Naquela noite eu chorei.
Chorei porque era o primeiro
natal que eu passava seu meu pai, chorei porque eu estava sem meus irmãos,
chorei porque eu estava sozinha, chorei porque por um momento eu me senti
feliz, ao lado de Joe e sua família, mas agora eu estava aqui novamente, órfã e
infeliz, sozinha em um apartamento grande demais para ser preenchido só por mim.
(...)
_ Hey, porque você não me acordou
ontem? – perguntei, abraçando-o forte. Ele estava na sala, mexia em seu
notebook, provavelmente passando as fotos que tirou para adicionar ao seu
portfólio.
_ Com ontem você quis dizer hoje
às seis da manhã? – perguntou, olhei-o e ele estava derrotado.
_ Você chegou a dormir? –
perguntei, se ele chegou às 6 de amanhã e agora era 10, não havia muito tempo
para uma dormida.
_ Eu tive o privilegio de dormir
por preciosas duas horas antes de ser acordado pelo organizador da festa de ontem,
exigindo as fotos paras às 11 de hoje no site. – respondeu claramente nervoso.
_ Teria sido mais fácil se junto não viesse uma lista de pessoas que gostariam
de receber um Photoshop. – eu ri. _ Está rindo porque não é você que tem que
tirar rugas e peso de umas 120 pessoas diferentes. Ah! Tampar carecas também
está na lista.
_ Seu eu soubesse mexer no
Photoshop eu até te ajudava, mas eu só sei fazer aquelas montagens meio bregas,
mas que até ficam legais. – e foi à vez de Nick rir.
_ Bom, já estou quase acabando,
não precisa se preocupar. – falou.
_ Você comeu? – perguntei, parte
porque eu estava preocupada com ele e parte porque eu estava com fome.
_ Não. – suspirou. _Será que
Karla deixou algo?
_ Talvez. – respondi. _ Ela não
está muito acostumada a deixar comida pronta, mas você pediu para ela deixar a
ceia não pediu? – perguntei.
_Topa comer uma ceia as 10 da
manhã? – perguntou um pouco mais humorado.
_ Comida é comida. – respondi. Quem disse que ceia só pode ser de noite?
_ Você sabe esquentar? –
perguntou.
_ É só esquentar mesmo? –
perguntei.
_ Acho que sim. – respondeu.
Então com essa resposta fui até a cozinha. Eu não sou lá o que se chama de negação para cozinhar, mas eu não sou
uma boa cozinheira, eu fico entre o bom e o comível. Tive a sorte de ter dois homens na minha vida que sabem
cozinhar bem e me pouparam de tal trabalho.
Perdi um deles.
Ou será que perdi os dois?
Para minha sorte Karla deixou
tudo preparado apenas para que eu colocasse no forno ou no fogão, e melhor, ela
deixou um bilhetinho em cada recipiente explicando o que faltava a fazer para
que ficasse bom.
Peru, purê de batata, stuffing, gravy e uma salada verde
fazia parte da refeição principal e como sobremesa ela deixou, um pote de
vidro, com vários cookies em formato de arvore de natal.
Comida demais para só duas
pessoas, e boa demais para se recusar.
A comida demorou a ficar pronta,
não me culpem, mas mesmo estando pré-cozido, o peru ainda demorou dentro do
forno.
Quando tudo terminou, Nick já
tinha terminado seu trabalho e pode sentar-se a mesa comigo.
_ Como que foi ontem à noite? –
perguntou.
_ Foi legal.
_ Legal?
_ Passei com pessoas bem legais.
_ Você está sendo irônica? –
perguntou e eu ri.
_ Não, eu não te contei na hora,
mas antes de você sair eu pedi para que o Joe...
_Joe? – interrompeu-me.
_ O Joseph, o detetive, pedi para
que ele viesse aqui...
_ Você pediu para ele vir aqui
antes de eu sair? – interrompeu-me novamente.
_ Eu não tinha nada para fazer e
eu quero terminar esse assunto logo, quanto mais trabalharmos para isso melhor
e ele trouxe um monte de novos suspeitos...
_ E você passou o natal com ele?
_ Não, quer dizer, passei com ele
e com a família dele. – Nick olhou-me inexpressivo. _ Eles são pessoas muito
legais, e ele também é, ele parece ser um chato, mas ele me mostrou ontem que
não é um cafajeste, ele tem um lado bem respeitoso dentro dele.
_ Tome cuidado Demi, você mal o
conheceu e já está entrando assim na vida dele, isso não é certo, vai saber
quem são essas pessoas.
_ Eles me trataram muito bem. –
indaguei, Nicholas os conhecia menos que eu, como ele pode falar alguma coisa?
_ Eles sabem quem você é? –
perguntou.
_ Como assim?
_ De onde você veio, quem é sua
família?
_ Nós preferimos manter o assunto
‘família’ fora da conversa.
_ Por quê?
_ Porque eu os disse que sou
órfã... A mãe dele perguntou sobre meus pais e eu respondi que haviam morrido.
_ Sem nomes?
_ Não acho necessário dizer de
quem eu sou filha a todo tempo, todo mundo sempre sabe quem eu sou, talvez eles
saibam só preferiram não demonstrar.
_ Que seja, só tome cuidado, não
se ponha em risco atoa.
_ Eu não estou me pondo em risco,
você que está exagerando.
_ Eu não estou exagerando. –
defendeu-se.
_ Agindo assim? Achando que vão o
que? Me matar? Isso é exagero, eu não sou uma criança, não precisa ficar
cuidado de mim como uma.
_ Pois eu tenho que cuidar de
você sim, desde que Eddie morreu, você começou a agir como uma criança impulsiva,
sem medir as suas ações nem as suas consequências.
_ Nicholas, eu não estou
desiquilibrada, eu só quero saber o que aconteceu de verdade.
_ Eu sei, e eu já disse que estou
de acordo com que você encontre a verdade, mas isso não significa que você tem
que se separar daqueles que realmente se importam com você e se juntar com quem
você nem mesmo se importa.
_ Do que você está falando?
_ Você podia ter deixado esse
cara cuidar de tudo ou contratado outro alguém, ido com a sua família para a
praia, ou então ter ficado com Logan, me diga, você ligou para seus irmãos para
saber como eles estão? – não.
_ Porque você está fazendo isso?
_ Eu não estou fazendo nada Demi,
você que está, procure pela verdade, mas não se esqueça que não foi só você que
perdeu alguém. – suspirei.
_ Eu vou ligar para eles mais
tarde. – respondi, Nicholas suspirou insatisfeito.
_ E Logan?
_ Ele que desapareceu, eu não
tenho culpa se ele quis se afastar, e eu também pretendo procura-lo.
_ Mais tarde? – perguntou.
_ Você quer que eu saia agora
então? – Perguntei nervosa.
_ Não, eu só não quero que esse
“mais tarde” se transforme em um “nunca”.
_ Você acha que eu não amo meus
irmãos?
_ Eu não tenho duvida que você os
ama, só não se esqueça disso. – falou. Eu
não esqueci – eu queria dizer, mas no fundo, mesmo que eu não quisesse
aceitar e ainda achasse que ele estava exagerando um pouco, ele tem razão,
desde que Lara levou meus irmãos para a casa da praia eu não os liguei, mesmo
que eu sentisse falta deles eu não os procurei em nenhum momento e com Logan
estava sendo o mesmo, reclamava porque ele não me procurava, mas eu tampouco o
procurei também. Talvez a morte do meu pai tenha me deixado egoísta... Bom,
talvez eu tenha me deixado egoísta...
(...)
Já era quase seis da tarde quando
vi o prédio em que Logan mora apontar no horizonte.
Logan não mora muito longe, 14
minutos de carro é o suficiente para eu chegar ao bairro boêmio, East
Village.
Logan sempre viveu por ali,
pelo menos desde que saiu da casa dos pais. Sempre gostou da movimentação do
local. Na sua época mais festeira, quase sempre saiamos para algum barzinho por
ali. Bons tempos.
Seu prédio é um típico
prédio de arquitetura nova-iorquina, pequenos prédios de tijolinhos marrons
(apesar de que no prédio de Logan eles serem vividamente vermelhos) que
disputam a atenção do turista com os grandes prédios espelhados e de metais.
Como é feriado e grande
parte das pessoas acaba indo para o interior, rapidamente consegui estacionar o
carro, olhei para o terceiro andar, onde ele mora, e vi luz acesa, se ele foi passar a véspera de natal com a
família, chegou rápido.
Subi até o seu andar pela
escada, eu poderia ter encarado o velho elevador, daquele de grade que fecha manualmente,
mas preferi ir a pé, não por medo, mas para que eu tivesse mais tempo para
pensar, o que eu iria dizer? Oi, você
desapareceu, eu não te procurei, mas estou aqui, pois acho que você está errado
em não me procurar.
Bati na porta e não demorou
muito para que eu escutasse o barulho das chaves virando, será que ele estava esperando alguém? Será o motivo de ele ter se
afastado de mim é porque tem outra?
Todas as minhas conspirações
de noiva neurótica foi por água abaixo quando ele abriu a porta.
Barba por fazer, olhos inchados
– como de quem não dorme há tempo ou de quem chorou demais – cabelo
desgrenhado, vestia apenas uma cueca samba-canção, parecia mais magro. O que
tinha acontecido com ele? Não havia nem passado uma semana direito.
_ Ah. – disse decepcionado.
_ você.
_ Logan, o que esta
acontecendo. – ele não disse nada, apenas se virou, deixando a porta aberta
para que eu pudesse entrar.
Se ele estava mal, nem sei
como descrever seu apartamento, que antes sempre foi organizado e super bem
cuidado e agora se via lixo no chão, objetos caídos, folhas rasgadas, jornais
intocados espalhados por toda a parte.
Logan se sentou no seu sofá,
que tinha um rasgo imenso em seu estofo, deixando que a espuma aparecesse. Como
aquele rasgo apareceu? O sofá é novo – ou era – Logan não tem nenhum animal que
pudesse estragar seus moveis...
_ Logan
_ Não. – interrompeu-me. _
Eu sei. – eu estava de pé em sua frente, mas ele não olhava para mim, apenas
para o chão.
_ Sabe do que Logan?
_ Você sabe, não sabe?
_ Logan, você está bem? Você
está usando alguma coisa? – talvez fossem drogas, nunca pensei que ele usaria,
mas vai que ele tenha se tornado um drogado e esteja se perdendo por isso.
Ele levantou apressado,
quase me empurrando, foi para trás do sofá, seu olhar estava assustado, não me
atrevi a chegar perto. Eu não sabia o que estava acontecendo com ele, mas eu
posso afirmar que ele não está bem.
_ Desculpa Demetria. – Demetria?
_ Pelo amor de Deus, Logan,
o que está acontecendo?
_ Eu sou um monstro.
_ Pare de me enrolar, o que
aconteceu?
_ Eu, Demetria, fui eu. –
disse aterrorizado, como se tentasse convencer não só a mim, de que ele é
culpado por algo, mas a ele também.
_ Você?
_ Eu matei seu pai.
Continua
Próxima
postagem será na sexta-feira. Responderei aos comentários no próximo capítulo.