sábado, 4 de abril de 2015

42. Tudo? – The Big Apple



Meus olhos tiveram dificuldade de se acostumar com a luz, mesmo sendo uma luz fraca, provavelmente de uma lanterna, porém eu estava tão acostumada com a escuridão que até mesmo a luz de um fósforo iria parecer demais para meus olhos naquele momento. Ainda assim, nem mesmo era necessário enxergar bem para saber quem estava chegando, no fundo, eu até mesmo preferiria nem mesmo enxergar.
_ Estão procurando por você, sabia? – perguntou com tom irônico.  Não falei nada, eu tinha gritado e esperneado e o incomodado no primeiro dia, mas hoje estava cansada demais para isso, era obvio que seja lá onde eu estava não havia ninguém a minha volta, e talvez, só talvez, ele achasse o meu silencio mais incomodo que meu escândalo. Nem mesmo me acostumei com a luz da lanterna, e ele logo achou o interruptor e ligou a única luz existente no local, que não era tão mais forte, mas pelo menos dava uma amplitude de visão um pouco maior. _ Foi até mesmo polícia lá em casa, procuraram vestígios até mesmo no meu carro. Nick também foi. Hoje mais cedo. – riu em deboche e colocou a lanterna encima da mesa que estava bem ao lado da cadeira de ferro da qual se sentara. Até mesmo o ato de sentar-se, todo à vontade, em uma cadeira tão desconfortável, pareceu uma afronta mim, enquanto ele sentava-se todo largado, eu estava com as mãos amarradas para trás, e com os pés amarrados nos pés da cadeira, e com a cintura amarrada ao encosto da cadeira. Meu corpo nem mais doía, agora o que eu sentia era uma mistura de ardência com dormência com formigamento. Meus pés formigavam sem parar, minha bunda doía como estivesse martelando minhas nádegas, eu não sentia minhas mãos, e meus braços iam pelo mesmo caminho, minha coluna ardia, reclamava por uma troca de posição_ Triste que eles me achem ignorante ao ponto de te colocar no meu carro e ainda te levar para o meu apartamento. Pensei que causava a impressão de ser mais inteligente. – disse, não sei se para mim ou para si próprio. _ Cansou de usar sua voz ontem? – perguntou. Continuei sem dizer nada. Ele reacomodou-se na cadeira, sentando-se inclinado para frente e apoiando seus cotovelos em suas coxas. _ Que tal uma troca? Uma informação, por algumas palavras? – perguntou. Pelo jeito minha troca de postura estava funcionando. Continuei sem dizer nada. _ Vou considerar seu silêncio como um “sim” – disse e tornou a recostar-se na cadeira. _ Ontem você perguntou onde estávamos... Estamos em uma espécie de galpão, fora da cidade, mais precisamente em um terreno quase que abandonado numa rodovia interestadual. Pessoas alugam esses galpões para deixarem os entulhos que não querem mais, no meu caso não só entulhos. – riu de canto. _ De três em três meses acontecem alguns leilões das coisas aqui, quando um locatário não paga o aluguel do galpão. –disse. _ O último leilão aconteceu há dois dias, o que me dá bastante tempo para pensar sobre o quê fazer com você. – ele esperou por alguma reação minha, mas continuei quieta. _ Sua vez. – começou. _ Seu braço está doendo? – perguntou, olhei-o de canto de olho, ele ainda pergunta? Eu nem mesmo mais sinto meu braço! _ Você está com fome? Ou sede? – perguntou após ver que eu não respondia. _ Eu fiz minha parte, seria melhor para você, você fazer a sua também. – sorriu cinicamente. Continuei calada. Ele suspirou irritado. _ Eu não trocarei seu braço de posição, não lhe darei água, muito menos comida, se você não disser que quer. – disse. Morrer de inanição não pareceu uma má opção, algo me dizia que Logan não tinha a intensão de me soltar tão cedo, provavelmente manter-me-ia aqui por longos três meses, já que dizem que sobrevivemos apenas três dias sem água, eu estava decidida esperar pelas minhas últimas 48 horas de vida. _ Tudo bem. – disse. _ Já que você não vai querer o que eu te trouxe. – levantou-se e pegou uma mochila que eu não havia reparado que estava lá, e trouxe até a mesa. De lá ele tirou um caixa grande de pizza, o cheiro inundou o galpão, se eu ainda tivesse água em meu corpo, sem duvidas estaria salivando. Assim que ele abriu a caixa, mostrando uma bela de uma Pizza Portuguesa, meu estômago roncou tão alto que até Logan se assustou. Rindo de canto, querendo me provocar mais ainda, ele pegou um grande pedaço e a mordeu com prazer. _ Ah, você não faz ideia de como esta pizza está especialmente boa hoje. – falou ainda com a boca meio cheia. Meu estômago tornou a fazer barulho, desta vez, mais longo, a fome parecia roer tudo dentro de mim, exigindo um pedaço, pelo menos um pedaço daquela pizza.
 Ótimo Demetria, nem mesmo morrer com dignidade você consegue mais.
_ Eu quero. – minha boca seca e a dor de garganta, causada pelo excesso de esforço do dia anterior, fizeram com que, mesmo eu tendo falado com todas minhas forças, minha voz tenha saído como um sussurro. Logan riu satisfeito.
_ O que você quer Demetria? – perguntou, mordendo mais um pedaço da pizza.
_ Comida... Água... Meu braço dói. – as palavras saiam com dificuldade, não só pela sede, ou pela fome, mas a humilhação, estar naquele estado de submissão era humilhante.
_ Sério? Você parece tão bem. – disse sínico, era obvio que ele não me daria tudo o que eu queria só com um simples pedido, eu havia desafiado ele, meu silêncio o incomodara, e agora ele queria mostrar que no fim das contas, quem estava ganhando o jogo aqui era ele, e apenas ele.
_ Por favor? – pedi, eu queria chorar mais não conseguia, eu já havia chorado tanto, minha cabeça doía a ponto de explodir, talvez, se eu tivesse ficado quieta, mantido meu voto de silêncio, minhas 48 horas seriam bem menos.
_ Assim está bem melhor, sabia? Acho que você merece esse pedaço. – disse tirando mais um pedaço da pizza. _ Você quer? – perguntou. Assenti. Ele jogou o pedaço até a mim, e ele caiu no chão, bem perto do meu pé.
_ Ah, que pena. – disse falsamente. _ Você quer que eu te solte? Você pode pega-lo do chão. – sugeriu. Não respondi. _ Tudo bem, eu pego outro pedaço para você, durante a noite passam muitas baratas e ratos por aqui, aposto que eles adorarão esse pedaço aí. – riu. _ Você provavelmente conheceu alguns desses animais fofos ontem a noite. – Continuei calada. Ao ver que eu não iria dizer mais nada, ele tornou a pegar outro pedaço de pizza, desta vez pôs em um prato de papelão que pegou dentro da mochila. Ele veio até a mim e colocou o prato com a pizza, no meu colo. _ Vou soltar suas mãos, não tente dar uma de espertinha, seus pés ainda estão presos, e a porta está trancada a cadeado. Assenti. Ele deu a volta e soltou meu braço. No primeiro momento movimenta-los doeu, mas foi uma dor de alivio, assim que vi minhas mãos, percebi o porquê eu não as sentia mais, elas estavam rochas, mas conseguia movê-las, e meu braço inteiro formigava. _ Você consegue movimenta-las? Consegue comer sozinha? – perguntou, com um tom preocupado. Era claro que era ilusão. Eu e minha estupida mania de acreditar em quem eu não deveria.
_ Consigo. – menti. Minhas mãos, além de arroxeadas, também estavam inchadas, e os movimentos dos meus dedos estavam bem limitados. Percebendo minha dificuldade, ele pegou o pedaço da pizza e a segurou frente a minha boca. _ Toma. – olhei-o sem reação. _ Prefere continuar com fome?  - perguntou. Acabei aceitando sua ajuda e comendo. Mal senti o gosto da pizza. Engolia quase que pedaços inteiros, minha fome estava pior do que eu pensava. _ Ei, respire um pouco. – disse rindo e afastando o último pedaço que sobrara. Logo depois ele colocou o pequeno pedaço restante em minha boca, tentei mastigar com mais calma. Após eu engolir ele abriu uma garrafa de água, e também a segurou para que eu tomasse. Quase me engasguei. Se não fosse pelos pequenos intervalos que ele fazia para que eu engolisse, eu teria me afogado em meu próprio desespero por aquele liquido divino. Não demorou muito para que a garrafa estivesse completamente vazia. Senti meu estomago pesar. Provavelmente isso não era um bom sinal, mas naquele momento eu não queria me importar com isso, o importante era que eu tinha comido.
_ Qual é o seu plano? – perguntei, assim que ele retornou para seu lugar de antes. _ Porque não me mata logo? – ele riu. _ Eu estou falando sério.
_ Eu não quero te matar. – disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo. _ Claramente que esta seria a melhor opção. – suspirou. _ Mas creio que não é a única. Por isso que estou te mantendo aqui... Enquanto penso nas opções...
_ E se não houver nenhuma?
_ Não trabalho com essa alternativa. Não sou um louco. Parte do que disse é verdade. Mas minha raiva não me faz um assassino. Fora que eu te amo.
_ Me ama? Que linda maneira de mostrar que me ama.
_ Não seja tão má, Demi, você também me machucou.
_ Eu não te sequestrei, nem te fiz passar fome.
_ A minha dor foi emocional, a sua será a dor física... – disse dando de ombros.
_ Se sua raiva não te faz um assassino, então porque matou meu pai? – ele parou e olhou-me com estranheza.
_ Seu pai? Você realmente acha que eu matei seu pai? – aproximou-se, até estar poucos centímetros a minha frente.
_ Você disse que eu estava chegando perto, e eu estou quase descobrindo quem o matou...
_ E então você acha que fui eu, e que é por isso que você está aqui. – interrompeu-me.
_ E não é? – perguntei. Agora era eu quem estava confusa.
_ Não. – respondeu. _ Claro que não. Quando eu me desesperei achando que o tinha matado, eu não estava mentindo.
_ Então por quê? Porque eu estou aqui? – ele olhou-me sem responder por longos minutos.
_ Você não faz ideia não é? – perguntou, se afastando novamente. Neguei com a cabeça. _ Nada lhe passa pela cabeça? – perguntou agora com um leve sorriso no rosto. _ Incrível. – disse apenas.
_ Vou ficar sem resposta? – perguntei.
_ Acho que te preferia com fome.
_ Eu ainda estou com fome. – falei e ele gargalhou. Não era mentira, eu ainda sentia fome, eu provavelmente comeria aquela pizza inteira, e se não estivesse com tanto nojo, não perdoaria nem mesmo o pedaço caído no chão. Meu estômago não parecia compartilhar muito desta ideia, mas o resto do meu corpo inteiro achava a ideia tentadora.
_ Até onde eu vi, vocês estavam investigando um tal de Antony Herbert...
_ Oh! – seu sorriso se abriu. _ Você? – ele riu como se estivesse orgulhoso e também achasse minha surpresa a coisa mais hilária do mundo. _Mas por quê?
_ Existem muitas coisas que você não sabe. Coisas que você não deveria saber...
_ Me diga. – exigi. _ Por favor. – completei, percebendo que minha posição de refém não me incluía o direito de exigir nada.
_ Status, respeito, direitos, uso próprio, compra de silêncio... Há varias razões. Depende da situação.
_ Você não precisava fazer isso.
_ Se eu não precisasse, eu não teria feito. – respondeu. _ Não é questão de ganancia, Demi, é de sobrevivência.
_ Meu pai não precisou fazer nada disso.
_ E você é ingênua demais.
_ Não ouse a sujar o nome do meu pai. – exaltei-me.
_ Não estou sujando o nome dele. Mas tampouco o colocarei num altar, como se ele fosse santo. Seu pai até merece tal devoção. E no fundo acho completamente justo você ter se jogado nesta investigação. Só lhe faltou algo, Demi, um detalhe bem pequeno.
_ O que? – perguntei.
_ Saber dos segredos de seu pai.
_ Como assim?
_ Não é fácil descobrir quem foi. É uma pessoa improvável.
_ Você sabe quem é? – perguntei.
_ Eu tinha informações. E com elas consegui comprovações. Simples.
_ Quem? – perguntei atônita.
_ Porque eu iria lhe dizer quem?
_ Eu estou aqui, muito provavelmente não vou sair tão cedo, não há o que temer. – ele pareceu ponderar minha resposta. Sentou-se novamente em sua cadeira de ferro.
_ O que você faria por mim? O que você fará por mim para ter esta resposta?
_ Tudo. – respondi sem pestanejar.
_ Então me diga Demi. – levantou-se e reaproximou-se de mim, ficando perto demais para meu gosto. _ Até onde vai seu tudo?

Continua

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43 – 07/04
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45 – 12/04

Nessa: Postado, espero que tenha gostado. Obrigada por comentar. bjss
Caah: Não foi ele, mas ele deu uma dica, será que você advinha? Obrigada por comentar. bjss
Milena: Espero que tenha gostado deste também. Obriga por comentar. bjss
Thais: Pois é, no final ele está mesmo envolvido, mas ainda não é o assassino. Obrigada por comentar. bjss
Cassia: Conseguir ele conseguiu, já se o Joe salva ela é coisa para próximo capítulo. Obrigada por comentar. bjss

2 comentários:

  1. Mulheer nao faz mais isso! Praticamente o mês td sem postar :'(. Bjs

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  2. Demorou mto pra postar :( MEU DEUS ATE ONDE VAI ESSE TUDO?

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