quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Capítulo 1: O Segredo de Sara (Pare 1) - (Secrets)

Restava apenas uma semana para o fim das férias, mas Sara evita pensar nas voltas as aulas. Agora seria o momento perfeito para começar a aproveitar ainda mais os dias de folga, principalmente com a volta de seu namorado, Ricardo, que passou a maior parte das férias ajudando a construir casas para os mais pobres. Toda vez que Sara se lembra do tempo que perdera longe de seu namorado para que o mesmo se dedicasse aos miseráveis, os olhos da garota reviram. Ao contrário de Ricardo, Sara não se vê no meio de voluntários, ajudando a aqueles que precisam, colocando a mão na massa... Ela até é benevolente, por varias vezes doara parte de sua grande mesada para alguma instituição, isso lhe rendeu boas postagem nas redes sociais e muito engajamento, o que era o que realmente lhe importava. Mas hoje é um dia especial, Ricardo volta e nenhum pensamento ou ninguém poderá atrapalhar isso. – Senhorita Sara, o seu banho já está pronto. - diz Malai, sua empregada. Malai é uma mulher baixinha de meia idade, de origem tailandesa, possui pele dourada e cabelos longos e bem pretos. Uma pequena cicatriz em seu queixo é tudo o que restou de anos de sofrimento em um relacionamento abusivo da qual a mesma já se livrara. Malai já trabalha para os pais de Sara desde quando a menina ainda engatinhava, e por estar sempre presente, já que dorme no serviço de segunda a sexta-feira (retornando a sua residencia original apenas nos finais de semana), pode-se dizer que conhece todos os gostos e caprichos da jovem patroa. Ainda assim, Sara nunca deixou-se ser amiga da empregada, sempre que pode, deixa claro qual é o seu lugar na hierarquia da casa. – Você colocou pétalas de rosas na banheira? - Malai suspira e sorri ao responder. – Sim senhorita, coloquei as pétalas como me pediu. – E porque você está rindo? - Sara pergunta séria. – Você está rindo de mim? Me acha boba, Objeto de piada? Os olhos de Malai se arregalaram diante da reação de Sara, mesmo que já acostumada aos seus mandos e desmandos, nem sempre ela consegue prever o humor da garota. Sara revira os olhos e respira fundo, ela não quer se irritar por tão pouco. – Quer saber? Pouco me importo com suas risadinhas inconvenientes, saia daqui, vá limpar algo. - ordena e Malai sai sem pestanejar. Sara então ruma para o banheiro de sua suíte. Lá a banheira já está cheia, com bolhas de espumas na medida certa, assim como as pétalas de rosas. Malai podia ser inconveniente, ao olhar de Sara, mas nem mesmo ela pode negar que a empregada faz um bom trabalho. O banho de banheira dura quase meia hora, e nesse meio tempo Sara se preocupa apenas em relaxar e planejar o que faria com seu namorado nos próximos dias. Ao sair da banheira, Sara seca seu cabelo loiro e depois o amarra em um coque alto. Geralmente Sara gosta de usá-lo solto, gosta de fazer babyliss nas pontas, deixando-as onduladas, mas Ricardo, seu namorado, gosta de seu cabelo amarrado e ela sempre tenta agradá-lo. Cabelo arrumado, hora de desembrulhar-se de seu fofo roupão rosa claro e procurar pela roupa ideal. O closet, mesmo grande, está cheio, são roupas novas e de grife na sua maioria, algumas peças, por já serem consideradas itens da coleção passada, brevemente irão para o lixo, ou, caso decida que é hora de novamente postar sua caridade para que os outros curtam, ela doará para uma instituição qualquer. Sara procura por algo comportado, pois sainhas e shortinhos não são bem vindos a casa do namorado, tais looks só podem serem usados na ausência do mesmo. Ela escolhe, por fim, um vestido branco e florido, ele vai até os joelhos. O vestido tem alças finas, o que talvez ainda seja um pouco arriscados para os padrões do namorado, mas o calor do verão poderia fazê-lo aceitar uma roupa mais "devassa". Para o sapato há muitas opções e após muito escolher, ela decide por um sapato de salto cor rosa nude. Com o look completo, a garota se senta em sua penteadeira e se maquia bem levemente. Ainda é dia, e se ela exagerasse na maquiagem, além de ficar feio, não seria bem vista pelos avós do namorado, que consideram maquiagens forte um pecado. Uma base, um brilho labial e um blush bem de leve é tudo o que ela se permite passar. Para finalizar, ela coloca no dedo seu luxuoso anel de noivado, avaliado em 50 mil reais e um colar de ouro, de corrente fina e delicada, com um pingente de coração de rubi rosa. Já pronta, Sara desce para o primeiro andar de sua casa e encontra seus pais na sala. Isso é algo raro. Sua mãe muito se parece com ela, os cabelos loiros, as pernas longas, o nariz fino. Como profissão, a mãe de Sara é médica, assim como seu pai, que é cirurgião plástico. A mãe de Sara está concentrada em seu Ipad, provavelmente analisando ou estudando melhor alguma futura cirurgia, faz alguns anos que a mesma se dedicou a se tornar uma médica cirurgiã neurologista e com muito empenho ela já está se tornando referência no país; já o pai, que já pode ser considerado um dos cirurgiões plásticos mais famosos do mundo, está lendo o jornal. Ambos se sentam no sofá, um ao lado do ouro. Alheios a presença deles mesmos e mais ainda a presença de Sara. Como sempre. Esse tratamento indiferente não surpreende a Sara, desde que se lembra sempre foi assim, seus pais são duas pessoas ocupadas, sempre estão no hospital, é quase como se os dois só existissem dentro daqueles corredores, vestidos em seus jalecos. Para ser mais sincera, toda a família de Sara é assim, as últimas quatro gerações da família de seu pai e as últimas duas gerações da família de sua mãe, eram médicos, na sua maioria de cirurgiões. Ambos claramente esperam, ou melhor dizer, exigem que Sara continue o legado, se tornando uma médica cirurgiã. Sara não em objeções sobre esse desejo dos pais, foi criada recebendo esse estímulo e no fundo acha que é melhor assim, por isso ela nunca pensou em outro curso. Após decidir que não irá tomar seu café da manhã e mesmo faltando horas para a chegada do namorado, ela resolve ir até a casa dele, assim poderá fazê-lo uma surpresa. A casa de Ricardo não fica longe, apenas dois quarteirões os separa, mas ainda assim Sara não recusa usar seu motorista particular e seu carro de luxo para chegar até lá. No curto caminho ela decide ligar para sua melhor amiga, Rebecca. As duas haviam conversado na noite anterior e Rebecca não parecia se sentir muito bem, mas tampouco revelou o que estava acontecendo. Isso incomoda Sara em altos níveis, pois ambas sempre compartilhavam tudo, de segredos sujos até as roupas caríssimas. O telefone chama, chama e chama, mas Rebecca não atende. Sara pensa em talvez ir a casa da amiga, afinal, Ricardo, seu noivo, não chegaria em menos de duas horas... – Chegamos senhorita. - diz Rick, o chofer. Sara não responde, ainda está indecisa se ela irá ver a amiga ou se fica e faz uma surpresa ao namorado. - Senhorita? - Rick a chama, sem saber se a patroa escutou seu primeiro chamado. – Já escutei! - Sara responde grosseiramente e por ficar irritada, decide descer ali mesmo. Ela ainda teria outra chance para conversar com a amiga. Os funcionários da casa dos avós de Ricardo já conhecem bem a Sara, então ela não tem nenhuma dificuldade para passar pela portaria e chegar até a grande sala de estar da casa. Quando chega, Sara se senta confortavelmente no sofá, mas logo se sente incomodada com a aparição de Heitor, o irmão mais velho de Ricardo. Fisicamente, Heitor e Ricardo muito se parecem, ambos são altos, cabelos castanho, queixo pronunciado, olhos verdes e corpos definidos. Ricardo porém já tem barba e é mais forte que seu irmão, os dentes de Ricardo são mais brancos que de Heitor e as suas sobrancelhas são mais finas do que a do irmão mais velho. A voz de Heitor é bem mais profunda e grossa, e em questão de personalidade os dois muito se diferem. – Sinto lhe dizer, mas perdeu sua viagem. - Heitor diz, sem cumprimenta-la, ele nem mesmo a olha direito. – O que você quer dizer com isso? - Sara pergunta. – O voo do meu irmão foi cancelado, parece que há uma tempestade na região em que ele está, e isso está atrapalhando o tráfego aéreo por lá. - Heitor responde sem dar muita importância, mas Sara entra em desespero. – Como assim uma tempestade? - pergunta de olhos arregalados, levantando-se do sofá num pulo. – Fique tranquila, ele agora está em um hotel e lá ele estará bem seguro. - o cunhado dá de ombros. Sara fica um pouco mais calma, mas extremamente chateada, pois será mais um dia longe de seu amor. – E seus avós? - ela pergunta. – Viajaram também. - ele responde. – Caribe, conhece? - ele pergunta sorridente e sarcástico. – Não finja amizade, você não gosta de mim. - Sara diz. – Eu não tenho nada contra você. - Heitor acha graça. – Só não entendo vocês. – Vocês? - Sara não entende o que o rapaz quer dizer. – Você e meu irmão. - Heitor se explica enquanto vai ao armário de bebidas do avô e pega uma garrafa de uísque. – Vocês não fazem sentido. – Você que não faz sentido. - Sara contrapõe. – Não se faça de besta! Você gosta de mostrar que é a "doce menina boba". - ele a zoa e a entrega um copo com uísque. – Quer? - ela hesita. – Você me xinga e agora me oferece uma bebida? - Heitor levanta as sobrancelhas e sorri divertido. – Não estou te xingando. Você está me interpretando errado, eu já disse que não tenho nada contra você. Quer? - oferece novamente. – Não! – Sim, você quer. - ele garante. – mas é como eu disse: você tem que manter a face de "doce menina boba", pois é esse tipo de menina que meu irmão gosta. – Você não sabe nada... - Sara tenta continuar, mas é interrompida. – Eu conheço você, Sara. Você não é o tipo de garota que espera pelo casamento para se relacionar sexualmente, nem mesmo que nega bebida ou que larga a balada para participar de grupos de orações, nem mesmo que fica se cobrindo com panos e panos de roupas... - Sara quer contrapor, mas Heitor tinha razão, ainda assim ela se esforça para não deixá-lo vencer a discussão. – Eu mudei, seu irmão me mudou. – Não mudou não. - Heitor diz. – E é isso que eu não entendo. Se ele não gosta de você pelo que você é, porque você insiste em continuar com ele? Não é pelo dinheiro, pois você também é rica, talvez até mais rica que nós... Não é por sexo, porque isso ele não te dá... – Ele é carinhoso. - responde Sara sem titubear e Heitor parece pensar. Ele toma um pequeno gole da bebida que pôs para ele e torna a falar com ela. – Você é realmente tão carente que larga tudo por apenas um pouco de carinho? - Heitor pergunta. Sara fica surpresa consigo, pois ao invés de responder, ela se pega pensando na pergunta. – Acho que vou embora. - Sara diz por fim. – Ei! - Heitor a chama. – Me perdoe, não queria te ofender, só queria te entender melhor. - Sara para e encara a Heitor. – Você nunca vai entender... Eu posso sim ser uma pessoa melhor, eu estou sendo uma pessoa melhor, mesmo que não pareça real para você. – Você não sente falta? - ele pergunta. – De como era antes? – Olha, eu nem posso legalmente beber e você vem me oferecendo bebida, você acha que eu estou errada por resistir e recusar? Olha a hora, ainda por cima é cedo, não é hora para encher a cara. – Não é sobre isso Sara, eu te via com 16 anos entrando em boates que você não deveria entrar, fazendo coias que você não deveria fazer e sim, isso era errado, ilegal, irresponsável, não estou falando que era algo bom ou bonito, meu objetivo aqui é outro. Sara... Você era livre. - resume. – Toda pessoa em um relacionamento fica um pouco presa, isso é totalmente normal, você saberia se conseguisse levar algo a sério. - Heitor ri de canto. – Eu entendo o porque você está na defensiva agora... Mas seu conceito do que é um relacionamento não está certo, você mudar para melhor é algo bom, você se prender e viver uma farsa apenas para que o ouro te aceite é algo completamente diferente. - Sara se cala novamente diante dos seus pensamentos, porque ela estava deixando as palavras de Heitor a atingirem de forma tão profunda? – E o que você quer que eu faça? - ela pergunta. – Tire o dia de hoje para aproveitar. - Heitor sugere. – Meu irmão deve chegar só amanhã. Aproveite o dia de hoje para matar a saudade da sua antiga versão. - ele insiste. – E porque você está fazendo isso? - ela pergunta. – Porque você se preocupa tanto com isso? – É como eu disse, eu não te odeio... E eu não vou ficar tentando atrapalhar a vocês dois, mas você merece essa folga. Ele não está aqui, nem mesmo meus avós, você não precisa se prender... Seja livre. Sara pondera. A sua impressão sobre Heitor nunca foi das melhores, os dois mal se falavam, mas quando isso acontecia sempre surgia uma tensão que só era apaziguada pela presença de Ricardo. Os dois, apesar de já se conhecerem mesmo antes do início do romance entre Sara e Ricardo, nunca conversaram assim, sendo, na medida do possível, sinceros um com o ouro; a possibilidade disso acontecer nunca passara pela cabeça de ambos. Mas cá estava Sara, considerando aceitar a proposta de Heitor e por um dia voltar a ser quem era antes. – Acho que nem sei o que fazer. - ela percebe. – Eu posso te ajudar. - se oferece. – O que você sugere? – Eu ia dizer para começar com o uísque, mas, isso não é sobre você ir pelo mal caminho e fazer coisas erradas. - ele devaneia e Sara se permite sorrir. – Porque então você começa soltando seu cabelo?





...


Olá a todos, como prometido, estarei repostando a história Secrets desde o início, peço desculpas a quem acompanhou a primeira versão, mas acredito que esse recomeço será muito positivo e a história ficará bem melhor.

Depois de tanto tempo sumida, estou me redobrando para conseguir abastecer a todos com várias histórias. Caso olhem para a barra lateral, verá os dias de postagem para cada uma das três histórias que estou (re)escrevendo ultimamente.

Bom, espero que gostem.

Bjsss

2 comentários:

  1. Olá, Nanda!
    Peço desculpa pela minha demora!
    Disse que ia comentar nos contos todos do concurso da Ficção à Brasileira.
    Queria dizer que gostei muito do teu conto! Gostei de conhecer um pouco mais de perto algumas mitologias, lendas, essa em especial.
    Parabéns!

    Espero conseguir ler as novas histórias aqui no blog e fico feliz por atualizar :)

    Bjs :)

    ResponderExcluir
  2. Olá, Diana.
    Não precisa pedir desculpas não, agradeço muito por junto a Silvia terem me convidado para o grupo no Facebook, pois acabou sendo o empurrão que faltava para que eu retornasse a escrita.
    Fico feliz que tenha gostado do conto, aqui há uma cultura muito grande lendas, gostaria muito que nós valorizássemos mais nossa parte e mostrasse mais ao resto do mundo.

    Muito obrigada por comentar. Bjsss

    ResponderExcluir