quinta-feira, 30 de julho de 2020

Exile - Microconto Desafio Literário

Demorei para decidir-me, mas cá estou postando meu meu microconto para o desafio do Grupo Fábrica de Histórias.

Título: Exile
Número de Palavras: 499 palavras
Autora: Fernanda Neves
Baseado na Música: Exile da Taylor Swift (Feat. Bon Iver)




As nuvens densas deixam um ar melancólico que transparece nas faces penosas dos ali presentes. 

O velho casarão, em meio a enorme fazenda, parece pequeno. Ao longe os cavalos pastam e a plantação de girassóis começa a dar mudas, em breve o amarelo tomará conta da terra, mas a expectativa da próxima estação não alegra o coração de ninguém.

Memórias martelam a mente de Marcos, a cena se repete quase como um déjà vu... As constantes discussões, o carro velho estacionado frente a casa, a mala feita às pressas, a porta da sala fechada na sua cara, ele abrindo a mesma e correndo atrás dela na esperança de que ela desista, mas no meio do caminho é ele quem desiste. Ele sabe que não há mais o que fazer... 

Agora, após anos, a cena se repete frente a seus olhos. Ele já viu esse filme anteriormente e ele não gostou do final. 

A primeira vez foi com sua esposa, da qual passara conturbados 6 anos da sua vida. Quando a mesma partiu, o deixou com a filha do casal, Vivian com apenas 5 anos. A criança presenciou tudo a distancia. Pequena demais para entender o que estava acontecendo, ela viu, sem reagir, seu pai chorar e implorar... E assim foi pelos anos que se seguiram, uma relação de pai e filha em que os altos e baixos se misturavam numa frequência frenética, tornando toda lembrança boa e ruim igualmente marcantes na mente de ambos. Marcas que com o tempo transformou a relação em algo frágil e inseguro.

Treze anos se passaram e Vivian se tornara uma jovem difícil, Marcos não estava preparado para essa fase. A adolescência que ele vivenciara foi completamente diferente da que a filha quer viver... A fazenda e a cidade pequena não lhe preenchiam como preenchiam a Marcos, e o amor dela por uma rapaz mais velho, com fama de encrenqueiro, não ajudava. Sim, o rapaz parecia ter se ajeitado após começar a se relacionar com Vivian, estava se esquivando das confusões que sempre causara, até mesmo a sua forma de falar estava mais correta, mas um passado de inconsequências o perseguia pela cidade minúscula e isso era algo que Marcos não conseguia ignorar. 

Agora lá estavam eles, Marcos chora silenciosamente frente a porta pela qual sua filha acabara de sair, e enquanto ela abraça o namorado, que sussurra algo em seu ouvido que a faz sorrir, ele percebe que novamente está paralisado, nada faz. Novamente ele é abandonado e pior, dessa vez ele realmente estará sozinho, sem sua pequena para defender.

 Antes de entrar no carro de seu namorado, Vivian olha para trás e vislumbra seu pai que está claramente arrasado. Ela se pergunta se aquilo poderia ter tido um final diferente, mas ela o deu tantos sinais, tantos avisos... Ele nunca a entendeu... Mas agora ela não seria mais problema dele, nem ele dela. 

Enquanto ela parte levando com ela todos os momentos bons e ruim consigo, Marcos se fecha novamente em seu solitário exílio.


quarta-feira, 29 de julho de 2020

4. “You are never coming home”

“You are never coming home”

“... Não posso prever o futuro e sou cético a quem diz que consegue adivinhar o que ainda vai acontecer. Mas dessa vez eu vou me deixar levar, vou profetizar meu desejo e assim, quem sabe, daqui a vinte anos você, com sua memória de elefante, pare e fale: Ei, você lembra no dia do nosso casamento? No seus votos você disse que isso aconteceria, e está acontecendo. Profetizo que conheceremos a europa, você poderá ver o teto da Capela Sistina; teremos um filho, ou filha, não importa. Deixaremos que ele ou ela pinte e rabisque todas as nossas paredes, assim desenvolvemos a sua criatividade desde criança; sempre vamos jantar juntos, este será nosso horário sagrado, não importa onde vamos trabalhar, não importa os outros compromissos. Quando aposentados, vamos fazer um cruzeiro, viajaremos a algum lugar onde possamos ver as orcas; seremos os avós mais bestas possíveis, do tipo que mima os netos aos extremo, mas seremos extremamente rabugentos, do tipo que reclama das modernidades e diz que no nosso tempo não era assim, que é fim dos tempos. Seremos invencíveis, inseparáveis, mesmo distantes estaremos perto, mesmo brigados, nos amaremos… Pois desde o primeiro dia eu já sabia, que nossa vida para sempre estaria entrelaçada.”

“Eu gostaria que você tivesse lido essa parte no altar também.” - diz Clarisse sorridente. “Mas Carlos estava certo, ficaria muito grande.” 
Olho-a ali, tão bonita, viva, parece tão real...
– Você não está aqui, não é ? - digo já sabendo a resposta. Retornamos mais cedo da trilha, o guia voltou com a gente, enquanto o paramédico seguiu com o resto do grupo. O caminho de volta foi silencioso, eu ia e vinha das crises de choro. Agora Carlos dormia no sofá do nosso apartamento, o apartamento que escolhemos juntos. Ele estava preocupado, disse que passaria a semana aqui, para me ajudar. E sendo bem sincero, ele nunca realmente descuidou de mim, seja no bar, quando mesmo estando tão bêbado quanto eu, ele cuidou de mim, ou no sábado, quando ainda se recuperava, saiu de sua casa para cuidar de mais uma crise loucura minha… Imagino quantas vezes isso já aconteceu nesses últimos 8 meses, mas não consigo, pois para mim você nunca me deixou, você sempre esteve lá, como se todo o acidente, seu velório, tudo, tivesse se apagado de minha mente…
 Agora eu estou no quarto, quarto do qual pouco pudemos aproveitar...
"Não." - ela responde. 
– Você é apenas um fantasma em minha mente. - digo.
"Sim." - ela confirma. 
– Mas você é tão real! - reclamo, eu posso te tocar, eu te sinto.
Ela não responde. 
– Eu não posso te esquecer. - meu coração está quebrado.
“Eu não te esqueceria” - ela responde. “Eu tampouco te deixaria”
– Mas você deveria… Você iria pelo menos tentar. - digo. 
“Você tentou” - ela diz, quer dizer… Algo em mim diz que tentei e talvez eu tenha e apenas não me lembre. “Mas cá estamos.” 
– Eu deveria deixar você ir. Você nunca vai voltar. - eu vejo seu sorriso fraco, seus olhos compreensivos. É a hora, ela entende e eu também. Eu fecho os olhos, no fundo tenho a esperança que ao abri-los tudo será apenas uma grande confusão, que eu ainda a verei, que ela ainda estará aqui, que nosso planos ainda vão se concretizar.
Respiro fundo. Quando torno a abrir os olhos, não a vejo. 

Eu a deixo ir. 

terça-feira, 28 de julho de 2020

3. … We’d be together




Como prometido, as 7 em ponto o carro de Carlos estava estacionado frente a meu prédio. Acordei bem mais calmo, bem mais animado, a noite havia sido boa.
Eu estava com um short preto largo, o mesmo tênis que ontem utilizei para ir a igreja, desta vez, porém, uso meias brancas, uso também uma blusa esverdeada, estou com uma mochila mediana, onde guardo duas garrafas de água, um protetor solar, um óculos, um boné, e meu celular, não sei se é o suficiente ou a bagagem ideal para a trilha, mas é o que pude lembrar no pouco tempo que tive para me arrumar . Clarisse está de legging rosa clara, usa também um tênis de corrida. Ela veste uma blusa regata branca, com um gigante desenho de girassol bem no centro, pois, caso ainda não tenha percebido, se não tem flor, não existe Clarisse. Ela está de cabelo preso e usa seu boné também rosa.
Entramos no carro de Carlos, eu no banco do passageiro e Clarisse no banco de trás. Hoje, meu amigo de infância, parecia ser ele novamente, sorridente, claramente animado para o dia que teriamos.
Música animada enquanto dirige, o vento na cara… O dia amanheceu bonito, não está quente demais, nem frio, o céu está num azul límpido, tudo indica que será uma trilha perfeita.

Mesmo antes da trilha começar podia se ver que o local era privilegiado pela beleza natural, de longe podia se ver a cachoeira que formava o lago em que, no final da trilha, poderíamos nadar.
Como Carlos já havia dito, seguimos na trilha em pequenos grupos, no nosso, somos apenas 6 mais o guia junto a um paramédico. Algumas instruções são passadas antes do início, mas antes das oito e meia já  estamos caminhando.
O chão, na maior parte, é de terra batida, uma vegetação baixa rodeia as ladeiras que subíamos. A cada 15 minutos parávamos por 10 minutos, e não sei dizer se era estratégia ou se era totalmente aleatório, mas posso falar que a cada parada me encantava ainda mais com a beleza do lugar. Os pássaros voando, as plantas que emanam diferenciados cheiros, as flores… O barulho do rio correndo ao longe.
A cada parada aproveitava também para tirar fotos, Carlos como sempre, saia nas fotos fazendo caretas, língua para fora, com poses engraçadas; eu nunca mudo a minha pose, sorriso de boca fechada, braços soltos ao lado do corpo, olhando diretamente para câmera; já Clarisse… Fotos olhando para a nada, fotos com sorriso largo, foto com poses variadas… Todas lindas.
Já estamos na nossa sétima parada, desta vez demoramos mais, pois o guia oferece a todos algo de comer. Um sanduíche natural, um suco e um pequeno pedaço de bolo de chocolate para sobremesa, este seria o nosso almoço, algo leve para que não passassemos mal na caminhada. Se seguirmos como o planejado, em menos de uma hora estaremos no pico, no rio que antecede a cachoeira. Não nadaríamos ali, pois segundo o guia lá não é muito seguro, dariamos a volta no rio e desceriamos pelo outro lado do morro e chegariamos no lago em que as águas da cachoeira desfilam e lá sim poderiamos entrar.
Passamos pelo menos 30 minutos parados para que todos pudessem comer e fazer a digestão. Para descontrair o guia fazia jogos de adivinhação, charadas, coisas do tipo, a maioria porém, após comer, se dedicou a tirar fotos.
O cronograma de volta seria subir novamente o penhasco e a chegada ao topo se daria bem na hora do pôr do sol, rendendo as melhores fotos a todos, parte do caminho de volta seria a base de lanternas, nem eu nem Clarisse trouxemos a nossa, Carlos trouxe a dele e o guia já tinha garantido que tinha uma forte o suficiente para iluminar todo o grupo.

– Eu falei que você iria gostar. - Carlos diz com a respiração pesada. Estávamos nos aproximando da nossa penúltima parada, antes do lago que antecede a cachoeira, e mesmo com a temperatura amena estávamos suados. A medida que atingiamos o topo a subida se tornava mais íngreme e pesada.
– Tenho que confessar, você acertou em cheio desta vez. - assumo.
– Dessa vez… - ele ri. – Sempre acerto, seus melhores passeios são comigo.
– Com você e Clarisse. - o corrijo, ele não responde, apenas ri.

Serão mais 10 minutos para contemplar a natureza a nossa volta. A água corre forte, realmente não parece um lugar muito seguro para se nadar, redemoinhos podem ser vistos de longe e a velocidade da correnteza amedronta.
Percebo porém que a caminhada para dar a volta no rio e descer rumo ao lago abaixo da cachoeira não será muito longo, bem no raio do meio do rio há uma ponte que liga uma ponta a outra, apesar de ter sido feita de pedras é bem claro que não se trata de uma ponte natural, o que decepciona, já que a todo momento a trilha manteve a natureza intocável, contudo mentalmente agradeço, isso encurta a caminhada.
Enquanto tiro fotos, principalmente de e com Clarisse, Carlos conversa com um casal que estava em nosso grupo, os três parecem ter encontrado vários assuntos em comum.

– É linda, não é? - uma jovem ruiva, que estava sozinha em nosso grupo, se aproxima para falar comigo enquanto procuro o melhor ângulo para tirar mais uma foto de Clarisse que está próxima as pedras que margeiam o veloz rio. Antes de respondê-la, admiro minha esposa pela tela por mais alguns segundo.
– Sim, ela é linda. - mesmo após anos eu ainda me mantinha mais apaixonado por ela do que antes.
– Essa natureza… - ela suspira, e percebo que não estamos a admirar a mesma beleza.

– Vamos seguir! - escuto de longe a voz do guia. Começo a andar distraidamente, olhando para as fotos que acabei de tirar. Carlos começa a andar do meu lado, consigo sentir sua animação mesmo sem olhá-lo.
Quando faltam poucos passos para chegarmos a ponte percebo que Clarisse não anda a  meu lado. Olho em volta e não a vejo.
Paro, todo o grupo segue andando, vejo então Clarisse próxima a beira do rio. Mas o que ela está fazendo ali? Tão próxima a água… Próxima demais.

A correnteza é forte, as pedras no meio do rio são grandes e pontudas, os musgos as tornam escorregadias, os redemoinhos, o vento, era claro que isso aconteceria.

Parece que o mundo começa a funcionar em câmera lenta, vejo o seu corpo vagarosamente caindo sobre as pedras na beira do rio.
– CLARISSE! - corro em sua direção o mais rápido que posso.
– Lucas! - primeiramente penso que é a voz dela, mas logo percebo que é de Carlos, ele corre bem atrás de mim. Claro que ele iria nos ajudar. – Lucas!
Corro bem mais rápido que meu amigo, chego a margem quando Clarisse já está quase sendo arrastada pelas águas. Inclino meu corpo para tocar sua mão estendida, que anseia pela minha para que eu a salve, mas sou puxado por outra direção. É Carlos.

– Pare com isso! - ele grita.
– Pare você, Clarisse caiu na água! - Berro e torno a olhar para Clarisse, mas ela não mais está lá. Vejo-a no meio do rio, a água a leva sem piedade. Desvencilho-me das mãos de Carlos e tento retornar a margem do rio, mas novamente suas gordas mãos me agarraram. – Socorro! - grito e olho para o restante do grupo, o paramédico corria a nossa direção, mas ele não parecia ter pressa, ele não via a urgência da situação. – Ela está se afogando!
– Acorde Lucas! Ela não está na água! - Carlos me agarra pela gola da camisa.
– Eu a vi cair! - tento me soltar, mas ele me segura com muita força. O paramédico nos alcança.
– Está tudo bem?
– Não! - eu digo.
– Está sim! - Carlos responde. – Eu cuido disso. Só nos dê um espaço. - eu me contorço.
– Você vai matá-la!
– Lucas, pare! Ela não está aqui! Ela já se foi! Deixe-a ir! - ele grita.
Olho para o rio e não mais a vejo, as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, embaçando toda minha visão.
– Já se passaram oito meses… Eu estou tentando te entender… Eu estou tentando te ajudar, entrar na sua onda, mas você já está se colocando em risco, não está funcionando mais! Lucas, olhe para mim! - torno minha face a ele, minha visão embaçada não permite que eu o veja com detalhes. – Ela se foi, Lucas, ela se foi. - sua voz embarga, e eu paro de me debater. - Foi um acidente Lucas, não tinha nada que você pudesse fazer.

Ela se foi.
ELA SE FOI! ELA NÃO VOLTA MAIS!

A dor, o carro batido, eu a vejo, há muito sangue, a fumaça se espalha, eu sinto muita dor, por todo o corpo, mas eu me arrasto até o lado do passageiro, eu consigo abrir a porta, eu consigo puxá-la para fora, ela grita de dor, sua respiração está acelerada, eu a arrasto junto a mim, há muita fumaça, o ar está pesado, eu sinto muita dor, há muito sangue, ela não mais grita, eu tento mantê-la acordada, eu chamo seu nome, eu grito de dor, a fumaça aumenta, eu chamo seu nome, eu a beijo uma vez, duas vezes, Clarisse! Ela não me responde, seu peso nos meus braços se torna ainda mais pesado.

Mas e todas nossas promessas e planos? E seus sorrisos que sempre iluminaram minhas manhãs? E tudo que ainda tínhamos para viver juntos? Tanta coisa que eu ainda tenho para dizer-la, tanta coisa que ela ainda tem a me dizer. E as brigas, discussões e DR’s que ainda não tivemos? Não! Este não poderia ser o fim! Não! Ela me prometeu, estaremos sempre juntos, seríamos um casal de dois velhinhos rabugentos. Este não pode ser o fim!

Mas era, eu queria que eu também tivesse ficado ali, você seria a última pessoa que eu veria, como deveria ser, como planejamos, morreríamos juntos, não seria um problema para mim, mas a vida não é justa, não é?
Lembro da nossa última conversa, antes de tudo acontecer, você queria saber o final dos meus votos, já que no casamento segui a orientação de Carlos e parei pela metade. Eu prometi que iria lê -lo para você, mas você nunca escutará. 

segunda-feira, 27 de julho de 2020

2. You Are (parte 2)

A vida de casado não era tão fácil, as despesas do casamento que se prolongaram mais do que o desejado e somados aos planos de constituir uma família nos obrigou a redobrar a carga de trabalho e subtrair do tempo em que podiamos passar juntos. Clarisse, além de trabalhar na galeria de arte, começou a dar aulas de artes plásticas duas vezes na semana na igreja do bairro, o salário não é alto, mas complementa. Os alunos são gentis, praticamente formado apenas por senhorinhas aposentadas querendo passar o tempo de alguma forma.
Eu mudei para outra empresa, o salário é 20% maior, contudo fica 30 minutos mais longe, se comparado com meu emprego anterior, do apartamento em que alugamos para morar. Mesmo assim tentamos ao máximo aproveitar nossos momentos juntos, os almoços de final semana, os jantares durante a noite, todas as celebrações de família. A vida não é fácil, mas isso não significa que é ruim.

Hoje é um desses dias em que tentaremos nos divertir um pouco, sair um pouco da rotina. Carlos nos convidara para ir a um pub.
Noite de sexta-feira, o trânsito está caótico, mas ao vê-la, sentada ao meu lado, dentro do Uber (já que não mais tínhamos carro), parei de me importar se chegaríamos atrasados ou não. Ela está num vestidinho vinho, de manguinha solta, com pequeninas flores brancas por toda parte, e cabelos soltos. Eu, como sempre, pareço desajeitado perto dela, visto uma camiseta azul clara e uma calça jeans escura, não havia nada  mais de especial no que eu vestia.

Carlos nos recebe na porta, me abraça tão forte que sinto o ar me escapar.
– Cara, estou tão feliz que você tenha conseguido vir, sério, pensei que você ia me enrolar de novo. - ele realmente está animado, o que não deveria ser surpresa, ele sempre está assim.
– Desculpa pelo seu aniversário, eu realmente estava muito cansado. - digo. Na última semana havia sido o aniversário de Carlos, ele fizera uma festa pequena em sua casa, mas nem eu nem Clarisse fomos, a última semana tinha sido estressante no meu trabalho e Clarisse, mesmo que mais animada que eu, decidiu que também não iria.
Carlos ensaia uma careta, mas logo depois sorri para mim com seu jeito sempre despojado e diz:
– Tá tudo bem, cara, eu te entendo, se preocupa não! Vamos entrar?
– Vamos!
Já tinha um tempo considerável que eu não frequentava um pub ou um bar,  após o casamento esses passeios se tornaram mais raros.
Levo mais tempo do que Clarisse para me acostumar com o ambiente, mas no fim já estou rendido a bebida, barulho e conversas jogadas fora.
– Tem certeza que consegue beber mais tudo isso? - Carlos pergunta ao ver que pedi mais duas canecas grandes de chopp.
– Claro que não, uma é minha e a outra de Clarisse, oras! - Carlos, de esgueio, a olha desconfiado, parece não acreditar que ela conseguiria beber uma caneca tão grande. Depois torna o seu olhar para mim, dá um sorriso de canto e diz:
– Tudo bem então, só não fica muito bêbado, você fica insuportável.

Com o passar das horas nenhum dos três  parecem mais sóbrios o suficiente, e eu sabia que acordaria destruído no dia seguinte. Para minha sorte, eu só trabalho de segunda a sexta, amanhã poderia curtir meu porre, porém Clarisse não tinha o mesmo privilégio, já na parte da manhã daria aula de artes plásticas na igreja.

Ainda que não muito consciente Carlos já sugere o próximo encontro:
– Uma trilha. A gente sempre quis fazer, tem uma trilha perfeita a uma hora e meia daqui. A gente vai domingo de manhã, passa o dia e a tarde lá, voltamos ao anoitecer. - Clarisse topa na hora, eu reluto. – Ah, vamos lá, isso foi um sim, eu sei que foi. É tudo muito seguro. - continua tentando me convencer – vi um empresa que tem guias, tem até mesmo um paramédico, só para garantir… Eu olhei na internet. - soluça. – a trilha é linda, tem uma paisagem maravilhosa, tem até um lago para a gente nadar no final... Eu estou tentando ser mais ativo sabe? Emagrecer… Ganhar massa muscular, vai ser um ótimo exercício. Pensa! Você vai estar num lugar lindo e ajudando a um amigo! - sorri.
– Eu vou me arrepender disso. - digo.
– Vai se arrepender apenas se não ir. - Carlos retruca.


Não sei dizer como voltei para casa, lembro-me apenas de alguns brevíssimos momentos, talvez eu tenha superestimado o quanto de álcool eu era realmente capaz de ingerir. Creio que Clarisse teve que pagar a conta, chamar o uber, me ajudar a chegar no segundo andar, onde fica nosso apartamento, trocar minhas roupas e me colocar na cama.


Demoro mais do que o necessário para abrir os olhos, como previsto, estou destruído. Ainda com os olhos semi-abertos passo a mão pela cama, a procura de meu amor, mas só encontro o vazio. O susto me obriga a abrir os olhos com urgência e a me levantar num pulo. A dor de cabeça me toma no momento em que adrenalina abaixa. Como eu poderia ter esquecido? Hoje Clarisse dá aula pela manhã. Torno a jogar-me na cama e quando dou por mim cochilei.
Nesta segunda vez acordo mais animado, ainda sinto dor de cabeça, mas meu corpo não mais está cansado. Desta vez, ao levantar-me percebo que há um bilhete e uma cartela de comprimidos pela metade na cabeceira: “Para a enxaqueca. Fique bem!”
A caligrafia sempre delicada de Clarisse, hoje, está contorcida, desleixada. Sinto por ela, provavelmente escrevera o bilhete na pressa com uma violenta ressaca. Bem provável chegará em casa reclamando que não deu uma boa aula. Mesmo as aulas na igreja sendo simples, para um público, na sua maioria,despreocupado, Clarisse sempre quer dar o melhor, e se esforça para que as aulas se igualem a uma escola de profissionais. Claro que ela sabe que este não é o caso, a estrutura não permitia, e o público das aulas tampouco, mas assim é Clarisse, dedicada ao extremo a tudo que se propõe a fazer.

Decido surpreendê-la. Olhando no relógio, faltam menos de meia hora para que ela retorne. Não sou bom na cozinha, faço no máximo um arroz com ovo, então eu decido abrir o aplicativo de delivery de comida em busca do nosso restaurante favorito, o mesmo não abre hoje, então procuro por outro que apresente um cardápio similar.
Enquanto a comida não chega, começo a dar uma pequena arrumada na casa, não há muito a se limpar, como geralmente só estamos em casa durante a noite, temos pouco tempo para desorganizar o local, mas faço a cama, varro o chão, rego as poucas plantas que temos...

A comida chega, mas Clarisse não.

Olho impaciente para o relógio, ela nunca foi muito de atrasar, mas nunca se sabe… Talvez por ela não estar tão bem, graças a ressaca, ela tenha tardado para iniciar a classe e por isso esteja demorando mais para terminar.

A comida esfria e Clarisse ainda não chegou.

Não sinto fome, não sinto sede, não tenho dor de cabeça, tudo o que sinto é o desespero começando a tomar conta de mim. Sei que ela odeia receber ligações enquanto está dando aula, mas a espera começa a ficar insustentável.
Ligo uma vez e a chamada cai direto na caixa postal. Ligo duas, três vezes. Nada. Deixo mensagem de voz, mando mensagem de texto, mas a mensagem nem chega a seu celular, como se o mesmo estivesse desligado ou fora de área. Ligo novamente. Caixa postal, caixa postal e caixa postal.

O que era dia, se torna tarde e não tenho mais dúvidas de que algo está errado.
Mas quem devo ligar se ela não atende? Não tenho contato de nenhum dos seus alunos… Devo chamar a polícia?
Procuro o número do telefone da igreja em que Clarisse dá as aulas, quando ligo uma gravação informa o horário de funcionamento e assim vejo que não está mais aberto. O desespero aumenta.

Digito os números que tenho de cor em minha mente. Na primeira chamada já sou atendido.
– E aí, cara? - sua voz parece de alguém que acabou de acordar.
– Carlos! Carlos! Ela não voltou! - o silêncio do outro lado da linha é agonizante, sinto que ele deve, assim como eu, não saber como agir, o que fazer, o que pensar.
– Espere aí, cara. - Agora sua voz está tão urgente como a minha. – Eu já estou indo aí. - ele desliga o telefone.

Carlos sem dúvidas me ajudaria. Sento-me no sofá e tento respirar fundo, tudo daria certo, a encontraremos, ela estará bem… Talvez ela tenha parado para conversar com uma vizinha, talvez ela tenha ido ajudar uma das suas alunas velhinhas a voltar para casa… Levanto-me novamente,não tenho paciência para seguir sentado, ando de um lado para o ouro da sala, os piores pensamentos se passam em minha mente. Sento-me novamente, preciso colocar minha cabeça no lugar. Tento lembrar-me se ela avisou algo, se falou que teria que ir no supermercado, qualquer lugar, mas nada me vem a cabeça. Ligo mais uma vez para seu celular e novamente cai direto na caixa postal. Sinto-me ficando ainda mais tenso, ainda mais desesperado.
Forço-me a respirar fundo novamente, Carlos já deve estar a caminho, mas aí percebo, ele mora a 25 minutos de carro, é longe, ele vai demorar! Eu tenho pressa!
A igreja é no bairro, 15 minutos de caminhada unicamente por causa da sua localização, que é no alto de um morro ligeiramente íngreme. Mas na pressa em que estou, sei que posso diminuir o tempo para 10 minutos.
Visto uma calça jeans que provavelmente não estava muito limpa, já que estava jogado perto da cesta de roupa suja, a blusa cinza é a primeira que encontro ao abrir o armário.
Coloco um tênis que já faz tempo que comprei para praticar caminhada, mas que raramente uso,  já que nunca realmente animei a me exercitar; não me preocupo em usar meias, vai ser algo rápido e procurá-las me tomariam ainda mais o tempo. Pego apenas as chaves e parto rumo a igreja.
Enquanto estou no plano corro como nunca. Ao chegar no morro subo a passos largos, mas percebo que logo perco o ritmo, estou mais sedentário do que imaginava, nem mesmo cheguei ao meio do morro e já me falta a respiração. Sou obrigado a parar. Percebo, ao olhar para o céu, que já está começando a anoitecer. Durante todo o dia só tomei um copo de água e apenas quando fui engolir o comprimido que ela me deixou. Não tenho mais idade para isso, meu corpo não mais aguenta tais excessos, um jejum tão prolongado logo após uma noite de farra e agora um exercício pesado. Mas isso não pode me parar, isso não importa! O que importa é que preciso encontrar Clarisse.
Meu corpo reclama, minhas pernas ardem, meus pulmões pedem socorro, meu coração bate tão forte que consigo sentir seus batimentos martelando em meu pescoço.
Vejo a igreja e  reúno minhas últimas forças para correr até a porta de entrada que se encontra fechada, bato, mas as portas não se abrem. Sei que a administração fica no fundo do prédio da igreja, e sempre fica alguém por lá. Dou a volta no prédio até encontrar a entrada da administração e lá bato na porta com urgência, estou ofegante, estou tremendo.
A porta abre vagarosamente, tenho vontade de empurrá-la para abrir de vez, mas me contenho.
Mais vagarosamente ainda, a mulher coloca seu rosto pela fresta que abriu na porta, parece inicialmente assustada, eu estava esmurrando a porta sem dó. Contudo, ao perceber que se tratava de mim, ela se acalma, termina de abrir a porta e sorri gentilmente.
– Lucas, é você! Quanto tempo! - não lembro seu nome, sei que fomos apresentados anteriormente, não sei muito bem quando, as memórias se confundem em minha cabeça nesse momento, contudo me lembro o suficiente para saber que ela trabalha na igreja cuidando da limpeza, provavelmente agora deve estar limpando tudo para que amanhã os fiéis, logo cedo, possam encontrar a igreja limpa. Nada mais sei sobre a senhora a minha frente, com aparência de ter uns 50 anos, cabelos curtos, rosto redondo, pele morena e nariz largo e voz gentil. Ela, porém, parece me conhecer muito bem.
– Ela não voltou para casa! - ignoro os bons modos, vou direto ao assunto.
– De quem você está falando? – ela pergunta ainda serena.
– Clarisse. – meu fôlego agora já está controlado. – ela veio dar aula hoje de manhã, mas não voltou até agora.
A senhora a minha frente me olha sem entender nada, sua boca entreaberta, seu olhar levemente perdido, assim como eu deve ter ficado preocupada, talvez esteja pensando no que pode ter acontecido, tentando se lembrar de algo que possa ter ocorrido mais cedo e que justifique esse desaparecimento.
– Você a viu hoje? Você sabe de algo? - insisto, acordando-a de seu transe.
– Lu-cas, eu e … Não… - ela gagueja.
– Lucas! Cara! - antes mesmo que a senhora tente terminar escuto a voz de Carlos, que corre a meu encontro. – eu pedi para você me esperar! - reclama.
– Você ia demorar, eu precisava começar a procurá-la!
– Eu vim correndo, ultrapassei sinal vermelho para chegar mais rápido, provavelmente vou receber uma multa por excesso de velocidade! - esbraveja.
– Eu ia voltar, só precisava começar logo! Ela pode estar em perigo! - me defendo.
– Vamos voltar para sua casa. - agora diz mais calmo.
– Eu pensei que você iria me ajudar a encontrá-la. - digo.
– Ela já está em casa. - fala. Eu me calo sem entender nada. – eu passei lá antes, ela me recebeu, disse que você não estava lá. Pedi para ela ficar lá, que eu ia te procurar, espero que pelo menos ela me escute. - Carlos diz sem me olhar nos olhos.
A senhorinha que limpa a igreja vê a toda a cena e  parece completamente perdida, confusa, não a julgo, neste momento, até mesmo eu estou.
– Você tem certeza? - pergunto, não tem como nada de errado não ter acontecido, ela passou horas fora de casa, não atendia o telefone, não deu nenhum sinal de vida, e agora, justo no momento em que saí para procurá-la, ela retorna?
– Sim. - diz, mas eu o conheço. Tem algo mais nesta história.
Saio em direção a rua sem me despedir, vejo de longe o carro de Carlos estacionado totalmente torto e pior, ele deixou a porta aberta, ele deveria estar realmente desesperado.
Escuto, as minhas costas, ele pedir desculpas a senhorinha da igreja, dizer que foi tudo um mal entendido.
Sento no banco de passageiro e espero por ele.
Assim que Carlos entra no carro, antes de ligá-lo, o mesmo respira fundo e me olha com seriedade.
– Você está bem, cara? - pergunta.
– Há algo mais que você queira me contar? - pergunto, preparando-me para o pior. – Você está estranho. - digo.
– Eu sei. - ele concorda. – mas você não me respondeu. - insiste.
– Eu estou bem, se ela estiver bem, eu estou bem. - digo.
– Você me deu um susto, cara. - Carlos dá partida no carro.
– Desculpe, eu fiquei preocupado com ela, você entende, não entende?
– Eu sei, por isso vim… A gente precisa espairecer um pouco, amanhã a trilha ainda está de pé?
– Ah, Carlos, não sei, eu ainda estou acabado, e preciso saber o que aconteceu, você conversou com ela? Sabe o que aconteceu? - pergunto. Como estamos de carro chegaríamos bem rápido, mas eu precisava ter uma prévia do que me esperava ao retornar a minha casa.
– Não, só vim atrás de você mesmo, a igreja foi o primeiro lugar que pensei, ainda bem que estava lá. - diz.
– Mas ela parecia bem? - insisto.
– Não sei. - diz ao virar a esquina e assim entrar na minha rua. Carlos desacelera. Ele está sério, o que me diz que há sim algo errado, mas que por algum motivo ele não quer me dizer.
– Tudo bem. O importante é que ela voltou. - afirmo.
O carro pára quando chegamos frente ao prédio em que vivo. Antes de me deixar sair, Carlos retorna ao assunto da trilha.
– Amanhã estarei aqui às 7 da manhã. - diz.
– Carlos…
– Vai ser bom, natureza, ar livre, tranquilidade. Depois de um dia como esse, vai ser bom. - insiste. – Eu vou estar aqui, quer você queira ou não! - desde que chegara na igreja Carlos está sério, raramente o vejo assim, se tem algo que Carlos desde pequeno é, é brincalhão, vê-lo assim me assusta.
– Tudo bem. - concordo por fim, é melhor ir, deixá-lo feliz, sei que Clarisse quer fazer a trilha também, e eu também sempre quis… Confirmo que irei.
Despeço-me de Carlos e entro no prédio decidido a pedir esclarecimentos. Confio em Clarisse 100%, me nego a acreditar que ela estaria com outra pessoa, mas esse desaparecimento era estranho e o seu reaparecimento ainda mais.
Abro a porta do apartamento e meus olhos a buscam por todos os cantos, escuto então o barulho do chuveiro, corro ao banheiro e por trás do box a encontro. Quero gritar, quero brigar, quero uma explicação minimamente plausível, mas ao me ver, ela sorri, ela está bem. Não me importo se ela está molhada, debaixo d'água e se estou de roupa, abro o box, a abraço forte e a beijo. Deixo as justificativas para depois.

domingo, 26 de julho de 2020

1. You Are (parte 1)




“No momento em que a vi pela primeira vez eu tive a certeza que eu tinha encontrado a pessoa certa. Não, não estou falando que foi amor à primeira vista, afinal já estávamos conversando pela internet havia um bom tempo, a sua insegurança conseguia ser maior que a minha, e não a julguei por isso, há tantas histórias com fins desastrosos, trágicos,  é difícil confiar assim, 100% em alguém que você conheceu virtualmente. Contudo aquele encontro serviu para que eu percebesse que a partir daquele momento você sempre estaria na minha vida, nem que fosse apenas uma amizade, aquele seria um encontro de muitos que ainda viriam. 
No final eu não estava errado, três meses após nosso primeiro encontro eu já estava te pedindo em noivado, sempre fui ansioso, e como tinha toda a certeza de que era você quem eu sempre esperei, não enrolei ao me ajoelhar na sua frente e declarar-me. Você sorria, seus olhos castanhos que na luz do sol brilham e ficam cor de mel, estavam marejados, você sempre foi assim, emocionada até demais, não é necessário muito para te fazer chorar, assim como não é tão difícil te fazer gargalhar. 
Você aceitou.
Primeiro você me conquistou com sua conversa animada. Suas mensagens sempre eram positivas e você sabia o que me dizer nos momentos certos, eram quase um contrapeso a mim, que sempre fui muito reclamação. Você me obrigava a ser mais positivo, a olhar o lado bom das coisas que eu achava ruim. Nem sempre funcionava, mas amenizava muito essa minha negatividade. Depois quando te vi ali, ao vivo, de perto, não vou mentir. Não preciso mentir! Você conseguia (e ainda consegue) ser mais linda ao vivo. Fotos ou chamadas de vídeo não lhe fazem jus. Seu cabelo castanho levemente ondulado que vai até os ombros, suas tímidas sardas ao redor do nariz, sorriso largo, dentes perfeitos, filha de dentista, tem uma mania até meio neurótica com os cuidados com dentes; eu não sou alto, você também não é, isso facilitou bastante as coisa para gente; com traços naturalmente delicados… Você é perfeita do jeitinho que você é, com seus vestidos floridos, de todos os tipo, longos, curtos, com manga, rendados, bordados… Flores são sua paixão, por isso posso dizer que nunca errei um presente, bastava passar numa floricultura, das flores mais simples até as mais frondosas, você gosta de todas. 
Você trabalha com arte, na galeria que você trabalha, um quadro (do qual não faz muito sentido para mim) pode custar três vezes o meu salário do mês. Você sempre ri quando falo que vou comprar uma tela em branco e jogar tintas de cores aleatórias e tentar vender, ficar rico; depois de rir você diz que eu deveria tentar, pois aqueles riscos que para mim seriam aleatórios podem dizer muito sobre o que sinto, revelar o que guardo por dentro. Talvez um dia eu o faça, e espero que você possa ver o quanto eu te amo.
Meu trabalho não exige muita imaginação, ou o aflorar do sentimento como o seu, conserto computadores, celulares, TVs, algo mecânico, o que me move é a curiosidade do algo novo, uma nova tecnologia, procurar resolver um enigma, descobrir com precisão um defeito e consertá-lo. Mundos diferentes, mas nos complementamos, não há disputas sobre qual é a melhor visão, quem está certo, quem tem razão, as diferenças não sobrepõem nosso amor. Simples assim, somos um para outro e assim sempre seremos...” 
Palmas solitárias ecoaram pelo pequeno quarto.. 
– Cara, ela vai adorar. – Carlos é um gordinho, moreno, com cabelo cacheado que vai até um pouco abaixo de sua orelha. Meu amigo de infância, crescemos na mesma rua, quem nos via sempre juntos poderia até cogitar a possibilidade de sermos irmãos ou primos, mas as diferenças físicas eram gritantes. Carlos desde pequeno era gordo e baixo, já eu parecia ser alto, pelo menos quando comparado a ele. Magricelo, com braços finos e dois gravetos como perna, branco feito leite. Hoje nós dois parecemos bem menos bizarros, continuo branco feito leite, mas não sou mais tão magro, não pareço tão desengonçado como antes, tive azar de crescer apenas até os 12 anos, o que pouco a pouco me tornou o mais baixinho, já Carlos cresceu até os 15. Frequentamos as mesmas escolas, passamos toda a infância nas mesmas salas de aula, só nos separamos quando ele foi para faculdade de biologia e eu fiquei no curso de técnico de computação. Ainda assim, três anos atrás eu o procurei para falar sobre ela, sobre nosso primeiro encontro, falar sobre a mulher que em breve chamarei de esposa: Clarisse.
– ficou perfeito. - Carlos encerra as palmas. 
Em conjunto decidimos não escolher muitos padrinhos para o casamento, apenas um padrinho do meu lado, e uma madrinha do lado dela.
– Na verdade eu ainda não tinha terminado. – digo um pouco sem jeito.
– Sério? – agora ele também parece sem jeito. – relaxa cara, tá perfeito, ela vai amar, tenho certeza que ela vai inundar aquele altar, vai por mim. – ele se aproxima mais de mim, segura meus ombros e sorri confiante, tentando passar um pouco da sua confiança para mim. – Só está meio grande. – ri. – eu ainda quero ir para festa hoje. – acabo relaxando e rindo também. 
– Acho que empolguei na escrita dos votos. – confesso. – Há muito a se dizer sobre ela, sinto como se nada que eu dissesse fosse o suficiente. 
– Ah, cara. – ele ri extremamente empolgado. – você muito apaixonado. – gargalha. 
– Eu estou me casando, claro que estou apaixonado. – Carlos se apruma e me olha orgulhoso. 
– Eu estou muito feliz por vocês. - diz. – Sério, vocês serão muito felizes, e como padrinho eu vou testemunhar isso. - nos abraçamos fortemente, ele já estava há pelo menos duas horas tentando me acalmar, o nervosismo e a ansiedade estavam tomando conta de mim, hoje seria um dia importante na minha vida, e eu só queria que tudo fosse perfeito. 

Clarisse havia sido a responsável por planejar tudo, e claro, as flores eram predominantes na decoração, no altar, entre os banco, por toda parte…
A expectativa é imensa, os convidados chegam aos montes e assim como eu, anseiam para ver a noiva. Meus pais se juntam a Carlos na tentativa de me manter sereno, mas tudo some no momento em que escuto a primeira nota da marcha nupcial, ela chegou, ela está vindo. 


– Clarisse Almeida Paes, você aceita o Lucas como seu legítimo esposo?
– Aceito!
– Lucas Augusto Ramos Santana, você aceita a Clarisse como sua legítima esposa? 
– Aceito. 

sábado, 25 de julho de 2020

Ghost of You

Lucas e Clarisse se conheceram virtualmente e logo se tornaram um casal de marido e mulher. Juntos enfrentam os dramas e as felicidades comuns de qualquer casal contemporâneo, contudo, tudo munda com um acidente.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Postagem Surpresa (Conto Novo)

Oi oi, Eu sei, não apareço aqui desde 2017, bem provavelmente vocês nem mais tentam mais entrar por aqui, mas ainda assim voltei... Quero dizer, não posso afirmar que este será um retorno definitivo e que sempre estarei atualizando o Blog, mas me comprometo a tentar postar algo novo vez ou outra, nada de pausas de 3 anos.

Talvez você esteja se perguntando o que me fez voltar logo agora, e não, não foi a pandemia (pelo menos não só isso), a razão pela qual volto a postar foi um novo desafio que me foi proposto em um grupo de escritores no Facebook.

O Desafio, basicamente, consiste em escrever um conto ou um mini conto inspirado em uma musica ou com um personagem idoso (comemoração ao dia do rock e ao dia dos avós), claramente que para participar tem-se que seguir regras e como previsto (para quem me conhece no pessoal) minha incapacidade de focar em algo me impediu de entender por completo as regras do desafio e apenas apos três dias escrevendo, prestes a postar a historia para vocês, que reli tais regras e percebi que eu não estava de acordo com o solicitado para participar do desafio.

Pensei em reescrever a historia de modo que a mesma pudesse ser inscrita no desafio, pensei em começar uma historia nova, pensei em simplesmente desistir de retornar a escrita, contudo, no fim das contas decidi postar o mini conto da forma que escrevi, sem alterações, fora das regras, sem participar do desafio.

O principal motivo dessa decisão se dá ao fato de eu ter gostado do conto que escrevi. Não digo que é minha melhor historia nem que a mesma é perfeita, mas, levando em consideração ao tempo que me afastei da escrita, creio que "voltei" numa forma muito agradável, pude perceber um pequeno amadurecimento na minha escrita, o que me orgulho muito, mas ainda tem muito da forma que eu escrevia antigamente, o que me indica que não esqueci das minhas raízes.

Se escreverei um novo conto para participar do desafio ainda é uma incógnita, mas os infomarei caso a resposta seja positiva.

Para o conto que postarei nos próximos dias me inspirei na musica Ghost Of You, do My Chemical Romance.

As postagens se darão da seguinte maneira:

25/07 - Sinopse
26/07 - Capitulo 1
27/07 - Capitulo 2
28/07 - Capitulo 3
29/07 Capitulo 4 (Final)