A noite se
repetia. Assim que Dallas subiu uma nova briga recomeçou, agora o motivo era o
porre que ele tinha tomado e o dinheiro pego de Dallas. Mais uma noite fizemos
nossa “festinha” para afastar, disfarçar o clima ruim. Mais uma noite, a
história se repete.
Os dias foram se passando, e ficando cada dia
pior, eu já não comia nada e vomitava todos os dias. O Joe percebia que eu
estava mal e ao não obter respostas acabávamos nos desentendendo, ainda
estávamos juntos, mas nos afastamos muito um do outro, ele não tinha mais
aquele carinho e cuidado que sempre teve comigo, era evidente que se eu não o
esclarecesse tudo ou não resolvesse nosso relacionamento terminaria em pouco
tempo, Travis ao ver-me desmoronando me atormentava cada dia mais, ele tinha
gosto em me ver mal, era todo santo dia, sempre que o professor não estava em
classe, ele ficava me lembrando de fatos do passado, me chamava apenas pelos
velhos apelidos, e começou a parar-me no corredor para me atormentar, o pior é
que enquanto ele me humilhava eu tinha que ficar lá, fingindo que nada de mal
acontecia, eu até poderia arrumar um escândalo, brigar, xingar de volta,
reclamar, fazer alguma coisa para minha defesa, mas eu nunca fui assim, eu
sempre fui aquela que leva desaforo para casa, nunca soube me defender na
frente de quem me agride, Travis sabia disso, e se esbaldava. Todos os dias
tinham brigas entre nossos pais, e cada dia ficava mais violentas, após as
nossas “festinhas noturnas” ainda se podiam escutar os gritos, os objetos sendo
arremessados de um lado a outro... Maddie começava a sentir que algo não estava
bem e isso a afetava, se via que a sua alegria natural estava apagando, Dallas
e minha mãe estavam cansadas de trabalhar e chegar em casa e ainda terem problemas
com Patrick que raramente não estava bêbado em casa, não se sabe de onde ele
arranjava dinheiro, já que depositamos tudo o tínhamos em casa para não ter
como ele pegar, mas ainda sim não teve jeito ele continuava conseguindo de
alguma forma as bebidas; as agressões psicológicas que ele fazia em mim estavam
cada vez piores e constantes, ele ainda não tinha chegado a me agredir
fisicamente, pelo menos não como antes. Nossa família mais uma vez desmoronava,
mas diante de todos que passavam, éramos felizes, sem problemas, apenas mais um
família.
É estranho quando se
percebe que tudo isso já tinha acontecido e não fazia muito mais que duas
semanas que ele voltou para nossas vidas, tudo o que demoramos meses para
reconstruir estava sendo demolido pela mesma pessoa pelo mesmo motivo em poucos
dias.
Hoje já era sábado,
teve um atraso na assinatura do contrato e o jantar comemorativo de Paul atrasou
por uma semana, mas em pouco tempo começaria o tão esperado jantar. Era claro
que não queríamos ir, por Patrick tanto faz tanto fez, mas não sabíamos se o
iriamos controla-lo, se tivesse alguma bebida estragaria a festa, porem Paul
passou toda a semana falando e nos lembrando do jantar, ele havia convidado os
amigos mais próximos e os funcionários da empresa, seria um total desprezo por
tudo que já fez por nos não ir a esse jantar. Todos já estávamos terminando de
nos aprontar. Coloquei um vestido.
_ Vê se comporta como
um homem menos desprezível hoje. – falou minha mãe dirigindo-se a Patrick
_ Me comportarei bem,
fique tranquila. – falou se aproximando da minha mãe. _ Se quiser podemos falar
que voltamos. – falou quase a abraçando, ela se afastou antes que ele chagasse
a toca-la.
_ Nem morta. –
respondeu grossamente.
É, a noite seria
longa.
(...)
Quando chegamos à casa
de Paul ela estava moderadamente cheia. Maddie foi logo brincar com Frankie,
Dallas foi conversar com os colegas de trabalho, minha mãe ficou conversando
com Denise já que Paul tinha que dar atenção para o monte de gente, Patrick
sumiu entre as pessoas, provavelmente já caçava por bebida, Joe? Nem sei onde
Joe estava, cheguei o procurando, mas ao não acha-lo comecei a conversar com a
Dani e com Kevin, na verdade mais com Dani do que com Kevin, pois ele mais
escutava do que falava. Ele tinha uma paciência incrível, grande parte dos
homens fogem de conversas de mulher e ele ficou ali sem reclamar, ao contrario
de Paul e Joe ele era bem tranquilo, homem de poucas palavras, ele e Nick se
pareciam bastante nisso.
Já era sete da noite
quando a mesa foi posta, tinha comida a perder de vista. Só aí vi Joe, ele
estava do outro lado da sala em que eu estava, conversava com alguém que eu não
conhecia. Ele me olhou, dei um sorriso e ele respondeu com o sorriso fraco, ele
ainda estava mal comigo, ontem mesmo tínhamos brigado, Joe me viu “conversando”
com Travis e quis saber sobre o que era como eu não o disse, pois Travis apenas
estava me atormentando mais com historias que ele havia descoberto do meu
passado, não consegui inventar uma historia na hora para dá-lo como desculpa e
ele ficou irritado, duvidando da minha fidelidade.
Assim que terminei de
por a comida no prato fui para perto dele, já que a pessoa com que ele conversava
o havia deixado sozinho. Agora ele
estava no quintal sentado em uma das cadeiras que colocaram para que as pessoas
pudessem sentar-se.
_ Oi Joe. – cumprimentei-o
e sentei-me ao seu lado.
_ Oi. – respondeu
seco.
_ Desculpa. – pedi.
Ele comia sem se dar muita atenção para mim, eu apesar de ter posto comida no
prato, não toquei na comida. _ Por favor. – insistir ao ver que ela não
respondeu nada.
_ Tá tudo bem Demi. –
falou. Eu não acreditei.
_ Não está tudo bem,
não tem nada bem entre nós agora. – falei. _ Você nunca me tratou deste jeito.
_ Me desculpe se estou
te tratando mal, só estou precisando de um tempo agora... As coisas não estão
dando certo. – admitiu, tirando um pouco a atenção do prato e se concentrando
em mim. Fiquei em silencio. Era o meu estupido medo de falar tudo o que
aconteceu e acontecia comigo que estava acabando com o nosso relacionamento. _
É um saco não saber o que está acontecendo com você – falou. _ Eu te amo Demi,
eu me sinto um inútil, um incapaz ao te ver mal e não conseguir fazer nada é um
saco te ver pra cima e pra baixo com o Travis, você se arriscou tanto para se
livrar dele e agora quase todos os dias os vejo conversando... – falou.
_ Não é assim Joe. –
falei o interrompendo, ele estava entendendo tudo errado. _ Você não sabe o que
esta acontecendo...
_ E você não me
explica, eu queria entender, eu queria saber, mas você é... – ele parou,
parecia se esforçar para conseguir achar as palavras certas. _ É como se você
tivesse criado um muro em torno de você, e você se esconde, não deixa que
ninguém a explore, eu me abro todos os dias com você Demi. Você sabe tudo sobre
mim, você sabe de coisas que eu me envergonho, e eu não sei praticamente nada
sobre você... É como se só eu me esforçasse para manter nosso relacionamento,
eu confio em você, eu me entrego a você, mas eu não vejo você fazer o mesmo...
O quê que te prende tanto Demi?
_ Me desculpe Joe. –
pedi novamente. _ Eu sei que a culpa para estarmos assim é minha, eu sinto
muito... Eu não quero te perder, você
não sabe mais me ajuda muito. – falei, fez-se um novo silencio. _Eu vou contar. – falei, ou era isso ou nossa
relação acabaria aqui mesmo. _ Podemos conversar em particular depois? –
perguntei.
_ Podemos, vamos
esperar as pessoas irem saindo, vai ser melhor. – sugeriu. Eu concordei, usaria
esse tempo para tomar coragem e preparar a melhor maneira para lhe contar toda
historia. Ele voltou a se concentrar na comida. _ Não vai comer? – perguntou ao
perceber que não toquei na comida, alias já a tinha esquecido.
_ Vou. – respondi sem
vontade. Obriguei-me a começar a comer, apesar de já estar sem comer a mais ou
menos quatro dias completos, eu não queria comer, a cada garfada que eu punha
na boca eu me lembrava de um dos xingamentos que meu pai ou que as outras
crianças da minha antiga escola me chamavam, eu me lembrava de cada apelido...
No resto da festa me
mantive perto de Joe, trocamos algumas falas, nada de real importância, ele me
apresentou a alguns amigos da família que lá estavam. Mais a tarde foi à hora
de Denise distribuir os doces da festa, alguns bombons e pedaços de torta, para
não ficar feio na frente dela e de todos comi um bombom, minha consciência me
castigava por isso.
Aos poucos a festa foi
se esvaziando até que só ficássemos os Jonas mais Danielle, minha família e
umas duas pessoas que são da família de Denise. Estávamos todos no jardim,
tinha um clima agradável, o céu estava limpo as estrelas brilhavam como nunca.
Todos estavam
conversando e tudo ia muito bem, até mesmo Patrick se comportava não que já não
tivesse bebido tudo o que conseguiu, mas conseguia manter certa classe.
Eu esperava um sinal
de Joe que já poderíamos conversar, mas ele parecia já se esquecido do
combinado, fiquei na duvida se o recordava ou não, pois eu não queria falar,
mas deveria, pois só ele sabendo toda historia poderíamos manter, ou não, a nossa
relação.
_ Tia Denise. – chamou
Maddie, Denise estava sentada logo ao meu lado. _ Posso pegar mais um pedaço de
torta? – pediu.
_ Claro, eu já as
guardei na geladeira, você acha que consegue pegar? – perguntou.
_ Eu posso pegar se
preferir. – falei.
_ Se não se importar.
_ Eu também vou querer
um pedaço. – gritou Frankie.
_ Pode deixar, eu pego
para você também. – disse. Levantei-me e fui para cozinha. Abri a geladeira,
tirei a torta, peguei dois pratinhos de sobremesa.
_ Virou empregadinha
foi? – assustei-me com a aproximação de Patrick.
_ O que você quer? Um
pedaço da torta? – perguntei irônica enquanto cortava os pedaços da torta.
_ Sabe, quando eu
cheguei percebi que você não ficou com o Joe, você não o achou né? – perguntou,
não o respondi. _ Não sei se você percebeu, mas tinha meninas muito bonitas
nesse jantar, não me surpreenderia se o Joe estive com uma delas durante o
começo da festa. – falou, ele queria que eu desconfiasse de Joe, mas isso não
iria acontecer, eu sei que Joe é uma pessoa confiável. _ Quando o homem se
afasta assim da mulher, pode saber que tem outra no meio. – falou. _ Se eu
fosse você tomava mais cuidado. Cuidava-se mais... Você vai perdê-lo.
_ É só isso? – queria
que ele percebesse que estava me incomodando para ver se ele parava, não
estávamos em casa, ele não poderia me atormentar como se estivéssemos. Ele se
calou por um momento. Terminei de por os pedaços da torta no prato e fui guarda
o resto da torta na geladeira.
_ Você até que estava
indo bem, voltando a se cuidar, voltando a ter aquela sua neurose ridícula. –
falou se referindo ao fato de eu não comer. _ Mas hoje afundou o pé na jaca e
comeu feito uma porca né?! – continuou a falar.
_ Dá pra você me
deixar em paz? Não estamos em casa. – falei, já me bastava a minha consciência
me atormentando, não precisava dele falando assim comigo.
_ Você tinha tudo para
ser bonita, normal, tipo a Dallas, ela até que é bonitinha, mas você
conseguiria ser mais, mas preferiu ir se estragando aos poucos. – começou a
dizer, eu nem sei o porquê eu continuava ali o escutando, eu já estava com tudo
pronto só para sair e servir os meninos, mas eu continuava ali, parada
escutando tudo o que ele queria dizer, era como seu eu quisesse que ele
continuasse a me atormentar. _ Outra que vai para o mesmo caminho é a Madison.
_ Deixa a Maddie em
paz. – pedi.
_ Fala serio Demetria,
se eu fosse aquela menina parava de comer que nem você, mas não, todo mundo já
parou de comer e aquela gordinha continua comendo.
_ Você é um monstro.
Ela é sua filha e te ama como você tem coragem de falar isso dela?
_ Eu só estou falando
a verdade, ela fica comendo que nem uma vaca e depois dá uma de problemática
que nem você só pra desgraçar com a família. – falou. _ É isso que acaba com a
família, ter uma filha doente. – falou, só aí percebi, eu o culpava por tudo,
eu ficava dizendo que o motivo da nossa infelicidade era ele, mas se o problema
fosse eu? _ Se uma já é ruim imagina duas problemáticas? – continuava a falar.
Depois de escutar aquilo tudo, comecei a sair da cozinha, apressada, para ir
entregar-lhes o pedaço de torta que eles haviam pedido.
Tornei a sentar-me no
lugar de antes, mas agora minha cabeça estava a mil, eu queria explodir sumir,
ele tinha razão, eu comi muito, com certeza eu tinha engordado tudo o que
poderia ter perdido nesses dias em que não comi, eu me sentia mal por isso, eu
era o problema da minha família. Eu queria me livrar de tudo isso, da comida
dos pensamentos, mas eu não estava na minha casa. Não teria jeito, eu não
conseguiria ficar bem. Levantei-me sem dar explicações a ninguém que lá
estavam, subi para o segundo andar, entrei no quarto de Joe, nem sei se podia,
mas não me importei na hora, e fui para a suíte que lá tem, comecei a forçar o
vomito, seria difícil, já havia comido a um tempo considerável, e quanto mais
tempo se passava mais difícil fica para conseguir vomitar, ainda sim me forcei,
não parei até conseguir o que eu queria, vomitei, mas ainda sim continuei a me
forçar a vomitar, eu queria ter certeza que não tinha nada mais dentro de mim,
eu queria ter certeza de que tinha eliminado tudo. Eu ainda estava me forçando
a vomitar quando escuto:
_ Demi? O que está
acontecendo aqui?
CONTINUA...
Capitulo postado, espero
que tenham gostado, já adianto que no próximo tudo será esclarecido,
provavelmente não será um capítulo muito grande, não sei ainda, mas pela ideia
que tenho na minha cabeça, não será maior que esse.
Não se esqueçam de
comentar/avaliar.
Bjssssss.
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