Os olhares de Lauren e Nick no café da manhã
eram tão acusadores que acabei não ficando para o desjejum, peguei apenas
algumas uvas e fui ao meu quarto.
Meu dia nem
mesmo tinha começado, e já não estava bom, quer dizer, para falar a verdade,
minha vida não estava boa ultimamente, era como se o primeiro dominó tivesse
sido empurrado, e os outros estivessem caindo também. São brigas demais,
decepções demais, notícias ruins demais; minha cabeça doía por causa dos
problemas, minha mente estava perdida, e eu aos poucos eu desistia de tudo. Não
queria ir à faculdade, nem mesmo queria pisar novamente os pés no banco, e
agora, nem mesmo ficar com minha família durante as refeições era atraente. Eu
sei bem que eu não deveria agir assim, cair em uma depressão não seria a
solução dos meus problemas, mas sem duvidas é tentador a opção de trancar-me no
quarto, ficar sozinha, dormir, e, se possível, não mais acordar...
_ Vai falar
algo ou vai ficar me olhando com essa cara de bunda? – perguntei já sem
paciência, após deixar com que Lauren entrasse no meu quarto e ela ter ficado
longos minutos apenas me encarando, da mesma maneira que fizera mais cedo.
_ Você tem
algum tipo de retardo mental? – perguntou por fim.
_ Se você está
me perguntando isso por causa da briga que tive com Joe, saiba que a tive para
defender o nosso pai, caso você
ainda se importe.
_ Eu me
importo. – disse se sentindo ofendida com a maneira que falei com ela. _ Mas eu
ainda não entendi, ele era legal, ele estava investigando tudo, que merda foi
essa Demi? – Ela estava claramente confusa. Na verdade todos estavam, mas ainda
assim, sem saber de nada, resolveram defender Joe, pois claro, ele é o
injustiçado, eu sou a vilã da história, eu sou a idiota, como se só eu que
tivesse brigado._ Eu gostava dele. – disse frustrada.
_ Claro que
você gostava dele, você só gosta de quem eu não gosto.
_ Eu achava
que você gostava dele. – falou.
_ Muitas
coisas aconteceram, Lauren, eu não posso gostar de uma pessoa que desvaloriza o
esforço do meu pai ou que jogue na minha cara sobre a morte dele de maneira tão
fria. Eu posso ter arrumado briga por pouca coisa, mas o que ele falou, ele não
levou em consideração meus sentimentos, nem mesmo respeitou a memoria do nosso
pai. Eu nunca vou perdoa-lo por isso. – Lauren pareceu pensar um pouco antes de
começar a falar.
_ Você acha
que só ele pensa assim do papai? – perguntou.
_ Não sei. –
respondi sincera.
_ Eu acho que
não. – falou. _ Ele era o chefe, no fundo todos odeiam o chefe, o chefe é
aquele em que todos querem ser, mas no momento que são percebem a besteira que
é.
_ E como você
sabe disso? Por acaso já foi chefe de algo? – ri. Ele era tão jovem, não sabia
muito sobre nada, nem mesmo eu sabia direito, mesmo sendo mais velha.
_ Não, nem
mesmo pretendo, mas eu sei que o papai teve muitos problemas com funcionários,
ele tinha muita preocupação em cima dele, não era justo. Eu sei que ele
ganharia menos, e não seria tão conhecido, mas às vezes eu acho que se ele não
fosse o chefe, ele teria sido mais feliz... Sabe? Ele teria passado mais tempo
com a gente, nós todos teríamos sido mais felizes.
_ Aonde você
pretende chegar com esse assunto? – perguntei.
_ Quando eu
nasci, ele já estava bem de vida, quase no topo, eu não sei como era antes, eu
não sei o que era o papai não chefe, não rico, não famoso, não preocupado... Como que ele era? Você o pegou assim, não
foi?
_ Não muito. –
confessei. _ Quando eu nasci ele já trabalhava no banco, ele nem tinha sido
gerente ainda. – respondi e percebi que ela queria que eu falasse mais, que eu
lhe dissesse sobre como era. _ Nós moramos em um apartamento de só um quarto,
eu não lembro muito do apartamento, mas era bem pequeno. Quando ele conseguiu
ser gerente não demorou muito para que mudássemos para um lugar maior. – falei
e sem perceber comecei a sorrir com as lembranças. _ Eu me lembro de depois de
alguns meses ele comprou uma bicicleta para mim, eu fiquei tão feliz, eu sempre
quis ter uma, mas ele nunca tinha dinheiro para isso. No começo foi bom, todo
domingo saímos cedo e íamos de metrô até o Central Park, ficávamos o dia
inteiro lá e ele me ensinava a andar na bicicleta. Depois de dois domingos como
esse, o tempo dele ficou mais curto, não íamos mais andar de bicicleta. –
suspirei.
_ Você não
sabe andar de bicicleta. – observou Lauren.
_ Dois domingos
não foi o suficiente para que eu conseguisse me equilibrar sem medo e como não
houve outros... Então eu acabei deixando a bicicleta de lado... Depois de um
tempo ele conheceu a Lara, o tempo disponível para mim ficou bem menor, eu
comecei a passar a maior parte do tempo em creches, foi só após alguns anos
mais que ele finalmente subiu de cargo, logo após ele e Lara se casaram, e nove
meses depois você nasceu. – concluí.
_ Você tem raiva
de mim? Ou da minha mãe?
_ Não, a Lara
sempre foi legal comigo, e sobre você, no começo eu enciumei um pouco, mas você
era fofa e eu podia brincar boneca
com você. – ela sorriu.
_ Perdoa ele,
vai. – pediu.
_ Que tal
continuarmos a falar do papai? – perguntei, percebendo que ela mudara de
assunto.
_ O Joe não
fez por mal. – olhei-a nervosa. _ Você por acaso não falou nada do pai dele
também? – questionou.
_ O que eu
falei não foi nem perto do que ele me disse. – defendi-me.
_ Mas pode
tê-lo ofendido também.
_ Ele culpa o
papai pela doença do pai dele...
_ Você já
parou para pensar que talvez ele culpe o banco e no que o banco transformou o
pai dele e não o nosso pai?
_ Ele acha que
nosso pai foi privilegiado, que as conquistas dele não foram por esforço
próprio. Eu perdi vários domingos em casa, quase sempre sozinha. Eu o vi
fazendo trabalhos extras que nem mesmo seriam remunerados...
_ E você falou
isso com ele? Ou saiu gritando que nem uma louca? – interrompeu-me.
_ Eu não teria
gritado se ele não tivesse feito tal acusação. – respondi ao perceber que ela
tinha um ponto.
_ Então tente
falar com ele assim, do jeito que você está falando comigo, calma, vocês não
precisam terminar isso assim. Vocês nem mesmo chegaram ao final da tal
investigação.
_ E nem
iriamos, não importa o quanto tentamos, sempre voltamos a estaca zero.
_ E isso não
significa que você tem que desistir.
_ Não é assim
tão fácil Lauren. – falei rendendo-me.
_Tampouco deve
ser assim tão difícil Demi.
(...)
O que Lauren
me disse ficou atormentando-me durante todo o dia. Eu sei que ele deveria estar
me odiando, e não o culpo, apesar de querer conversar com ele, Joe não era a
minha pessoa preferida naquele momento, as suas palavras e acusações ainda
doíam, mas não mais que o orgulho que me impedia de ir até ele novamente.
_ Senhorita
Demetria? – chamou-me.
_ Sim.
_ A senhorita
tem visita. Os seguranças querem seu aval. – falou. Como eu disse, apesar de a
convivência com os seguranças estar melhor, eles continuam extremamente chatos
com visitas.
Quando cheguei
à sala, agradeci pela chatice dos seguranças, por impulso afastei-me, fiquei
atrás deles. Os seguranças perceberam minha chegada, mas não se moveram, não
sairiam dali se eu não pedisse.
_ Podemos
conversar? – perguntou.
_ Não. –
respondi sem pestanejar, e ao perceberam minha hostilidade, os seguranças o
acercaram mais ainda, fazendo com que Logan, mesmo sendo de estatura mediana,
parecesse pequeno.
_ Eu... Eu
queria te entregar... – começou a procurar nos bolso da calça. O que deixou os
seguranças claramente em alerta. _ Seu celular. – achou-o e estendeu-o o a mim,
colocando seu braço entre um pequeno espaço deixado pelos dois seguranças que
estavam entre ele e eu. Aproximei-me o suficiente apenas para pegar o celular
em sua mão, porém, de surpresa, ele segurou meu pulso, não botou força, nem me
machucou, mas levei um susto e puxei meu braço com força. Com isso, um dos
seguranças, o empurrou até que ele batesse de costas na parede logo ao lado do
elevador, e pelo barulho e sua expressão de dor, eu percebi que não tinha sido
um empurrão de leve. _ Demi, por favor, eu só quero falar com você... Só falar.
– insistiu. _ Me deixa entrar, nós conversamos, só preciso te explicar o que
aconteceu.
_ O que
devemos fazer Senhorita Lovato? – perguntou o outro segurança, o que não o
empurrou. _ Chamar a policia?
_ Não. –
respondi.
_ Então,
tira-lo do prédio? – sugeriu sugestivo. Hesitei.
_ Não. – ele
pareceu não gostar muito da resposta, mas aceitou.
_ Então? –
insistia em uma posição da minha parte. O segurança que o empurrou, continuava
com sua mão em seu peito, pressionando-o contra a parede.
_ Fala, fala o
que você quer falar logo. – dei oportunidade. Logan olhou para os dois
seguranças.
_ Não tem como
nós falarmos a sós?
_ Não. –
respondi.
_ Pode ser
aqui, mas, sem essa... Barreira. – se referiu aos seguranças.
_ Podem
deixa-lo. – pedi e eles se afastaram. _ Mas fiquem aqui. – completei, ainda sem
confiar em Logan. Aproximei-me de onde Logan estava, perto do elevador, e os
seguranças ficaram na porta de casa. Esperei para que ele começasse.
_ Eu sei que o
que eu fiz foi injustificável. – começou. _ mas eu preciso tentar...
_ Tentar se
justificar? Sério? Isso não vai adiantar nada.
_ Eu sei, mas,
eu não quero que você ache que eu sou um monstro, eu não sou aquele monstro que
você viu. – justificou-se. Não falei nada, apenas deixei que ele continuasse. _
Eu nunca te falei, mas desde pequeno eu faço terapia pra meu nervosismo, eu fui
uma criança bem complicada, eu era meio agressivo. – ele sorria tensamente. _
Então quando perceberam que eu estava saindo controle, meus pais me levaram a
um terapeuta que me recomendou alguns medicamentos. – parou.
_ É isso então?
– perguntei quando ele parou. _ Você é um doente ou algo assim?
_ Eu... Eu...
Estava começando a deixar os remédios. – começou ignorando minhas perguntas. _
Eu estava melhorando, até mesmo o meu terapeuta disse que eu estava melhor...
Eu queria parar de tomar, pois eu... Nós... Eu queria me casar com você e... Eu
não queria que você descobrisse, eu não queria que você achasse que eu era um
louco, um doente...
_ Então você
parou de tomar o remédio, ficou furioso e tentou me matar.
_ Não foi
intencional, eu perdi o controle, mas eu não iria te matar Demi, eu... Parei,
eu parei, não parei?
_ E eu devo te
glorificar por isso? Por não ter me matado?
_ Eu não quero
que você me glorifique nem nada disso, eu só quero que você entenda... Se possível
me perdoe... Que não fique com tanto medo. – sua voz foi sumindo.
_ Não é tão
fácil assim, Logan.
_ Eu sei,
mas... Você ficou comigo há tanto tempo, você sabe que eu não sou assim, eu sei
que te machuquei, mas essa nunca foi minha intensão, eu nunca quis isso. Eu pirei.
Mas eu voltei a tomar o remédio, eu voltei ao tratamento inicial, não vou te
machucar mais, nunca mais.
_ Eu sei que
você não vai.
_ Você nunca
mais vai confiar em mim, não é? – perguntou. Não respondi, eu queria
entendê-lo, e queria confiar nele novamente, afinal de contas, ele tinha algum desiquilíbrio,
algo que o fez agir daquela maneira, no fim, não era realmente culpa dele, mas era
difícil, eu ainda tinha as marcas em meu pescoço, eu ainda tinha que lembrar
todos os dias de escondê-las. _ Não poderemos nem mesmo ser amigos? Nada?
Acabou?
_ Eu não sei
Logan... É complicado.
_ Posso ter
esperança pelo menos? – perguntou. Sorri fraco.
_ Acho que
sim.
_ Posso te
pedir uma prova? – perguntou.
_ Um prova?
_ Sim, uma
prova de que você confia em mim e que podemos ser amigos.
_ Eu nunca
disse que seriamos. – contrapus.
_ Demi, eu
quero provar que estou bem, e gostaria que você provasse que está aberta a ver
minha melhora.
_ E porque eu
faria isso? – perguntei. Ele hesitou.
_ Pelo que
tivemos...? – respondeu sem muita confiança. Suspirei.
_ O que você
quer?
_ Mande os
seguranças para dentro, quando eles entrarem, me dê um abraço, e... Só, eu vou
embora, você entra... Ficamos bem. – pediu.
_ E o que isso
vai mudar para nós?
_ Ao mandar os
seguranças para dentro você mostra que está disposta a confiar em mim e com o
abraço eu mostrarei que estou bem. – continuei indecisa. _ Eu pedi demais, não
é? – sorriu tímido. _ Eu estou apressando as coisas? – perguntou. Olhei-o e vi
que ele ansiava pela minha resposta. Continuei hesitando, mas acabei me
permitindo confiar.
_ Vocês podem
entrar, por favor, deixem-me sozinha com ele. – Logan sorriu aliviado e com um
pouco de lentidão os seguranças entraram, e com mais lentidão ainda fecharam a
porta, deixando Logan e eu sozinhos. Logan estendeu os braços, sorridente.
_ O abraço. –
lembrou-me. Aproximei-me dele e aceitei seu abraço, ele abraçou-me forte.
_ Logan. –
tentei empurra-lo para sair do abraço.
_ Só mais um
pouco, por favor. – pediu. Deixei. Mal sabia eu que esse seria meu maior arrependimento.
Senti uma
pontada em meu pescoço. Empurrei-o com toda minha força e ele me soltou, mas
logo a tontura tomou conta do meu corpo.
_ Logan. –
tentei falar, mas não saiu muito mais alto que um sussurro. Ele veio até a mim
e me segurou e antes que eu me desmanchasse em seus braços ele disse:
_ Me desculpe
Demi, mas você está muito perto, alguém precisa te parar. E infelizmente esse
alguém será eu.
Continua
Ei, capítulo novo J
Comentem
Bjssss
Nessa: Sem problemas, comente sempre que puder e
quiser, obrigada, bjsss
Kah: O poço que ela está se afundando não chegou nem
na metade kk, obrigada por comentar. Bjsss
Anônimo: É, você não está tão errada(o) não. Obrigada
por comentar. bJsss
Caah: Sem duvidas ela perdeu o controle, mas agora já
foi, agora é esperar pra ver o que acontece. Obrigada por comentar. Bjsss