Somos
quatro. Somos uma família.
Uma
mãe, um filho, um pai e um tio. Não importa se para mim e para Jonathan o cargo
de parentesco seja distinto, mas eu aceito, pois ali, sentado àquela mesa,
comendo aquela comida, eu me sinto em família, eu me sinto bem.
_
Tio, você vai passar muito tempo aqui? – Jonathan pergunta e eu demoro a
perceber que é comigo, pois por mais que eu ainda não tenho me acostumado com o
fato de ser pai, me acostumei muito menos com o fato de que para ele, eu sou
tio.
_Apenas
alguns dias. – eu digo. _ Isso lhe incomoda? – pergunto, sei que para Nicholas
e para Demetria minha presença não é incomoda, mas ainda não sei nada sobre
Jonathan.
_
Não, vai ser legal, eu vou lhe encher de perguntas. – ele diz entusiasmado.
_
Ele tem uma obsessão pelo sobrenatural, e como dizem que pessoas que estão em
coma costumam ter experiências do além... – Nicholas explica.
_
Ah sim. – digo como quem não quer nada.
_
Você teve? – Jonathan pergunta afobado.
_
Não. –respondo sem hesitar e recebo um chute de Demi na canela, por baixo da
mesa, olho para ela e para Nicholas e os dois parecem não gostarem da minha frieza, olho para Jonathan e vejo que
ele esta decepcionado. _ Quer dizer... – assim que digo estas palavras vejo os
olhos do garoto se iluminarem de esperança. _ eu pensava que eram sonhos, mas
agora que você falou... – minto.
_
Sério?! – vejo seu entusiasmo e isso me faz ficar entusiasmado também, percebo
que Demetria gosta de como me saio. _ E como foi? O que você viu? Onde você
foi?
_
Jonathan, Jonathan... – Demi o interrompe. _ Perguntas apenas após o almoço,
deixe-o descansar um pouco. – Jonathan a respeita e assente.
Após
o almoço ajudo Demi com os pratos, Nicholas vai dormir, pois está cansado do
plantão que deu no hospital, Demetria faz Jonathan ir fazer suas tarefas da
escola.
_
Jonathan é um menino muito bom. – eu digo. _ Te respeita melhor do que eu respeitava
minha mãe. – ela ri.
_
Eu acabei virando a mãe general. – ela ri e me passa o prato para que eu seque.
_ mas tenho meus momentos de mão divertida, você só não pode ver ainda.
_
E eu não duvido disso. – eu digo.
_
Joseph. – Demi olha para os lados. _ Agora que você já sabe a verdade. – ela quase
sussurra. _ O que você pretende fazer?
_
Como assim?
_
Você pode fazer o que quiser, você tem o direito de pedir a guarda dele, você
tem como provar paternidade ou você pode simplesmente deixar como está.
_
É isso que você quer? – pergunto. _ Que eu siga sendo apenas o tio que acordou
do coma. – ela hesita.
_
Me desculpe. – ela pede. _ Eu... Me desculpe. – pede novamente. _ Ele tinha
acompanhamento de uma psicóloga quando menor, eu queria ter certeza que toda
essa confusão não prejudicasse ele, sobre o pai ter sofrido um acidente, sobre
o homem que o criou como pai não ser seu pai verdadeiro, sobre a família ser
toda separada... Isso é tudo o que ele sabe, e ele cresceu bem sabendo apenas
disso, eu quero conversar primeiro com a antiga psicóloga dele, para ver como é
a melhor forma de contar para ele tudo.
_
Então não é para contar agora?
_
Não hoje.
_
Eu tenho quatro dias, Demi, e eu quero ser o pai dele. – digo. _ Eu estou
assustado, mas eu quero isso.
_
Eu sei. – ela diz, percebo que ela se sente incomodada com isso.
_
Eu não acredito nisso, você não quer isso, não é?
_
Eu temo por ele, ele se acostumou a uma realidade e agora ela mudará
totalmente...
_
Você teme por ele ou por você?
_
Talvez eu tema por mim também ok? Mas se eu falar com a psicóloga e ela dizer
que é o melhor para ele, eu não ligo, eu só peço por um dia. Conheça-o
primeiro, converse e faça uma amizade, seja tio, depois, quando der, se torne
pai.
_
Tá. Que seja. – digo jogando o prato na pia, quase quebrando-o. _ Desculpa.
_
Você precisa descansar. – ela diz. _ Vou te levar para seu quarto.
A
casa é de um andar e meu quarto fica no fundo, vejo que é algo improvisado,
pois ali, além da cama, tem mesa de escritório e vários eletroeletrônicos.
Eu
deito na cama e permito-me dormir, quando acordo já é noite.
Eu
ainda não sei o que dizer, muito menos o que fazer, tudo aconteceu depressa
demais. Eu tinha muitas perguntas ainda e pela primeira vez eu senti medo.
Eu
pego o telefone e faço a ligação que deveria ter feito antes, mas que não fiz,
talvez após conversar com minha mãe eu tome mais coragem para falar com
Jonathan, meu filho.
É
necessário quatro "bips" para que minha mãe me atenda. Sei que ela
espera pela minha ligação e escuto em sua voz pura decepção.
_
Você já sabe onde estou? - pergunto.
_
Infelizmente. - ela responde, sua voz sai chorosa.
_
Eu precisava disso, mãe.
_
E por acaso ficou feliz com que encontrou?
_
Eu tenho um filho, mãe. Eu sou pai. - eu até pensei que tinha me acostumado com
a ideia, mas minha voz sai assustada, e ali eu percebo que não ligo para minha
mãe porque quero um acerto de contas ou porque quero julgar ou brigar, quer
dizer, eu quero fazer tudo isso, o que minha mãe fez foi horrível, mas neste
momento eu preciso dela, eu sou pai e eu não faço a mínima ideia do que devo
fazer agora.
_
Este filho não é seu é de Nicholas. - ela diz com nojo.
_
Mãe ele é meu, eu sei que é meu.
_
Ela está te enganando de novo, Joseph, volte para casa, vamos esquecer tudo
isso, você já teve o que queria.
_
Não mãe, pare com isso! - me irrito, eu preciso dela, mas preciso da mãe que eu
conhecia há 14 anos, antes de tudo isso, não da mãe de agora que eu nem mesmo
consigo reconhecer. _ Nicholas é tão seu filho quanto eu, e Jonathan é seu
neto, seu único neto e eu sou seu filho, filho que precisa de você, mas da você
que tu costumava a ser, não esta de agora.
_
Você não vê que eles te enganam? Que seja, o filho é seu, e eles provavelmente
lhe encheram a cabeça contra mim, mas será que eles te contaram tudo Joseph?
_
Mãe...
_
Não Joseph, eu fiz coisas que eu me arrependo, mas eu fiz por você, se quer
acreditar apenas neles, acredite, mas o que eu fiz, por mais errado que seja,
eu faria de novo, quantas vezes fosse necessário.
_
Mãe, eu quero ser pai dele. - eu digo, tentando ignorar tudo o que ela disse, na
última esperança de que ela irá se sensibilizar e me ajudar.
_
O garoto sabe sobre você? - ela pergunta
e eu percebo que ela irá me ajudar.
_
Sabe sobre mim, mas não quem eu realmente sou.
_
Claro que não... - minha mãe bufa. _ O menino tem uma vida inteira sem você na
vida dela Joseph, como que você pretende virar pai agora? Do nada?
_
Ele é um menino bom, mãe, você iria gostar dele.
_
Não iria não.
_
Ele lembra do papai. - vejo que a surpreendi. _ Meu pai gostava dele, você
sabia? - ela hesita em responder.
_
Seu era pai bobo, molenga, não podia ver criança que queria pegar no colo.
_
Então você sabia, e não se interessou no garoto?
_
Ele é fruto de uma traição!
_
Você realmente acredita nisso mãe? Ou você simplesmente se repete pra tentar se
justificar?
_
O que você quer de mim? Eu já disse que faria tudo novamente.
_
Tudo isso poderia ter sido diferente mãe.
_
Sim, poderia, se eles não tivessem quase te matado...
_
Se você não tivesse separado nossa família. - corrijo-a.
_
Você me ligou para quê? Para me julgar?
Porque eu fiquei a noite sem dormir preocupada com você.
_
Eu liguei porque quero unir nossa família mãe, e por mais que eu tenha raiva do
que você fez, eu quero que você faça parte dela.
_
Não tente Joe. Você vai ter que escolher: ou sua família está aqui ou a sua
família é a que está aí. - o silêncio que ficou no telefone decretou o fim da
nossa conversa. Eu liguei procurando por ajuda e respostas, e acabei com um
dilema maior ainda.
Saio
do quarto em que estou e encontro Jonathan na porta, me assusto.
_
Ei. – digo ao perceber que ele me olha, mas não diz nada.
_
Ei. – ele responde. _ Minha mãe disse que você queria conversar comigo.
_
Ela disse? – me surpreendo.
_
Sim. – ele confirma.
_
Tem certeza?
_
Sim, quer perguntar?
_
Não, não. Quer entrar? – pergunto, voltando para o quarto. Ele me segue.
Sento-me
na cama e ele se senta a meu lado.
_
Então? – ele quer que eu inicie o assunto. _ Você não quer falar sobre sua experiência
no além não é?
_
Bom, podemos falar sobre isso também...
_
Eu sei que você só falou aquilo para me animar. – ele me interrompe.
_
Sabe?
_
Nem todos tem algum tipo de experiência, e não há nada de mal nisso, cada
pessoa é uma, talvez você até tenha tido, mas não se lembra. – ele diz com uma
maturidade anormal.
_
Bom, me desculpe, eu não queria mentir.
_
Tudo bem, você só quis agradar. – ele dá de ombros. _ Então sobre o quê você
quer conversar? – fico sem saber o que falar, por mais que eu agradeça Demetria
por ajudar-me a aproximar de Jonathan, eu não me sinto preparado para isso, eu
não sei o que perguntar, eu não sei por onde começar... Seria esta a ideia
dela? Mostrar-me que não estou preparado para ser o pai de Jonathan, pois nem
mesmo conversar com ele eu consigo?
_
O que você sabe sobre mim? – pergunto.
_
Que você sofreu um acidente e que estava em coma. – ele diz sem pestanejar. _ E
que você é irmão do meu pai.
_
Você que o Nicholas não é...
_
Meu pai verdadeiro? – ele completa ao ver que me enrolo, pois temo que no fundo
ele não saiba, mesmo Demetria tendo garantido que ele sabia. _ Eu sei, mas ele
me criou e me registrou como dele, ele me adotou, então ele é meu pai.
_
Mas você não quer saber quem é seu pai? – pergunto.
_
Não sei... Acho que estou bem como estou.
_
E se seu pai quisesse conhecer você? – pergunto. Jonathan para e me olha pensativo,
creio que ele esta pensando bem na resposta que me dará, mas o que ele me
pergunta me surpreende.
_
Você é meu pai?
Continua
É a pergunta ainda não foi feita, a Denise só me faz ter mais ódio dela que mulher sem coração como ela pode fazer o Joe ter que escolher um lado isso é o cúmulo pra mim
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