Um novo vestido, isso era tudo o que Rebecca precisava para se esquecer da mais nova decepção amorosa que teve. E se a ocasião pede um vestido, nada melhor do que ir à loja Ralph Lauren.
Ao chegar lá, Rebecca se joga a experimentar tudo o que pode, ela não precisa nem mesmo gostar das roupas, pois não está ali porque precisa de roupas ou tem algum lugar importante para ir, ela está ali porque precisa relaxar e sua maneira de relaxar é comprando.
Comprar roupas para Rebecca é algo fácil, ela é magra, até tem algumas curvas que a valoriza, como seios fartos, nada exagerado, mas grandes o suficiente para dar destaque a seu corpo. Morena e de cabelos liso e compridos, Rebecca é claramente bonita, e apesar de jovem, ela já tem aparência de uma mulher adulta, isso a irrita um pouco, mas é algo que a convém em determinadas situações, como para ir às baladas.
No fim ela escolhe dez peças: Três vestidos longos: um floral, azul escuro, com as alças caídas e uma leve transparência do joelho para baixo; um preto com rendas na parte de cima; e um branco com duas camadas, com flores em tons diferente de azul, com uma fita para marcar a cintura e um decote em V avantajado. Uma jaqueta jeans, lavagem clara, estilo boyfriend. Três vestidos curtos, um xadrez, outro todo branco com detalhes em crochê na alça, e um último listrado, que se ajusta ao corpo. Um short jeans com detalhes de rosa, uma calça jeans skin azul escuro, com detalhes de dois zíperes e para terminar, um novo roupão.
– 1.017,51. – diz a atendente.
Sim, Rebecca assume que tinha exagerado um pouco, mas esta não seria sua compra mais cara, então ela dá de ombros.
Rebecca entrega à atendente o cartão de crédito que seu pai lhe deu no ano passado como presente de aniversário. Rapidamente a atendente dá a maquininha de cartão para que Rebecca insira a senha. A garota o faz e espera, porém logo vê o olhar incomodado da atendente.
– A transação não foi aceita. – a atendente diz sem graça.
– Faça novamente. – Rebecca diz rapidamente, não quer que ninguém ali a veja nessa situação. O cartão novamente é inserido na máquina e novamente Rebecca digita sua senha, desta vez mais vagarosamente, pois quer ter certeza que não a errará.
Assim que a atendente volta novamente seu olhar a Rebecca, a garota percebe que mais uma vez deu erro, mesmo sem que a moça que a atende tenha dito nada.
Rebecca sorri amigavelmente, para tentar esconder o susto e vergonha que está sentindo.
– Eu vou fazer uma ligação, e já retorno. – ela diz.
Rebecca deixa as compras e o cartão no caixa, e não vai muito longe, apenas chega a um canto mais isolado da loja.
Ela liga para o escritório do pai, mas ninguém a atende. Então ela liga para o celular do pai.
– O que foi Rebecca? – ele a atende sem muito carinho.
– Meu cartão não está passando. – ela diz desesperada. – Faça alguma coisa. – ela ordena.
– Quanto deu? – ele pergunta.
– R$ 1.017,51. – ela responde.
– Mas que caramba você andou comprando? – o pai pergunta bem alterado.
– Roupas. – ela responde estranhando o tom do pai, ele nunca a repreendeu assim, principalmente só por ela estar fazendo umas comprinhas.
– Mas que roupa é essa? É bordada em fios de ouro por acaso?
– Não, pai. São várias peças, e são lindas. – ela diz animada.
– Deixe isso aí, você não precisa de mais roupas.
– Pai, eu só preciso que você olhe com o banco o que está acontecendo, pare de ser chato. – ela fala, já sem paciência.
– Eu não vou olhar nada em lugar nenhum, você que vai devolver essa compra e vai voltar para casa. – o pai praticamente berra do outro lado da linha. – E é agora! – ele ordena.
– Pai, porque o senhor está fazendo isso comigo? – ela pergunta confusa, algo de errado deveria estar acontecendo, seu pai está claramente fora do seu normal. – Eu não posso fazer isso, o que vão falar de mim? – ela o indaga.
Rebecca sempre frequentou esta loja, todas suas amigas frequentam ali. Ela já conhece todos os funcionários e sabe sobre as fofocas que rodam por essas araras. Se ela devolver as compras, ela tem certeza que o seu cartão recusado será o mais novo assunto.
– Rebecca, eu não tenho paciência para suas meninices. – ele não grita, mas ainda tem um tom raivoso em sua voz. – Faça o que eu disse. – ele ordena e desliga o telefone sem se despedir.
Rebecca se desespera.
O que fazer agora? Sair deixando tudo para trás, inclusive o cartão? Voltar ao caixa e dar uma desculpa? Tentar mais uma vez, quem sabe agora o cartão passa? Quem sabe o pai estava apenas a brincar e ele vai ligar para o banco para resolver a sua situação?
Respire, Rebecca.
Rebecca decide voltar ao caixa e tentar dar uma desculpa.
Assim que retorna ao caixa, Rebecca lança seu melhor sorriso, e com a voz calma e gentil diz.
– Meu cartão deu um pequeno problema, creio que seja no chip, tem como você guardar minha compra? Meu pai irá passar aqui para pagar até o fim do dia.
A atendente assente gentil, e devolve o cartão para Rebecca.
A garota sai da loja sem saber se seu disfarce deu certo, nesse exato momento o nome dela já pode estar correndo pela loja, mas existe uma possibilidade de que sua desculpa tenha funcionado, a probabilidade é pequena, ela sabe, ela já escutou nomes importantes virarem chacota naquela mesma loja por muito menos, porém sua educação com a atendente poderia ser o diferencial; e para garantir isso, ela teria que convencer o pai a pagar as roupas antes que a loja feche. Como já se passa das duas da tarde, ela não tem tanto tempo assim.
Rebecca não vive longe da loja, um quarteirão é tudo que separa o apartamento de luxo que ela vive com seu pai, da avenida em que lojas de moda se espalham, e, ao contrário de sua melhor amiga, Sara, Rebecca ama andar pela cidade, nada de táxi ou limusines, se a caminhada não for muito pesada, ela não se importa de ir a pé.
Assim que chega ao apartamento ela procura por seu pai, e o encontra na sala. Rebecca pensa em já chegar ordenando que ele se explique, porém, antes que possa falar algo, ela nota que na mão do pai há um copo cheio com o que ela crê ser Vodka e isso a paralisa.
Quando a mãe de Rebecca morreu, há oito anos, o pai da menina entrou em depressão e como forma de aliviar sua tristeza, ele recorreu à bebida. Foram noites e dias penosos para garota. Bêbado ele ficava violento, nunca chegou a agredi-la fisicamente, mas isso se dá graças aos funcionários da casa, como sua antiga babá, o motorista particular do pai, a cozinheira e a faxineira, que sempre tentavam protegê-la. Foram mais de três anos de penúria até que ela finalmente conseguiu convencê-lo a procurar ajuda.
Seu pai sempre se mostrou orgulhoso de ter se recuperado, e há pouco ele tinha comemorado dois anos seguidos sem colocar um pingo de álcool em sua boca. Mas hoje...
– Pai, o que está acontecendo? – Rebecca pergunta. No fundo ela tem esperança que seja só um copo, afinal de contas, dois anos de controle é um bom tempo, ele não seria capaz de jogar isso fora, seria?
O pai de Rebecca a olha nos olhos e sorri grande para ela, mas o sorriso dura pouco, pois sem motivo aparente ele começa a chorar.
A menina não entende o que está acontecendo e teme descobrir o que se passa, seria outra morte? Talvez de sua avó, que morava longe, mas claramente era muito amada tanto pelo seu pai quanto por ela...
Rebecca se aproxima do pai, e o abraça de lado. De início o pai aceita o carinho da filha, mas logo depois se esquiva, se levantando abruptamente do sofá e com pouco equilíbrio se pondo de pé.
– Pai, eu posso te ajudar, você não precisa disso. – Rebecca diz ao se levantar e tentar tirar o copo da mão de seu pai. Porém ele não aceita e quase empurra a filha para defender seu copo de bebida. Naquele momento a garota percebe que está perdendo o pai para o álcool novamente. O pavor domina sua mente.
Tudo menos isso! - ela repetia constantemente em sua mente.
– Você não pode ajudar, você só pode atrapalhar, só isso! – com a voz claramente embriagada ele diz.
– Você pode voltar para a clínica, eu juro que não conto para ninguém. – a menina insiste.
– Que clínica, garota? – ele se vira para a filha e berra. – Não tem clínica, não tem nada, acabou tudo! Estamos falidos… Falidos!
Rebecca não podia acreditar no que o pai dizia… Ela sabe que não deveria desejar algo assim, mas ela queria que seu pai estivesse muito, mas muito bêbado mesmo, e que tudo que ele dizia fosse delírios de sua mente embriagada.
Para que não ficassem dúvidas, Rebecca não perde tempo e corre até seu quarto para pegar seu Ipad, lá ela entra no aplicativo de seu banco e, ao ver o seu saldo, ela se senta a cadeira para que não caia direto ao chão. Trinta reais e nada mais..
Não concordando com aquilo, Rebecca decide entrar na conta do pai, ela sabe a senha dele, então nem mesmo precisa sair do lugar. Rebecca se choca ao ver que o estado da conta do pai está pior do que a dela, apenas doze reais.
As mãos de Rebecca tremem e seus olhos embaçam, ela começa a chorar compulsivamente. Mesmo vendo os números, a garota não consegue crer que isso realmente está acontecendo. Seu pai deve ter alguma outra conta, uma conta escondida, e nesta conta deve haver muito dinheiro, dinheiro suficiente para salvá-los.
Rebecca volta à sala, mas não encontra o pai.
Desesperada ela percorre todo o apartamento, e a cada cômodo vazio, mas cheio de tristeza, ódio e desespero, seu coração fica. Não há nenhum funcionário, não há mais ninguém ali. Ela está totalmente sozinha.
O seu mundo está caindo, ela não sabe como agir, não sabe onde está seu pai, não sabe como chegaram a este ponto, não sabe como será o amanhã...
Capítulo de Secrets surpresa para vocês, espero que gostem, na quarta-feira teremos mais ;)
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