, o cabelo está mais arrumado e não mais rebelde como quando na adolescência, mas continua no mesmo tom castanho claro. Ele agora não é mais um jovem universitário, mas um homem. Ainda assim, mesmo que anos se passassem, Rosalind jamais iria se confundir. 


Aquele enfermeiro. Aquele humano modificado que aparece na imagem é o seu filho perdido.


Rosalind tinha que agir rapidamente. A sua equipe esperava isso dela, o presidente espera isso dela, suas mãos estão atadas, e neste momento a missão se tornara pessoal demais. Deveria ela revelar isso ao presidente? Mesmo Rosalind sendo chefe da U.A.C.A., o presidente deveria ser informado de tudo que acontecia na agência, o sucesso na contenção dos humanos modificados que por muitos eram considerados ameaças era importante para que o presidente mantivesse sua popularidade, porém se ela o contasse, a sua posição de liderança nesta força tarefa poderia ser comprometida e mais uma vez o filho lhe escaparia pelas mãos. Deveria ela esconder ele de tudo e de todos? Rosalind sabe que para isso teria que burlar leis e várias regras que por ela mesmo fora estipuladas e necessitaria da ajuda de mais algum agente, provavelmente Banks, mas este seria um movimento tão arriscado quanto a primeira ideia. 


Lincoln precisa ser resgatado, Rosalind deve isso a ele. Nesse momento da sua vida, após ter perdido tanto, talvez até mesmo tudo, ela percebe que foi uma mãe ausente. Se ela o capturasse e o levasse para a U.A.C.A., seu filho poderia ser curado, poderia voltar a ser seu garoto, e quem sabe até mesmo ele a perdoria?

– Price… Price… - a voz de Banks a acorda de seus devaneios. – Está tudo bem? - o agente pergunta, pois percebe que a chefe parece um pouco desorientada. 

– Sim. - Rosalind ajusta a sua postura e respira fundo, recompondo-se. – Só está sendo um dia cansativo. - ela não mente. 

– O que você deseja que façamos? - pergunta e enquanto ela pensa ele segue falando. – Recuperamos mais algumas imagens da câmera de vigilância, no total eram quatro modificados, ou pelo menos três…

– Como assim “pelo menos”? 

– Bom, temos o enfermeiro, que não temos nenhuma imagem dele em ação, mas temos uma testemunha; tem uma mulher, ela veste um uniforme, provavelmente se acha uma heroína, talvez queira se inscrever para uma seletiva dos vingadores. - Banks dá uma risadinha desdenhosa, mas Rosalind se mantém séria, o que o faz voltar a seriedade instantaneamente. – Tem um homem negro, alto e muito forte, ele estava junto a mulher de uniforme, meu primeiro pensamento é que ele também era um modificado, mas ele usava armas normais, ou ele tem um poder bem inútil ou ele é um humano. - Banks segue. - Também tem um ser monstruoso, nem sei dizer se aquilo pode ser considerado um humano, mas sem dúvidas é bem modificado... Ele é o responsável pelos buracos na parede, ao que tudo indica ele faz… Buracos. - finaliza e Rosalind tem um estalo, só poderia ser isso! 

– Você disse buraco? - pergunta para ter certeza de que sua ideia não é absurda. 

– Sim, posso te levar até um desses buracos.



Rosalind observa o buraco feito na parede de um corredor que dava para dentro de uma sala de consulta, a borda quase num círculo perfeito com uma margem escurecida envolvendo-o, como se algo tivesse sido queimado. O buraco é grande, uma pessoa de 1,70 m poderia passar pelo mesmo sem a necessidade de se esquivar. As proporções são claramente bem maiores, mas os aspectos muito se assemelham, Rosalind não crê em coincidências, só poderia ser esse ser monstruoso o causador das mortes que ela até então culpava serem causadas pela SHIELD 


– É o mesmo. - ela diz.

– O mesmo o que? - Luther pergunta ao seu lado. 

– Esse monstro que fez esse buraco é o mesmo que está fazendo os buracos no peito dos humanos modificados que estamos encontrando. - Rosalind exclaresse. 

– Você tem certeza?

– Claro!

– Então aquela coisa trabalha para a SHIELD? - pergunta.

– Não. - Rosalind não hesita. – Eu acredito no Coulson.

–  Então devemos atacá-lo? 

– Eu preciso falar com a enfermeira, a que viu meu… o enfermeiro. - Rosalind ignora a pergunta de Banks e quase fala mais do que deveria. – a que viu o enfermeiro. - se concerta. Banks não parece gostar muito da resposta da chefe, mas a acata sem perguntar duas vezes.

– Vou providenciar um local para que vocês possam conversar. - diz se retirando e deixando Rosalind ali, devaneando sobre seu filho e em como ela poderá recuperá-lo. 


Um dos poucos locais que não foi atingido pela confusão causada pelos humanos modificados é a ala da UTI do hospital. Rosalind, em condições normais, não teria a permissão de entrar ali, mas uma exceção é concedida a ela e no canto, bem perto da porta de entrada, duas cadeiras são dispostas frente uma da outra, Rosalind senta numa e a enfermeira que testemunhara Lincoln usando seu poder, se senta na outra. Seu nome é Christina e mesmo após horas do ataque, suas mãos seguem trêmulas. 


– Você disse que o enfermeiro tinha poderes, você tem certeza que era ele e não os outros que estavam com ele que usou poder? - pergunta, após se apresentar e tentar, inutilmente, acalmar a mulher. 

– Sim… Era uma luz forte, saia da mão dele. - garante.  

– E porque você acha que ele fez essa bagunça no hospital? Houve alguma briga que pudesse tirá-lo do controle? - Rosalind sabia do temperamento nada calmo do filho, com poderes ele poderia muito bem causar um belo de um estrago quando fosse contrariado. 

– Não… Ele sempre foi muito bom, gentil… Calmo. - Rosalind estranha a descrição, será que ele havia mudado tanto? – Foi a coisa… O monstro que veio atrás dele… Quer dizer, ele perguntou sobre um… não humano… quer dizer… foi outra palavra… Inumano, acho que foi essa a palavra que ele usou. - diz forçando-se para lembrar exatamente o que escutara. 

– Inumano? - Rosalind nunca havia escutado aquela expressão. – Então você acha que o monstro estava atrás do Lincoln, para… matá-lo? - A última palavra engasga em sua garganta antes de ser dita, a ideia de perder seu filho novamente é intolerável. 

– Acho que sim, o enfermeiro Lincoln, o homem e a mulher estavam lutando contra a coisa. - responde. 


Aquilo era tudo o que Rosalind precisava escutar, ela deveria agir ainda mais rápido do que planejara. Ela teria que utilizar de todas as suas forças e meios para recuperar seu filho, pois agora ser um humano modificado não era o seu único problema, ele também estava sendo perseguido por uma maquina de fazer buracos mortais. 


Enquanto retornam para a base da U.A.C.A., Rosalind lista para Banks todo o seu plano de ação.

– Preciso de uma força tarefa, desloque todos os homens disponíveis se for preciso, use de toda nossa inteligência para que o enfermeiro seja encontrado, monitore todas as câmeras, cubra todas as saídas, quero cada passo que ele tenha dado. 

– Senhorita Price… - Banks a interrompe com cuidado. – Não deveríamos estar atrás do monstro? - pergunta. Rosalind engole o seco. 

– Eu sei o que estou fazendo. - diz mantendo a pose de superioridade, relembrando a Banks o seu lugar na hierarquia da agência. O careca apenas assente, entendendo o recado. 

– Assim que localizarem devemos agir rápido, não podemos deixar que ele escape e, por nada, mas por nada nesse mundo o alvegem. - ela ordena com veemência. – As armas que forem usar não poderão serem letais, apenas armas para imobilizá-lo, e ainda assim, só atirem em último caso. - volta a exigir. – Eu o quero vivo! 



A noite já estava quase se tornando madrugada, Rosalind observa de perto Banks recrutar dezenas de agentes de campo para uma captura que poderia ocorrer a qualquer momento, toda a inteligência da U.A.C.A. estava focada em encontrar apenas uma pessoa, todos sabiam que isso parecia loucura, nunca Rosalind se esforçara tanto por apenas um humano modificado, mas todos acatam suas ordens e rapidamente trazem os primeiros resultados. 


– Senhorita Price! - o estagiário corre para alcançá-la meio ao galpão subterrâneo, lotada de agentes e carros equipados preparados. – Temos uma localização! - ele segura um papel com a mão no alto, empolgado com a noticia. – Encontramos o Lincoln.




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