terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Capítulo 8



Já estou na minha segunda xicara de chá de camomila, mas ainda não sinto o efeito calmante que dizem que este chá dá.
_ Quando Nicholas vai chegar? – pergunto.
_ Não sei, acho que ele não vai conseguir sair do trabalho agora. – Demetria, que está sentada ao meu lado no sofá, responde.
_ Nicholas está trabalhando sério agora? – pergunto.
_ Se eu te contar o que ele é agora você não iria acreditar. – ela se permite sorrir pela primeira vez desde que eu cheguei aqui.
_ Eu acabei de descobrir que tenho um filho, não acho que o trabalho de Nicholas vai me surpreender muito. – digo.
_ Ele se tornou médico. – Demetria diz e eu engasgo com o gole de chá.
_ Ele é o que? – pergunto e Demetria gargalha, eu nem mais lembrava como sua gargalhada é boa de ouvir, é o tipo de risada que te faz querer rir também, não importa o quão estranho seu dia esteja.
_ Ele ainda é residente, deve estar no fim do plantão dele hoje, mas nunca se sabe, se surgir uma emergência talvez ele fique um pouco mais no hospital.
_ Inacreditável. – digo.
_ Quatorze anos. – ela me relembra.
_ Quatorze anos. – concordo. _ Terei que espera-lo para ter mais explicações? – pergunto após mais um gole de chá.
_ Não. – ela diz, colocando sua xicara na mesa de centro._ O que você quer saber primeiro.
_ Como isso aconteceu?
_ Isso o que?
_ Você ter um filho meu? Quer dizer, eu sei como, mas... Você sabia da gravidez desde o inicio?
_ Não, claro que não. – ela mexe a cabeça negativamente. _ Eu estava tão fora do controle por causa do casamento depois por causa do acidente que eu nem mesmo parei para olhar para mim, eu podia ver que estava engordando, eu passava mal, tinha enjoos, mas eu pensei que era estresse, porém um dia eu desmaiei e me levaram para o hospital e foi quando descobri que eu estava gravida de cinco meses.
_ cinco meses?
_ Não me pergunte como eu não percebi, eu sei, eu achei que o médico estava brincando comigo, eu estava mais gorda, mas eu não parecia grávida. – diz. _ Quando finalmente me convenceram que era verdade, eu entrei em desespero, sem saber o que fazer, eu não tinha feito nenhum exame, não me cuidei nem um pouco, e eu tinha bebido álcool nesse meio tempo, não muito, porém bebi. Por algum milagre tudo deu certo, tudo saiu certo, ele nasceu saudável e bem gordo. – eu acabo sorrindo ao vê-la contar tudo isso. Demi se levanta e vai até a estante que fica ao lado do porta-retratos que tem uma foto minha. Ela pega um álbum de fotografia, volta e se senta a meu lado. Ao abrir o álbum vejo o bebê.
_ Quando você diz gordo, não estava brincando. – eu digo e ela ri fraco.
_ O parto ia ser normal, mas quando os exames mostraram o provável peso dele, eu desisti e praticamente obriguei o doutor a fazer uma cesariana. – ela diz. _ 4,8 quilos de bebê, imagina isso? – ela vai passando as fotos. As fotos dele no hospital, logo após o parto, ele tomando o primeiro banho, no colo de Demi, no colo da mãe de Demi, no colo de...
_ Meu pai? – pergunto chocado, não esperava ver uma foto dele com meu filho.
_ Seu pai.
_ Meu pai o conheceu então. – concluo e isso me faz sentir bem, não sei por quê.
_ Sim, seu pai foi o melhor avô que ele conseguiu ser, enchia ele de carinho e de presentes, mas até do que deveria. – ela diz.
_ E minha mãe sabia disso?
_ Não sei. – Demi responde. _ Creio que sim, não é como se seu pai fizesse isso as escondidas.
_ Minha mãe nunca quis nada com ele? – pergunto.
_ Não.
_ Desde o inicio?
_ Sim.
_ Mas qual é a razão disso? Como um simples acidente se tornou uma briga incurável entre você e minha mãe? – pergunto, ela não parece gostar muito de como eu coloquei a situação, mas ela aceita e responde.
_ Quando eu e Nicholas nos aproximamos.
_ E como isso aconteceu? Você e o Nicholas...
_ Logo após o acidente todos ficaram devastados, principalmente eu e o Nick, nós dois nos sentíamos culpados, eu por te lhe apressado, Nicholas por ter te ligado enquanto você estava dirigindo... Foi um momento muito complicado para nós e isso nos aproximou muito. Nós entendíamos o sofrimento um do outro melhor que as outras pessoas.
_ Você sabe que não é culpa de vocês, não sabe?
_ Joseph, eu passei os primeiros anos após seu acidente atormentada, não tinha uma noite se quer que eu não chorasse e me perguntasse o porquê. Hoje eu estou melhor, podemos dizer que superei... Eu tive tempo para pensar, eu me arrependo muito, eu era uma Demetria, e quando comecei a organizar o casamento virei outra e eu não me orgulho disso. – eu ri fraco, pois tenho que concordar com ela nesta parte. _ Hoje eu sei que não tenho 100% da culpa, Nicholas também tem e você também tem, eu não sei dizer quem tem mais culpa, ou talvez eu saiba, mas prefira fingir que não.
_ Você não precisa se sentir assim.
_ É difícil Joseph, porque querendo ou não eu causei isso em sua vida e na minha.
_ Eu queria que tivesse sido diferente.
_ Eu também. – ela assume. _ A minha proximidade com Nicholas gerou alguns comentários, pois, assim como nós nos culpávamos, outros nos culpavam tanto quanto...
_ Minha mãe? – eu pergunto.
_ No inicio não, ela foi até bem compreensiva, tudo ficou complicado quando eu descobri que estava gravida, tudo melhorou para mim, pois eu sabia que se o pior acontecesse, eu tinha uma continuação de você dentro de mim, mas acho que piorou para o Nick, ele literalmente pirou, ele se sentiu na obrigação de lhe... Substituir. Ele entrou na faculdade de Direito, assim como você, ele vendeu todas as roupas molambentas que ele costumava usar, trocou tudo, até mesmo as amizades, ficou irreconhecível, claramente infeliz, mas a mudança de postura dele parecia agradar aos outros, sua mãe parecia mais confortada, menos triste... Só que, claramente, o falatório se intensificou. Quando fizemos o chá de bebê do Jonathan, sua prima, a Laura, você se lembra dela?
_ Sim. – respondo. _ Minha prima de segundo grau.
_ Ela mesma. Ela compareceu a festa, eu já sabia que ela era uma das que estavam a falar sobre minhas costas, mas não liguei, eu realmente queria que todos começassem a ver em Jonathan uma esperança, eu queria reunir a família, era como se Deus tivesse me dado a oportunidade de me redimir. Porém ela resolveu fazer um discurso para todos que estavam lá ouvir, e começou a insinuar que o filho era de Nicholas, e que nós já tínhamos um caso mesmo antes do seu acidente, e que Nicholas estava mudado assim por causa disso, pois o filho era dele e como pai ele teria que ser mais responsável e eu só falei que era seu para sair como a boazinha da história.
_ Eu não acredito que ela fez isso...
_ Alguns que estava presentes discutiram com ela, em minha defesa, mas muitos, principalmente do seu lado da família concordou, depois daquele diz nada mais foi igual. Sua mãe não tomou um lado logo de cara, mas eu percebi que ela se afastou, não tinha mais o mesmo interesse no neto como tinha antes, ela também começou a encher Nicholas de perguntas, como se tentasse fazê-lo confessar, o que claramente não aconteceu, pois não existia nada entre a gente. A não ser a culpa. – ela faz uma pausa. _ As coisas começaram a ficar um pouco complicado com o nascimento do Jonathan, o Nicholas encarnou o papel de pai e isso foi a gota d’água para que os que desconfiavam, começarem a confirmar. Eu tentei relevar, foi difícil, até mesmo meus pais que me deram todo apoio desde o inicio desconfiaram por um momento, sua mãe se afastou de Nicholas, não fez nada de mal, mas ela parou de falar com ele. Eu acreditava que tudo ia passar com o tempo, e de certa forma passou, sua mãe nunca mais foi a mesma, mas aos poucos ela foi afrouxando, seus familiares me ignoravam, mas eu tinha os meus e seu pai nos dava suporte o suficiente para todos, mas quando Jonathan completou dois anos eu quis coloca-lo em uma creche, eu estava vivendo as custas dos meu pais, o Nicholas começou a fazer estagio na empresa do seu tio, que além do seu pai era o único por parte da sua família que nos aceitou, e ele me dava praticamente tudo o que ganhava como se fosse pensão, mas os seus pais estavam apertados também, sem condições de pagar o hospital, eu precisava voltar a trabalhar e pra isso precisava deixar o Jonathan numa creche, quando eu fui matricula-lo eu descobri que precisava de algum documento, e eu não havia registrado ele ainda, pois, eu queria que você pudesse registra-lo, mas você não acordava. Hoje eu vejo que foi algo bobo, mas na época era importante para mim.  Eu corri atrás e para que eu conseguisse registra-lo no seu nome eu precisaria entrar na justiça, o que levaria tempo e dinheiro, duas coisas que eu não tinha. Seu pai resolveu que iria registra-lo, porém sua mãe não gostou da ideia, então o Nicholas resolveu que ele iria registrar, assim o Jonathan teria todos os direitos como seu filho, era como se você estivesse registrando, pois era o mesmo sobrenome... Quando sua mãe descobriu ela pirou. Para ela esta era a prova que faltava, os familiares que já nos atormentavam foram para cima de nós. Sua mãe que já não falava mais com o Nick, começou a brigar constantemente com ele e com seu pai, ela também começou a me difamar pela vizinhança, alguns vizinhos se afastaram de nós, eu recebia olhares horríveis quando eu saia de casa, nenhuma mãe deixava o filho brincar com o Jonathan, não foi uma época muito boa... Sua mãe infernizou tanto seu tio, que ele acabou despedindo o Nick, e como ela já não estava muito feliz, ele acabou desistindo da faculdade já quase no final, no fim foi trabalhar num bar...
_ No bar da Marissa? – pergunto, interrompendo-a.
_ Sim. – ela responde. _ Foi com ela que conseguiu meu endereço, não foi? – pergunta com um tom de humor na sua voz.
_ Sim. – ela ri fraco.
 _ Ela nunca aceitou muito bem minha decisão... – ela para um pouco, mas volta a contar sua história. _ Com o dinheiro que estava ganhando no bar Nicholas saiu de casa e alugou um apartamento pequeno na parte baixa da cidade, era um lugar horrendo, mas era o que ele podia pagar... Depois de um tempo eu acabei me mudando junto a ele, pois eu não aguentava mais viver na minha casa, e essa foi a melhor e pior decisão que eu já tomei na minha vida. Foi uma semana, uma semana inteira de paz, sem nenhum olhar recriminatório, sem ligações no meio da noite, sem ninguém gritando na porta da minha casa, sem ver o carro do meu pai sendo pichado com palavras infames ao meu respeito...
_ O que? – eu não consigo acreditar. _ Minha mãe fez tudo isso?
_ Eu não digo que foi tudo sua mãe, mas muitas dessas coisas foi ela. Joseph, quando eu digo que sua mãe pirou não estou falando que ela fechou a cara para mim um dia e ficou por isso mesmo, ela pirou, ela transformou minha vida num inferno, eu tinha medo dela, eu tinha pesadelos com ela. – vejo que ela não mente, e isso me assusta mais ainda. _ Eu não sei como descobriram nosso endereço, mas alguém contou. A única coisa que me recordo é de acordar com o barulho de vidro quebrando e de o Jonathan chorando, gritando, a testa dele sangrando... Quando fui ao quarto dele, havia uma pedra no chão, e nele um papel, no papel estava escrito: Vadia traidora. – ela para um pouco, percebo o quão é difícil para ela contar esta parte e a entendo, eu não vivi nada disso, mas eu sinto medo e raiva ao escuta-la. _ Nicholas correu com o Jonathan para o hospital e para nossa sorte a pedra passou de raspão, o machucado era superficial, mas era claro que eu não conseguiria mais viver desta maneira. Eu liguei para um primo distante meu, que vive nesta cidade, e perguntei se ele poderia me abrigar, ele aceitou me receber junto a Jonathan, no mesmo dia eu parti para cá com apenas meus documentos os documentos do Jonathan e algumas mudas de roupa para nós dois. Meus pais, alguns parentes que ainda apoiavam-nos e alguns amigos, todos juntaram dinheiro, e com esse dinheiro, após alguns meses, o Nicholas veio para cá e comprou essa casa, na época ela era horrível, mas era o que dava. O meu primo que era professor conseguiu um desconto para que Nicholas cursasse técnico em enfermagem, na época acho que ele não se animou muito, mas tinha desconto e ele precisava de emprego, acabou que ele adorou o curso, conseguiu emprego no hospital, depois fez enfermagem na faculdade federal, e há sete anos ele conseguiu entrar na faculdade de medicina. – ela suspira no final e eu suspiro junto. Não foram 14 anos, foram OS 14 anos.
_ Eu ainda não acredito que isso tudo aconteceu enquanto eu dormia encima de uma cama.
_ Não foi sua culpa.
_ Nem sua...
_ Joseph eu admiro o que você está tentando fazer aqui, e é melhor você parar por aí. – ela diz. _ Eu passei os últimos 14 anos pensando sobre tudo. Eu não tenho culpa sozinha, mas tenho culpa, eu coloquei sobre você uma pressão imensa, eu lhe fiz fazer coisas que você não faria...
_ Você mudou muito... – concluo.
_ O tempo faz isso com a gente, você logo estará mudado também. – ela diz. _ Sua mãe está com você? – ela pergunta após soltar um suspiro pesado.
_ Ela nem mesmo sabe que estou aqui.
_ Você deveria falar para ela.
_ Depois de tudo o que você disse? Tudo o que eu menos quero é falar com ela. – digo. Eu não queria acreditar que minha mãe tinha capacidade para fazer tudo isso, mas tudo batia, a forma em que todos insistiam em dizer que havia uma explicação, a forma em que todos pareciam querer proteger Demi de mim, a forma em que Demi descreveu o que passou... Era difícil de entender...
_ Joseph, eu não digo que a entendo totalmente, nem que a perdoo, mas o que ela fez, ela fez por desespero, assim como eu, sua mãe queria te defender, ela queria... Ela queria que aqueles que lhe prejudicaram pagassem, e eu entendo essa parte, ela veio para cima das pessoas erradas, mas ela fez o que uma mãe em desespero faz. Assim como eu também agi em desespero por várias vezes, eu larguei todos os que eu conhecia para trás, apenas para proteger meu filho, por temer pela segurança dele, alguns me chamariam de doida, de exagerada, mas eu temi pelo meu filho e sua mãe temeu por você. – Demi diz. _ fora que... Eu e o Nicholas estamos a anos reformando essa casa para que ela fique apresentável, as janelas ainda são novas e não são blindadas. – ela diz com um tom de humor e eu riu. _ Eu realmente não quero saber de pedras voando para dentro da minha casa novamente.
_ Ela não vai descobrir onde estou. Eu custei conseguir seu endereço.
_ Eu não duvido muito que sua mãe colocou um rastreador em você. – sinto como se ela estivesse mostrando um pouco do que ela era antes, séria, porém sempre humorada.
_ Eu não saberia o que dizer. – confesso.
_ Não precisa ser agora. – Demi diz compreensiva. _ Você deve estar cansado da viagem... Eu vou fazer algo para você comer. – diz se levantando.
_ Não precisa.
_ Você acabou de sair do hospital, e fez uma longa viagem, você precisa de alguma sustância nesse corpo. – ela insiste.
_ Você sabia que eu sai, você sabe que eu sai a pouco tempo. – concluo após sua fala.
_ Eu recebi algumas informações sobre você, não nego, se você quiser brigar, fique a vontade. – saber disso agora me incomoda, eu sei que ela tem que se esconder da minha mãe, mas uma ligação, isso era tudo o que eu precisava...
_ Não, não vou brigar... – digo e ela sorri.
_ Eu sei que falhei com você.
_ Não. – eu a interrompo. _ Você tinha seus motivos. – digo. _ E eu os aceito. Mas eu preciso lhe fazer uma pergunta...
_ Talvez não seja o melhor momento. – ela diz.
_ Eu preciso saber...  – escuto a porta se batendo. Nicholas aparece na sala, afobado, ele praticamente não mudou, o cabelo continua o mesmo, sem barba, mesma cara de bebê que eu costumava zoar, talvez ele tenha ganhado um pouco de peso, mas seria apenas esta a diferença.
_ Eu sei que você deve estar querendo me matar, mas irmão, eu te amo tanto. – ele diz e começa a chorar compulsivamente.

Continua

Este é o primeiro capítulo dos dois que serão postados ainda hoje.


Babii: Agora você já sabe de toda a história (ou não, vai saber...) Que legal, eu acho que você deveria investir, eu comecei a escrever compondo musicas que sempre foi minha grande paixão, depois dei uma passada em poesias, mas não fiquei por muito tempo, depois vim me ariscar na história longa e também me apaixonei. Muito obrigada por comentar.

Um comentário:

  1. OMG quantas revelações eu sabia que a Denise tinha feito da vida da Demi e do Nick um inferno, odeio ela e essa louça que ela se tornou e fico feliz por eles não se culparem tanto, o que a Demi descreveu é sureal e incompreensível por parte da Denise é coisa de louco forma OS 14 anos,posso dizer que não sei o que vai acontecer mais essa pergunta do Joe eu sei ele quer saber se o Nick e a Demi tem algum relacionamento, eu penso nisso Nanda mais eu não sei tocar só escrever e tenho ideia pra historias mas nunca parei pra desenvolver sabe, meu sonho é escrever um livro que possa inspirar pessoas eu quero contar as histórias de alguns lovatics e selenators e a minha, me formar em psicologia, fazer um curso profissionalizante de maquiagem e me especializar em psicologia infantil ou da mulher

    ResponderExcluir