segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Capítulo 8: Um Jogo de Mestres (Parte 1) (Red Blood Lipstick)






Segunda maior cidade do país em questão de densidade populacional e quarta maior cidade em relação a território, nessas condições, achar uma pessoa apenas pelo nome seria como procurar uma agulha no palheiro. Rosa provavelmente deveria ter pensado nisso antes de sair da ONG, ela poderia muito bem ter ao menos pegado a pasta de Lisa, com as informações que ela coletou, sem dúvidas lá teria pelo menos o lugar em que ele estava se hospedando na cidade. 


Rosa, em sua moto, está estacionada no estacionamento de um hipermercado, e ali ela procura pelas redes sociais qualquer dica de como encontrar o jornalista. Após ter que lidar com vários perfis trancados, ela finalmente encontra um perfil do instagram do jornalista que está aberto. 


Rafael tem poucos seguidores e segue muitas pessoas, com um total de 15 fotos sendo ⅓ de paisagens. Por sorte uma atualização nos stories feito há 6  minutos atrás dá a Rosa uma boa pista sobre por onde começar.


O dia tinha amanhecido muito bonito, o sol brilhava pomposo num céu azul sem nuvem alguma, a temperatura da parte da manhã é amena, em torno dos 25º, tudo convidava para um passeio ao ar livre e um dos pontos principais da cidade, o parque municipal, se tornou o ponto mais movimentado. Esta era a primeira vez que Rafael ia até lá desde que chegara a cidade, sua investigação estava ocupando grande parte do seu tempo, já que a maior parte dos casos que ele estava acompanhando tinham um desfecho desconhecido e por conta própria o jornalista tenta encontrar a resposta. 


Pessoas praticavam suas caminhadas e corridas, crianças brincavam no pequeno playground do parque e Rafael lê o jornal, a matéria que mais o chamava atenção era do empresário encontrado assassinado num quarto de motel, a forma em que tudo se deu ainda o choca, mas a falta de pistas e informações o deixa completamente perplexo. O que estava acontecendo nessa cidade? Por que tantos casos deixados em aberto? 


Já se aproximava das 11:30 quando o jornalista decide que irá retornar ao kitnet que ele está alugando enquanto faz a sua investigação. A distância é de 1,7 km entre o parque e o local em que Rafael está, serão aproximadamente 23 minutos de caminhada. 



Antes de se tornar jornalista, Rafael trabalhou como assistente de detetive, na época, recém formado no ensino médio e sem nenhuma noção do que queria fazer da vida, seu pai lhe arranjou o emprego com um velho amigo. No tempo em que ajudou o detetive, na maior parte do tempo, a função de Rafael consistia em perseguir seja lá quem ele fosse designado a seguir, na sua maior parte maridos e esposas infiéis. Essa experiência como assistente de detetive ajudou-o em dois grandes quesitos na sua vida.

  1. Ele descobriu uma paixão pela investigação; e por isso decidiu se formar em jornalismo e se especializar em jornalismo investigativo.

  2. Uma intuição lapidada; 


É difícil de explicar, nem mesmo Rafael sabe como elucidar o que sente, mas seu instinto aguçado o faz perceber pequenos detalhes, seja nas pessoas ou no ambiente a sua volta. 


Suspeitos que poderiam lhe indicar um fechamento para seus casos não faltavam, por hora, uma delegada estava na sua lista, Vanda! 


A mesma porém parecia inacessível, sempre indisponível para conversar com ele, contudo, nesse exato instante, algo mais o chama atenção à sua volta. Ele ainda não pode afirmar, mas enquanto ele faz seu caminho de retorno para seu kitnet, ele pode sentir que alguém o persegue. 




Rosa havia deixado sua moto no estacionamento do parque, lá é gratuito e há um grande número de guardas, claro que isso não era garantia de nada, mas sua decisão de ir atrás do jornalista era maior do que o medo de perder mais uma moto.


A mulher tenta disfarçar sua perseguição, na maior parte do tempo mantém uma distância de 3 metros para assim ter tempo de agir, se misturar ou se esconder caso o jornalista se volte para trás e a olhe. 


Após 15 minutos de perseguição, Rosa percebe que o jornalista começa a diminuir a velocidade de sua caminhada e entra em uma cafeteria. Agora já era quase hora do almoço e a cafeteria estava praticamente vazia. A loja possui grandes janelas por toda sua fachada, o que possibilita uma boa visualização de todo o espaço do salão pelo lado de fora. Se aproveitando disso, Rosa decide cruzar a rua e manter-se a observar a loja e cada movimento do jornalista dentro da mesma de uma distância mais segura.  



Rafael observa o balcão, depois o cardápio, ele pede um café pequeno para viagem, mas quando recebe seu pedido, ele não sai da loja, ele se senta em uma das cadeiras e começa a se atentar a tudo e a todos a sua volta. Objetos, roupas, cheiros, rostos. Ele sabe que de início ele não poderá apontar ninguém ali como o seu seguidor misterioso, nesse momento se tratava apenas de reconhecer o que está a sua volta e se aproveitar disso num outro momento. Após observar a todos que estão dentro da cafeteria com ele, o jovem jornalista se concentra na rua, as grandes janelas translúcidas facilitam seu trabalho. Por razões óbvias ele não repara muito naqueles que passam andando pela sem nem mesmo olharem para dentro, contudo ele tenta fixar pelo menos um pequeno detalhe de cada pedestre, pois caso o mesmo detalhe fosse visto por mais de uma vez, isso poderia significar que alguém estaria indo e voltando pelo mesmo caminho, esperando que ele saísse da loja para prosseguir sua perseguição; ele mesmo já havia usado essa técnica várias vezes, na maioria das vezes ninguém repara no número de vezes que um mesmo estranho passa por si na rua. 


Seu olhar então é chamado para uma mulher de cabelos castanhos, que apesar de não manter seu olhar fixo para a loja, age de forma estranha. A moça de alta estatura está do outro lado da rua e repetidamente vira-se brevemente para olhar a vitrine de uma loja de cosméticos, mas logo torna a mirar para a cafeteria em que Rafael está. O jornalista não a reconhece, não sabe quem ela pode ser, mas desconfia que ela pode ser a sua perseguidora. Decidido a constatar sua hipótese, ele se levanta da mesa e segue sua caminhada. Ele agora não mais caminha para seu kitnet, mas anda completamente sem rumo pela cidade, cruzando sinais desnecessários e virando esquinas aleatórias. Paradas estratégicas são feitas, geralmente em frente a uma loja ou em bancas de revistas, tudo apenas para que ele tivesse a chance de observar se encontrava algum detalhe que lhe remetesse a alguém mais da cafeteria ou se realmente só veria a misteriosa moça. 


Nas primeiras breves paradas no caminho, Rosa conseguira se manter numa distância segura para não ser detectada pelos olhares de canto do jornalista, mas num certo momento, ele conseguiu vê-la pelo reflexo do espelho de um prédio comercial com faixada espelhada. A química porém disfarçou, pegando seu telefone para fingir que falava com alguém. A segunda vez que Rosa caiu nos olhares de Rafael foi quando ele parou de andar, simplesmente se manteve estático num sinal de trânsito, Rosa acabou tendo que atravessar após ele não se movimentar quando o sinal se tornou verde para os pedestres. 


Rafael não precisava de mais provas, ele tinha que reconhecer que Rosa era boa, mantinha sempre uma boa distância e estava sempre pronta para improvisar um disfarce, se ele não fosse quem é, ele sabia que a teria levado diretamente para seu endereço… Rosa, no fundo estava contanto com isso, mas após 30 minutos de caminhada que não parecia dar em lugar nenhum, a mesma percebeu que poderia ter sido descoberta.



Isso era algo que ela não estava acostumada, normalmente ela conseguia perseguir seus alvos numa facilidade imensa e descobrir detalhes minuciosos sobre a rotina deles, mas ao que tudo indica sua experiência pouco importava agora, Rafael não é igual a seus alvos. Ela teria que mudar de estratégia. 


Rafael vira mais uma esquina, a rua é sem saída e é constituída por pequenos prédios familiares, esta é uma área muito valorizada da cidade, pois é uma rua bem tranquila, mas fica bem próxima ao burburinho da parte central da cidade. Distraída demais em construir um novo plano, Rosa não percebe que cairá numa armadilha.



Rafael para de andar assim que virar a esquina, preparado para flagrar a sua perseguidora e confrontá-la.  

Rosa, ao virar a esquina, dá de cara com o jornalista. Com o susto, ela para de andar, seus olhos se arregalam e o jornalista sorri, vitorioso. 

– Posso saber porque você está me seguindo? - Rafael pergunta num tom educado.



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Continua...


2 comentários:

  1. Olá, Nanda!
    É muito bom ver que voltou novamente ao blog.
    Espero também fazer o mesmo com o meu hahaha!
    Vou ver se consigo me atualizar por aqui.

    Bom Natal!

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    1. Por favor, espero que vc consiga voltar sim, estou indo aos poucos, paro, volto, mas tentarei não ficar tão distante como antes.

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