30 de abril de 2015
Cinco e meia da manhã. Ainda estava cedo,
mas ficar ali olhando para as paredes brancas de seu apartamento, tampouco
parecia atrativo. Talvez, chegar mais cedo à escola fosse bom, poderia
descansar um pouco antes de dar a sua primeira aula do dia.
Sem mais enrolar, Joseph deu o último
gole do seu café, foi ao banheiro, deu uma escovada rápida em seus dentes,
voltou para sala, pegou sua mochila, com o material do dia e sua chave.
Antes de sair, verificou se tudo estava
no lugar certo, sorriu satisfeito ao ver que estava. Se ele ainda morasse com
seus pais, seu padrasto provavelmente riria dele, essa mania de Joe de sempre
deixar tudo organizado sempre o pareceu uma piada, já a mãe de Joseph, apesar
de achar o seu excesso desnecessário, gostava, afinal de contas era menos trabalho
para ela.
Joseph nunca entendeu a dificuldade das
pessoas de serem organizadas, para ele organização deveria ser algo bem mais
fácil de manter do que a desorganização, pois, se tens tudo organizado, pode
encontrar tudo o que você procura; limpar a casa se transforma numa tarefa bem
menos árdua, fora que mesmo que esteja tudo sujo, ainda parece estar tudo
limpo. Organização era a chave de tudo.
Ao sair, trancou a porta, e antes de ir
para o elevador, observou a porta do apartamento ao lado, agora tudo estava bem
silencioso, bem ao contrário da noite anterior.
Aquele apartamento estava à venda por
meses, ninguém mais achava que seria vendido, e o antigo dono parece ter
sentido isso também, pois diminuiu seu preço quase pela metade, e com isso, em
menos de três dias, o apartamento foi vendido. Ontem a nova ou o novo vizinho
ou vizinha se mudara, e a barulhada de moveis sendo arrastados, de paredes
sendo furadas por pregos, atormentaram a noite de sono de Joseph. Se ele fosse
menos tímido, reclamaria, mas ele nem mesmo tinha esperanças de tomar coragem
de falar, ele não era assim, ficar calado era sua especialidade, a não ser, é
claro, durante suas aulas, ele é o professor, ele tem que falar.
Andando apenas alguns passos, Joseph
chega a porta do elevador, aperta o botão de decida, e acompanha pelo pequeno
monitor, que dizia que o elevador estava subindo para pega-lo.
Blim
As portas do elevador se abrem.
Joseph entra e aperta o botão indicando
que quer ir ao térreo. Quando as portas do elevador estão prestes a se fechar,
ele escuta um grito fino e desesperado.
“Espere!
Segure a porta para mim”.
Joseph, rapidamente põe a sua mão entre
o pequeno vão entre as portas, instantaneamente elas param e tornam a abrir.
Na porta está uma garota, parece bem
jovem, em suas mãos há vários papeis, mesmo estando com uma bolça grande nos
ombros que, aparentemente, está bem vazia.
Ela entre e sorri agradecida a Joseph.
_ Nossa! Muito obrigada mesmo, estou
com muita pressa. – falou ela, um pouco ofegante. Joseph apenas sorri,
demonstrando que a escutou, mas que não iria criar uma conversação. As portas
tornaram a começar a se fechar. _ Você é meu vizinho, não é? – perguntou ela
enquanto tentava colocar as folhas todas de uma vez em sua bolça, algumas
caíram no chão, outras entraram na bolça toda amaçada. Aquela era uma
demonstração clássica de como Joseph estava certo em relação a sua teoria sobre
a organização.
Educadamente, Joseph ajudou-a,
pegando-a as que caíram e esperando que ela se ajeitasse para entrega-las a ela. _ Obrigada mesmo. – sorriu sem
graça. Novamente Joseph só sorriu. _ Você é mudo? – perguntou sem jeito. _ Eu
sei algumas coisas na linguagem de sinais.
_ Não. – respondeu Joseph. _ Eu só falo
pouco mesmo.
_ É, percebe-se – sussurrou. _
Demetria. – disse ela, estendendo sua mão para um cumprimento. _ Mas, por
favor, me chame de Demi.
_ Joseph. – respondeu a seu
cumprimento.
_ Você mora no 502 ou no 503? -
perguntou ela, tentando manter o assunto. Joseph percebeu que não teria
escapatória, enquanto estivesse naquele elevador, ele teria que interagir com
aquela garota.
_ 502. – respondeu.
_ Então você é meu vizinho de parede. –
disse Demi empolgada. _ Em falar nisso, mil desculpas por ontem a noite.
Cheguei do interior, meu pai só poderia me ajudar ontem naquele horário, se não
eu teria que montar e carregar tudo sozinha. – falou de maneira tão empolgante
que Joseph se perguntou se ele estava enganado e, ao invés de estar
demonstrando incomodo, estivesse demonstrando interesse na sua conversa.
_ Sem problemas. – respondeu.
_ Nossa. Você realmente é de falar
pouco, não é? – perguntou. E você de
falar muito – pensou Joseph.
_ É. – Demi suspirou, percebendo que
dali não sairia mais nada.
_ É impressão minha ou esse elevador não
está descendo? – perguntou ela. Joe olhou para o painel e percebeu que o
elevador estava parado no 3º andar, a porta não dava sinal de que iria abrir.
_ Ah não! – exclamou Joseph. _ O
elevador parou. – concluiu frustrado.
_ E você concluiu uma frase com mais de
três palavras. – sussurrou Demi, porém não baixo o suficiente. Joseph a encarou
já impaciente, mal a conhecia e já não gostava da sua pessoa. Demetria
percebeu. _ Tá, desculpa-me, só me ajude a abrir esta porta e assim que eu sair
você ficará livre de mim. – falou ela, jogando sua bolça no chão e tentando,
inutilmente, abrir a porta sozinha, agarrando as bordas da porta de aço e
forçando-as para o lado.
_ Você está louca? – perguntou Joseph,
desta vez ele teve que intervir. _ Podemos ligar pelo interfone para a
portaria, eles vão nos tirar aqui.
_ Caso você não se lembre, eu estou
atrasada.
_ E por acaso você acha que o que você
está fazendo vai realmente ser melhor? – perguntou.
_ É alguma coisa. – respondeu Demi
irritada. _ Deve ter algum botão para abrir esta porta. – disse ela, vindo até
o painel e tirando Joseph de lá. _ será esse? – disse pensativa e quando foi
apertar o botão, Joseph agarrou seu braço. Demetria olhou-o assustada.
_ Você, por acaso, é suicida? –
perguntou. _ Você por acaso não aprendeu os riscos que sair de elevador assim?
Não te ensinaram nada na escola?
_ Não! Estavam mais preocupados em me
ensinar Números Imaginários. – respondeu nervosa, se afastando de Joseph, e
jogando-se no chão, ao lado de sua mochila.
Joseph preferiu ficar calado na dele,
aquele não era o momento para causar confusões.
Joseph apertou o interfone e esperou
que alguém na portaria o atendesse.
_ Sim. – Joseph logo reconheceu a voz
de Brian, ele era um velho, negro e um pouco acima do peso, um homem legal que
trabalha quase que a vida inteira como porteiro do prédio.
_ Oi. Aqui é o Joseph, do 502, estou
preso no elevador. – disse.
_ Ah sim, eu percebi que ele parou, não
sabia que tinha alguém nele. Eu já liguei para a manutenção, mas eles disseram
que só começam a trabalhar às oito da manhã. Tem algum problema? Você acha que
consegue ficar aí? – Joseph não respondeu instantaneamente, seu primeiro
horário de aula eras às 8:20, o que significava que ou chegaria bem atrasado ou
que teria que ser substituído, não era o fim do mundo, não se ele estivesse
sozinho, mas três horas preso em elevador junto a uma garota tagarela não seria
tão fácil assim.
_ Não! – gritou Demetria do outro lado,
Joseph se assustou.
_ Está tudo bem aí? – perguntou Brian
preocupado. _ Eu posso tentar olhar em outro lugar, mas a assistência técnica
ia nos cobrar uma multa altíssima, você sabe que o Theodor iria ficar uma fera.
– Theodor é o sindico do prédio, Joseph não sabia muito bem o porquê ele tinha
ganhado. Talvez todos achassem que contenção de custos, sua maior promessa, era
uma boa, só que isso significava poucas manutenções, poucas reformas, poucas
melhoras, gastos apenas com o imprescindível, tudo bem que isso diminuiu o
preço do condomínio, mas valia apena ficar com a fachada de prédio toda suja,
um jardim que nem mesmo era mais jardim, um playground que era improprio para
as crianças e um elevador que ficava parando quando bem entendia? Naquele
momento Joseph agradeceu por não ter dado seu voto a aquele homem, pelo menos
não tinha culpa do estado do prédio.
_ Não, está tudo bem, é só uma louca
aqui dentro.
_ Eu tenho nome. – reclamou Demi. _ E
não é louca. – Joseph deu de ombros.
_ Bom, tudo bem então, qualquer coisa
me avisa.
_ Sem problemas Brian, obrigado.
Joseph recostou-se na parede do
elevador, olhando para o relógio e percebendo que não tinha nem mesmo três
minutos que ele tinha saído de casa, o que o fez perceber que três horas não
era tão rápido assim, pelo menos agora aquela garota, Demi, não estava mais o
importunando, mas sabe se lá quanto tempo ia durar...
20 minutos.
Exatos vinte minutos.
_ Isso acontece sempre? – perguntou
Demi. _ O elevador parar. – completou ao ver que Joseph não entendera.
_ Havia reclamações, mas parar
totalmente, nunca. – respondeu, já esperando pela próxima pergunta, mas ela não
veio.
Joseph acabou se cansando e sentou-se
também, no outro extremo do elevador, não era lá muito conformável, mas não era
lá tão ruim.
Ao olhar para Demetria, ele percebeu o
porquê do silencio. Ela parecia estar prestes a chorar.
Joseph a preferiria falando, ele era
pior para consolar do que para se comunicar.
_ Pelo jeito o seu compromisso é bem
importante. – ele comentou.
_ É.- respondeu cabisbaixa. No fundo, Joseph esperava que,
após sua iniciativa, ela voltasse a se animar e novamente não parasse de falar,
ele não ligaria, seria até melhor, ele escutaria, ou fingiria que escutaria,
não teria problemas, mas para isso? Para isso ele não estava preparado. Demi
pareceu perceber seu conflito e sorriu fraco, deixando com que algumas lágrimas
saíssem, mas logo ela limpou-as. _ Parece até que mudamos de lado. Você
tentando assunto e eu respondendo friamente.
_ Eu não respondo friamente. – tentou
defender-se, mas depois sorriu timidamente. Talvez ele não fosse a pessoa mais
sensível do mundo, ele sempre foi mais fechado, ninguém soube explicar o
porquê, sua infância tinha sido completamente normal, nenhum trauma, nenhum
abuso. No fim todos concluíram que era da sua natureza controlar seus
sentimentos de maneira tão bruta. Mas Joseph tampouco é um robô, ele tem seus
sentimentos, só que tem uma incrível dificuldade de demonstra-las. Demetria
concordou, suspirando.
_ Era um tipo de reunião, era bem importante
para mim. – respondeu.
_ Um tipo?
_ Não era uma reunião. É que eu sou
escritora. – começou. _ Grande parte da minha vida eu só escrevi poesias,
acabei vendendo para amigos, conhecidos, algumas eu só postei na internet, mas
aí eu resolvi escrever um livro, um romance, e agora estou tentando publicá-lo,
só não está sendo tão fácil. Eu consegui com que uma editora, uma das melhores
no momento, lesse meu livro, e eles me pediram para levar e era um horário
reservado para mim. Mas...
_ E você não pode ligar? E falar que
não vai ou que vai chegar atrasada? – perguntou obvio.
Ele
não entende. – pensou Demi. Não foi tão fácil assim chegar a aquele ponto. Foram
meses sendo uma completa mala sem alça, insistindo todos os dias, mais de uma
vez por dia, por mensagens e telefonemas, foram tantos nãos, que Demi perdeu as
contas, ela os tinha vencido, literalmente, por cansaço.
_ Não é tão fácil. – respondeu sincera.
_ Mas é tão custoso assim tentar? –
insistiu.
Tentar. Tentar era tudo o que Demi
fazia nos últimos anos, quem sabe aquele cara, seu vizinho, não tinha razão?
Pra quem já tanto tentou, por que não mais uma vez?
Apesar de decidida, ainda um pouco
hesitante, Demetria pegou seu celular, num compartimento na frente de sua
bolça, discou os números, que de tanto discados, já estavam nas pontas dos
dedos e se preparou para a nova maratona de tentativas.
Olhar era até agoniante, quanto sugeriu
para que ela tentasse; Joseph não sabia o quão penoso seria o processo:
Na primeira tentativa, após ficar
escutando musiquinha de espera, ela entrou em um longo processo de perguntas do
atendimento eletrônico. No final, quando ia ser encaminhada para a atendente, o
telefonema caiu.
Na segunda tentativa ela foi um pouco
mais longe, o atendente chegou a atendê-la, mas mandou-a para outro
departamento, e nesse momento a chamada foi encerrada novamente.
Na terceira tentativa ela chegou a ser
encaminhada, mas quem a atendeu a fez esperar por quase dez minutos e novamente
o telefonema caiu.
Na quarta tentativa ela nem mesmo chegou
a falar com o primeiro atendente.
Agora cá estávamos com a quinta
tentativa, a mais promissora até agora, ela tinha acabado de passar para a
terceira atendente, se ela conseguisse resolver seu problema antes de um: O
telefone caísse novamente, dois: Os últimos centavos de crédito no celular de
Demi acabassem. Tudo seria, por fim, resolvido.
Da próxima vez que alguém dissesse a
Joseph que não é tão fácil assim, ele
ficaria quieto e concordaria.
_ Sim, sou eu. – disse Demi tão alto
que assustou a Joseph. Parece que tinha sido atendida. _ Ah sim, era às 5:50. –
Demi esperou pela resposta. _ Sério? Nossa, que ótimo! Muito obrigada mesmo. –
disse quase que tornando a chorar. _ Eles disseram que não tem problema, que eu
posso só entregar e eles lerão sem minha primeira apresentação. – disse
empolgada, assim que desligou seu celular.
_ Isso é realmente ótimo. – disse
Joseph, ele até que demonstrou um pouco de animação por ela. Mas nem era porque
leriam seu livro, mas porque ela não tinha mais que ficar ligando para eles.
Aquilo chegava a ser um desrespeito com a garota.
_ E você? – perguntou ela. _ A onde
você vai chegar atrasado hoje?
_ Umm, talvez eu não chegue atrasado. –
respondeu.
_ Não? – perguntou surpresa.
_ Vou ao trabalho, mas só preciso estar
lá as 8:20.
_ E você estava saindo às 5:30 da
manhã? – perguntou com certo choque.
_ Parece tão ruim assim?
_ A escola que você trabalha fica muito
longe? – perguntou.
_ Fica a duas quadras, uns quinze
minutos à pé.
_ Não parece. É. – respondeu.
_ Mais imagine se eu tivesse deixado
para sair quase na hora de chegar lá, eu estaria preso aqui e não chegaria. –
contrapôs. _ Sem ofensas.
_ Bom, na verdade não, alguém,
provavelmente eu, teria entrado aqui e ficado presa, e você teria decido as
escadas, e ainda assim chegado a tempo.
_ Talvez fosse meu destino fosse ficar
preso neste elevador, e ao sair mais cedo eu impedi que meu destino me
atrapalhasse de ir ao trabalho.
_ Você sempre age assim?- perguntou.
_ Assim como?
_ Tão, ah, sei lá, sempre saí mais
cedo?
_ Talvez não tão cedo, normalmente eu
saio as 6 mesmo, mas hoje eu acabei acordando mais cedo.
_ E o que você faz?
_ Sou professor.
_ Sério? – perguntou empolgada. _ Eu
passei uma boa parte da minha vida achando que ia me tornar professora, mas no
fim descobri que não tenho muita paciência para explicar. – fez careta.
_ Às vezes é difícil, mas ou você se
controla ou vai ter que enfrentar um processo. Advogados são caros. – riu e
Demi o acompanhou.
_ E você dá aula de que? – perguntou.
Joseph hesitou por alguns segundos.
_ Matemática. – Demi corou
instantaneamente, sabia que tinha falado merda.
_ Sabe, matemática até que é legal...-
tentou se consertar. _ Só não é pra mim.
_Você é das letras e eu sou dos
números. – resumiu Joseph. Demi apenas concordou com um sorriso. O silêncio
retornou por alguns minutos. Mas logo Demi retomou um assunto.
_ Posso te chamar de Joe? – perguntou.
_ Não. – respondeu quase que sem
pensar.
_ Por quê? - perguntou surpresa com a resposta dele.
_ Qual o problema com Joseph?
_ É muito grande. Tipo Demetria. –
exemplificou. _ Joe é simples. Simples as vezes é melhor.
_ Eu ainda prefiro Joseph.
_Eu vou te chamar de Joe. – disse
desafiadora.
_ Eu não vou responder.
_ Você vai.
_ Vou não.
_ Vai sim.
_ Quantos anos você tem?
_ Quantos anos você tem?
_ Sou mais velho que você.
_ Homens amadurecem mais devagar.
_ você que está me desafiando com um
“vai sim” – imitou uma voz infantil.
_ E você está me desafiando com um “vai
não” – imitou-o.
_ Você é extremamente infantil. – falou
Joseph.
_ Não seja tão duro consigo mesmo.
_ Não sou duro comigo mesmo. –
defendeu-se.
_ Você não se permite nem mesmo ter um
apelido.
_ Eu gosto do meu nome do jeito que é.
_ Careta.
_ Eu estava começando a gostar de você.
_ É? – perguntou Demi sorrindo
indicativa.
_ Não desta maneira. – Demi apenas
levantou a sobrancelha direita. _ Na verdade eu te odeio agora.
_ Ódio é uma palavra forte. – Joseph
não respondeu. _ Você deveria relaxar.
_ Não. – disse. _ Não aceitarei suas
ervas. – Demi gargalhou.
_ Ervas? – perguntou ainda em meio as
risadas.
_ Relaxar? Eu trabalho com jovens, sei
como vocês relaxam hoje em dia.
_ Quantos anos você acha que eu tenho.
– recuperou seu folego.
_ Você é jovem, aposto que...
_ Que...? – incentivou.
_ Que... Que usa... – Demi voltou a
rir.
_ Sabe, na verdade eu iria te sugerir
música, ou yoga, mas se prefere as ervas. – tornou a rir.
_ Não foi nada engraçado. E me desculpe
se ofendi ao dizer que... Que usava...
_ Não me ofendeu, não sou tão travado
quanto você.
_ Não sou travado.
_ Acho que vamos nos dar bem. – disse
divertida.
_ Nós já não estamos nos dando bem. – respondeu
Joe, quer dizer, Joseph.
_ Para mim estamos. Você é engraçado.
_ Não foi você que disse que eu sou
travado.
_ É exatamente isso que te faz
engraçado. É fácil te provocar.
_ E é exatamente o que te faz tão
chata, você provoca demais.
_ Você pode me provocar também se
quiser. – Joseph não disse nada, nem Demi.
_ Quantos anos você tem? – perguntou
Joseph, após se acalmar um pouco.
_ Chuta.
_ Você não pode só responder? – Joseph odiava
quando as pessoas pediam para ele chutar algo.
_ Vou fazer 20 daqui a exatos dois
meses. E você?
_ Farei 28 daqui a exatos seis meses e...
– pensou um pouco. _ quatro dias.
_ Você é jovem para ser professor.
_ Nem tanto.
_ A maioria dos meus professores eram
velhos a beira da morte.
_ Você é sempre tão delicada?
_ Eu não estou brincando, minha
professora de biologia teve um infarto dez minutos após sair da minha sala.
_ Sua sala deveria ser horrível.
_ Dizem que era a pior daquele ano.
_ Algo me diz que você era uma das que
punham o terror.
_ Na verdade não, eu era totalmente
antipopular e tímida, eu tinha apenas uma amiga.
_ E o que mudou?
_ Apesar de tímida no último ano do
colegial eu comecei a namorar, ele era do time de basquete da escola, eu
comecei a me soltar um pouco, parecer um pouco com o que eu sou hoje... No
final daquele mesmo ano descobri que ele não namorava só a mim.
_ Lamento por isso.
_ Sabe qual foi a justificava para a
traição dele? Que eu era tímida demais.
_ E você mudou por ele?
_ Não, mudei por mim, ser tímida
demais, quieta demais, aceitar tudo é penoso. Uma hora se cansa e nessa hora
você só tem duas opções, ou fica louco ou muda. Primeiro eu fiquei louca, mas
depois eu mudei. E essa sou eu agora. – Joseph riu.
_ É uma história e tanto para uma
pessoa tão jovem.
_ Você também deve ter uma história. -
esperou por uma resposta. _ Não quer conta-la.
_ Não tenho.
_ Como não? E seu tempo de adolescente
rebelde? Todos nós temos.
_ Eu não tenho. Eu sempre fui o que
você foi no passado.
_ Nenhum amor?
_ Não.
_Coração quebrado?
_ Não.
_ O que você fez durante esses 28 anos
então? – perguntou Demi realmente curiosa.
Haviam questões de aritmética que
realmente pegavam Joseph de jeito, mesmo sendo formado e sempre estar fazendo
cursos de aprimoramento, alguns problemas exigiam o máximo dele para serem
resolvidas. Porém, nem mesmo o pior dos problemas que ele já tinha resolvido o
pegara tão desprevenido. O que você fez
durante esses 28 anos? Nem mesmo ele sabia. Joseph não tinha histórias para
contar, ele sempre foi o mesmo, sempre foi sozinho, sempre foi parado, nada
demais acontece em sua vida.
_ Estudei? – arriscou.
_ Uau. – respondeu Demi com um pesar. O
silêncio voltou a reinar, e pela primeira vez aquele silêncio incomodava a
Joseph, pois ele sabia o que ele significava: ela o estava achando estranho.
Tudo bem que todos sempre o acharam estranho, mas por algum motivo, ela o achar
estranho o incomodava bastante. _Você é daqui? – perguntou Demi, surpreendendo
Joseph. Demetria queria saber sobre ele, queria entende-lo, no fundo, quem
sabe, até mesmo muda-lo?
_ Sou.
_ Sempre morou aqui, neste prédio?
_ Não, me mudei há uns dois anos.
_ Por quê?
_ Meus pais acharam que era melhor.
_ Por quê?
_ Eles acharam que isso me ajudaria a
me socializar.
_ E ajudou?
_ Não. – sorriu fraco.
_ Comigo foi bem diferente, meus pais
não queriam que eu viesse de jeito nenhum.
_ Você disse que seu pai te ajudou... –
lembrou-a.
_ Porque ele não tinha outra opção.
Apesar de que meu pai nem foi o maior problema, ele não queria, mas nunca me
impediu. Já minha mãe... – Demi olhou para baixo, claramente triste. _ Ela nem
se despediu de mim.
_ Lamento.
_ Ela não fez por mal. – tornou a olha-lo.
_ Eu era a princesinha dela. Ela só não queria se separar.
_ Você vai ficar aqui por definitivo?
_ Até que eu publique o livro, sim. –
responde. _ Eu até que gosto dos prédios, da movimentação da cidade, mas meu lugar
é no interior, andar pelas viniculturas, ficar na varanda de casa, ao lado da
minha família...
_ Espero que você publique rápido
então. – desejou Joseph.
_ Nossa. Você quer realmente se livrar
de mim. – Joseph corou.
_ Não. – respondeu apressadamente. _
Não é isso. – ele queria se consertar. Demi riu de seu desconserto.
_ Não te julgo, eu posso ser bem chata.
– riu fraco. _ Mas te juro, eu fico mais suportável com o tempo.
_ É. Você... Parece até mais legal
agora. – admitiu.
_ Não comemore, eu posso muito bem
estragar esse momento. – Joseph não disse nada, mas Demi riu. _ Mas eu vou
tentar não fazer isso. – Joseph expirou o ar que nem mesmo sabia que estava
segurando.
O interfone do elevador tocou, Joseph
se levantou e atendeu-o.
_ Sim, aqui é o Joseph.
_ Ah sim senhor Joseph, a manutenção
chegou, já, já vocês sairão daí. – disse Brian.
_ Ótimo. Muito obrigada Brian. –
agradeceu Joseph e desligou. _ Chegaram mais cedo. – observou Joseph, olhando
para seu relógio de pulso que marcava 7:13.
_ Ah, que pena, queria tanto que você
se atrasasse. – lamentou Demi. Ela temeu que ele a achasse chata por fazer tal
brincadeira, mas, para sua surpresa, ele riu. Talvez ele não fosse tão travado
assim.
Seja lá o problema que o elevador
tinha, renderam bons 30 minutos para que fosse consertado.
Assim que foram liberados daquele
cubículo, Joseph e Demetria se despediram com uma promessa.
_ Nos vemos mais tarde? – perguntou
ela.
_ Nos vemos mais tarde. – Ele
confirmou.
Para Joseph o dia seria longo, as
quintas-feiras eram temerosas. Se durante a manhã ele só tinha 4 horários de
aula, durante a tarde seriam longas 6 aulas, sem nenhum intervalo, uma aula após
outra, era quase um contra peso a segunda-feira, que ele tinha apenas duas
aulas, durante os dois últimos horário da manhã. Porém hoje não era
segunda-feira, hoje é quinta-feira, seriam longas horas vendo aquelas paredes
que, do chão até metade da parede, era azul, e da metade da parede até o teto,
era branca. Os mesmo alunos desinteressados, com alguns poucos minis Josephs.
Apesar de tudo Joseph gostava. Dar aula
era mais que um trabalho, era algo que o dava prazer.
_ Bom dia. – cumprimentou o professor
de Ed. Física ao entrar na apertada sala dos professores.
_ Bom dia. – respondeu Joseph. O
professor o olhou suspeito e saiu pegando alguns papeis. Joseph estranhou sua
reação a principio, mas depois ele percebeu, ele o tinha respondido. Joseph
nunca respondia. Geralmente sua primeira palavra do dia era um Peguem seus livros e abram na pagina tal,
quando entrava na sala de aula, nada mais, porém hoje, hoje ele já tinha falado
tanto, mais do que ele costumava falar, era estranho. Muito estranho.
Aquele não era o dia de Demetria, ela
custara para perceber aquilo, ainda assim no fundo ela torcia por uma mudança.
Ela já estava sentada na recepção por mais de duas horas e nada de chamarem-na,
ela, após tantas tentativas, havia se acostumado a esperar, mas a cada nível
que ela subia menos paciência ela parecia ter, era tão difícil assim pegar a
impressão de seu livro? Ela não ligava de não ter a entrevista, não se
importava de não poder entregar seu livro na mão do editor, tudo o que ela
queria era que eles o lessem, seria isso algo tão difícil?
Bom.
Ela só teve uma resposta após mais três
horas de espera.
E no fundo ela gostaria de nunca ter
recebido resposta nenhuma.
“Perdoe-nos, mas nossa funcionaria se
enganou, não poderemos receber seu livro sem uma entrevista, ligue-nos amanhã e
tente marcar novamente.” – informou a secretaria com um sorriso penoso, e que
deixou Demetria a beira de um ataque de nervos.
Ela chorou, chorou e chorou. Aquela era
sua primeira grande chance e tinha sido desperdiçada por pura preguiça.
Mas que merda de elevador! Qual é o problema da escada em Demetria? Que merda de prédio! Que merda de
funcionaria! Que merda de editor! Que merda de tempo! Mas que merda! Que grande
bola de merda!
Demi sabia que tinha que ir encontrar
sua amiga de infância assim que saísse da editora, mas ela claramente esperava
por boas novas, coisa que Demetria não teria. Então ela decidiu apenas que
vagaria pela cidade sem um rumo certo, não avisaria a ninguém, apenas
pendularia por aí, se ela se perdesse... Bom, ela não estava se importando com
isso nesse momento. Ela só precisava sair andar e tentar parar de chorar.
Joseph jogou-se em seu sofá sentindo
todo o seu corpo doer ao relaxar-se, o último horário de aula havia sido muito
estressante, a turma estava descontrolada, mal conseguiu dar a matéria, logo a
época de prova chegaria e ele teria que escutar reclamações de pais furiosos
dizendo que ele não passou a matéria e ela foi cobrada. Há algo pior que pais
que preferem defender o filho encrenqueiro a escutar o professor?
Ele suspirou.
Fechou os olhos, ele não dormiria, mas
ajudaria a relaxar mais, talvez um chá fosse bem vindo, uma bela xicara de chá
de camomila.
Joseph se levantou e foi até a cozinha,
botou uma água para ferver, e quando ia pegar o pacotinho com chá, alguém bate
em sua porta.
Se a sua resposta de Bom dia ao professor de Educação física
tinha sido estranha, imagina alguém batendo em sua porta? Ninguém batia a sua
porta, a não ser seus pais, duas vezes por ano: em seu aniversário e no dia de
ação de graças.
_ Ei. –sorriu fraco. _ Trouxe esses
biscoitos, como pedido de desculpas por ter sido tão chata hoje de manhã. –
Joseph deixou-a entrar.
_ Você não foi tão chata assim. –
defendeu-a.
_ Nossa, pensei que você morasse
sozinho. – falou ela, entregando-o os biscoitos que pareciam ser caseiros.
_ Eu moro.
_ Sua empregada deve ser muito boa. –
comentou, seguindo-o até a cozinha.
_ Não tenho empregada. – respondeu e
olhou-a esperando sua reação. Demi não escondeu sua surpresa, como um homem
conseguia deixar um apartamento tão limpo e organizado assim? Não são eles os
desorganizados? Demi nunca conseguiria manter um apartamento assim, sendo que
esse era o esperado para ela.
_ Você é o cara mais... Intrigante que
já conheci.
_ Alguns me acham estranho.
_ Também. – riu.
_ Vou fazer chá, quer?
_ Ah, não, obrigada, eu já estou indo,
só vim entregar os biscoitos mesmo, foi minha mãe que fez.
_ Pensei que ela não queria que você
viesse.
_ Ela não queria, mas ainda assim
mandou comida caseira par quase dois meses. – sorriu. _ Ela sabe que eu sou
péssima na cozinha e ela jamais permitiria que eu sobrevivesse a base de
Fast-food.
_ Mães... – Joseph riu.
_É. – Demi riu também.
_ E como foi na editora? – Demi hesitou
triste. Suspirou.
_ No fim das contas a funcionaria me
passou informação errada. – respondeu. Joseph parou de abrir o pacote, sem
reação.
_ Me desculpe.
_ Não é sua culpa.
_ Claro que é. Seu eu não tivesse
insistido você não teria ido.
_ Ainda assim não foi sua culpa. Você
só queria me ajudar. – sorriu. _ Bom, eu já vou indo, espero que goste dos
biscoitos.
Joseph a acompanhou até a porta, mas ao
fecha-la ele não retornou a cozinha, ele continuou lá, com seu coração partido
por aquela garota, não era justo brincar com seu sonho daquela maneira.
Meio que por impulso, pela primeira vez
em toda sua vida Joseph tomou partido, abriu sua porta, foi até a porta de Demi
e bateu duas vezes, só quando ele escutou o barulho do trinco abrindo que ele
percebeu a loucura que estava fazendo.
_ Ei. – ela riu ao ver sua expressão de
perdido. _ Quer alguma coisa? – Joseph respirou fundo tomando coragem.
_ Sabe, Joe parece legal. – sorriu. Aquela não era qualquer frase, aquela
era o começo de uma grande mudança. De uma grande história, de um grande
problema.
CONTINUA
Primeiro
capítulo postado, eu espero que tenham gostado.
Comentem J
Bjssss
Ameeeeiii
ResponderExcluirPosta logooooooooooooooo pleaseeeeeeeee
Aaaaah *---* .ja to vendo q vou amar essa historia tmb, n demora a postar por favooor bjs
ResponderExcluirAdorei o primeiro capítulo, muito bem descrita a personalidade de cada um..... já vi que vai ser uma linda história.... ansiosa para o próximo!!!
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