Meus olhos tiveram dificuldade de se acostumar
com a luz, mesmo sendo uma luz fraca, provavelmente de uma lanterna, porém eu
estava tão acostumada com a escuridão que até mesmo a luz de um fósforo iria
parecer demais para meus olhos naquele momento. Ainda assim, nem mesmo era
necessário enxergar bem para saber quem estava chegando, no fundo, eu até mesmo
preferiria nem mesmo enxergar.
_ Estão
procurando por você, sabia? – perguntou com tom irônico. Não falei nada, eu tinha gritado e esperneado
e o incomodado no primeiro dia, mas hoje estava cansada demais para isso, era
obvio que seja lá onde eu estava não havia ninguém a minha volta, e talvez, só talvez, ele achasse o meu silencio
mais incomodo que meu escândalo. Nem mesmo me acostumei com a luz da lanterna,
e ele logo achou o interruptor e ligou a única luz existente no local, que não
era tão mais forte, mas pelo menos dava uma amplitude de visão um pouco maior. _
Foi até mesmo polícia lá em casa, procuraram vestígios até mesmo no meu carro.
Nick também foi. Hoje mais cedo. – riu em deboche e colocou a lanterna encima
da mesa que estava bem ao lado da cadeira de ferro da qual se sentara. Até
mesmo o ato de sentar-se, todo à vontade, em uma cadeira tão desconfortável,
pareceu uma afronta mim, enquanto ele sentava-se todo largado, eu estava com as
mãos amarradas para trás, e com os pés amarrados nos pés da cadeira, e com a
cintura amarrada ao encosto da cadeira. Meu corpo nem mais doía, agora o que eu
sentia era uma mistura de ardência com dormência com formigamento. Meus pés
formigavam sem parar, minha bunda doía como estivesse martelando minhas
nádegas, eu não sentia minhas mãos, e meus braços iam pelo mesmo caminho, minha
coluna ardia, reclamava por uma troca de posição_ Triste que eles me achem
ignorante ao ponto de te colocar no meu carro e ainda te levar para o meu
apartamento. Pensei que causava a impressão de ser mais inteligente. – disse,
não sei se para mim ou para si próprio. _ Cansou de usar sua voz ontem? –
perguntou. Continuei sem dizer nada. Ele reacomodou-se na cadeira, sentando-se
inclinado para frente e apoiando seus cotovelos em suas coxas. _ Que tal uma
troca? Uma informação, por algumas palavras? – perguntou. Pelo jeito minha
troca de postura estava funcionando. Continuei sem dizer nada. _ Vou considerar
seu silêncio como um “sim” – disse e tornou a recostar-se na cadeira. _ Ontem
você perguntou onde estávamos... Estamos em uma espécie de galpão, fora da
cidade, mais precisamente em um terreno quase que abandonado numa rodovia
interestadual. Pessoas alugam esses galpões para deixarem os entulhos que não
querem mais, no meu caso não só entulhos. – riu de canto. _ De três em três
meses acontecem alguns leilões das coisas aqui, quando um locatário não paga o
aluguel do galpão. –disse. _ O último leilão aconteceu há dois dias, o que me
dá bastante tempo para pensar sobre o quê fazer com você. – ele esperou por
alguma reação minha, mas continuei quieta. _ Sua vez. – começou. _ Seu braço
está doendo? – perguntou, olhei-o de canto de olho, ele ainda pergunta? Eu nem mesmo mais sinto meu braço! _ Você está
com fome? Ou sede? – perguntou após ver que eu não respondia. _ Eu fiz minha parte,
seria melhor para você, você fazer a sua também. – sorriu cinicamente.
Continuei calada. Ele suspirou irritado. _ Eu não trocarei seu braço de posição,
não lhe darei água, muito menos comida, se você não disser que quer. – disse.
Morrer de inanição não pareceu uma má opção, algo me dizia que Logan não tinha
a intensão de me soltar tão cedo, provavelmente manter-me-ia aqui por longos
três meses, já que dizem que sobrevivemos apenas três dias sem água, eu estava
decidida esperar pelas minhas últimas 48 horas de vida. _ Tudo bem. – disse. _
Já que você não vai querer o que eu te trouxe. – levantou-se e pegou uma
mochila que eu não havia reparado que estava lá, e trouxe até a mesa. De lá ele
tirou um caixa grande de pizza, o cheiro inundou o galpão, se eu ainda tivesse
água em meu corpo, sem duvidas estaria salivando. Assim que ele abriu a caixa,
mostrando uma bela de uma Pizza Portuguesa, meu estômago roncou tão alto que até Logan se assustou. Rindo de canto, querendo
me provocar mais ainda, ele pegou um grande pedaço e a mordeu com prazer. _ Ah, você não faz ideia de como esta
pizza está especialmente boa hoje. – falou ainda com a boca meio cheia. Meu
estômago tornou a fazer barulho, desta vez, mais longo, a fome parecia roer
tudo dentro de mim, exigindo um pedaço, pelo menos um pedaço daquela pizza.
Ótimo
Demetria, nem mesmo morrer com dignidade você consegue mais.
_ Eu quero. –
minha boca seca e a dor de garganta, causada pelo excesso de esforço do dia
anterior, fizeram com que, mesmo eu tendo falado com todas minhas forças, minha
voz tenha saído como um sussurro. Logan riu satisfeito.
_ O que você
quer Demetria? – perguntou, mordendo mais um pedaço da pizza.
_ Comida...
Água... Meu braço dói. – as palavras saiam com dificuldade, não só pela sede,
ou pela fome, mas a humilhação, estar naquele estado de submissão era
humilhante.
_ Sério? Você
parece tão bem. – disse sínico, era obvio que ele não me daria tudo o que eu
queria só com um simples pedido, eu havia desafiado ele, meu silêncio o
incomodara, e agora ele queria mostrar que no fim das contas, quem estava
ganhando o jogo aqui era ele, e apenas
ele.
_ Por favor? –
pedi, eu queria chorar mais não conseguia, eu já havia chorado tanto, minha
cabeça doía a ponto de explodir, talvez, se eu tivesse ficado quieta, mantido
meu voto de silêncio, minhas 48 horas seriam bem menos.
_ Assim está
bem melhor, sabia? Acho que você merece esse pedaço. – disse tirando mais um
pedaço da pizza. _ Você quer? – perguntou. Assenti. Ele jogou o pedaço até a
mim, e ele caiu no chão, bem perto do meu pé.
_ Ah, que pena. – disse falsamente. _ Você
quer que eu te solte? Você pode pega-lo do chão. – sugeriu. Não respondi. _
Tudo bem, eu pego outro pedaço para você, durante a noite passam muitas baratas
e ratos por aqui, aposto que eles adorarão esse pedaço aí. – riu. _ Você
provavelmente conheceu alguns desses animais fofos ontem a noite. – Continuei
calada. Ao ver que eu não iria dizer mais nada, ele tornou a pegar outro pedaço
de pizza, desta vez pôs em um prato de papelão que pegou dentro da mochila. Ele
veio até a mim e colocou o prato com a pizza, no meu colo. _ Vou soltar suas
mãos, não tente dar uma de espertinha, seus pés ainda estão presos, e a porta
está trancada a cadeado. Assenti. Ele deu a volta e soltou meu braço. No
primeiro momento movimenta-los doeu, mas foi uma dor de alivio, assim que vi
minhas mãos, percebi o porquê eu não as sentia mais, elas estavam rochas, mas
conseguia movê-las, e meu braço inteiro formigava. _ Você consegue movimenta-las?
Consegue comer sozinha? – perguntou, com um tom preocupado. Era claro que era
ilusão. Eu e minha estupida mania de acreditar em quem eu não deveria.
_ Consigo. –
menti. Minhas mãos, além de arroxeadas, também estavam inchadas, e os movimentos
dos meus dedos estavam bem limitados. Percebendo minha dificuldade, ele pegou o
pedaço da pizza e a segurou frente a minha boca. _ Toma. – olhei-o sem reação.
_ Prefere continuar com fome? -
perguntou. Acabei aceitando sua ajuda e comendo. Mal senti o gosto da pizza. Engolia
quase que pedaços inteiros, minha fome estava pior do que eu pensava. _ Ei,
respire um pouco. – disse rindo e afastando o último pedaço que sobrara. Logo
depois ele colocou o pequeno pedaço restante em minha boca, tentei mastigar com
mais calma. Após eu engolir ele abriu uma garrafa de água, e também a segurou
para que eu tomasse. Quase me engasguei. Se não fosse pelos pequenos intervalos
que ele fazia para que eu engolisse, eu teria me afogado em meu próprio
desespero por aquele liquido divino. Não demorou muito para que a garrafa
estivesse completamente vazia. Senti meu estomago pesar. Provavelmente isso não
era um bom sinal, mas naquele momento eu não queria me importar com isso, o
importante era que eu tinha comido.
_ Qual é o seu
plano? – perguntei, assim que ele retornou para seu lugar de antes. _ Porque
não me mata logo? – ele riu. _ Eu estou falando sério.
_ Eu não quero
te matar. – disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo. _ Claramente que
esta seria a melhor opção. – suspirou. _ Mas creio que não é a única. Por isso
que estou te mantendo aqui... Enquanto penso nas opções...
_ E se não
houver nenhuma?
_ Não trabalho
com essa alternativa. Não sou um louco. Parte do que disse é verdade. Mas minha
raiva não me faz um assassino. Fora que eu te amo.
_ Me ama? Que
linda maneira de mostrar que me ama.
_ Não seja tão
má, Demi, você também me machucou.
_ Eu não te
sequestrei, nem te fiz passar fome.
_ A minha dor
foi emocional, a sua será a dor física... – disse dando de ombros.
_ Se sua raiva
não te faz um assassino, então porque matou meu pai? – ele parou e olhou-me com
estranheza.
_ Seu pai?
Você realmente acha que eu matei seu pai? – aproximou-se, até estar poucos
centímetros a minha frente.
_ Você disse
que eu estava chegando perto, e eu estou quase descobrindo quem o matou...
_ E então você
acha que fui eu, e que é por isso que você está aqui. – interrompeu-me.
_ E não é? –
perguntei. Agora era eu quem estava confusa.
_ Não. –
respondeu. _ Claro que não. Quando eu me desesperei achando que o tinha matado,
eu não estava mentindo.
_ Então por
quê? Porque eu estou aqui? – ele olhou-me sem responder por longos minutos.
_ Você não faz
ideia não é? – perguntou, se afastando novamente. Neguei com a cabeça. _ Nada
lhe passa pela cabeça? – perguntou agora com um leve sorriso no rosto. _
Incrível. – disse apenas.
_ Vou ficar
sem resposta? – perguntei.
_ Acho que te
preferia com fome.
_ Eu ainda
estou com fome. – falei e ele gargalhou. Não era mentira, eu ainda sentia fome,
eu provavelmente comeria aquela pizza inteira, e se não estivesse com tanto
nojo, não perdoaria nem mesmo o pedaço caído no chão. Meu estômago não parecia
compartilhar muito desta ideia, mas o resto do meu corpo inteiro achava a ideia
tentadora.
_ Até onde eu
vi, vocês estavam investigando um tal de Antony Herbert...
_ Oh! – seu
sorriso se abriu. _ Você? – ele riu como se estivesse orgulhoso e também
achasse minha surpresa a coisa mais hilária do mundo. _Mas por quê?
_ Existem
muitas coisas que você não sabe. Coisas que você não deveria saber...
_ Me diga. –
exigi. _ Por favor. – completei, percebendo que minha posição de refém não me
incluía o direito de exigir nada.
_ Status, respeito, direitos, uso próprio, compra de silêncio... Há
varias razões. Depende da situação.
_ Você não precisava fazer isso.
_ Se eu não precisasse, eu não teria feito. – respondeu. _ Não é questão
de ganancia, Demi, é de sobrevivência.
_ Meu pai não precisou fazer nada disso.
_ E você é ingênua demais.
_ Não ouse a sujar o nome do meu pai. – exaltei-me.
_ Não estou sujando o nome dele. Mas tampouco o colocarei num altar,
como se ele fosse santo. Seu pai até merece tal devoção. E no fundo acho
completamente justo você ter se jogado nesta investigação. Só lhe faltou algo,
Demi, um detalhe bem pequeno.
_ O que? – perguntei.
_ Saber dos segredos de seu pai.
_ Como assim?
_ Não é fácil descobrir quem foi. É uma pessoa improvável.
_ Você sabe quem é? – perguntei.
_ Eu tinha informações. E com elas consegui comprovações. Simples.
_ Quem? – perguntei atônita.
_ Porque eu iria lhe dizer quem?
_ Eu estou aqui, muito provavelmente não vou sair tão cedo, não há o que
temer. – ele pareceu ponderar minha resposta. Sentou-se novamente em sua
cadeira de ferro.
_ O que você faria por mim? O que você fará por mim para ter esta
resposta?
_ Tudo. – respondi sem pestanejar.
_ Então me diga Demi. – levantou-se e reaproximou-se de mim, ficando
perto demais para meu gosto. _ Até onde vai seu tudo?
Continua
Próximas postagens:
43 – 07/04
44 – 11/04
45 – 12/04
Nessa: Postado, espero que tenha gostado.
Obrigada por comentar. bjss
Caah: Não foi ele, mas ele deu uma dica, será
que você advinha? Obrigada por comentar. bjss
Milena: Espero que tenha gostado deste também.
Obriga por comentar. bjss
Thais: Pois é, no final ele está mesmo
envolvido, mas ainda não é o assassino. Obrigada por comentar. bjss
Cassia: Conseguir ele conseguiu, já se o Joe
salva ela é coisa para próximo capítulo. Obrigada por comentar. bjss
Mulheer nao faz mais isso! Praticamente o mês td sem postar :'(. Bjs
ResponderExcluirDemorou mto pra postar :( MEU DEUS ATE ONDE VAI ESSE TUDO?
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