quinta-feira, 30 de julho de 2020

Exile - Microconto Desafio Literário

Demorei para decidir-me, mas cá estou postando meu meu microconto para o desafio do Grupo Fábrica de Histórias.

Título: Exile
Número de Palavras: 499 palavras
Autora: Fernanda Neves
Baseado na Música: Exile da Taylor Swift (Feat. Bon Iver)




As nuvens densas deixam um ar melancólico que transparece nas faces penosas dos ali presentes. 

O velho casarão, em meio a enorme fazenda, parece pequeno. Ao longe os cavalos pastam e a plantação de girassóis começa a dar mudas, em breve o amarelo tomará conta da terra, mas a expectativa da próxima estação não alegra o coração de ninguém.

Memórias martelam a mente de Marcos, a cena se repete quase como um déjà vu... As constantes discussões, o carro velho estacionado frente a casa, a mala feita às pressas, a porta da sala fechada na sua cara, ele abrindo a mesma e correndo atrás dela na esperança de que ela desista, mas no meio do caminho é ele quem desiste. Ele sabe que não há mais o que fazer... 

Agora, após anos, a cena se repete frente a seus olhos. Ele já viu esse filme anteriormente e ele não gostou do final. 

A primeira vez foi com sua esposa, da qual passara conturbados 6 anos da sua vida. Quando a mesma partiu, o deixou com a filha do casal, Vivian com apenas 5 anos. A criança presenciou tudo a distancia. Pequena demais para entender o que estava acontecendo, ela viu, sem reagir, seu pai chorar e implorar... E assim foi pelos anos que se seguiram, uma relação de pai e filha em que os altos e baixos se misturavam numa frequência frenética, tornando toda lembrança boa e ruim igualmente marcantes na mente de ambos. Marcas que com o tempo transformou a relação em algo frágil e inseguro.

Treze anos se passaram e Vivian se tornara uma jovem difícil, Marcos não estava preparado para essa fase. A adolescência que ele vivenciara foi completamente diferente da que a filha quer viver... A fazenda e a cidade pequena não lhe preenchiam como preenchiam a Marcos, e o amor dela por uma rapaz mais velho, com fama de encrenqueiro, não ajudava. Sim, o rapaz parecia ter se ajeitado após começar a se relacionar com Vivian, estava se esquivando das confusões que sempre causara, até mesmo a sua forma de falar estava mais correta, mas um passado de inconsequências o perseguia pela cidade minúscula e isso era algo que Marcos não conseguia ignorar. 

Agora lá estavam eles, Marcos chora silenciosamente frente a porta pela qual sua filha acabara de sair, e enquanto ela abraça o namorado, que sussurra algo em seu ouvido que a faz sorrir, ele percebe que novamente está paralisado, nada faz. Novamente ele é abandonado e pior, dessa vez ele realmente estará sozinho, sem sua pequena para defender.

 Antes de entrar no carro de seu namorado, Vivian olha para trás e vislumbra seu pai que está claramente arrasado. Ela se pergunta se aquilo poderia ter tido um final diferente, mas ela o deu tantos sinais, tantos avisos... Ele nunca a entendeu... Mas agora ela não seria mais problema dele, nem ele dela. 

Enquanto ela parte levando com ela todos os momentos bons e ruim consigo, Marcos se fecha novamente em seu solitário exílio.


6 comentários:

  1. Não sei por onde começar!!
    Você escolheu exile que é minha música favorita do folklore e quase afirmando que a música da minha vida.
    E eu estou completamente encantada como você deu vida à música e ficou muito, muito, muito, muito bom. E pensei em diversas formas de desenvolver esse microconto. Eu acho que sou incapaz de escrever algo tão sintético, mas sem perder o objetivo ou desvalorizar a música, mas você fez isso (outra vez) muito bem.
    Parabéns Nanda! Senti falta das suas escritas.

    Beijos, Mirela.

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    1. Muito obrigada pelo comentário, sem duvidas isso me incentiva a voltar a escrever e postar aqui no Blogger. Exile foi a ultima musica que escutei do novo álbum, mas me apaixonei instantaneamente, fico muito feliz que você que também ama essa musica, tenha gostado da minha interpretação dela.
      Muito obrigada mesmo. Bjsss

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  2. Parabéns, Nanda!
    Gostei muito do microconto!

    Beijos!

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