segunda-feira, 2 de março de 2015

41. Será Eu – The Big Apple



Os olhares de Lauren e Nick no café da manhã eram tão acusadores que acabei não ficando para o desjejum, peguei apenas algumas uvas e fui ao meu quarto.
Meu dia nem mesmo tinha começado, e já não estava bom, quer dizer, para falar a verdade, minha vida não estava boa ultimamente, era como se o primeiro dominó tivesse sido empurrado, e os outros estivessem caindo também. São brigas demais, decepções demais, notícias ruins demais; minha cabeça doía por causa dos problemas, minha mente estava perdida, e eu aos poucos eu desistia de tudo. Não queria ir à faculdade, nem mesmo queria pisar novamente os pés no banco, e agora, nem mesmo ficar com minha família durante as refeições era atraente. Eu sei bem que eu não deveria agir assim, cair em uma depressão não seria a solução dos meus problemas, mas sem duvidas é tentador a opção de trancar-me no quarto, ficar sozinha, dormir, e, se possível, não mais acordar...

_ Vai falar algo ou vai ficar me olhando com essa cara de bunda? – perguntei já sem paciência, após deixar com que Lauren entrasse no meu quarto e ela ter ficado longos minutos apenas me encarando, da mesma maneira que fizera mais cedo.
_ Você tem algum tipo de retardo mental? – perguntou por fim.
_ Se você está me perguntando isso por causa da briga que tive com Joe, saiba que a tive para defender o nosso pai, caso você ainda se importe.
_ Eu me importo. – disse se sentindo ofendida com a maneira que falei com ela. _ Mas eu ainda não entendi, ele era legal, ele estava investigando tudo, que merda foi essa Demi? – Ela estava claramente confusa. Na verdade todos estavam, mas ainda assim, sem saber de nada, resolveram defender Joe, pois claro, ele é o injustiçado, eu sou a vilã da história, eu sou a idiota, como se só eu que tivesse brigado._ Eu gostava dele. – disse frustrada.
_ Claro que você gostava dele, você só gosta de quem eu não gosto.
_ Eu achava que você gostava dele. – falou.
_ Muitas coisas aconteceram, Lauren, eu não posso gostar de uma pessoa que desvaloriza o esforço do meu pai ou que jogue na minha cara sobre a morte dele de maneira tão fria. Eu posso ter arrumado briga por pouca coisa, mas o que ele falou, ele não levou em consideração meus sentimentos, nem mesmo respeitou a memoria do nosso pai. Eu nunca vou perdoa-lo por isso. – Lauren pareceu pensar um pouco antes de começar a falar.
_ Você acha que só ele pensa assim do papai? – perguntou.
_ Não sei. – respondi sincera.
_ Eu acho que não. – falou. _ Ele era o chefe, no fundo todos odeiam o chefe, o chefe é aquele em que todos querem ser, mas no momento que são percebem a besteira que é.
_ E como você sabe disso? Por acaso já foi chefe de algo? – ri. Ele era tão jovem, não sabia muito sobre nada, nem mesmo eu sabia direito, mesmo sendo mais velha.
_ Não, nem mesmo pretendo, mas eu sei que o papai teve muitos problemas com funcionários, ele tinha muita preocupação em cima dele, não era justo. Eu sei que ele ganharia menos, e não seria tão conhecido, mas às vezes eu acho que se ele não fosse o chefe, ele teria sido mais feliz... Sabe? Ele teria passado mais tempo com a gente, nós todos teríamos sido mais felizes.
_ Aonde você pretende chegar com esse assunto? – perguntei.
_ Quando eu nasci, ele já estava bem de vida, quase no topo, eu não sei como era antes, eu não sei o que era o papai não chefe, não rico, não famoso, não preocupado... Como que ele era? Você o pegou assim, não foi?
_ Não muito. – confessei. _ Quando eu nasci ele já trabalhava no banco, ele nem tinha sido gerente ainda. – respondi e percebi que ela queria que eu falasse mais, que eu lhe dissesse sobre como era. _ Nós moramos em um apartamento de só um quarto, eu não lembro muito do apartamento, mas era bem pequeno. Quando ele conseguiu ser gerente não demorou muito para que mudássemos para um lugar maior. – falei e sem perceber comecei a sorrir com as lembranças. _ Eu me lembro de depois de alguns meses ele comprou uma bicicleta para mim, eu fiquei tão feliz, eu sempre quis ter uma, mas ele nunca tinha dinheiro para isso. No começo foi bom, todo domingo saímos cedo e íamos de metrô até o Central Park, ficávamos o dia inteiro lá e ele me ensinava a andar na bicicleta. Depois de dois domingos como esse, o tempo dele ficou mais curto, não íamos mais andar de bicicleta. – suspirei.
_ Você não sabe andar de bicicleta. – observou Lauren.
_ Dois domingos não foi o suficiente para que eu conseguisse me equilibrar sem medo e como não houve outros... Então eu acabei deixando a bicicleta de lado... Depois de um tempo ele conheceu a Lara, o tempo disponível para mim ficou bem menor, eu comecei a passar a maior parte do tempo em creches, foi só após alguns anos mais que ele finalmente subiu de cargo, logo após ele e Lara se casaram, e nove meses depois você nasceu. – concluí.
_ Você tem raiva de mim? Ou da minha mãe?
_ Não, a Lara sempre foi legal comigo, e sobre você, no começo eu enciumei um pouco, mas você era fofa e eu podia brincar boneca com você. – ela sorriu.
_ Perdoa ele, vai. – pediu.
_ Que tal continuarmos a falar do papai? – perguntei, percebendo que ela mudara de assunto.
_ O Joe não fez por mal. – olhei-a nervosa. _ Você por acaso não falou nada do pai dele também? – questionou.
_ O que eu falei não foi nem perto do que ele me disse. – defendi-me.
_ Mas pode tê-lo ofendido também.
_ Ele culpa o papai pela doença do pai dele...
_ Você já parou para pensar que talvez ele culpe o banco e no que o banco transformou o pai dele e não o nosso pai?
_ Ele acha que nosso pai foi privilegiado, que as conquistas dele não foram por esforço próprio. Eu perdi vários domingos em casa, quase sempre sozinha. Eu o vi fazendo trabalhos extras que nem mesmo seriam remunerados...
_ E você falou isso com ele? Ou saiu gritando que nem uma louca? – interrompeu-me.
_ Eu não teria gritado se ele não tivesse feito tal acusação. – respondi ao perceber que ela tinha um ponto.
_ Então tente falar com ele assim, do jeito que você está falando comigo, calma, vocês não precisam terminar isso assim. Vocês nem mesmo chegaram ao final da tal investigação.
_ E nem iriamos, não importa o quanto tentamos, sempre voltamos a estaca zero.
_ E isso não significa que você tem que desistir.
_ Não é assim tão fácil Lauren. – falei rendendo-me.
_Tampouco deve ser assim tão difícil Demi.

(...)

O que Lauren me disse ficou atormentando-me durante todo o dia. Eu sei que ele deveria estar me odiando, e não o culpo, apesar de querer conversar com ele, Joe não era a minha pessoa preferida naquele momento, as suas palavras e acusações ainda doíam, mas não mais que o orgulho que me impedia de ir até ele novamente.

_ Senhorita Demetria? – chamou-me.
_ Sim.
_ A senhorita tem visita. Os seguranças querem seu aval. – falou. Como eu disse, apesar de a convivência com os seguranças estar melhor, eles continuam extremamente chatos com visitas.

Quando cheguei à sala, agradeci pela chatice dos seguranças, por impulso afastei-me, fiquei atrás deles. Os seguranças perceberam minha chegada, mas não se moveram, não sairiam dali se eu não pedisse.
_ Podemos conversar? – perguntou.
_ Não. – respondi sem pestanejar, e ao perceberam minha hostilidade, os seguranças o acercaram mais ainda, fazendo com que Logan, mesmo sendo de estatura mediana, parecesse pequeno.
_ Eu... Eu queria te entregar... – começou a procurar nos bolso da calça. O que deixou os seguranças claramente em alerta. _ Seu celular. – achou-o e estendeu-o o a mim, colocando seu braço entre um pequeno espaço deixado pelos dois seguranças que estavam entre ele e eu. Aproximei-me o suficiente apenas para pegar o celular em sua mão, porém, de surpresa, ele segurou meu pulso, não botou força, nem me machucou, mas levei um susto e puxei meu braço com força. Com isso, um dos seguranças, o empurrou até que ele batesse de costas na parede logo ao lado do elevador, e pelo barulho e sua expressão de dor, eu percebi que não tinha sido um empurrão de leve. _ Demi, por favor, eu só quero falar com você... Só falar. – insistiu. _ Me deixa entrar, nós conversamos, só preciso te explicar o que aconteceu.
_ O que devemos fazer Senhorita Lovato? – perguntou o outro segurança, o que não o empurrou. _ Chamar a policia?
_ Não. – respondi.
_ Então, tira-lo do prédio? – sugeriu sugestivo. Hesitei.
_ Não. – ele pareceu não gostar muito da resposta, mas aceitou.
_ Então? – insistia em uma posição da minha parte. O segurança que o empurrou, continuava com sua mão em seu peito, pressionando-o contra a parede.
_ Fala, fala o que você quer falar logo. – dei oportunidade. Logan olhou para os dois seguranças.
_ Não tem como nós falarmos a sós?
_ Não. – respondi.
_ Pode ser aqui, mas, sem essa... Barreira. – se referiu aos seguranças.
_ Podem deixa-lo. – pedi e eles se afastaram. _ Mas fiquem aqui. – completei, ainda sem confiar em Logan. Aproximei-me de onde Logan estava, perto do elevador, e os seguranças ficaram na porta de casa. Esperei para que ele começasse.
_ Eu sei que o que eu fiz foi injustificável. – começou. _ mas eu preciso tentar...
_ Tentar se justificar? Sério? Isso não vai adiantar nada.
_ Eu sei, mas, eu não quero que você ache que eu sou um monstro, eu não sou aquele monstro que você viu. – justificou-se. Não falei nada, apenas deixei que ele continuasse. _ Eu nunca te falei, mas desde pequeno eu faço terapia pra meu nervosismo, eu fui uma criança bem complicada, eu era meio agressivo. – ele sorria tensamente. _ Então quando perceberam que eu estava saindo controle, meus pais me levaram a um terapeuta que me recomendou alguns medicamentos. – parou.
_ É isso então? – perguntei quando ele parou. _ Você é um doente ou algo assim?
_ Eu... Eu... Estava começando a deixar os remédios. – começou ignorando minhas perguntas. _ Eu estava melhorando, até mesmo o meu terapeuta disse que eu estava melhor... Eu queria parar de tomar, pois eu... Nós... Eu queria me casar com você e... Eu não queria que você descobrisse, eu não queria que você achasse que eu era um louco, um doente...
_ Então você parou de tomar o remédio, ficou furioso e tentou me matar.
_ Não foi intencional, eu perdi o controle, mas eu não iria te matar Demi, eu... Parei, eu parei, não parei?
_ E eu devo te glorificar por isso? Por não ter me matado?
_ Eu não quero que você me glorifique nem nada disso, eu só quero que você entenda... Se possível me perdoe... Que não fique com tanto medo. – sua voz foi sumindo.
_ Não é tão fácil assim, Logan.
_ Eu sei, mas... Você ficou comigo há tanto tempo, você sabe que eu não sou assim, eu sei que te machuquei, mas essa nunca foi minha intensão, eu nunca quis isso. Eu pirei. Mas eu voltei a tomar o remédio, eu voltei ao tratamento inicial, não vou te machucar mais, nunca mais.
_ Eu sei que você não vai.
_ Você nunca mais vai confiar em mim, não é? – perguntou. Não respondi, eu queria entendê-lo, e queria confiar nele novamente, afinal de contas, ele tinha algum desiquilíbrio, algo que o fez agir daquela maneira, no fim, não era realmente culpa dele, mas era difícil, eu ainda tinha as marcas em meu pescoço, eu ainda tinha que lembrar todos os dias de escondê-las. _ Não poderemos nem mesmo ser amigos? Nada? Acabou?
_ Eu não sei Logan... É complicado.
_ Posso ter esperança pelo menos? – perguntou. Sorri fraco.
_ Acho que sim.
_ Posso te pedir uma prova? – perguntou.
_ Um prova?
_ Sim, uma prova de que você confia em mim e que podemos ser amigos.
_ Eu nunca disse que seriamos. – contrapus.
_ Demi, eu quero provar que estou bem, e gostaria que você provasse que está aberta a ver minha melhora.
_ E porque eu faria isso? – perguntei. Ele hesitou.
_ Pelo que tivemos...? – respondeu sem muita confiança. Suspirei.
_ O que você quer?
_ Mande os seguranças para dentro, quando eles entrarem, me dê um abraço, e... Só, eu vou embora, você entra... Ficamos bem. – pediu.
_ E o que isso vai mudar para nós?
_ Ao mandar os seguranças para dentro você mostra que está disposta a confiar em mim e com o abraço eu mostrarei que estou bem. – continuei indecisa. _ Eu pedi demais, não é? – sorriu tímido. _ Eu estou apressando as coisas? – perguntou. Olhei-o e vi que ele ansiava pela minha resposta. Continuei hesitando, mas acabei me permitindo confiar.
_ Vocês podem entrar, por favor, deixem-me sozinha com ele. – Logan sorriu aliviado e com um pouco de lentidão os seguranças entraram, e com mais lentidão ainda fecharam a porta, deixando Logan e eu sozinhos. Logan estendeu os braços, sorridente.
_ O abraço. – lembrou-me. Aproximei-me dele e aceitei seu abraço, ele abraçou-me forte.
_ Logan. – tentei empurra-lo para sair do abraço.
_ Só mais um pouco, por favor. – pediu. Deixei. Mal sabia eu que esse seria meu maior arrependimento.  

Senti uma pontada em meu pescoço. Empurrei-o com toda minha força e ele me soltou, mas logo a tontura tomou conta do meu corpo.
_ Logan. – tentei falar, mas não saiu muito mais alto que um sussurro. Ele veio até a mim e me segurou e antes que eu me desmanchasse em seus braços ele disse:
_ Me desculpe Demi, mas você está muito perto, alguém precisa te parar. E infelizmente esse alguém será eu.

Continua

Ei, capítulo novo J
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Bjssss

Nessa: Sem problemas, comente sempre que puder e quiser, obrigada, bjsss
Kah: O poço que ela está se afundando não chegou nem na metade kk, obrigada por comentar. Bjsss
Anônimo: É, você não está tão errada(o) não. Obrigada por comentar. bJsss

Caah: Sem duvidas ela perdeu o controle, mas agora já foi, agora é esperar pra ver o que acontece. Obrigada por comentar. Bjsss