Seriam dois meses suficientes para superar sete anos? Talvez sim, principalmente se considerarmos que os últimos dois meses foram extremamente bem aproveitados, porém, se pensarmos que foram sete anos de vida jogados fora, não há como quatro meses serem suficientes.
Você pode pensar que estou exagerando quando digo que foram sete anos jogados fora, mas só eu sei o sofrimento que a quebra da confiança causa, só eu sei o quão degradante é ser humilhada frente a todos. Dramática? Não, posso ser muitas coisas, um pouco louca, esquecida, barulhenta, até mesmo dada, mas dramática não! Bom, para que você possa entender um pouco mais o meu lado, tentarei resumir a minha maior burrada: Meu casamento. Pois é, sinto muito lhe informar, mas essa história de ‘felizes para sempre’ após o casamento só existe em contos de fada, filmes para adolescentes e fanfics na internet. É, isso mesmo que você leu. ‘Felizes para sempre’ é nada mais que uma mentira que lhe contaram.
Quinze anos. Com quinze anos você ainda não é muita coisa, e não falo isso na intensão de ofender (caso você tenha quinze anos), mas você saberá do que eu estou falando assim que você passar dessa idade. Ainda assim, aos quinze anos eu, Demetria Lovato, já tinha algo bem claro na minha mente, Louis Cooper era o homem da minha vida. Um ano mais velho que eu, mas que graças a uma repetência no sétimo ano, calhou de ser da minha sala, tinha uma face angelical. Seus dentes perfeitamente brancos tornava seu sorriso uma verdadeira obra de arte; seus olhos eram de um castanho claro, e neles você podia sentir a bondade que ele tinha no coração; seu cabelo preto que andava sempre desgrenhado, demonstrava que mesmo no desleixo com a aparência, sua beleza não era capaz de ser apagada. Alto e magro, ele se destacava no basquete, e a prática do esporte o tornou um jovem de músculos precocemente definidos. Era fácil se apaixonar por ele, bonito, esportista e gentil, um cara perfeito demais, um verdadeiro príncipe, e lógico, quando eu descobri que o interesse era mútuo, eu me vi como a garota mais sortuda do universo, pois ainda jovem eu já tinha minha vida definida.
Formamo-nos juntos e aos dezesseis anos, contra a vontade de meus pais – que me achavam muito nova para isso. -, me casei. A cerimonia foi simples, já que eu não trabalhava e meus pais não quiseram gastar com algo que não aceitavam. Então tudo havia sido pago por Louis, que tinha começado a trabalhar como motoboy para uma empresa de advocacia, e por sua mãe, que, choquem, era a sogra mais perfeita do mundo. Dona Lilian Cooper já era quase uma senhora, Louis era o filho mais novo entre os seus quatro, ele também era o único homem no meio de três irmãs. Quando ele nasceu, Lilian já estava para completar quarenta anos, ela sempre dizia que fora um milagre tê-lo, pois nem mesmo ela esperava ser capaz de ser um filho naquela idade. Bondosa, ela sempre apoiou nosso relacionamento, e mesmo quando ficou viúva (nove meses antes do meu casamento), ela não fraquejou e nos defendeu firmemente.
Os primeiros meses foram complicados, porém felizes. Morávamos no porão da casa da mãe de Louis. Era um lugar que recebia pouca luz natural e era bem pequeno: um quarto, uma cozinha integrada com a sala e um banheiro. As contas eram pagas com o salário de Louis e a comida era doada pela Dona Lilian. Meus pais, após um tempo, percebendo que tinham perdido a sua garotinha e única filha, decidiram dar o braço a torcer e começaram a ajudar.
Primeiramente minha mãe, que era dona de uma floricultura no centro da cidade, resolveu me empregar e assim pude começar a ajudar nas finanças da casa, livrando Dona Lilian de nos fornecer comida; depois, ainda insatisfeito com a forma que estávamos vivendo, meu pai decidiu pagar um curso de Administração para Louis, aquilo foi algo incrível e inesperado, e meu marido, consciente disso, se dedicou como nunca nos estudos, se formando como o melhor da turma.
Formado, Louis não demorou muito para conseguir um emprego melhor e foi aí que nossa vida começou a tomar um rumo. Ganhando melhor, conseguimos comprar um apartamento. Era um apartamento simples no centro da cidade, perto de onde eu ainda trabalhava com minha mãe. Dois quartos, sendo um com suíte, uma cozinha, um banheiro, uma sala e uma varanda. Tudo numa metragem pequena, mas perfeita.
Passado um ano e meio de casada, eu me dedicava entre o trabalho e as tarefas de casa, e meu pai, novamente insatisfeito, decidiu que iria pagar uma faculdade para mim, e assim eu também poderia crescer profissionalmente. Demorei um pouco, mas me encontrei no curso de Arquitetura.
Formada, tive dificuldades para arranjar meu primeiro emprego, mas quando consegui, eu não poderia me sentir mais realizada, afinal, quantas pessoas podem se gabar com um marido perfeito, um apartamento perfeito e um trabalho perfeito aos 21 anos?
Tudo ia bem em Loumilândia (Louis + Demi + Lândia), é, eu sei, brega, mas quando a vida está perfeita, não há problema nenhum em ser brega. Contudo, toda essa felicidade acabou de uma hora para outra há seis meses, quer dizer, na verdade essa felicidade tinha acabado muito antes, há três anos, para ser sincera, eu que só percebi isso há seis meses.
Eu nunca desconfiei, e após descobrir, eu até culpei a faculdade pela minha falta de atenção, mas agora eu sei que não foi culpa da minha tripla jornada com a faculdade, trabalho e tarefas de casa, pois mesmo depois de formada e me dividindo apenas em duas, com o trabalho e as tarefas de casa, eu ainda assim não fui capaz de desconfiar do meu marido, mas é como dizem, a mentira tem perna curta, e no meu caso a mentira tinha perna longa, a mentira tinha um sorriso branco que mais parecia uma obra de arte, a mentira tinha um corpo musculoso, mesmo após ter largado a prática constante de esporte, a mentira tinha um par de olhos castanhos e um cabelo naturalmente desgrenhado, mas que, nos últimos anos, vinha sendo intimidado com cortes da moda e cremes capilares caríssimos. A mentira tinha nome e sobrenome, tinha endereço e me chamava de amor.
Este era um dia importante, completaríamos exatos sete anos de casados, apesar da pressão por parte de alguns colegas, não tivemos filhos, no fundo eu queria, mas sabia que não deveria, pois mesmo que eu já tivesse empregada há quase dois anos, eu ainda não me sentia segura no trabalho o suficiente para dar esse passo, não que eu achasse que eu seria despedida, eu simplesmente tinha metas, eu queria chegar a um cargo maior na empresa e sabia que se eu tivesse um filho agora, isso poderia prejudicar, ainda assim, a grande interferência para a cegonha era Louis, ele nunca explicou, mas ele sempre foi veemente em dizer que não queria ter filhos. Eu aceitei, e assim, na nossa festa de sete anos de casados, ainda éramos uma família de dois, contudo, acompanhados por uma grande roda de amigos e familiares.
Era um jantar no restaurante favorito de Louis, todos estavam comento e se divertindo, a boa comida, a música ambiente e o excesso de bebidas ditavam o ritmo da noite. Éramos um grupo barulhento, mas isso só evidenciava nossa felicidade.
Tudo acabou quando Taylor, minha melhor amiga na época da faculdade, chegou com seu filho, Matt. Havia um bom tempo que não nos víamos, pois após nos formarmos o contato enfraqueceu. Lembro-me que na formatura sua barriga de gravida já estava evidenciada, lembro-me também que na época fiquei chateada por não ter conhecido o seu ‘rolo’, como ela chamou o pai da criança na ocasião. Segundo ela, tinha sido um relacionamento rápido e que a gravidez tinha sido completamente acidental, no final o cara fugiu, deixando-a com a responsabilidade de cuidar do filho sozinha. Compadeci muito por ela na época, e quando o bebê nasceu, gastei quase meu salario inteiro comprando-a um enxoval. Posso ter me afastado depois de um tempo, mas ainda nos comunicávamos por mensagens, por isso não deixei de ficar feliz quando a vi entrando com o pequeno no colo, mostrando que tinha aceitado meu convite informal. O menino já estava prestes a completar três anos e sua inocência foi essencial para eu descobrir a safadeza do meu marido.
– Papai. – ele disse assim que viu Louis. Eu ri, achando graça, Taylor riu, sem graça, Louis riu de nervoso, alguns amigos de Louis também riam, e hoje sei que era de mim.
– Que isso, filho, não se lembra do que eu disse? – Taylor o corrigiu de maneira estranha. O menino pareceu confuso, era óbvio que tinha algo ali.
Louis não percebeu, mas aquilo ficou na minha cabeça. A festa acabou e todos saíram felizes, mas eu saí com uma dúvida. Seria Matt filho de Louis?
Não, aquilo não era possível. Eu não quis acreditar, evitei pensar nisso por três dias seguidos, mas no quarto não me aguentei e comecei a procurar.
Tudo o que precisei foi olhar as fotos no celular dele. O celular que sempre esteve ali, sem senha, perto de minhas mãos... Ele estava tão despreocupado com o que fez e tão confiante da minha estupidez, que não escondeu as fotos em uma pasta secreta num arquivo secreto, muito pelo contrário, no mesmo álbum que havia fotos nossas, dos nossos jantares, das nossas viagens para o interior, dos nossos passeios no shopping, havia fotos deles juntos. Taylor e Louis aos beijos, Matt com os dois comemorando o aniversário de dois anos; minha ex-BFF e meu marido em fotos intimas na cama.
Quando confrontado ele tentou negar, mas as provas estavam ali, não adiantou nada dizer que era mentira.
O divorcio foi complicado, tive que voltar para casa de meus pais, pois, alegando ter um filho pequeno e que iria ficar sem lugar para morar – já que Taylor morava de aluguel e agora os dois morariam juntos, com Matt. - o juiz determinou que o apartamento ficaria com ele, e eu só teria uma pequena indenização para não sair totalmente no prejuízo. Fim... Fim?
Não.
Só quando não mais dividíamos laços que descobri que todos os amigos de Louis sabiam da traição, e quando eu digo amigos, incluo parentes, como a minha não mais tão querida sogra. Todos sabiam de Matt e conviviam com o garoto, todos tinham ciência que a maior parte do salário do meu ex-marido era dado para Taylor. Todos faziam piada da pobre Demetria, que se dividia em dois para não só financiar a maior parte dos custos do apartamento, mas também para sempre agradar o marido, o fazendo café-da-manhã, preparando uma marmita para que Louis levasse para o emprego, preparando janta para quando ele chegasse, deixando o apartamento impecável na limpeza, lavando e passando todas as suas roupas... Levando um belo chifre na cabeça. Todos sabiam, todos riam, todos aceitavam, mas ninguém me disse nada.
Foram necessários, um mês para que eu parasse de chorar a cada dois minutos, dois meses para que eu voltasse a comer direito, três meses para que eu finalmente voltasse a sorrir e quatro para que eu decidisse parar de sofrer por quem não merecia.
Vish, falei que ia resumir e acabei contanto tudo em detalhes. Se você ainda não se cansou de ler, então comemore, pois agora sim que esta história começa a ficar boa.
Após quatro meses de sofrimento decidi que não mais me prenderia a alguém. O amor não existe, o casamento não significa felicidade. Festas, ficadas, curtição, isso sim significa felicidade. Agora, por exemplo, estou em Happy Hour com toda a turma do trabalho, é sexta-feira à noite, véspera de um feriado prolongado que só nos levaria de volta para o trabalho na terça-feira. Empolgados, juntamos várias mesas num bar e estamos prontos para beber até esquecer nossos nomes, e nem mesmo a presença do nosso patrão, Wilmer, é capaz de nos frear, afinal, não é a primeira vez que fazermos isso e da última vez ele foi o que mais deu vexame.
– Ele não para de olhar para você – observa Marissa, falando bem perto do meu ouvido. Marissa é uma grande amiga do trabalho, cabelos loiros e curtos, magra. Sempre brinco que uma das coisas que mais gosto nela é que ela é tão baixinha quanto eu. Marissa já trabalhava na empresa quando fui contratada, e foi ela que me ajudou a me acostumar com a rotina e padrões exigidos no trabalho. Fora ela também, que durante meus quatro meses de depressão pós-chifre, que todo santo dia, ia à casa de meus pais e me levava algum doce (geralmente um pote de sorvete) e colocava algum filme de comédia para me animar. – Ele realmente tá caidinho por você... – completou.
Ela falava de Joseph Jonas, ou Joe, para os mais íntimos. Ele foi contratado há um ano e meio e acompanhou de perto todo meu drama, extremamente gentil, ele também foi me visitar por várias vezes e também fez horas extras para me cobrir, já que faltei de trabalho por vários dias. Já faz mais o menos um mês que ele vem jogando claros sinais que tem interesse por mim. Eu me finjo de boba, não quero nada sério com ninguém, fechei meu coração para balança. Tudo bem, ele é lindo... Lindo não, ele é um gato... Gostoso... Ah, quer saber? Ele é baita homão da porra!
Ele não é um cara musculoso, mas tem um corpo definido que chama a atenção por onde passa... Aquela bunda... Meu Deus, que retaguarda... E aquele peitoral... Senhor, que frente... Que volume... Resumindo, que homem!
Falando assim vocês devem achar que já rolou algo entre nós, mas não, não rolou, confesso que desde que resolvi viver minha vida, já estive com um bom número de caras, e que se dane o julgamento, passei minha vida comendo a mesma comida, agora preciso variar. Então, como sei de seu corpo escultural? Bom, no fim do último ano, quando eu infelizmente ainda estava casada, combinamos com a turma do trabalho de passarmos uma tarde num clube ao invés de fazer a típica festa de fim de ano. Lá, apenas com uma sunguinha, Joe exibiu o que naquela época eu não podia apreciar, afinal, eu era uma mulher casada e fiel (ao contrario de você sabe quem), mas isso não me impediu de olhá-lo, já que olhar não é pecado, não é?... Ah, aquele volume...
Para completar o corpo de deus grego, Jonas possui uma barba rala e curta; seu cabelo preto, que já foi volumoso, hoje está cortado bem baixinho; olhos castanho escuro, um sorriso tímido, mas muito bonito; uma pele branca, mas bronzeada e, bom, já falei do corpo de tirar o fôlego?
Após essa descrição você deve estar querendo me perguntar, porque eu não o pego então? Simples, como já dito, eu não quero mais relacionamentos, e Joe, ele é do tipo que nasceu para casar. Isso mesmo, ele sempre deixou muito claro o que busca numa mulher e o que pretende com tal, e ficar por uma noite e depois esquecer o nome dela não está na lista, portanto, não posso fazer isso.
– Ele sempre está olhando. – respondo e logo após bebo um bom gole do chope a minha frente.
– Eu ainda acho que você deveria dar uma chance, ele é... Bonzinho. – ela diz e eu suspiro, talvez já começando a sentir o efeito do álcool.
– Eu dou tudo se ele quiser. – digo e ela ri. – Mas ele quer relacionamento. – completo e Marissa assente, entendendo meu argumento mesmo ele parecendo incompleto.
– Será que ele é tão certinho assim mesmo? – ela questiona após alguns segundos de silêncio. – Que homem recusaria uma noite de luxuria com uma mulher da porra como você? – Marissa diz e soluça, ela sempre foi fraca com bebida e mesmo tendo tomado metade do que eu tomei, ela já está bem mais alterada do que eu.
Não serei hipócrita de falar que ela só falou isso porque já está bêbada, pois não sou feia, tudo bem que não estou 100% nos padrões e muitos poderiam dizer que me acho demais, mas eu sei de minha beleza e não deixarei que me façam crer do contrário. Ok, eu sou baixinha e no meu rosto tem mais sardas do que bolinhas nas costas de uma joaninha, meus peitos não são gigantes como as atrizes dos filmes, mas meu corpo é bem dividido, em formato violão. Minhas pernas são grosas, minha bunda é grande e durinha, minha barriga é praticamente chapada, meu cabelo é grande, castanho escuro e liso, meus dentes são brancos e grandes, meus olhos também são castanhos.
– Talvez seja só fachada, nenhum homem presta, a não ser que ele seja gay... – devaneio.
– Oi? Tá doida? Joseph, gay? Não! – ela soluça novamente. – Ele não te olharia assim...
– Talvez os olhares dele não sejam para ficar comigo, mas porque ele... Sei lá... Quer pedir dicas de moda comigo e está tímido? – Marissa começa a gargalhar alto, chamando a atenção de todos na mesa. Eu começo a rir junto, não vou deixá-la pagar mico sozinha. Logo todos voltam a suas conversas paralelas e aos seus copos de bebida, incluindo Joe, que começa a conversar com Liam, outro funcionário gostoso, porém comprometido.
– Acho que você está bêbada. – ela diz após se acalmar.
– Olha quem fala... – digo e num timing perfeito, ela soluça novamente.
– Mas, fala sério, você não quer dar uma lavada de roupa naquele tanquinho? – pergunta. – Tipo, eu acho que por aquele tanquinho vale a pena se arrisca num relacionamento. – disse e eu revirei os olhos.
– Marissa, sério que você está me dizendo isso? – acho ruim.
– Calma menina, tipo, eu disse tentar, eu não estou falando para você se casar com ele amanhã, mas, ele parece ser um bom cara de se namorar, qualquer coisa você fala que não deu certo e dá o fora. – dá de ombros.
– Isso não seria justo da minha parte. – digo e tomo o resto do chope todo.
– Mas você não sente um pouco de falta de ir dormir recebendo um cafuné?
– Eu hein, tó achando que quem está carente de um homem fixo é você. – digo e ela faz uma careta.
– Estou falando sério, Demetria.
– Sabe do que eu não sinto falta? Do peso do cifre. – digo e ela revira os olhos.
– Quer saber? Desisto. – ela diz e termina seu coquetel.
– Bom mesmo. – digo. – Você, mais que ninguém, já sabe que não vou me relacionar sério nunca mais na minha vida. Nada de macho fixo.
– Tá, tá, eu já entendi... Vou pegar mais um coquetel. Trago um pra você também. – anuncia, já se levantando para ir até o bar.
– Tem certeza que está bem pra isso? – pergunto ao ver sua dificuldade para desvencilhar da cadeira.
– Claro que estou. – tenta levantar a perna direita para fazer “um quatro”, mas não consegue. – Ah. – acha ruim. – Eu estou boa sim. – insiste e sai toda torta. Penso em ir junto a ela, posso não estar totalmente sóbria, mas minhas pernas ainda estão firmes, porém sou subitamente impedida por ele, sim, ele mesmo, Joseph Jonas.
Ele aparece do meu lado e sorri tímido antes de falar.
– A Marissa está bem? – pergunta e ri.
– Ah, você sabe né? Ela é bem fraca para bebida. – dou de ombros.
– Posso me sentar? – ele pergunta tocando no encosto da cadeira em que Marissa estava sentada. – Só até ela voltar. – diz e eu hesito um pouco.
– Pode. – respondo, por fim. Ele se senta e se aproxima mais de mim, não fico muito à vontade, mas tampouco me movo.
– Eu estava pensando, sei que amanhã vamos acordar detonados então nem dá, mas domingo você não se interessaria em sair comigo? – pede.
– Joseph...
– Não estou lhe pedindo em namoro, Demi. – ele me corta, esclarecendo.
– Até porque eu diria não. – deixo bem claro.
– E eu sei disso. – responde não muito animado. – Seria um passeio de amigos, algo descontraído, nada demais. – diz e penso, será que no final desse encontro eu poderei tirar uma casquinha?
Talvez seja o álcool já subindo na minha cabeça, talvez seja a esperança de dobrá-lo e convencê-lo a termos uma única, mas fervorosa, noite de luxuria, talvez porque eu estivesse cansada de sua insistência, mas eu disse:
– Tudo bem, eu aceito. – ele ficou me olhando boquiaberto por segundos mais longos do que eu esperava.
– Sério? – perguntou já com as bochechas coradas... Não creio que um homem tão gostoso, que se quisesse poderia arrasar os corações de todas as mulheres do trabalho, na verdade é um cara fofo. – Eu juro que vai vale a pena, podemos ir ao cinema e depois sairmos para um restaurante. – ele diz animado.
– Não sei, isso me parece meio ro...
– Romântico? – ele me interrompe e completa. – poderíamos ir então ao parque, fazer um piquenique...
– Isso me parece ainda mais...
– Romântico. – ele completa novamente me interrompendo e ficando pensativo. – Vamos fazer assim, eu te pego e você fala para onde iremos, pode ser qualquer lugar, no final eu pago. – sugere feliz, mas antes que eu possa responder alguma coisa algo acontece.
Marissa “tromba” em Joseph e derrama quase uma taça de vinho inteira em sua camisa de linho, o que deixa um rastro vermelho escuro que desce desde seu ombro até um pouco abaixo do meio de seu abdômen.
– Meu Deus. – ela diz aparentemente desesperada. – Me desculpe, Joe. – ele se levanta, olhando melhor a extensão do estrago feito. – Deixe que a Demi limpa para você. – diz e eu a olho confusa. – Minhas mãos estão ocupadas e acho que você não está num ângulo bom para se limpar. – ela continua a dizer e fico mais perdida ainda. Que história é essa de mão ocupada? Era só colocar as bebidas na mesa... E essa de ângulo ruim para se limpar?
– Não, tudo bem, eu limpo. – ele falou um pouco cabisbaixo, já pegando um dos porta-guardanapos da mesa do bar.
– Não, não. A Demi limpa. – ela diz séria e só aí entendo.
Danadinha. Aquilo havia sido de proposito!
– Deixe que eu limpo. – digo me levantando e indo até a ele.
Marissa, aquele serzinho maravilhoso, tinha acabado de arranjar a desculpa perfeita para que eu alisasse aquele peitoral que tanto me tirou do sério naquele clube.
– Vocês deveriam ir lá para os fundos. – disse Marissa assim que comecei a limpa-lo. – Aqui vocês estão chamando muita atenção. – nós dois olhamos em volta e ela não estava mentindo, até mesmo quem não estava na nossa mesa de grupo de trabalho estava olhando, será que eles achavam que ia sair alguma coisa dali? Tá, até que eu gostaria... Quer dizer, não na frente de todo mundo, mas... Ah, vocês me entenderam.
– Tudo bem por você? – pergunto e percebo que ele está muito corado.
– Acho que sim. – suspira nervoso.
Vamos juntos para o fundo do bar e levo comigo o porta-guardanapos. Lá é mais escuro e assim podemos sair da vista dos mais curiosos.
Começo a passa o guardanapo por seu ombro, fazendo leve pressão para tentar tirar o excesso do líquido, Joseph fica completamente parado, não mexe nem um músculo. Estou concentrada em limpa-lo (e também em sentir cada pedaço de seu peitoral)... Vou descendo devagarinho, com a desculpa de estar sendo dedicada na tarefa que ali me cabe, mas na verdade só quero passar mais tempo alisando-o... Santa seja Marissa!
Quando chego próximo a seu umbigo, olho para ele e tenho que me segurar para não rir. Ele parece assustado.
– Você está bem? – paro de enxugá-lo e pergunto com sinceridade.
– Claro. – ele diz ofegante... Meu Deus, será que? Mordo os lábios só de pensar. – Acho que já está bom. – ele segura delicadamente minha mão que está com o guardanapo e sorri. – Não vai adiantar muito, esta é uma blusa perdida. – sorri nervosamente.
– Tudo bem. – suspiro, minha caminhada até o paraíso tinha chegado ao fim. – Vamos voltar? – pergunto e ele hesita.
Estamos bem próximo um do outro, posso sentir sua respiração e nervosismo. Olho em seus olhos e percebo que ele fita minha boca... O escuro não me permite ver tudo com muito detalhe, mas penso que vejo desejo em seus olhos que até então demonstrava medo.
Minha intuição se mostra correta quando percebo que ele aproxima sua face da minha.
Ele vai me beijar...
Mas antes que nossos lábios se encontrem por completo, a parte racional do meu cérebro, que ainda não foi completamente afogada pela bebida, liga o pisca alerta. Aquele beijo para mim não significaria nada, seria apenas um beijo a mais no meio de tantos outros que já dei e que ainda hei de dar, mas e para Joe? Ele saberia dividir nosso relacionamento depois do beijo consumido?
– Não. – eu digo e ele, de olhos fechados, suspira frustrado.
– Acho que é melhor eu ir embora, trocar de roupa, mas vamos comunicando por mensagens... Sobre domingo. – diz após se recuperar.
– Ah, sim, claro. Vamos sim. – digo e sorrio para ele, começando me arrepender de ter nos parado.
– Acho que... Vou pagar minha parte.
– Claro. – respondo.
– É... Então... Um abraço? – ele pergunta.
– Claro. – repito e nos abraçamos tão brevemente que mal sinto. Após isso nos olhamos em silêncio, o clima estava estanho, ninguém sabia o que fazer. Então ele sorriu novamente e saiu em direção ao caixa, me deixando sozinha, restando-me apenas lamentar que o vinho não tenha decido pela retaguarda... E que retaguarda...
Quando retornei a mesa, outros dois funcionários já tinham partido também. Marissa, ansiosa, mal esperou que eu me sentasse e já foi perguntando.
– E aí, como foi? Aproveitou muito? Rolou algo mais? – eu, para deixa-la ainda mais ansiosa, mudei de assunto.
– Eu nem sabia que nesse bar tinha vinho, fora que eu não gosto de vinho, porque você estava trazendo um? Pelo me lembro, você tampouco é fã.
– Demetria... – ela reclamou, mas acabou me respondendo. – Quando eu olhei para trás e vi vocês conversando, vi uma chance única. – dá de ombros. – Agradeça-me depois, primeiro me conte tudo.
Ah, como eu amo essa garota.
[...]
Passo o domingo inteiro ansiosa, nem mesmo o constrangedor café-da-manhã com meus pais (os quais me viram chegar quase de quatro na noite anterior e que durante o desjejum tentavam disfarçar que a filha mais parecia uma morta viva, já que a mesma estava sofrendo com uma enxaqueca do cão), foi capaz de me distrair de algo: Eu aceitei sair com Joseph.
Eu me fechei para relacionamentos, mas isso não significa que eu parei de sair com homens, muito pelo contrario, hoje em dia, para desespero de meus pais, é um homem diferente todo fim de semana, mas isso só ocorre se de antemão o cara aceitar que será apenas uma noite e nada mais.
Com Joseph eu não tinha essa garantia, e por mais que nos déssemos bem juntos, não vejo como sair como um casal de amigo pode dar certo.
Penso em desistir e desmarcar e acabo sendo obrigada a ficar conversando com Marissa por uma longa hora, com ela, insistentemente, falando que me mataria se eu cancelasse.
Convencida, sem perceber, comecei a me preparar para o nosso encontro, caprichando na depilação, esfoliando minha pele, mergulhando no hidratante corporal... Um pouco demais? Talvez, afinal, seria apenas um encontro de amigos, não é? Mas... Sei lá... Vai que consigo convencê-lo a abrir mão de ser o Joe santinho?
[...]
Enfim domingo havia chegado, acordei cedo e com um ótimo humor, nenhum indicio da enxaqueca da manhã anterior e até mesmo meus pais não pareciam mais lembrar-se do meu vexame.
Pego meu celular e sou bombardeada por recados de Joe, que quer confirmar comigo que o encontro ainda está de pé. Nem preciso vê-lo para saber que ele está ansioso, mas não posso julgá-lo, pois por alguma razão estranha, eu também estou.
Uma da tarde em ponto Joseph bate na porta e eu, que já o esperava, abro de imediato, ele sorri entusiasmado e me dá um abraço tímido.
Como pedido por mim, ele veste uma roupa confortável e casual, nada de camisas e calças de linho, como ele sempre usa no trabalho. Ele usa uma camisa polo azul escura, e uma calça jeans azul, usava na cintura um cinto marrom, que só estava à mostra o detalhe da presilha na frente. De sapato ele usava um tênis fechado e preto.
Nosso look até que combina, já que também estou de sapato fechado preto; uma calça jeans de lavagem escura, com o tecido desgastado em alguns pontos, para dar o efeito rasgado; e uma blusa soltinha cinza.
– Já decidiu para onde vamos? – ele pergunta me guiando até seu carro.
– Sim. – sorrio maliciosa... Não, não é isso que você está pensando, tudo bem que quero que Joe ceda a mim, mas ao mesmo tempo tenho que manter o romance afastado, então eu escolhi um lugar onde o amor não brota.
Durante o caminho conversamos majoritariamente sobre o trabalho, o que, pelo menos a principio, é a única coisa que nos uni. Vou guiando-o sem falar para onde realmente iriamos, ele pareceu confiar bastante em mim, já que seguia o caminho indicado sem pestanejar.
Assim que paramos no estacionamento, olho para ele esperando sua reação, o qual acreditei que seria de decepção, mas Joseph me surpreende com um sorriso enorme no rosto e os olhos brilhando.
– Você gosta de PaintBall? – pergunto para confirmar minha observação.
– Amo. – ele responde empolgado. – Na época da faculdade eu sempre vinha com meus amigos. – ele fala nostálgico enquanto saímos do carro e nos dirigíamos para a recepção.
– Então você gostou da minha escolha. – concluo.
– Estou bem surpreso. – ele assume. – Mas adorei sim. Você sempre vem? – pergunta e tento parecer firme ao mentir.
– Claro. – rio. – É um dos meus lugares favoritos para ir. – percebo que ele parece bem surpreso com minha resposta e sorrio feliz no final.
Nós nos inscrevemos para participar com um grupo aleatório, onde quase ninguém conhece ninguém.
Seriam dois grupos com sete pessoas, Joseph, para ser gentil com um grupo de três amigas, aceitou ser do time adversário ao meu.
A divisão foi a seguinte: Grupo azul: Eu, três carinhas (sendo um deles digno de receber o título de homem maravilha), e mais três garotas. No grupo verde eram: Joseph, mais duas garotas (sendo que uma delas pareceu interessada demais no Joe, que, bobo, não parece ter percebido), e mais quatro caras (que não chamavam muita atenção pelo porte físico).
Começamos a batalha e eu me arrependo no primeiro segundo. Eu nunca havia jogado isso, sempre quis e vi essa como uma boa oportunidade, mas o fato principal continua sendo: Eu nunca joguei isso! Eu mal sabia atirar!
Na adrenalina comecei a correr sem atirar, apenas tentando evitar os tiros dos outros.
Minha estratégia deu certo pelo que creio ter sido uns três minutos, mas logo recebi um tiro bem na costela o que me fez cair pela surpresa e dor. Meu Deus, mesmo com a roupa de proteção isso dói pra...! Levanto-me e fico sem saber se isso significava que eu tinha perdido ou não, e o que eu deveria fazer agora, porém ninguém ali parecia se importar, então segui correndo. Ao ultrapassar uma barreira e esconder-me atrás da mesma, olho para meu lado direito e vejo Joseph concentrado, apoiando sua arma no topo de uma barreira, pronto para atirar.
Decido então entrar na brincadeira e me posiciono para atirar nele. O primeiro disparo que faço sai tão sem rumo que Joseph nem se mexe, nem mesmo percebe que tentei atacá-lo. Tento mais uma vez e novamente erro meu alvo principal, porém não tão erroneamente, já que a tinta se espalha no chão a pouquíssimos centímetros do pé de Joseph. Atiro mais uma vez e finalmente encontro o caminho. Acerto em cheio o seu braço esquerdo e ele toma um susto tão grande que deixa sua arma cair. Ele olha para o braço e depois olha para minha direção, ele parece nervoso, mas assim que percebe que fui eu a atirar ele começa a rir. Logo ele pega sua arma novamente e começa a correr até a mim. A principio não me movo, apenas sigo sorrindo para ele, mas logo depois, quando o vejo apontar sua arma para mim, lembro que somos de times adversários.
Viro-me de costas e ponho-me a correr feito uma louca, no processo levo mais um tiro, desta vez perto do calcanhar. Faço toda a força do mundo para não cair ali novamente, já que esse doeu ainda mais que o primeiro. Não caio, mas isso me desacelera e não é necessário muito para que Joe me alcance.
Ele me pega por trás, abraçando-me pela cintura.
– Pensou que ia escapar facilmente? – ele diz maroto e sinto minhas pernas fraquejarem. Aquilo poderia ser apenas uma brincadeira, mas a forma em que ele me pegou deixou claro algo que eu preferia não descobrir: Joe tem uma ótima pegada.
Por sorte ou azar, alguém acerta Joseph bem no pescoço, o que o faz me soltar. Olho para trás e sei que ele está sentindo dor, mas seu sorriso para mim mostra que seu eu não correr, ele ainda irá me atacar. Então torno a correr e ele volta a ir atrás de mim. No caminho tento dar uns tiros de costa e isso quase me faz causar um acidente, mas pelo menos tiro várias gargalhadas de Joe e minhas também.
Quando a batalha acaba, após uma hora de muita correria, estou mais colorida do que se eu estivesse me fantasiando para o carnaval, Joseph também recebeu vários tiros, mas bem menos que eu. No fim, mesmo eu sendo um peso morto, meu time venceu e ganhamos uma medalha pequena e que é claramente feita de plástico dourado, escrito Campeão de Paintball 2017.
Na parte da frente deste mesmo lugar, há uma lanchonete onde havia várias opções de sucos, porém poucas opções de comida.
Passamos pela lanchonete e ambos pedimos um suco, já que estávamos cansados e precisávamos de um refresco.
Riamos sem saber o porquê, a adrenalina ainda corria pelo meu corpo e eu estava animada demais para raciocinar um assunto sério.
– Você estava hilária. – ele comenta.
– Como assim hilária? Eu estava maravilhosa. – brinco.
– Você parecia tão assustada, tem certeza que vem sempre aqui? – ele pergunta e eu quase engasgo.
– Estava tão na cara assim? – pergunto já recuperada.
– Sim. – ele ri. – Mas foi muito bem, acertou uma bem no meu braço e quase acertou uma na minha cabeça quando estava correndo de costas.
– Sério? – pergunto realmente surpresa por quase tê-lo atingido.
– Sério. – ele ri descontraído.
– Quer saber? Estou morrendo de fome, tipo, fome de verdade, vamos comer em algum outro lugar? – pergunto quase sem pensar.
– Claro. – ele topa sem nem pensar.
Terminamos o suco e voltamos para o carro de Joe.
– Tem algum restaurante em mente? – ele pergunta. Paro um pouco para pensar.
– Gosta de comida chinesa? – pergunto.
– Gosto sim. – ele confirma.
Começo a guiá-lo até um restaurante chinês que conheço.
Agora, mais relaxados, sentindo mais à vontade junto a outro, conversávamos sobre assuntos variados.
– Sério? – pergunto realmente surpresa. – Você era um nerd na escola? Tipo... De óculos fundo de garrafa e espinhas na cara? – ele ri.
– Tinha óculos. – ele assume. – Não digo óculos de garrafa... E espinhas, eu não fui muito acometido por elas, mas tive algumas sim. – diz.
– Não que eu ache que você é burro, mas tampouco achava que você era um nerd. – ele ri tímido.
– Acho que a puberdade foi generosa comigo, sempre fui viciado em jogos de videogame e livros e revistinhas, nunca fui muito esportivo... As únicas coisas que me faziam movimentar um pouco é boliche e, como eu disse, Paintball. – ele fala e fico admirada, não sei por quê.
– Eu nunca fui de jogos. – confesso fazendo uma careta. – mas sempre adorei internet, redes sociais... Estou quase em todas. – admito tímida.
– Eu tive uma época rebelde onde eu aprendi a hackear perfis. – ele assume e me olha brevemente, para ver minha reação.
– Então você, além de arquiteto, ótimo jogador de paintball e ex nerd, também é hacker? – pergunto e ele ri.
– Bom, não faço isso mais, mas acho que conseguiria hackear alguém ainda hoje, caso eu tente. – diz orgulhoso. – Mas eu o que queria mesmo... – ele começa a dizer assim que para o carro no sinal vermelho. – era saber hackear corações. – olha para mim e dá uma piscadela, o que me faz perceber que ele fala sobre o meu coração especificamente.
Não sei se é pelo cansaço ou a surpresa de sua cantada, mas ao invés de respondê-lo com uma negativa, apenas sinto minhas bochechas corarem.
O sinal abre antes que eu tenha a oportunidade de falar algo e ele parte com carro sem obter uma resposta para seu flerte.
Amaldiçoo-me por fraquejar, não é possível que apenas um passeio mais descontraído, onde a meta principal não era ir pra cama, fosse capaz de derrubar as paredes que construí envolta do meu coração.
Não, Joseph, você não irá hackear meu coração!
Não demoramos muito para chegar ao nosso destino, um restaurante chinês no centro da cidade que fica a apenas uma quadra de onde eu costumava trabalhar na floricultura de minha mãe.
– Você já veio aqui? – pergunto assim que saímos do carro e Joe responde que não apenas com um movimento de cabeça. – É muito bom. – garanto. – Você vai gostar.
Assim que abrimos a porta percebo Joe se perder no teto do estabelecimento. Ainda estava um dia claro e por isso nem toda a beleza e magnitude da decoração do teto do restaurante podia ser visualizada. Pequenos origamis de coração, grilos, estrelas, flores e vários outros formatos, estavam pregados no teclado, alguns por fios que iam bem baixo, permitindo que algumas pessoas mais altas (o que não é meu caso) pudessem tocá-los, outros estavam bem rentes ao teto. Pisca-piscas circundavam pelos origamis, mesmo ainda estando a meses do natal, aqui era sempre assim, nenhum pequeno pedaço do teto original é visível. Os origamis e os pisca-piscas dão ao lugar um tom mágico.
– É lindo. – Joseph diz consumindo com os olhos cada detalhe do lugar.
– Você precisa vir aqui durante a noite, é mais lindo ainda. – digo sorrindo, já tinha muito tempo que eu não vinha aqui e vir com Joe parecia dar um tom diferente ao lugar, mais leve talvez.
– Podemos ficar aqui até a noite. – ele se permite desviar o olhar do teto e me fita intensamente, dando um sorriso tímido logo após. – Fome para isso eu tenho. – eu acabo rindo.
– Não sei se seria muito educado da minha parte comer tanto na sua frente. – digo divertida e ele me responde instantaneamente.
– Estamos aqui como amigos, esqueceu? Não precisa fazer a fina comigo. – diz e sinto meu coração perder uma batida ao perceber o meu deslize.
– Eu sei que estamos aqui como amigos. – digo obvia, tentando bolar algo rápido para que ele não perceba meu erro. – Ainda assim, não acho elegante isso. – finjo dar de ombros, mas se tem uma coisa que eu não tô nesse momento é dando, nem de ombros nem o que eu queria estar dando mesmo.
– Então, por hoje, esqueça a elegância e coma como um pedreiro que está trabalhando sem parar por dois dias no sol forte de um verão no deserto de Saara. – ele diz e eu acabo gargalhando.
– Acho que posso fazer isso. – digo mais calma.
Estrategicamente nos sentamos próximo ao bufê. Lado a lado, numa mesa que para quatro pessoas. Durante o dia o lugar não é muito movimentado, mas assim que o sol começa se pôr as cadeiras vazias vão se tornando escassas.
Quando olho no relógio já se passa das cinco da tarde, não tenho mais espaço nem para um grão de arroz, nem mesmo Joe, mas ainda nos mantemos lá, sentados na mesma mesa, recebendo olhares nada amigáveis de alguns funcionários, que já devem estar cansados da nossa cara.
Continuamos conversando principalmente sobre nossa época de escola, eu tenho pouco para falar, já que minha época de estudante quase sempre se resume a minha paixonite por Louis, já Joseph tem muitas histórias, sobre seus trabalhos escolares magníficos, principalmente suas maquetes, e foi fazendo elas que ele percebeu o talento para a arquitetura; sobre suas pequenas aventuras com seus dois melhores amigos nerds, que fugiam da aula de literatura para irem a uma loja de revistinha que ficava bem na frente da escola, ou sobre como ele tinha que se virar para escapar dos outros alunos que pegavam no seu pé.
Estou distraída demais escutando atentamente as suas histórias para perceber quando tudo acontece.
– Oi, Demi. – escuto uma voz se sobressair. Olho para frente e sinto que Joseph, ao meu lado, faz o mesmo.
Aquele sorriso que um dia já fora minha razão de viver, continua tão branco e falso quanto antes. No seu colo, o pequeno Matt olha, distraído, para o teto, que agora está mais bonito do que na hora em que cheguei com Joe. Ao seu lado, sorrindo timidamente está Taylor.
– Como é bom te ver por aqui. – ele diz tentando puxar um assunto. Eu fico chocada com seu descaramento. – Vínhamos muito aqui... Bons tempos, não eram? – ele insiste, já que vê que o ignoro. Olho para Taylor novamente, e ela não parece incomodada com o rumo que a conversa está tomando. – Eu não sabia que você ainda vinha aqui, então você ainda gosta de comida chinesa? – ele tenta entrar em outro assunto, para quebrar o gelo, já que sigo muda.
– Claro que ela ainda gosta, afinal, comida chinesa não trai. – eu custo a acreditar que Joe foi capaz de proferir essas palavras. Olho para ele, mas ele encara Louis diretamente.
– Ah, Demi. – lamenta Taylor. – Não fique tão rancorosa. – diz ela e assim que meus olhos retornam para ela, eu a vejo acariciando a sua barriga, que agora percebo que está protuberante, indicando uma nova gravidez. Não sei por que, mas aquilo parte o meu coração. – Afinal de contas, você também já seguiu em frente. – custo a perceber que ela está falando de mim e de Joe, ela acha que estamos ali como namorados.
Joseph, surpreendendo-me, confirma as teorias de Taylor.
– E seguiu mesmo, não é, amor? – ele olha para mim e me toca na coxa esquerda. Olho para ele sem responder nada, estou paralisada com tudo aquilo. Então ele passa sua mão por entre o encosto da cadeira e minhas costas, bem na altura da minha cintura, diminuindo o espaço entre nós; olha no fundo dos meus olhos e sem aviso prévio, junta nossos lábios em um beijo. Nos primeiros segundos, por causa do choque, não correspondo, mas logo minha mente se distrai de tudo que há em minha volta e resolve corresponder sua investida. Seus lábios são surpreendentemente macios e gentis.
Aquele beijo, provavelmente, era para ser rápido, apenas para provocar Louis e Taylor, mas acaba durando mais tempo que o esperando. Logo sinto a língua de Joe se entranhando em minha boca e eu logo após procuro passagem para que a minha língua passeie por sua boca também.
Quando finalizamos o beijo, estamos ofegantes, olhamos um para o outro fixamente, Joe sorri vitorioso para mim e logo após se volta para Louis, ainda sustentando seu sorriso, já eu, ainda zonza, sigo olhando para Joseph, boquiaberta.
Agora sei que além de gostoso, arquiteto, ótimo jogador de paintball, ex nerd e hacker, Joe também beija muito bem.
Taylor, aparentemente sincera, me parabeniza pelo namoro, já Louis, aparentemente um pouco incomodado com a cena que viu, finalmente dá sinal de que vai se despedir.
– Bom, acho que vou deixar vocês a sós, então. – sorri fraco.
– Seria bom. – por fim, falo algo.
– Então, tchau, Demi... E...
– Joseph. – Joe responde.
– E Joseph. – Louis repete. – Que vocês sejam bem felizes...
– Assim como nós somos. – Taylor ri feliz, acho ofensivo a sua fala, mas não deixo de reparar que ela não diz isso por mal, é como se para ela toda aquela traição não tivesse sido nada, como se tivesse acontecido e nenhum sofrimento e nenhuma lágrima tivessem existido de tudo aquilo. Ela está feliz e pronto.
– Assim como nós somos. – Louis confirma e sorri para mim.
Eles saem da nossa frente e vão para uma mesa no outro canto do restaurante.
Mordo meus lábios antes de conseguir reagir novamente.
– Você sabe que esse beijo...
– Não significou nada. – Joe não mais carrega seu sorriso vitorioso. – Você sabe que eu não gosto disso, de beijos sem sentimento e coisa e tal, mas acho que valeu a pena quebrar minha regra dessa vez. – sorri fraco. – Não poderia deixar essa passar. – eu não sei como responder.
Joe é um bom homem, com princípios e ideias românticas demais para mim, mas que faziam dele quem ele é. E ele colocou toda sua ideologia abaixo, só para que eu não ficasse mal na frente do meu ex. Sinto-me mal com tudo isso, não estou acostumada com homens fazendo isso, creio que nem mesmo Louis, na época de casado, fazia algo do tipo por mim, prejudicar sua visão de mundo apenas para que eu me sentisse melhor. Eu não mereço isso tudo, não eu sendo tão dura com ele.
Quando percebo, lágrimas começam a cair. Joe rapidamente me abraça de lado, deixando que minha face se acomode na curva de seu pescoço.
– É melhor irmos embora. – ele diz no meu ouvido. – Antes que eles percebam que esse não é um abraço de namorados e que te afetaram. – completa. Eu concordo, segurando firme para parar de chorar e sair daquele lugar com dignidade.
– Posso te leva a um último lugar? – ele pergunta após ficarmos mais de dois minutos parados, sentados dentro do carro desligado no estacionamento frente ao restaurante que acabamos de sair.
– Claro. – digo livrando-me de qualquer pensamento que me levasse ao casal que destruiu nosso encontro.
Espera, eu disse encontro mesmo?
Ah, que se dane. Que se dane os modos e os rótulos, que se dane o casamento, que se dane Louis, Taylor e seja lá quantos filhos eles venham a ter. Que se dane o mundo!
Ele dá partida no carro e em menos de cinco minutos nos encontramos no alto de um morro, numa rua deserta. Ele para o carro no acostamento e só então eu percebo o que ele quer me mostrar.
O morro é bem alto, numa cidade que é quase toda plana, mesmo não estando muito alto, podemos ver a maior parte da cidade daqui, o sol já se despediu e a lua já se impunha no céu.
– Isso é muito lindo. – permito-me sorrir e sinto que Joe faz o mesmo.
– Sei que isso é bem romântico, mas depois daquele beijo...
– Que não significou nada. – o corto antes que ele complete a frase e ele não parece gostar de ter sido interrompido.
– Eu sei. – fala cabisbaixo. – Só que achei que depois do beijo insignificante, não faria tão mal lhe trazer aqui. – dá de ombros e eu concordo.
Não sei por quanto tempo ficamos em silêncio, observando a cidade a baixo, mas posso garantir que foram mais de dez minutos.
– Por quê? – Joe pergunta sem motivo aparente.
– Por que o que? – pergunto.
– Por que se fechar tanto? – completa a pergunta e eu reviro os olhos. – Não, ok, eu sei, você sofreu, eu estava lá, eu vi. – ele parece impaciente. – Mas o que se fechar trouxe de bom para você? – ele insiste.
– Joseph...
– Eu quero te entender, Demi, eu posso lhe dar tudo para ser a mulher mais feliz do mundo, mas você prefere correr, negar, prefere ficar pulando de homem em homem como se nada valesse a pena.
– Eu sabia que esse encontro seria uma péssima ideia. – digo mais para mim mesma que para Joe.
– Eu só quero entender. – repete.
– A questão é que você não pode entender, Joe! Você pode ter assistido meu sofrimento, mas você não sabe o que é senti-lo. Eu não posso pintar um quadro explicativo, para que você, finalmente, possa entender e apreciar ainda mais a minha tristeza. Você não vai entender.
– Porque você não tenta? Eu posso nunca ter sido traído como você foi traída, mas... Tente, eu...
– Você simplesmente não compreende. – eu bufo já cansada daquela discursão.
– Deixar isso tudo dentro de você não lhe fará bem. – ele ri agoniado. – Eu ainda quero entender você. – volta a dizer.
– Existe muito aqui dentro, Joe! – explodo. – muita dor, muita mágoa, muito ódio, muito arrependimento, eu não quero, eu não posso e eu não vou me relacionar com ninguém, mesmo que seja um alguém tão maravilhoso como você, eu não posso! Não há espaço para o amor aqui! – grito em meio às lágrimas. Eu não podia acreditar que realmente estava fazendo isso.
– Venha cá. – ele diz abrindo sua porta e saindo do carro. Me nego, mas ele dá a volta no carro e abre a porta do meu lado. – Venha, Demi. – insiste. Eu saio a contra gosto.
Ele me guia até a borda da pista.
– Louis vai se fuder! – ele grita sem pudor. Olho para ele e não mais choro. – Tente. – ele ri. – Vai, tente. – me incentiva. – Taylor e seu útero super-reprodutor, vão se fuder! – volta a gritar e eu começo a rir. – Sério, Demi, tente... Olha. – ele dá uma volta em si mesmo. – Não tem ninguém para nos julgar.
– Louis eu te odeio!
– Não. – ele pega minha mão. – Não seja tão educada. Grite! Tire essa raiva aí de dentro! – fala. – Louis, seu bundão, eu te odeio! – grita e tudo o que consigo fazer é soltar uma gargalhada.
– Louis, vai para o inferno! – finalmente grito.
– Isso! – ele comemora. – vai mais, xingue mais, xingue quem você quiser.
– Lilian, sua velha falsa, vai se fuder! – grito e rio ao mesmo tempo.
– Uhuul, isso mesmo, vai se fuder, Lilian. – Joe grita logo após, me incentivando a continuar.
– Amigos do basquete do Louis, vão todos para o inferno!
Xingo todo o mundo que vem a minha mente, grito como nunca gritei em toda minha vida, gargalho como uma louca desvairada. Sinto-me leve no fim de tudo.
– Eu sei que atrás dessa barreira que você criou no seu coração, existe uma mulher meiga e que quer ser amada. – Joe diz após nossa “terapia” de descarrego no topo do morro. – E eu vou dar um jeito de quebrar essa barreira e resgatar essa mulher. – gargalho novamente, mas não sei ao certo se é de felicidade ou se por achar graça na fala de Joe. Ok, eu estava mais leve, mas isso não significava que eu tinha amolecido.
– Você deveria desistir, Joe. – digo. – Afinal, me diga, o que você tem para quebrar essa parede aqui? – digo me aproximando dele e pondo a mão direita em meu peito, desmontando meu coração. – ele sorri grande.
– Eu tenho dinamite. – ele fala feliz e eu acabo sorrindo também.
– Deixe de ser bobo, Joe. – corto nosso olhar, voltando a mirar a cidade abaixo de nós.
– Não estou sendo bobo. – ele pega meu queixo delicadamente e me obriga a voltar a fitá-lo. – Você pode dizer que foi insignificante, mas eu sei que você sentiu aquele beijo, ficou estampado na sua cara quando nós nos separamos.
– A minha cara era de surpresa. – eu contesto. – Eu não achava que você fosse capaz de fazer aquilo.
– Eu sei... Talvez nem eu achasse isso. – assumi. – Mas sua expressão demonstrava muito mais do que apenas surpresa. – diz.
– Agora virou especialista?
– É o que acontece quando se passa muito tempo observando de longe a uma mesma pessoa. – ele sorri e finalmente solta meu queixo, porém, eu ainda sigo fitando-o. – Você gostou do beijo, eu sei que gostou. – diz confiante.
– Isso ainda não significa nada, já beijei caras que beijam tão bem quanto você e não me apaixonei por eles. – dou de ombros.
– Mas eu não sou igual a eles.
– Ah, não? O que te difere? Sua dinamite? – eu rio sozinha por causa do possível trocadilho que acabei de fazer.
– Não. – ele se achega mais em mim. – Porque ao contrario dos outros... Eu te amo.
Três malditas palavrinhas que eu jurava que nunca mais escutaria na minha vida, a não ser que elas fossem proferidas por meus pais, mas cá estou eu, escutando-as da boca (macia) de Joseph Jonas.
“Não se deixe levar tão facilmente, Demetria!”
– Fogo de palha. – por fim, digo algo. – Assim que você me ter, você perceberá que isso que você chama de amor, é puro fogo de palha. – ele ri.
– Não sou homem de confundir amor com fogo de palha. – diz sério, mas gentil. – Eu sei que te amo, comecei a te amar antes mesmo de tudo isso acontecer, foi amor à primeira vista. – ele ri, confessando isso pela primeira vez. – Eu sempre te amei, Demi. – agora sua voz começa a falhar, assim como a minha respiração. – Eu tentei ignorar no começo, pois eu sabia que era errado, e confesso, – ele ri de nervoso. – Uma parte minha ficou feliz com toda essa situação com seu ex, porque eu sabia que você não iria mais querê-lo, eu pensei que após recuperada eu poderia tentar algo com você, porque eu sabia que você jamais voltaria para ele, eu pensei que tinha uma chance...
– Talvez seu problema seja pensar demais, Joseph,
– E talvez o seu problema seja sofrer demais, Demetria. – me silêncio por um instante.
– Acho melhor você me levar para casa. – digo por fim. Ele assente e voltamos para o carro.
Quando chego em casa, vejo a felicidade dos meus pais, por verem que eu 1) cheguei cedo em casa; 2) cheguei sóbria em casa; 3) Não estou com o cabelo molhado e isso indica que não tive que tomar banho em algum motel de beira de estrada, após dar para um cara qualquer.
Durmo cedo, ignorando as mil mensagens de Marissa, pois me sinto cansada. Não sei por que, mas sonho com Joe, é um sonho bem confuso e estranho, e não vale a pena descrevê-lo aqui... Foi também Joe o primeiro pensamento que tive ao acordar.
Meu Deus, ele já está entrando na minha mente!
No fim, sou obrigada a responder Marissa, que já estava em tempo de ter um infarto e me causar um AVC.
A cada detalhe que eu escrevia, ela me mandava um áudio gritando e eu só ria da sua reação.
“E agora? O que você vai fazer? Vai se afastar dele? L”.
Pergunta assim que termino de falar sobre meu domingo com ele.
“Acho que vou deixar acontecer, vamos ver se ele realmente é capaz de me conquistar”.
Respondo.
“Um desafio... Uhuull... Já sei onde apostar minhas fichas: no Joe”.
“Pois vai perder então.”
“Veremos”.
[...]
Terça-feira chega, eu acordo cedo, tomo um banho e ponho meu uniforme de trabalho, tomo café-da-manhã e parto para o trabalho.
O escritório da empresa ocupa os três últimos andares de um prédio comercial que fica na região centro-sul da cidade, o que era relativamente longe de onde meus pais moram (e muito perto de onde eu morava antes, no apartamento). Mesmo saindo cedo, chego em cima da hora e assim que o elevador para no 12º Andar, onde fica minha sala, estranho o silêncio e a escuridão. Teria eu confundido os dias da semana? Não, eu tenho certeza que hoje é terça-feira e que hoje tem expediente.
Saio do elevador hesitante e vou até onde sei que tem um interruptor, ligo as luzes e me surpreendo com o que encontro. Não há ninguém ali, mesmo este sendo o andar mais cheio, já que o 11º Andar era basicamente a recepção e uma grande sala de reunião e cafeteria, o 13º Andar era dois outros escritórios de reunião, uma grande sala de artes que usamos para produzir maquetes em 3D e uma última sala de depósito, onde guardávamos as maquetes que já havíamos utilizado, mas que poderia ser reutilizado em outros projetos. Em todos os andares há banheiros e uma pequena cozinha onde podemos esquentar algo ou guardar algo na geladeira. Então era aqui que a maioria das salas dos arquitetos ficavam, assim como a dos designers e a diretoria.
O lugar podia estar vazio de pessoas, mas havia um caminho com pétalas de rosas vermelhas que corria por todo o chão. Eu segui o caminho que as pétalas indicavam sem saber se no fim estava atrapalhando uma possível declaração de amor de alguém. Eu apostaria em Miley e Liam, ele também é arquiteto e ela vice-diretora, ambos estavam em um relacionamento complicado há mais de um ano, talvez tivessem decidido oficializar.
O rastro de flores segue até o fundo do andar, onde tem uma escada de emergência. A porta da emergência, que apesar de nunca trancada, sempre está fechada, hoje estava aberta e o rastro de flores continuava por ali.
Subo pelas escadas, ficando cada vez mais curiosa. Chego no 13º Andar, e nesse andar as luzes não estão apagadas, apenas em baixo modo. Seguindo reto pelo corredor principal, eu podia ver uma grande tela e umas imagens estava passando ali, eu andei um pouco mais depressa, na esperança de ver melhor o que estava acontecendo. Logo vejo que é um slide de foto e ao me aproximar mais, começo a escutar uma música romântica.
Eu deveria estar a uns três metros de distancia quando enfim reconheci a música, A Thousand Years, e logo que reconheci a música, também reconheci as fotos. Eram minhas.
Várias fotos, algumas facilmente encontradas em minhas redes sociais, outras que só quem sabia da existência era eu e meus pais, como as minhas fotos de bebê.
Fico chocada, não consigo dar nenhum passo a frente. Deixo a música seguir seu curso e as fotos passarem.
Quando tudo termina, vejo Joe se aproximando, saindo do canto direito do corredor, que por estar mal iluminado, e também pelo choque, eu não havia o visto ali. Ele sorri nervoso e anda tremulo em minha direção. Olho para o lado, para a última sala do corredor, que há uma grande janela espelhada que permite que quem está do lado de dentro e quem está do lado de fora, visualize tudo em ambos os lugares. Percebo que todos os funcionários e para minha surpresa maior, minha mãe, estão ali. Como ela chegou aqui antes de mim e sem eu ver?
Minha mãe sorri chorosa, e todos os outros parecem felizes também, a não ser Marissa. Marissa está mais que feliz, ela está em êxtase.
Não aguento, corro para trás e me tranco no banheiro. Posso escutar a porta da sala se abrindo e o som de surpresa vindo de todos. Percebo que Joe corre atrás de mim, mas ele não me alcança.
Fico ali mesmo com as batidas na porta. Primeiro vem Joe, implorando para que eu saia e para que eu o perdoe; depois veio minha mãe, que falou que era para eu deixar de ser safada e que Joe era o genro ideal. Quando Marissa chegou a porta, eu nem mais estava com raiva, eu estava completamente envergonhada.
Olha o que Joe havia me feito passar, agora todos do trabalho, inclusive meu chefe, estavam escutando minha mãe me chamar de safada e minha melhor amiga me chamar de retardada.
Depois de um tempo, talvez cansados, paro de escutar batidas na porta do banheiro e assim me permito chorar.
Eu não sabia muito bem porque estava chorando, talvez fossem as palavras de todos, talvez fosse a vergonha que eu estava sentindo, mas algo no fundo, algo me dizia que era por Joe, mas não porque sentia ódio dele ou raiva ou nada do tipo, mas sim porque minha mãe e Marissa tinham razão, ele é perfeito, tudo aquilo que ele tinha feito, desde domingo, quando ele me defendeu do Louis e de Taylor; ou, como revelado pela minha mãe, ontem, indo até minha casa sem eu saber ou perceber, e se apresentando oficialmente aos meus pais, pedindo-lhes apoio para conquistar-me, e hoje, com a ajuda dos meus pais e dos colegas de trabalho, armando tudo isso que acabei de ver.
Eu nunca tinha recebido uma quase declaração como aquela. Nem mesmo em meus sete anos de casada com Louis, até mesmo quando ele me pediu em noivado ele tinha feito algo tão grandioso. Eu não tinha nada com Joe, ele fez tudo aquilo apenas para me agradar, apenas para tentar me conquistar, ele não tinha nenhuma garantia de uma resposta positiva, muito pelo contrario, era bem possível que eu o negasse, assim como eu praticamente fiz ao me trancar aqui. Isso tudo na frente dos nossos colegas de trabalho, ou pior, na frente de Nick (que recém descobrimos que é primo distante do Joe) o maior zoador de todo o escritório. Era claro que se eu dissesse um não, Nick o zoaria pelo resto da vida...
Joe fez isso por uma pessoa que destrói todas as regras que ele se impôs, uma pessoa que já deixou bem claro que não quer nada sério. Ele quer salvar o meu lado romântico, um lado que eu pensei que não mais existia, um lado que, agora percebo, parece ter tentado se aflorar ao ver todo o seu esforço.
Eu sempre pensei que era forte, que nunca ninguém me conquistaria novamente, mas Joseph estava perto de me fazer queimar a língua.
– Demi... – escuto sua voz, ele não grita, mas posso escutá-lo pela porta ainda assim. – Não há mais ninguém nesse andar... – continua. – Apenas nós dois, como deveria ter sido desde o começo, agora percebo... Me desculpe se lhe fiz passar vergonha, mas... – ele suspira. – Seus pais me disseram que nunca fizeram algo realmente romântico para você, eu precisava arriscar para te provar minhas intenções. – ele faz uma breve pausa. – Eu quero lhe fazer feliz e eu não irei desistir fácil, espero que saiba disso... Eu tentarei ser mais sutil das próximas vezes. – ele ri e eu acabo rindo fraco. – Mas não desistirei. Um dia, eu sei, você se sentirá completamente curada, você poderá se sentir confiante e forte o suficiente para aceitar o amor novamente na sua vida, e eu prometo, Demi, que eu estarei lhe esperando... Talvez não seja agora, talvez seja daqui um ano ou mais... Talvez você só consiga isso quando já estiver com os cabelos todos brancos... Ainda assim, eu estarei aqui... Eu sei que podemos fazer uma bela história juntos, não digo a história mais perfeita do mundo, mas muito boa... – ele para de falar e sinto as lágrimas se intensificando em meus olhos.
Com quinze anos você não é muita coisa, você ainda não sabe de muita coisa, você pode até achar que encontrou um príncipe encantado, e não estou falando que é impossível que ele realmente seja seu príncipe encantado, mas por experiência própria, sei que as probabilidades são pequenas, mas com 23 anos, o mundo é outro, você já entende melhor sobre as pessoas e probabilidades, você sabe mais se vale a pena correr risco ou não, você está mais madura e assim percebe que o príncipe nem sempre é o melhor para você. Às vezes, o melhor para você é um cara gostoso, arquiteto, ótimo jogador de paintball, ex nerd, hacker e que beija muito bem.
Abro a porta do banheiro e dou de cara com Joe escorado na porta. Ele me olha surpreso e ansioso.
Sim, podemos ter uma bela história juntos, mas essa termina aqui, com um beijo muito bem dado na porta do banheiro.
FIM
Para acompanhar o projeto, leia as OneShots anteriores:
Primeiramente quero dizer: foda-se o Louis! Que cuzão! É foda-se a Taylor também! Songa-monga e falsiane!
ResponderExcluirAdorei a terapia do grito. kkk
Joe devia ser psicólogo!
Adorei a surpresa romântica do fim, a One ficou maravilhosa, parabéns!
Primeiro queria muito me desculpar a demora de aparecer aqui, mas estive sem tempo e só agora pude vir aqui fazer essa leitura bem rápida e comentar!
ResponderExcluirMano, que ódiooooooo do Louis e da Taylor, puta que pariu! Que sacanas! Eu não entendo como algumas pessoas conseguem ser tão caras de pau assim, namoral, que ódio!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
Segundo, eu adorei a forma como você construiu a personalidade do Joe, é tão... inesperada? Todas as fanfics que li sobre ele no blogger, ele era exatamente oposto, o homem que não quer compromisso, mas aqui ele é o homem para casar, adorei essa troca, foi interessante. O personagem dele, em geral, foi maravilhoso.... ah, que homem!
Eu concordo real com a filosofia da Demi "Nada de macho fixo" hftecchhj macho para mim é muito complicado e desnecessário ;-;
De qualquer forma, fico feliz que a personagem conseguiu superar essas, posso chamar de inseguranças, causadas pelo cuzão do Louis (morre, porra) e que se permita ser feliz, realmente, superando o passado. É assim que crescemos na vida! Parabéns pela história maravilhosa, eu amei, mesmo!
- malu
Eu preciso me desculpar pela demora de vim aqui dar o ar das graças. E, mais ainda, por ter demorado tanto pra ler algo tão incrível como essa sua short!
ResponderExcluirADOREI o Joe! Acho que a Demi merecia muito um cara como ele e, por falar nisso, amei demais a forma que você moldou a personalidade dele, muito diferente do habitual. E, você sabe, o diferente é sempre bom.
Amei mesmo! Feliz pela Demi ter conseguido desfazer os nós que o Louis fez na vida dela e, inclusive, que macho imprestavel. SAI DAI SEU LIXOOOOOOOO!!
Enfim! Amei!
Obrigada por ter abraçado o projeto e se disponibilizado para escrever um conto tão legal como esse.
Beijos!