O
dia tinha sido perfeito, tive um momento em família com Jonathan e Demi,
brincamos, comemos, conversamos. Havia sido uma experiência boa e natural. Por
alguns momentos ficava claro os 14 anos de distancia, ainda tínhamos alguns
problemas para nos conectar, ainda estávamos descobrindo o que atraia uns aos
outros, o que cada um gostava e o que cada um não gostava. Descobri, por
exemplo, que assim como eu, Jonathan não gosta de lentilhas, nem de tomate (a
não ser o molho de tomate na pizza), e assim como Demetria, Jonathan ama
misturar doce com salgado e cebola, duas coisas que eu nunca fui muito fã,
apesar de comer ocasionalmente.
_
Jonathan disse que se divertiu com você e com Demi hoje mais cedo. – Nicholas diz
assim que chega em casa, vejo pelo seu olhar o quanto ele está cansado, mas
também vejo que ele quer conversar de verdade.
_
Sim, foi muito bom, eu não pensei que isso iria acontecer enquanto eu estivesse
aqui. – admito.
_
Você realmente vai embora? – ele pergunta.
_
Eu não sei. – respondo e olho para os lados para ver se estamos realmente
sozinhos. Estamos. _ Eu não quero ir, a Demi me ama e...
_
E...?
_
O Jonathan me chamou de pai. – digo e Nicholas ri para mim. _ E isso...
_
Te assusta. – ele conclui quando viu que eu não conseguia finalizar a frase.
_
Muito. – assumo. _ Isso é bobo, eu sei, era tudo o que eu mais queria, mas
agora eu estou apavorado.
_
Eu sei como você se sente. – ele se solidariza. _ Quando a Demi disse que ela
estava gravida eu tinha acabado de te ver, todo entubado, lá, deitado naquela
cama, possivelmente por minha culpa... Cara, eu nunca senti tanto desespero.
_
Como você superou isso?
_
Porque eu vi que era a minha única opção. Eu tinha que ajudar a Demi e se necessário
eu teria que ser um exemplo para aquela criança.
_
E você é.
_
Eu tento. – ele diz, tento não se mostrar muito. _ Eu cometi erros de lá para
cá, fui imprudente, cabeça quente, como alguns podem dizer, tanto eu quanto
Demi fizemos coisas na hora do aperto, corremos riscos, no fim tudo deu certo,
mas eu não sei se repetiria tudo, caso eu tivesse a oportunidade de voltar
atrás. Eu gosto da minha vida como esta hoje, se nada disse tivesse acontecido
eu não teria amadurecido, nem mesmo teria descoberto minha verdadeira vocação.
Mas eu também sinto falta do antigo eu, de acampar, ter energia e tempo para
escalar montanhas, sinto falta de não temer pular de paraquedas, pois se algo
der errado eu tenho muito a perder. Eu sei que o antigo Nick não voltará, e
isso pode parecer triste, mas quando eu chego em casa eu percebo que eu posso
ser feliz e muito feliz com o que eu tenho aqui, uma grande amiga e fiel
escudeira como Demi, um meio filho. – rimos com a forma que ele fala. _ um
sobrinho que é um filho maravilhoso, as vezes um pouco rebelde, mas bom, que
sabe a hora de parar, que sabe respeitar, que sabe perdoar.
_
Você o ama, não é?
_
Sim. – Nicholas responde sem pestanejar. _ e por ama-lo, que eu te digo, Joseph,
você vai sentir muita falta da nossa mãe, não há um dia que eu não sinta falta
dela, mesmo após de tudo, mesmo após toda a humilhação, todas as brigas, eu
ainda sinto falta dela, e você vai sentir Joe, mas fique, vale a pena, viva o
amor que Demi tem para te dar, seja o pai de Jonathan, eu sei que 14 anos é
muito, foi uma grande parte da vida deles, da minha vida nem se fala, mas,
ainda dá tempo de recuperar.
_
Você acha que mamãe nunca voltará? – pergunto. _A ser como antes?
_
Quando nosso pai morreu e ela pediu a guarda de Jonathan, eu pensei que ela
tinha mudado, eu sei que não foi isso, que no fim ela só queria descobrir um
contato para poder nos infernizar mais um pouco, mas eu gosto de pensar que no
momento em que ela pegou nosso telefone, que ela pensou um pouco, pensou em
pedir perdão, pensou em nos pedir para voltar, pensou que sentia nossa falta,
que queria sua família de volta, eu gosto de pensar também que com a sua volta
que ela vai mudar, que você vai abrir a “porta” do coração da nossa mãe e que
ela vai voltar a ser quem era, mas... Eu sou otimista. A Demi não pensa o mesmo
que eu. Talvez porque para ela tenha sido pior, ou talvez porque ela não seja
otimista. Ou no final eu seja apenas um bobo.
_
Eu quero acreditar que nossa mãe pode mudar. – eu digo. _ Eu quero que ela
mude.
_
Você vai acabar voltando, não vai?
_
Eu queria que ela visse meu lado. – digo. _ Mas temo que Demi esteja certa, que
se eu for eu não seja mais capaz de voltar. – digo.
_
Isso depende do quão convencido você está de que é você que está do lado certo.
– Nick diz.
_
Como assim?
_
Você enganou nossa mãe para chegar aqui porque estava convencido que este era o
certo a se fazer, se você voltar para lá é porque você crê que é o certo a se
fazer e se você for e conseguir voltar, de duas uma: Ou você a convenceu ou ela
não te corrompeu.
_
Eu tenho certeza do que quero. Eu quero minha família, minha família com você,
com Demi, com Jonathan e com nossa mãe. – digo.
_
Então vá. – ele diz. _ Eu sei que há pouco lhe pedi para ficar, mas se é isso
que você quer e se você acredita que pode fazer isso, vá. Eu te apoiarei no que
for preciso.
Passamos
uma noite calma, jantamos todos juntos, conversamos um pouco mais e assim pude
conhecer ainda mais Jonathan, Nicholas estava tentando me preencher com o máximo
de histórias que eles viveram juntos, como forma de me ajudar conectar mais
ainda com meu filho.
Após
o jantar Nicholas foi dormir, Jonathan ficou um pouco mais comigo e com Demi,
conversamos um pouco mais, porém depois de um tempo ele acabou se distraindo em
seu telefone e não demorou muito para ele ir para seu quarto jogar.
Demi
e eu fomos ao quarto dela.
Já
era tarde, mas eu não tinha sono, olhei para o lado e vi que, mesmo com as
luzes já apagadas, ela também ainda estava acordada.
_
Amanhã é o dia. – eu digo e ela olha para mim.
_
O dia? – ela pergunta confusa.
_
Que eu vou embora.
_
O que? – ela, se levanta para sentar-se na cama e liga a luz do abajur a seu
lado. _ Você vai embora?
_
Eu estava pensando...
_
Sabe, eu finalmente pensei que seriamos felizes. – ela me interrompe.
_
E seremos, mas...
_
Mas nada Joseph, você quer ir? Você quer abandonar seu filho? Você quer me
abandonar? Então vá.
_
Demi, não é assim. – me altero um pouco. _ Eu vou, mas eu volto.
_
Você não sabe.
_
Eu fugi dela uma vez, eu faço isso novamente se for necessário.
_
Não, se você voltar ela vai estar mais atenta, você vai achar que está fugindo
novamente, mas vai estar apenas trazendo ela também.
_
Eu só a trarei se ela prometer que vai se redimir.
_
Prometer é fácil Joseph, eu posso te prometer o que eu bem entender. Agora cumprir?
Cumprir é algo totalmente diferente.
_
Demi, eu não estou te abandonando. Eu juro.
_
Você não sabe.
_
Você tampouco.
_
Não, eu sei sim, eu sei do que sua mãe é capaz, você que não sabe.
_
Eu também sei que minha mãe não é um monstro. – digo e Demi para por alguns
segundos.
_
Não foi isso que eu quis dizer. – ela se mostra arrependida.
_
Eu entendi o que você quis dizer e sim, eu sei que minha mãe fez da sua vida um
inferno, mas, ela nem sempre foi um monstro e você sabe disso, você também
conheceu o melhor dela.
_
Eu conheci, e realmente achei que esse melhor sobressairia, mas isso não
aconteceu, assim como eu não sou a mesma Demetria de antes, a sua mãe não é a
mesma de antes, e talvez ela nem mesmo saiba voltar a ser a mesma de antes.
_
Então você quer que eu a abandone? Que eu escolha?
_
Sim. – ela hesita, mas responde.
_
Ela me pediu o mesmo.
_
Não me compare com ela.
_
Qual a diferença?
_
Eu não a machuquei do jeito que ela me machucou.
_
Eu sei, mas ela não sabe disso.
_
Eu não acredito que você está falando isso.
_
Demi, eu quero uma família completa.
_
Você tem.
_
Eu preciso da minha mãe nela.
_
Você que sabe Joseph, é você que esta escolhendo. – ela diz, se vira para o
lado, deitando novamente.
_
Demi... – ela desliga o abajur.
_
Boa noite Joseph.
Quando
acordamos vejo que Demi ainda não está bem comigo.
Ela
passa o café-da-manhã inteiro em silêncio. Jonathan percebe e pergunta e quem
entrega a resposta sou eu.
_
Eu vou embora hoje. – digo.
_
Mas por quê? – ele pergunta.
_
Eu preciso conversar com minha mãe...
_
Mas ela não gosta da gente. – ele diz.
_
Porque ela não conhece vocês... E eu vou fazê-la conhecer vocês melhor e gostar
de vocês.
_
Eu não quero isso.
_
Jonathan. – quem o reprime é Nick.
_
Ela já tentou nos separar uma vez. – Jonathan se dirige a Nicholas.
_
Isso não vai acontecer novamente. – quem diz sou eu.
_
Isso não é justo. – Jonathan para de comer e cruza os braços. _ Mãe, fale
alguma coisa. – ele pede. Demetria olha para ele com um olhar de dor e depois
olha para mim e sinto que ela me julga.
_
Eu não posso prendê-lo aqui. – ela diz. _ Ele tomou a decisão dele.
_
Mas...
_
Jonathan, não adianta. – ela grita. _ Agora vê se come e pare de insistir. – o garoto
não obedece.
_
Não estou com fome. – sai da mesa e volta a seu quarto.
_
Isso foi exagero, Demi. – Nicholas diz.
_
Quer saber? Eu também perdi a fome. – ela diz, se levanta e também vai a seu
quarto.
_
Isso não vai dar certo. – eu digo.
_
Eu converso com eles depois. – Nicholas diz. _ Só prometa que vai fazer sua
parte. – ele diz. _ Você vai voltar.
_
Eu vou voltar.
Minha
despedida não foi nada como eu pensei que seria, ganhei um abraço rápido de
Jonathan e de Demi apenas um adeus, nada mais.
Nicholas
me leva até a rodoviária e eu uso parte do dinheiro de Jacob me deu para
comprar a passagem de volta, fico feliz ao ver que voltarei com a maior parte
sem gastar.
_
Não fique assim, tudo vai dar certo no final.
_
Eles me odeiam agora, não é?
_
Não, eles só estão chateados. Se te consola, saiba que ambos sabem fazer um
drama como ninguém. – riu.
_
Sabe. Vá em paz, faça o que você precisa fazer, e volte, vamos estar de braços
abertos.
Abraço
meu irmão e entro no ônibus.
O
ônibus partirá em breve, então me acomodo em minha poltrona.
Percebo
que o telefone está vibrando e quando vejo o número me surpreendo. É minha mãe.
_
Oi. – digo.
_
Oi. – sua voz é calma.
_
Aconteceu alguma coisa? – pergunto.
_
Talvez.
_
E o que foi?
_
Eu.
_
O que aconteceu com você? – pergunto, talvez sua voz não estivesse calma, mas
sim fraca e ela estivesse doente.
_
Nada de grave. – ela me acalma. _ Demi me ligou. – ela diz.
_
O que?
_
Sim, eu sei, eu também não esperava por isso. – ela diz. _ Ela disse que você
esta voltando.
_
Sim. – digo. _ Eu prometi que voltaria.
_
Você disse que queria se dar bem com seu filho. – ela me relembra.
_
E quero. – vejo que o motorista fecha a porta do ônibus, estamos prestes a
partir. _ Ele é um ótimo menino, e eu quero que você o conheça.
_
Eu sei. Ela disse o porque de você está voltando.
_
Eu pretendo voltar para cá um dia. – eu digo.
_
Ela me deu o endereço dela. – minha mãe disse.
_
Como assim?
_
Fazer as pazes lhe fará feliz? – ela pergunta.
_
É tudo o que eu mais quero.
_
Eu ainda tenho minha convicção, mas eu te amo, eu quero ver você feliz.
_
Mãe, eu estou entendendo direito? – sinto meu coração disparar.
_
Sim, ela disse estar disposta a me perdoar e eu disse o mesmo a ela.
_
Então...
_
Fique com seu filho, Joseph, eu ainda não estou preparada para vê-los, mas...
Eu pretendo ir aí, eu tentarei ser uma boa avó, assim como seu pai foi um bom
avô. – ela diz.
_
Mãe, eu te amo. Eu te amo muito.
_
Eu também te amo. Eu te amo muito, meu filho.
Assim
que desligo o telefone me levanto e vou até a frente, onde o motorista fica.
_
Abre a porta. – peço.
_
Que? – ele pergunta confuso.
_
Eu não vou mais viajar, abre a porta.
_
Senhor, eu não posso.
_
Abra a porta, por favor, abra a porta, eu preciso sair. – começo a gritar o que
o assusta.
Recebo
alguns olhares de reprovação dos outros passageiros, mas ignoro.
O
motorista abre a porta e eu saio.
Já
não estamos na rodoviária, mas estamos perto, ainda posso ver o prédio.
Volto
para lá.
Vou
até a passarela em que o ônibus em que entrei estava estacionado, na esperança
de ver Nicholas, mas ele já não está
mais lá.
Parto
então para a entrada.
Quando
estou saindo vejo alguém que me parece família, ela está se afastando, indo
embora.
_
Demi! – eu grito. Ela olha. Não tinha visto, mas Jonathan também estava com
ela, um pouco mais a frente.
Demi
volta correndo até a mim, Jonathan também corre a minha direção.
Quando
ela chega nos beijamos.
_
Eca. – Jonathan diz, e nos separamos, eu o abraço.
_
Você vai ficar? – ela pergunta.
_
Sim. Seremos uma família. – eu digo.
_
Sempre. – ela diz.
_
Sempre. – eu respondo.
FIM
Oi gente, sei que estou postando atrasado, mas eu não consegui terminar este capítulo a tempo, eu queria colocar muita coisa e tive que me reprogramar para não ficar muita coisa de uma vez só, mas não ficar um fim sem sentido nenhum.
Queria
agradecer a todos que acompanharam esta história, foi pequena, mas que gostei
muito de fazer.
Espero
que tenha gostado do final e em breve chegarei com novidades.
Muito
obrigada por tudo
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