Meu voo pousa após
longos quarenta e cinto minutos de atraso, corro contra o tempo até chegar à
esteira das bagagens, estou sem tempo e sei que logo as reclamações começarão.
Minha bagagem
ainda não saiu, o que a essa altura parece até mesmo um jogo do destino comigo,
logo hoje, um dia tão importante, tudo o que pode dar errado, dá.
A, pelo menos,
quinze minutos atras, eu deveria estar entrando no salão da igreja, para
ensaiar o meu casamento com a mulher mais linda do universo, Demetria. Já
estamos noivos há sete anos, desde quando ainda estávamos no Ensino Médio, foi
amor à primeira vista, bom, pelo menos para mim, Demetria nunca escondeu, só começou a gostar de mim após dois meses de convivência diária na escola em que estudávamos.
Passamos vários momentos juntos e quando nos formamos decidi pedi-la em
noivado. Foi uma verdadeira festa, nossas famílias se deram bem sem nenhum
esforço e nossos amigos sempre torceram por nós. Após o noivado a pressão para
o casamento foi gigantesca, mas Demetria, sempre decidida e esperta bateu o pé
e combinamos que casaríamos apenas após nos formarmos e assim foi. Demetria, no
fim do ano retrasado se formou em Jornalismo e eu no fim do ano passado me
formei em direito. Hoje ela trabalha em um jornal local e eu trabalho na
empresa do meu tio, a empresa é grande, multinacional, sempre há um processo
ali, uma audiência aqui, alguma questão burocratística para resolver, portanto,
bastante trabalho. Agora mesmo volto de uma sede da empresa na Alemanha, lá
tive que representar a empresa em um processo de alguns trabalhadores
insatisfeitos com a condições de trabalho, foi um processo difícil e por pouco teríamos perdido, mas conseguimos chegar a um acordo que irá trazer mais custos
a empresa, porém não trará grandes prejuízos como daria caso tivéssemos que
pagar as indenizações que os trabalhadores pediam.
Como eu disse, o
processo havia sido complexo, o que me obrigou há ficar um dia a mais na
Alemanha do que o planejado a primeiro momento e como o ensaio do casamento já
estava marcado, não havia nada a se fazer, a não ser rezar para que no fim
desse tempo de fazer tudo.
Vejo minha mala.
Pego-a todo sem jeito e já corro para o estacionamento do aeroporto.
Onde deixei meu
carro mesmo?
Apenas uma semana
fora de casa e já fico todo perdido.
A7 - lembro-me.
Estacionamento A,
vaga 7. Tateio meu bolso em busca da chave enquanto vou em direção a onde
deixei meu carro. Encontro à chave no bolso esquerdo da calça.
O celular em meu
bolso começa a vibrar, não preciso nem ver para saber quem é.
Encontro meu
carro, coloco a chave na fechadura da porta e pego meu celular.
_ Oi meu amor. –
digo tentando soar tranquilo, para que, talvez, isso a tranquilize também.
_ Joseph. – ela
grita do outro lado. Pelo jeito tentar soar tranquilo não ajudou em nada. _
Onde você está? !
_ Calma, amor, eu
já estou indo. – Abro a porta do carro e o alarme dispara, é claro que eu iria
esquecer-me de desligar o alarme.
_ Joseph, nem
mesmo o padre está aguentando mais esperar, e a filha da Ruth, a Margarida, ela
tem escola amanhã cedo, ela precisa ensaiar, Joseph, ela que vai trazer as alianças! – Demetria grita desesperada.
Se há algo que
sempre admirei em Demetria era sua calma e capacidade de raciocínio que sempre
fez com que ela mantivesse a razão. Isso ate janeiro deste ano. Eu ja tinha me
formado e tinha conseguido a vaga na empresa do meu tio, nada mais nos impedia.
Então, na segunda semana de janeiro, fomos até a igreja do bairro e marcamos a
data, 02 de Novembro, foi aí, nesse exato momento que tudo desmoronou, Demetria
continua a mesma em sua essência, mas toda a calma se esvaiu dela tão rápido
quanto um balão de ar que foi furado com uma agulha. Se ela não está
trabalhando está organizando alguma coisa do casamento, escolhendo convites,
vestido, meu terno, convidados, decoração, cardápio da festa, banda ou Dj? Qual
melhor salão de festa? Vestido das madrinhas, vestido das daminhas... Ela
resolveu fazer tudo sozinha, e a única coisa que pude opinar, foi no cardápio
da festa e sabor do bolo, acabou que o bolo foi o sabor que ela escolheu e não
o meu, mas um dos pratos principais foi o que eu também queria, então considero
como minha contribuição no casamento. Eu até poderia reclamar, mas é o pai de
Demetria que estava bancando o casamento praticamente inteiro, do meu bolso só saiu as alianças e meu terno, minha mãe colaborou com o buquê e parte das flores de enfeite da igreja, todo
o resto ficou na conta de meu sogro.
_ Joseph, você
esta me ouvindo? – Desligo o alarme, jogo minha mala no banco do passageiro e
entro no carro.
_ Estou amor, mais
não e pra tanto, só estou quinze minutos atrasado. – digo consciente de que contradizê-la
não era a melhor ideia.
_Quinze minutos?
QUINZE MINUTOS JOSEPH? O ensaio estava marcado para começar às 19 horas,
Joseph!
_ As 19? –
pergunto e olho para meu relógio de pulso. São 21h17min, eu estou uma hora e
dezessete minutos atrasado. _ Nossa, amor, me desculpe, eu pensei que era as
21. Eu vou chegar o mais rápido possível. – dou partida no carro, coloco na
macha ré para sair da vaga em que estacionei.
_ Rápido não é o
suficiente. É melhor você aprender a voar, Joseph! – desliga. Sinto que ainda
escutarei muita gritaria por parte dela quando eu chegar à igreja, e por pelo
menos mais dois dias, eu realmente espero que apos o casamento eu tenha minha
calma Demetria que eu conhecia de volta. Amo-a, mas a voz dela quando grita é
estridente demais para mim.
Normalmente o
caminho do aeroporto até onde moro, que fica apenas dois quarteirões da igreja
em que casarei, é de apenas 45 minutos, caso não tenha nenhum transito. Enfio
fundo o pé no acelerador, parando apenas nos sinais de transito, provavelmente
eu receberei varias multas por excesso de velocidade, mas no momento prefiro
paga-las a ter que receber mais um telefonema enfurecido de minha noiva.
O meu celular,
que, após ter conversado, ou tentado conversar, com Demetria, joguei em meu
colo, volta vibrar. Tento olhar o mais rápido possível para a tela do celular,
para ver quem esta ligando. É meu irmão. Tiro a mão esquerda do volante, mas não
desacelero.
_ E aí mano Nicholas? – Digo.
_ E aí mano
Joseph. Resolvi te ligar após o escândalo de Demetria no telefone. – ele diz
rindo.
_ Ela fez isso na
frente de todos? – pergunto surpreso, pois sei que ela não é de fazer escândalos em publico.
_ Sim, ela estava
no altar, ao lado do padre, com nossos pais e os pais dela vendo, as madrinhas,
as damas de honra, resumindo, na frente se todos. – ri. Nicholas é meu único
irmão, ele é apenas dois anos mais novo que eu e nossas personalidades, ao
mesmo tempo em que parece igual, é totalmente diferente. Temos o mesmo gosto
para musica, filme e roupas, mas enquanto eu sou mais responsável, mais
caseiro, mais compromissado, Nicholas é um verdadeiro fanfarrão, ja se formou
na escola, mas não quis saber de faculdade, vive fazendo concertos em eletrônicos de amigos e conhecidos. Ama uma festa e adora aventuras, escaladas,
acampar, coisas que envolvem riscos é sua verdadeira paixão, é extremamente
brincalhão e não gosta de regras, provavelmente esta curtindo todo este circo
que Demeteia esta aprontando na igreja, são coisas assim que ele ama, uma boa
confusão, algo para rir, eu ate achava que era coisa da idade, que o fato dele ser
mais novo o fazia instantaneamente menos maturo, mas na idade dele eu já tinha
responsabilidades, já estava na faculdade e noivo de Demetria. Nicholas é
assim, e duvido que um dia mude.
_ Meu Deus, isso
não é nada bom. – digo.
_ Nada bom? Isso é ótimo, gravei tudo, mostrarei para os filhos que vocês terão. – diz rindo.
_ Quando Demetria
voltar a si, ela vai querer te matar por ter feito isso. – digo.
_ Vai nada, quando
ela voltar para si, ela e querer sumir do mapa. – diz e eu acabo rindo, no
fundo ele tem razão, a Demetria que eu conhecia morreria de vergonha por fazer
algo assim. _ mas olha cara, eu so queria te acalmar mesmo, ela exagerou um
pouco, todo mundo está te esperando um pouco impaciente, mas pra quem já
esperou isso tudo, mais meia hora não faz mal. – diz.
_ Você, me
acalmando? Você é realmente o Nicholas? – ele ri.
_ E só pra
balancear um pouco, imagina dois loucos te apressando?
_ Nem me fale, uma
já basta. – digo isso e viro a esquina.
A rua em que viro
é estreita, porém de duas mãos, por ter entrado em alta velocidade, sem prestar
atenção em nada, não vejo, mas dou de cara com um carro vindo à direção
contraria, tento desviar, levando meu carro para mais perto do passeio, mas não
consigo frear, vou direto ao muro.
Acordo e sinto
muitas dores. Minha coluna doe, minha garganta doe, começo a engasgar, abro os
olhos e a luz clara irrita meus olhos.
_ Meu Deus, ele
acordou, ele acordou. – escuto uma voz gritar, a voz parece ser de minha mãe,
porém há algo de diferente, como se ela estivesse um pouco rouca.
Tento vê-la, mas sinto como se todo
meu corpo estivesse agarrado a algo. Continuo engasgando e isso me irrita e
desespera.
Mãos começam a me
tocar. São médicos e enfermeiros. Logo os sinto tirando algo de minha boca, a
sensação é horrível, como se estivessem puxando algo de dentro de mim, paro de
engasgar. Sinto que eles tiram mais coisas, mas não sei dizer o quê, quero
levantar-me, mas a dor é horrível.
_ Olá Joseph. –
diz um medico que aparece em meu campo de visão. Ele sorri simpático. Eu não o
conheço. _ Bem vindo de volta.