quarta-feira, 13 de maio de 2015

1. "O Elevador" - Não Existem Poesias



30 de abril de 2015

Cinco e meia da manhã. Ainda estava cedo, mas ficar ali olhando para as paredes brancas de seu apartamento, tampouco parecia atrativo. Talvez, chegar mais cedo à escola fosse bom, poderia descansar um pouco antes de dar a sua primeira aula do dia.
Sem mais enrolar, Joseph deu o último gole do seu café, foi ao banheiro, deu uma escovada rápida em seus dentes, voltou para sala, pegou sua mochila, com o material do dia e sua chave.
Antes de sair, verificou se tudo estava no lugar certo, sorriu satisfeito ao ver que estava. Se ele ainda morasse com seus pais, seu padrasto provavelmente riria dele, essa mania de Joe de sempre deixar tudo organizado sempre o pareceu uma piada, já a mãe de Joseph, apesar de achar o seu excesso desnecessário, gostava, afinal de contas era menos trabalho para ela.
Joseph nunca entendeu a dificuldade das pessoas de serem organizadas, para ele organização deveria ser algo bem mais fácil de manter do que a desorganização, pois, se tens tudo organizado, pode encontrar tudo o que você procura; limpar a casa se transforma numa tarefa bem menos árdua, fora que mesmo que esteja tudo sujo, ainda parece estar tudo limpo. Organização era a chave de tudo.
Ao sair, trancou a porta, e antes de ir para o elevador, observou a porta do apartamento ao lado, agora tudo estava bem silencioso, bem ao contrário da noite anterior.

Aquele apartamento estava à venda por meses, ninguém mais achava que seria vendido, e o antigo dono parece ter sentido isso também, pois diminuiu seu preço quase pela metade, e com isso, em menos de três dias, o apartamento foi vendido. Ontem a nova ou o novo vizinho ou vizinha se mudara, e a barulhada de moveis sendo arrastados, de paredes sendo furadas por pregos, atormentaram a noite de sono de Joseph. Se ele fosse menos tímido, reclamaria, mas ele nem mesmo tinha esperanças de tomar coragem de falar, ele não era assim, ficar calado era sua especialidade, a não ser, é claro, durante suas aulas, ele é o professor, ele tem que falar.

Andando apenas alguns passos, Joseph chega a porta do elevador, aperta o botão de decida, e acompanha pelo pequeno monitor, que dizia que o elevador estava subindo para pega-lo.

Blim
As portas do elevador se abrem.
Joseph entra e aperta o botão indicando que quer ir ao térreo. Quando as portas do elevador estão prestes a se fechar, ele escuta um grito fino e desesperado.
“Espere! Segure a porta para mim”.
Joseph, rapidamente põe a sua mão entre o pequeno vão entre as portas, instantaneamente elas param e tornam a abrir.
Na porta está uma garota, parece bem jovem, em suas mãos há vários papeis, mesmo estando com uma bolça grande nos ombros que, aparentemente, está bem vazia.
Ela entre e sorri agradecida a Joseph.
_ Nossa! Muito obrigada mesmo, estou com muita pressa. – falou ela, um pouco ofegante. Joseph apenas sorri, demonstrando que a escutou, mas que não iria criar uma conversação. As portas tornaram a começar a se fechar. _ Você é meu vizinho, não é? – perguntou ela enquanto tentava colocar as folhas todas de uma vez em sua bolça, algumas caíram no chão, outras entraram na bolça toda amaçada. Aquela era uma demonstração clássica de como Joseph estava certo em relação a sua teoria sobre a organização.
Educadamente, Joseph ajudou-a, pegando-a as que caíram e esperando que ela se ajeitasse para entrega-las a ela. _ Obrigada mesmo. – sorriu sem graça. Novamente Joseph só sorriu. _ Você é mudo? – perguntou sem jeito. _ Eu sei algumas coisas na linguagem de sinais.
_ Não. – respondeu Joseph. _ Eu só falo pouco mesmo.
_ É, percebe-se – sussurrou. _ Demetria. – disse ela, estendendo sua mão para um cumprimento. _ Mas, por favor, me chame de Demi.
_ Joseph. – respondeu a seu cumprimento.
_ Você mora no 502 ou no 503? - perguntou ela, tentando manter o assunto. Joseph percebeu que não teria escapatória, enquanto estivesse naquele elevador, ele teria que interagir com aquela garota.
_ 502. – respondeu.
_ Então você é meu vizinho de parede. – disse Demi empolgada. _ Em falar nisso, mil desculpas por ontem a noite. Cheguei do interior, meu pai só poderia me ajudar ontem naquele horário, se não eu teria que montar e carregar tudo sozinha. – falou de maneira tão empolgante que Joseph se perguntou se ele estava enganado e, ao invés de estar demonstrando incomodo, estivesse demonstrando interesse na sua conversa.
_ Sem problemas. – respondeu.
_ Nossa. Você realmente é de falar pouco, não é? – perguntou. E você de falar muito – pensou Joseph.
_ É. – Demi suspirou, percebendo que dali não sairia mais nada.
_ É impressão minha ou esse elevador não está descendo? – perguntou ela. Joe olhou para o painel e percebeu que o elevador estava parado no 3º andar, a porta não dava sinal de que iria abrir.
_ Ah não! – exclamou Joseph. _ O elevador parou. – concluiu frustrado.
_ E você concluiu uma frase com mais de três palavras. – sussurrou Demi, porém não baixo o suficiente. Joseph a encarou já impaciente, mal a conhecia e já não gostava da sua pessoa. Demetria percebeu. _ Tá, desculpa-me, só me ajude a abrir esta porta e assim que eu sair você ficará livre de mim. – falou ela, jogando sua bolça no chão e tentando, inutilmente, abrir a porta sozinha, agarrando as bordas da porta de aço e forçando-as para o lado.
_ Você está louca? – perguntou Joseph, desta vez ele teve que intervir. _ Podemos ligar pelo interfone para a portaria, eles vão nos tirar aqui.
_ Caso você não se lembre, eu estou atrasada.
_ E por acaso você acha que o que você está fazendo vai realmente ser melhor? – perguntou.
_ É alguma coisa. – respondeu Demi irritada. _ Deve ter algum botão para abrir esta porta. – disse ela, vindo até o painel e tirando Joseph de lá. _ será esse? – disse pensativa e quando foi apertar o botão, Joseph agarrou seu braço. Demetria olhou-o assustada.
_ Você, por acaso, é suicida? – perguntou. _ Você por acaso não aprendeu os riscos que sair de elevador assim? Não te ensinaram nada na escola?
_ Não! Estavam mais preocupados em me ensinar Números Imaginários. – respondeu nervosa, se afastando de Joseph, e jogando-se no chão, ao lado de sua mochila.
Joseph preferiu ficar calado na dele, aquele não era o momento para causar confusões.
Joseph apertou o interfone e esperou que alguém na portaria o atendesse.
_ Sim. – Joseph logo reconheceu a voz de Brian, ele era um velho, negro e um pouco acima do peso, um homem legal que trabalha quase que a vida inteira como porteiro do prédio.
_ Oi. Aqui é o Joseph, do 502, estou preso no elevador. – disse.
_ Ah sim, eu percebi que ele parou, não sabia que tinha alguém nele. Eu já liguei para a manutenção, mas eles disseram que só começam a trabalhar às oito da manhã. Tem algum problema? Você acha que consegue ficar aí? – Joseph não respondeu instantaneamente, seu primeiro horário de aula eras às 8:20, o que significava que ou chegaria bem atrasado ou que teria que ser substituído, não era o fim do mundo, não se ele estivesse sozinho, mas três horas preso em elevador junto a uma garota tagarela não seria tão fácil assim.
_ Não! – gritou Demetria do outro lado, Joseph se assustou.
_ Está tudo bem aí? – perguntou Brian preocupado. _ Eu posso tentar olhar em outro lugar, mas a assistência técnica ia nos cobrar uma multa altíssima, você sabe que o Theodor iria ficar uma fera. – Theodor é o sindico do prédio, Joseph não sabia muito bem o porquê ele tinha ganhado. Talvez todos achassem que contenção de custos, sua maior promessa, era uma boa, só que isso significava poucas manutenções, poucas reformas, poucas melhoras, gastos apenas com o imprescindível, tudo bem que isso diminuiu o preço do condomínio, mas valia apena ficar com a fachada de prédio toda suja, um jardim que nem mesmo era mais jardim, um playground que era improprio para as crianças e um elevador que ficava parando quando bem entendia? Naquele momento Joseph agradeceu por não ter dado seu voto a aquele homem, pelo menos não tinha culpa do estado do prédio.
_ Não, está tudo bem, é só uma louca aqui dentro.
_ Eu tenho nome. – reclamou Demi. _ E não é louca. – Joseph deu de ombros.
_ Bom, tudo bem então, qualquer coisa me avisa.
_ Sem problemas Brian, obrigado.
Joseph recostou-se na parede do elevador, olhando para o relógio e percebendo que não tinha nem mesmo três minutos que ele tinha saído de casa, o que o fez perceber que três horas não era tão rápido assim, pelo menos agora aquela garota, Demi, não estava mais o importunando, mas sabe se lá quanto tempo ia durar...

20 minutos.
Exatos vinte minutos.

_ Isso acontece sempre? – perguntou Demi. _ O elevador parar. – completou ao ver que Joseph não entendera.
_ Havia reclamações, mas parar totalmente, nunca. – respondeu, já esperando pela próxima pergunta, mas ela não veio.
Joseph acabou se cansando e sentou-se também, no outro extremo do elevador, não era lá muito conformável, mas não era lá tão ruim.
Ao olhar para Demetria, ele percebeu o porquê do silencio. Ela parecia estar prestes a chorar.
Joseph a preferiria falando, ele era pior para consolar do que para se comunicar.
_ Pelo jeito o seu compromisso é bem importante. – ele comentou.
_ É.- respondeu  cabisbaixa. No fundo, Joseph esperava que, após sua iniciativa, ela voltasse a se animar e novamente não parasse de falar, ele não ligaria, seria até melhor, ele escutaria, ou fingiria que escutaria, não teria problemas, mas para isso? Para isso ele não estava preparado. Demi pareceu perceber seu conflito e sorriu fraco, deixando com que algumas lágrimas saíssem, mas logo ela limpou-as. _ Parece até que mudamos de lado. Você tentando assunto e eu respondendo friamente.
_ Eu não respondo friamente. – tentou defender-se, mas depois sorriu timidamente. Talvez ele não fosse a pessoa mais sensível do mundo, ele sempre foi mais fechado, ninguém soube explicar o porquê, sua infância tinha sido completamente normal, nenhum trauma, nenhum abuso. No fim todos concluíram que era da sua natureza controlar seus sentimentos de maneira tão bruta. Mas Joseph tampouco é um robô, ele tem seus sentimentos, só que tem uma incrível dificuldade de demonstra-las. Demetria concordou, suspirando.
_ Era um tipo de reunião, era bem importante para mim. – respondeu.
_ Um tipo?
_ Não era uma reunião. É que eu sou escritora. – começou. _ Grande parte da minha vida eu só escrevi poesias, acabei vendendo para amigos, conhecidos, algumas eu só postei na internet, mas aí eu resolvi escrever um livro, um romance, e agora estou tentando publicá-lo, só não está sendo tão fácil. Eu consegui com que uma editora, uma das melhores no momento, lesse meu livro, e eles me pediram para levar e era um horário reservado para mim. Mas...
_ E você não pode ligar? E falar que não vai ou que vai chegar atrasada? – perguntou obvio.
Ele não entende. – pensou Demi. Não foi tão fácil assim chegar a aquele ponto. Foram meses sendo uma completa mala sem alça, insistindo todos os dias, mais de uma vez por dia, por mensagens e telefonemas, foram tantos nãos, que Demi perdeu as contas, ela os tinha vencido, literalmente, por cansaço.
_ Não é tão fácil. – respondeu sincera.
_ Mas é tão custoso assim tentar? – insistiu.
Tentar. Tentar era tudo o que Demi fazia nos últimos anos, quem sabe aquele cara, seu vizinho, não tinha razão? Pra quem já tanto tentou, por que não mais uma vez?
Apesar de decidida, ainda um pouco hesitante, Demetria pegou seu celular, num compartimento na frente de sua bolça, discou os números, que de tanto discados, já estavam nas pontas dos dedos e se preparou para a nova maratona de tentativas.

Olhar era até agoniante, quanto sugeriu para que ela tentasse; Joseph não sabia o quão penoso seria o processo:
Na primeira tentativa, após ficar escutando musiquinha de espera, ela entrou em um longo processo de perguntas do atendimento eletrônico. No final, quando ia ser encaminhada para a atendente, o telefonema caiu.
Na segunda tentativa ela foi um pouco mais longe, o atendente chegou a atendê-la, mas mandou-a para outro departamento, e nesse momento a chamada foi encerrada novamente.
Na terceira tentativa ela chegou a ser encaminhada, mas quem a atendeu a fez esperar por quase dez minutos e novamente o telefonema caiu.
Na quarta tentativa ela nem mesmo chegou a falar com o primeiro atendente.
Agora cá estávamos com a quinta tentativa, a mais promissora até agora, ela tinha acabado de passar para a terceira atendente, se ela conseguisse resolver seu problema antes de um: O telefone caísse novamente, dois: Os últimos centavos de crédito no celular de Demi acabassem. Tudo seria, por fim, resolvido.
Da próxima vez que alguém dissesse a Joseph que não é tão fácil assim, ele ficaria quieto e concordaria.
_ Sim, sou eu. – disse Demi tão alto que assustou a Joseph. Parece que tinha sido atendida. _ Ah sim, era às 5:50. – Demi esperou pela resposta. _ Sério? Nossa, que ótimo! Muito obrigada mesmo. – disse quase que tornando a chorar. _ Eles disseram que não tem problema, que eu posso só entregar e eles lerão sem minha primeira apresentação. – disse empolgada, assim que desligou seu celular.
_ Isso é realmente ótimo. – disse Joseph, ele até que demonstrou um pouco de animação por ela. Mas nem era porque leriam seu livro, mas porque ela não tinha mais que ficar ligando para eles. Aquilo chegava a ser um desrespeito com a garota.
_ E você? – perguntou ela. _ A onde você vai chegar atrasado hoje?
_ Umm, talvez eu não chegue atrasado. – respondeu.
_ Não? – perguntou surpresa.
_ Vou ao trabalho, mas só preciso estar lá as 8:20.
_ E você estava saindo às 5:30 da manhã? – perguntou com certo choque.
_ Parece tão ruim assim?
_ A escola que você trabalha fica muito longe? – perguntou.
_ Fica a duas quadras, uns quinze minutos à pé.
_ Não parece. É. – respondeu.
_ Mais imagine se eu tivesse deixado para sair quase na hora de chegar lá, eu estaria preso aqui e não chegaria. – contrapôs. _ Sem ofensas.
_ Bom, na verdade não, alguém, provavelmente eu, teria entrado aqui e ficado presa, e você teria decido as escadas, e ainda assim chegado a tempo.
_ Talvez fosse meu destino fosse ficar preso neste elevador, e ao sair mais cedo eu impedi que meu destino me atrapalhasse de ir ao trabalho.
_ Você sempre age assim?- perguntou.
_ Assim como?
_ Tão, ah, sei lá, sempre saí mais cedo?
_ Talvez não tão cedo, normalmente eu saio as 6 mesmo, mas hoje eu acabei acordando mais cedo.
_ E o que você faz?
_ Sou professor.
_ Sério? – perguntou empolgada. _ Eu passei uma boa parte da minha vida achando que ia me tornar professora, mas no fim descobri que não tenho muita paciência para explicar. – fez careta.
_ Às vezes é difícil, mas ou você se controla ou vai ter que enfrentar um processo. Advogados são caros. – riu e Demi o acompanhou.
_ E você dá aula de que? – perguntou. Joseph hesitou por alguns segundos.
_ Matemática. – Demi corou instantaneamente, sabia que tinha falado merda.
_ Sabe, matemática até que é legal...- tentou se consertar. _ Só não é pra mim.
_Você é das letras e eu sou dos números. – resumiu Joseph. Demi apenas concordou com um sorriso. O silêncio retornou por alguns minutos. Mas logo Demi retomou um assunto.
_ Posso te chamar de Joe? – perguntou.
_ Não. – respondeu quase que sem pensar.
_ Por quê?  - perguntou surpresa com a resposta dele.
_ Qual o problema com Joseph?
_ É muito grande. Tipo Demetria. – exemplificou. _ Joe é simples. Simples as vezes é melhor.
_ Eu ainda prefiro Joseph.
_Eu vou te chamar de Joe. – disse desafiadora.
_ Eu não vou responder.
_ Você vai.
_ Vou não.
_ Vai sim.
_ Quantos anos você tem?
_ Quantos anos você tem?
_ Sou mais velho que você.
_ Homens amadurecem mais devagar.
_ você que está me desafiando com um “vai sim” – imitou uma voz infantil.
_ E você está me desafiando com um “vai não” – imitou-o.
_ Você é extremamente infantil. – falou Joseph.
_ Não seja tão duro consigo mesmo.
_ Não sou duro comigo mesmo. – defendeu-se.
_ Você não se permite nem mesmo ter um apelido.
_ Eu gosto do meu nome do jeito que é.
_ Careta.
_ Eu estava começando a gostar de você.
_ É? – perguntou Demi sorrindo indicativa.
_ Não desta maneira. – Demi apenas levantou a sobrancelha direita. _ Na verdade eu te odeio agora.
_ Ódio é uma palavra forte. – Joseph não respondeu. _ Você deveria relaxar.
_ Não. – disse. _ Não aceitarei suas ervas. – Demi gargalhou.
_ Ervas? – perguntou ainda em meio as risadas.
_ Relaxar? Eu trabalho com jovens, sei como vocês relaxam hoje em dia.
_ Quantos anos você acha que eu tenho. – recuperou seu folego.
_ Você é jovem, aposto que...
_ Que...? – incentivou. 
_ Que... Que usa... – Demi voltou a rir.
_ Sabe, na verdade eu iria te sugerir música, ou yoga, mas se prefere as ervas. – tornou a rir.
_ Não foi nada engraçado. E me desculpe se ofendi ao dizer que... Que usava...
_ Não me ofendeu, não sou tão travado quanto você.
_ Não sou travado.
_ Acho que vamos nos dar bem. – disse divertida.
_ Nós já não estamos nos dando bem. – respondeu Joe, quer dizer, Joseph.
_ Para mim estamos. Você é engraçado.
_ Não foi você que disse que eu sou travado.
_ É exatamente isso que te faz engraçado. É fácil te provocar.
_ E é exatamente o que te faz tão chata, você provoca demais.
_ Você pode me provocar também se quiser. – Joseph não disse nada, nem Demi.

_ Quantos anos você tem? – perguntou Joseph, após se acalmar um pouco.
_ Chuta.
_ Você não pode só responder? – Joseph odiava quando as pessoas pediam para ele chutar algo.
_ Vou fazer 20 daqui a exatos dois meses. E você?
_ Farei 28 daqui a exatos seis meses e... – pensou um pouco. _ quatro dias.
_ Você é jovem para ser professor.
_ Nem tanto.
_ A maioria dos meus professores eram velhos a beira da morte.
_ Você é sempre tão delicada?
_ Eu não estou brincando, minha professora de biologia teve um infarto dez minutos após sair da minha sala.
_ Sua sala deveria ser horrível.
_ Dizem que era a pior daquele ano.
_ Algo me diz que você era uma das que punham o terror.
_ Na verdade não, eu era totalmente antipopular e tímida, eu tinha apenas uma amiga.
_ E o que mudou?
_ Apesar de tímida no último ano do colegial eu comecei a namorar, ele era do time de basquete da escola, eu comecei a me soltar um pouco, parecer um pouco com o que eu sou hoje... No final daquele mesmo ano descobri que ele não namorava só a mim.
_ Lamento por isso.
_ Sabe qual foi a justificava para a traição dele? Que eu era tímida demais.
_ E você mudou por ele?
_ Não, mudei por mim, ser tímida demais, quieta demais, aceitar tudo é penoso. Uma hora se cansa e nessa hora você só tem duas opções, ou fica louco ou muda. Primeiro eu fiquei louca, mas depois eu mudei. E essa sou eu agora. – Joseph riu.
_ É uma história e tanto para uma pessoa tão jovem.
_ Você também deve ter uma história. - esperou por uma resposta. _ Não quer conta-la.
_ Não tenho.
_ Como não? E seu tempo de adolescente rebelde? Todos nós temos.
_ Eu não tenho. Eu sempre fui o que você foi no passado.
_ Nenhum amor?
_ Não.
_Coração quebrado?
_ Não.
_ O que você fez durante esses 28 anos então? – perguntou Demi realmente curiosa.
Haviam questões de aritmética que realmente pegavam Joseph de jeito, mesmo sendo formado e sempre estar fazendo cursos de aprimoramento, alguns problemas exigiam o máximo dele para serem resolvidas. Porém, nem mesmo o pior dos problemas que ele já tinha resolvido o pegara tão desprevenido. O que você fez durante esses 28 anos? Nem mesmo ele sabia. Joseph não tinha histórias para contar, ele sempre foi o mesmo, sempre foi sozinho, sempre foi parado, nada demais acontece em sua vida.
_ Estudei? – arriscou.
_ Uau. – respondeu Demi com um pesar. O silêncio voltou a reinar, e pela primeira vez aquele silêncio incomodava a Joseph, pois ele sabia o que ele significava: ela o estava achando estranho. Tudo bem que todos sempre o acharam estranho, mas por algum motivo, ela o achar estranho o incomodava bastante. _Você é daqui? – perguntou Demi, surpreendendo Joseph. Demetria queria saber sobre ele, queria entende-lo, no fundo, quem sabe, até mesmo muda-lo?
_ Sou.
_ Sempre morou aqui, neste prédio?
_ Não, me mudei há uns dois anos.
_ Por quê?
_ Meus pais acharam que era melhor.
_ Por quê?
_ Eles acharam que isso me ajudaria a me socializar.
_ E ajudou?
_ Não. – sorriu fraco.
_ Comigo foi bem diferente, meus pais não queriam que eu viesse de jeito nenhum.
_ Você disse que seu pai te ajudou... – lembrou-a.
_ Porque ele não tinha outra opção. Apesar de que meu pai nem foi o maior problema, ele não queria, mas nunca me impediu. Já minha mãe... – Demi olhou para baixo, claramente triste. _ Ela nem se despediu de mim.
_ Lamento.
_ Ela não fez por mal. – tornou a olha-lo. _ Eu era a princesinha dela. Ela só não queria se separar.
_ Você vai ficar aqui por definitivo?
_ Até que eu publique o livro, sim. – responde. _ Eu até que gosto dos prédios, da movimentação da cidade, mas meu lugar é no interior, andar pelas viniculturas, ficar na varanda de casa, ao lado da minha família...
_ Espero que você publique rápido então. – desejou Joseph.
_ Nossa. Você quer realmente se livrar de mim. – Joseph corou.
_ Não. – respondeu apressadamente. _ Não é isso. – ele queria se consertar. Demi riu de seu desconserto.
_ Não te julgo, eu posso ser bem chata. – riu fraco. _ Mas te juro, eu fico mais suportável com o tempo.
_ É. Você... Parece até mais legal agora. – admitiu.
_ Não comemore, eu posso muito bem estragar esse momento. – Joseph não disse nada, mas Demi riu. _ Mas eu vou tentar não fazer isso. – Joseph expirou o ar que nem mesmo sabia que estava segurando.
O interfone do elevador tocou, Joseph se levantou e atendeu-o.
_ Sim, aqui é o Joseph.
_ Ah sim senhor Joseph, a manutenção chegou, já, já vocês sairão daí. – disse Brian.
_ Ótimo. Muito obrigada Brian. – agradeceu Joseph e desligou. _ Chegaram mais cedo. – observou Joseph, olhando para seu relógio de pulso que marcava 7:13.
_ Ah, que pena, queria tanto que você se atrasasse. – lamentou Demi. Ela temeu que ele a achasse chata por fazer tal brincadeira, mas, para sua surpresa, ele riu. Talvez ele não fosse tão travado assim.

Seja lá o problema que o elevador tinha, renderam bons 30 minutos para que fosse consertado.
Assim que foram liberados daquele cubículo, Joseph e Demetria se despediram com uma promessa.
_ Nos vemos mais tarde? – perguntou ela.
_ Nos vemos mais tarde. – Ele confirmou.


Para Joseph o dia seria longo, as quintas-feiras eram temerosas. Se durante a manhã ele só tinha 4 horários de aula, durante a tarde seriam longas 6 aulas, sem nenhum intervalo, uma aula após outra, era quase um contra peso a segunda-feira, que ele tinha apenas duas aulas, durante os dois últimos horário da manhã. Porém hoje não era segunda-feira, hoje é quinta-feira, seriam longas horas vendo aquelas paredes que, do chão até metade da parede, era azul, e da metade da parede até o teto, era branca. Os mesmo alunos desinteressados, com alguns poucos minis Josephs.

Apesar de tudo Joseph gostava. Dar aula era mais que um trabalho, era algo que o dava prazer.  
_ Bom dia. – cumprimentou o professor de Ed. Física ao entrar na apertada sala dos professores.
_ Bom dia. – respondeu Joseph. O professor o olhou suspeito e saiu pegando alguns papeis. Joseph estranhou sua reação a principio, mas depois ele percebeu, ele o tinha respondido. Joseph nunca respondia. Geralmente sua primeira palavra do dia era um Peguem seus livros e abram na pagina tal, quando entrava na sala de aula, nada mais, porém hoje, hoje ele já tinha falado tanto, mais do que ele costumava falar, era estranho. Muito estranho.


Aquele não era o dia de Demetria, ela custara para perceber aquilo, ainda assim no fundo ela torcia por uma mudança. Ela já estava sentada na recepção por mais de duas horas e nada de chamarem-na, ela, após tantas tentativas, havia se acostumado a esperar, mas a cada nível que ela subia menos paciência ela parecia ter, era tão difícil assim pegar a impressão de seu livro? Ela não ligava de não ter a entrevista, não se importava de não poder entregar seu livro na mão do editor, tudo o que ela queria era que eles o lessem, seria isso algo tão difícil?
Bom.
Ela só teve uma resposta após mais três horas de espera.
E no fundo ela gostaria de nunca ter recebido resposta nenhuma.  
“Perdoe-nos, mas nossa funcionaria se enganou, não poderemos receber seu livro sem uma entrevista, ligue-nos amanhã e tente marcar novamente.” – informou a secretaria com um sorriso penoso, e que deixou Demetria a beira de um ataque de nervos.

Ela chorou, chorou e chorou. Aquela era sua primeira grande chance e tinha sido desperdiçada por pura preguiça.
Mas que merda de elevador! Qual é o problema da escada em Demetria? Que merda de prédio! Que merda de funcionaria! Que merda de editor! Que merda de tempo! Mas que merda! Que grande bola de merda!
Demi sabia que tinha que ir encontrar sua amiga de infância assim que saísse da editora, mas ela claramente esperava por boas novas, coisa que Demetria não teria. Então ela decidiu apenas que vagaria pela cidade sem um rumo certo, não avisaria a ninguém, apenas pendularia por aí, se ela se perdesse... Bom, ela não estava se importando com isso nesse momento. Ela só precisava sair andar e tentar parar de chorar.


Joseph jogou-se em seu sofá sentindo todo o seu corpo doer ao relaxar-se, o último horário de aula havia sido muito estressante, a turma estava descontrolada, mal conseguiu dar a matéria, logo a época de prova chegaria e ele teria que escutar reclamações de pais furiosos dizendo que ele não passou a matéria e ela foi cobrada. Há algo pior que pais que preferem defender o filho encrenqueiro a escutar o professor? 
Ele suspirou.
Fechou os olhos, ele não dormiria, mas ajudaria a relaxar mais, talvez um chá fosse bem vindo, uma bela xicara de chá de camomila.
Joseph se levantou e foi até a cozinha, botou uma água para ferver, e quando ia pegar o pacotinho com chá, alguém bate em sua porta.
Se a sua resposta de Bom dia ao professor de Educação física tinha sido estranha, imagina alguém batendo em sua porta? Ninguém batia a sua porta, a não ser seus pais, duas vezes por ano: em seu aniversário e no dia de ação de graças.

_ Ei. –sorriu fraco. _ Trouxe esses biscoitos, como pedido de desculpas por ter sido tão chata hoje de manhã. – Joseph deixou-a entrar.
_ Você não foi tão chata assim. – defendeu-a.
_ Nossa, pensei que você morasse sozinho. – falou ela, entregando-o os biscoitos que pareciam ser caseiros.
_ Eu moro.
_ Sua empregada deve ser muito boa. – comentou, seguindo-o até a cozinha.
_ Não tenho empregada. – respondeu e olhou-a esperando sua reação. Demi não escondeu sua surpresa, como um homem conseguia deixar um apartamento tão limpo e organizado assim? Não são eles os desorganizados? Demi nunca conseguiria manter um apartamento assim, sendo que esse era o esperado para ela.
_ Você é o cara mais... Intrigante que já conheci.
_ Alguns me acham estranho.
_ Também. – riu.
_ Vou fazer chá, quer?
_ Ah, não, obrigada, eu já estou indo, só vim entregar os biscoitos mesmo, foi minha mãe que fez.
_ Pensei que ela não queria que você viesse.
_ Ela não queria, mas ainda assim mandou comida caseira par quase dois meses. – sorriu. _ Ela sabe que eu sou péssima na cozinha e ela jamais permitiria que eu sobrevivesse a base de Fast-food.
_ Mães... – Joseph riu.
_É. – Demi riu também.
_ E como foi na editora? – Demi hesitou triste. Suspirou.
_ No fim das contas a funcionaria me passou informação errada. – respondeu. Joseph parou de abrir o pacote, sem reação.
_ Me desculpe.
_ Não é sua culpa.
_ Claro que é. Seu eu não tivesse insistido você não teria ido.
_ Ainda assim não foi sua culpa. Você só queria me ajudar. – sorriu. _ Bom, eu já vou indo, espero que goste dos biscoitos.
Joseph a acompanhou até a porta, mas ao fecha-la ele não retornou a cozinha, ele continuou lá, com seu coração partido por aquela garota, não era justo brincar com seu sonho daquela maneira.
Meio que por impulso, pela primeira vez em toda sua vida Joseph tomou partido, abriu sua porta, foi até a porta de Demi e bateu duas vezes, só quando ele escutou o barulho do trinco abrindo que ele percebeu a loucura que estava fazendo.
_ Ei. – ela riu ao ver sua expressão de perdido. _ Quer alguma coisa? – Joseph respirou fundo tomando coragem.
_ Sabe, Joe parece legal. – sorriu. Aquela não era qualquer frase, aquela era o começo de uma grande mudança. De uma grande história, de um grande problema.

CONTINUA

Primeiro capítulo postado, eu espero que tenham gostado.
 Comentem J

Bjssss 

3 comentários:

  1. Ameeeeiii
    Posta logooooooooooooooo pleaseeeeeeeee

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  2. Aaaaah *---* .ja to vendo q vou amar essa historia tmb, n demora a postar por favooor bjs

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  3. Adorei o primeiro capítulo, muito bem descrita a personalidade de cada um..... já vi que vai ser uma linda história.... ansiosa para o próximo!!!

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