Bom, sei bem que já estamos em meados de Janeiro e o Natal já passou, mas gostaria de postar aqui um conto que fiz para uma coletânea de contos natalinos que foi publicado no Wattpad. Confesso que venho atualizando minhas histórias por lá com mais frequencia que aqui, por isso insentivo a vocês, que ainda me acompanham, se puderem, migrarem para lá, onde terão mais atualizações das minhas histórias. Prometo não abandonar aqui completamente, mas assumo que só conseguirei me manter ativa por lá mesmo. Deixo aqui meu perfil: @NANDAcNeves.
Sobre esse conto, basicamente é o meu conto mais o conto de outros autores incriveis, deixarei a coletânea completa aqui também para que vocês possam ler todos os contos e sentir que o clima bom do natal ainda não passou kkkk : Link da Coletânea
Agora sim, conto a baixo:
As luzes de natal encantam a crianças e adultos. Mesmo já passando das 21 horas, a praça decorada com pisca-piscas, enfeites no formato de anjos, sinos e papai noéis de todos os tamanhos, e uma grandiosa árvore de natal com luzes de led que projeta diferentes padrões a todo instante, estava cheia de pessoas a tirar fotos da bela decoração. O coral de crianças não mais cantavam as músicas natalinas, mas os vendedores ambulantes continuavam ali, aproveitando a noite de grande movimento que antecede o natal.
Pipoqueiros vendem sua pipoca salgada e doce, amendoins torrados e cocada. A noite não está quente, mas os vendedores de picolé gritam e disputam a clientela com seus sorvetes de sabores variados; porém os que mais estavam fazendo sucesso eram os vendedores de algodão-doce, que rapidamente vendiam seu estoque. No meio de todos esses vendedores, tem o João.
O ano não havia sido fácil para ninguém. Para João, de 12 anos, moleque de pele negra e corpo franzino, muita coisa tinha mudado entre o dia primeiro de janeiro até hoje, dia 24 de dezembro. Sua mãe, Heloísa, que trabalhava dobrado como faxineira em um hotel durante a parte da manhã e nos finais de semana; e em um supermercado na parte da tarde e noite, agora trabalhava apenas no supermercado. O Hotel havia fechado as portas, deixando dezenas de desempregados desamparados.
João, sua mãe Heloísa e sua avó, Dona Margarida, moram juntos num barracão de dois quartos, com um banheiro e uma mini cozinha na Comunidade Vila da Bandeira, no mesmo lugar também vive Milena, a irmãzinha de João, com seus 5 anos de idade. Milena é pequena demais para entender as dificuldades da vida... Enquanto João já sabia que nesse ano não receberia nenhum presente de natal, a irmãzinha sonhava com uma cozinha de brinquedo.
Na noite anterior João escutara a mãe chorando por toda a noite, pois a mulher sabia que não poderia realizar o desejo da filha e que a pequena menina, provavelmente, ainda jovem, já perderia o doce e puro encanto pelo natal e pelo Papai Noel.
A meta de João era simples. Ele logo cedo saiu de casa sem dizer para onde ia, rumou até um supermercado de atacarejo e comprou 4 caixas de balas de goma com um dinheiro que ele passou o ano inteiro juntando. Se vendesse todas as balas, ele conseguiria ajudar a comprar pelo menos as panelinhas de plástico para a cozinha de brinquedo que a irmã tanto queria. Talvez, em alguma loja de camelô, ele conseguisse comprar também um fogãozinho simples de brinquedo, mas essa parte era apenas uma grande talvez.
Após passar o dia inteiro, ainda lhe faltava uma caixa para vender. Aquela estava sendo sua primeira vez como vendedor e demorou um pouco para que ele se soltasse o suficiente, mas a sua habilidade para venda havia melhorado muito nas últimas horas que se passaram. Entretanto, era difícil competir com tantas opções. Na maioria das vezes, ao se aproximar de possiveis clientes, eles o olhavam de cima a baixo, desconfiados do garoto negro e miudo com uma caixa de bala de goma na mão e chinelo de dedo nos pés. Alguns, mais contagiados pelo famoso gentil espírito natalino, compravam suas balas mais por dó do que por real vontade, mas estes eram poucos e uma meta que parecia simples de início, se mostrou ser bem mais complicada no final.
A felicidade ao vender sua última bala se dissipa pelo ar ao ser inundado pela frustração. Já é quase meia-noite e João percebe que já é tarde demais para surpreender sua irmã com um belo presente. Naquela hora as lojas já estavam todas fechadas, nem o ônibus nem o metrô mais rodam nesse horário. Então uma realidade ainda mais atormentadora lhe recai sobre a mente: Ele saiu cedo de casa, escondido, sem dizer a ninguém, nem mesmo um recado havia deixado, ele tinha a esperança de voltar fazendo uma surpresa para irmã e de sobra alegrar a sua mãe, mas agora Heloísa e Dona Margarida devem estar desesperadas, achando que ele desapareceu!João havia se metido em uma bela roubada!
Sem poder pegar um ônibus, João inicia uma caminhada de 30 minutos da praça até sua casa. Ele tem medo, as ruas estão praticamente vazias, já que além de ser bem tarde, agora, a maioria das famílias já estão reunidas para a ceia de natal.
Em sua jornada rumo a sua casa ele pensa numa desculpa para dar a sua mãe e sua velha avó, mas como explicar a loucura que tinha feito? Ele não queria que a mãe ficasse brava, tudo o que ele menos queria é que ela ficasse mais triste do que já estava.
Envolto por pensamentos que não o levava a lugar nenhum, João não percebe o que está acontecendo até que tudo esteja perto demais. Um barulho de cascos batendo no chão de forma ritmada o segue. Ele olha para trás e não vê nenhum cavalo ou qualquer animal a andar ou galopar para que se justificasse aquele barulho, contudo algo chama sua atenção para o céu, um objeto que ele não consegue identificar, se aproxima dele.
Antes mesmo de pensar no que pode ser, João já começa a correr desesperado. Ele não consegue entender o que é, mas sua primeira impressão é de que um pequeno avião ou helicóptero que está a cair, e se esse fosse o caso, ele estava perdido, pois por mais rápido que ele corra, o barulho segue em seu encalço.
Ele lança um breve olhar para o alto de novo e novamente não consegue distinguir o que está a cair, só sabe que agora o objeto voador está muito próximo ao chão, e pior, muito próximo dele. Num último ato de esperança, envolto de adrenalina do seu instinto de sobrevivência, João se joga ao chão, se põe em posição fetal, fecha os olhos e aguarda pelo fim.
Seu desejo é que não haja dor, talvez ele escute uma explosão, barulho de vidros se quebrando, algo parecido... Enquanto pensa no pior que está por vir, ele também pensa em como esse dia tinha sido o pior de sua vida: a madrugada a escutar sua mãe chorosa... O dia inteiro de pé, quase que implorando para que comprassem suas balas de gomas... A frustração de conseguir o valor que precisava apenas quando já não pode mais comprar o presente da irmãzinha... E agora, para finalizar... A morte?
Enquanto esperava pelo seu fim, ele sentiu algo tocar seu braço de leve. João grita. Não de dor, não há dor, mas de medo, medo por não saber o que sentirá depois, seria esse toque o primeiro dentre os que virão logo após? O primeiro toque que antecede o seu fim? – Garoto? - uma voz masculina fala quando finalmente, João, que ainda está em posição fetal, de olhos fechados, e trêmulo, para de gritar.
Ao escutar a voz do homem João decide abrir os olhos. Ele se dá conta que ainda está no chão e que tudo a sua volta parece normal. Ele então aos poucos se desenrola e se põe sentado ali menos na calçada. Ele vê bem à sua frente o que parece ser um trenó com renas de chifres monumentais na cabeça; ele então olha para seu lado esquerdo e vê um velho homem, de barba branca volumosa que vai até a metade da sua barriga grande. Ele veste uma roupa vermelha e branca, tem no olho um monóculo e uma touca vermelha na cabeça.
O homem está curvado, olhando João com atenção, mas mantém um sorriso simpático no rosto.
João pisca duas vezes, olha para o trenó e para o velho homem; pisca novamente, coça os olhos com suas mãos de dedos pontudos e volta a olhar o homem que se mantém imóvel. Ele torna a olhar o trenó com as renas, que estão quietas, porém prontas para puxar o que quer que fosse. Então no céu tem papai noel? - João se pergunta.
– Você me vê? - o velho tem uma voz grossa, porém ao mesmo tempo doce. João não responde de pronto. – Não me vê. - o velho conclui, se põe ereto e ruma para o trenó.
João, boquiaberto, se levanta num pulo e isso chama atenção do velho, que interrompe sua caminhada até o trenó, e volta a fitar o garoto franzino.
– Você me vê? Sabe quem eu sou? - o velho tenta novamente.
– Deus? - João arrisca. Ele sabe bem que aquele velho está a usar roupas de Papai Noel, mas se ele está morto, não tinha como ver alguém além do que Deus, não é?
– Ho Ho Ho. - o homem ri com as mãos abraçando sua enorme pança.
– Não seja bobo, menino. - o velho, ainda com um sorriso largo, se reaproxima de João e o toca na cabeça. – Me chamo Nicolau, ou São Nicolau de Bira, ou São Nicolau de Mira... Mas creio que você deve me conhecer como Papai Noel. - se apresenta.
João o olha desconfiado e torna a entrar no "transe" de mirar ao trenó e ao velho de vermelho, intercaladamente.
– Não é possível. - diz após longos minutos de análise.
– Eu sei... Eu entendo. - o homem suspira e também olha seu trenó de ponta a ponta. – Você não acredita em mim, não é? Pelo menos não mais. - ele faz uma feição triste, porém compreensiva.
– Acho que não... Quero dizer... Você é real, mas o Papai Noel não existe. - responde ainda confuso.
– Mas se eu existo, e sou o Papai Noel, como o Papai Noel não existe? - o velho pergunta se tornando novamente bem humorado.
– Você é só mais um dos milhões de Papai-Noéis que ficam por aí. Não passa de um velho fantasiado. - João se emburra e dá a entender que deixará o local e o velho para trás.
– Ah! Acha que sou um dos meus amigos... Entendo. - o velho observa o garoto começar a se afastar. – E por acaso não me viste a voar? - pergunta e João para para pensar.
– É só um truque. - dá de ombros.
– Quer testar? - o velho propõe. – Seria bom ter uma companhia hoje. Talvez possa até me ajudar, estou bem atrasado.
João olha para o velho com a sobrancelha esquerda erguida.
– Isso é algum tipo de sequestro? Minha mãe não tem dinheiro para o resgate. - João ainda está bem desconfiado. – Na verdade minha mãe não tem dinheiro nenhum. - pensar em sua mãe o deixa triste novamente e preocupado, afinal, sabe que a mesma deve estar pirando atrás dele, enquanto ele conversa com um doido vestido de Papai Noel.
– Nada disso. Não quero deixar nenhuma criança longe de sua família no dia de hoje... Inclusive, eu adoraria te dar uma carona até a sua casa... Está muito tarde para um menino na sua idade estar na rua sozinho.
– E você pretende chegar com isso na minha rua? - João aponta para o trenó com um leve desdém.
– Impossível! Mas obrigada pelo convite. – João se põe a andar novamente.
– Eu posso chegar a qualquer lugar com meu trenó. - Papai Noel responde. João revira os olhos e não para de andar. – Caso não tenha percebido, nem todos podem me ver. - o bom velhinho evidencia.
João então para para observar a sua volta, não há muito movimento, mas alguns carros esporádicos passam pela rua e parecem não se impressionarem pelo grande trenó com renas reais paradas no meio da rua.
O garoto volta o seu olhar para o Papai Noel, logo agora que ele começava a acreditar no velho a sua frente, essa nova constatação o deixa desconfiado novamente.
– Por que... Por que você me perguntou se eu estava te vendo no começo? - João relembra.
– Como eu disse, porque nem todos podem me ver. - Nicolau responde sem hesitar. – Eu te vi correndo e com medo, por isso parei, percebi que poderia ser por minha causa, mas eu tinha que me certificar... Tem tanta gente doida nesse mundo. - o velho gargalha no final.
– E por que eu posso te ver? - continua o questionamento.
– Bom. - o bom velhinho abre um largo sorriso. – Isso significa que você é especial... Bem especial. - Papai Noel vai se empolgando ao dizer essas palavras. – Apenas pessoas de coração puro, de altruísmo aguçado e de alma evoluída podem me ver e me escutar. Infelizmente, até mesmo algumas crianças não são capazes de me ver... Adultos então... - finaliza.
– Você é um fantasma?
– Bom... Eu nasci há mais de 1.600 anos... Então... De certa forma, sim. - diz com um sorriso torto.
– E essas renas? Também são fantasmas?
– Ah, minhas renas... Não, elas são presentes. Elas foram dadas a mim para que eu as cuidasse e para que no dia de hoje eu pudesse cumprir minha missão.
– E qual é a sua missão?
– Ora! Qual é a minha missão? Presentar as crianças ao redor do mundo, levar a elas a felicidade! Dar-lhes algo que lhes faça feliz. - ele gesticula ao enunciar sua missão.João pensa no que dizer.
Primeiro ele fica maravilhado com tudo o que está acontecendo. Ele está vendo o Papai Noel, o verdadeiro! Mas depois ele se lembra de tudo o que passara no dia de hoje, se lembra de como lutou muito para apenas tentar garantir metade do presente que sua pequena irmã tanto desejava, e ao lembrar disso ele sente raiva.
– Então você está fazendo um péssimo trabalho. - João diz e dá as costas ao Papai Noel.
O bom velhinho o vê se afastar com um pesar no coração, como ele gostaria que João entendesse que ele não tinha culpa se o Natal cada dia menos parecia justo com aqueles que pouco tem...
João já está a uma quadra de distância de onde deixou Nicolau e suas renas quando uma luz acende em sua mente com uma ideia que seria capaz de resolver todos os seus problemas atuais.
O garoto até tinha conseguido o valor almejado, mas neste momento nenhuma loja estaria aberta para que ele compre o presente de Milena, porém O Papai Noel está ali! Ele pode conseguir o presente de sua irmã!
João volta correndo, quando o velho já se prepara para alçar voo novamente.
– Papai Noel! Papai Noel! - o garoto grita para chamar sua atenção e impedir que o bom velhinho se afaste. O seu chamar dá resultado.
O velhinho segura firme as rédeas que comandam as renas para que as mesmas diminuam a velocidade de sua decolagem.
– Venha garoto, pegue a minha mão! - Nicolau oferece uma das mãos a João, que se joga para agarrá-la no exato momento em que o trenó começa a sair do chão. O garoto então se joga dentro do trenó, que apesar de bonito, é bem mais duro do que parece.– Ho ho ho! Vamos voar meu bom garoto! - João sente uns trancos à medida que as renas começam a voar, levando com elas o trenó de madeira.
Puxões nada gentis se estendem por todo o momento até que eles ganham uma boa altura e assim se estabilizam. Sentado ao lado do velho gordo, João se perde na admiração por olhar a cidade sobre seus pés.
O vento frio em sua face não o incomoda, seus olhos estão tão vidrados a buscar por todos os detalhes; seu coração está acelerado, mas não há medo, apenas fascinação.
Quando finalmente consegue se recompor, João fita à Papai Noel, e o velho percebe que o menino já está pronto para uma pergunta.
– Sabe? Só agora percebi que nem mesmo sei o seu nome. - tem que falar alto, pois a corrente de ar que passa sobre eles, devido a velocidade em que as renas puxam o trenó, faz com que o barulho de vento seja bem alto sobre seus ouvidos.
– João. - o menino responde.
– Ah, tens um belo nome, João. - Papai Noel sorri. – E onde vive? Preciso deixá-lo em casa. - diz, mas o garoto o ignora.
– Papai Noel, posso pedir algo ao senhor?
– Claro!
– Preciso que o senhor dê uma cozinha de brinquedo para minha irmã, posso pagar pelas panelas. - diz pegando o amontoado de notas e moedas do bolso de seu short largo.
– Ah, meu garoto... - Papai Noel inicia com um sorriso triste de canto. – Não posso te garantir que serei capaz de fazer isso.
– Como não? Você não é Papai Noel?
– Claro que sou... Mas não tenho uma fábrica com duendes que produzem brinquedos aos montões, caso essa seja a sua próxima pergunta. - já deixa claro.
– Mas... Então como você presenteia as crianças? Você compra os presentes nas lojas? - ele não entende.
– Não, nada disso... - a velocidade das renas diminui, mas seguem em uma boa altura. – Eu não dou presentes a ninguém. – Mas... - João nem mesmo sabe o que dizer.– Quando eu estava vivo, sim, eu presenteava a todas as crianças que conseguia no meu povoado, mas... Como você mesmo disse, hoje sou um fantasma, ou algo parecido com um.
– Mas então para quê tudo isso? As renas, a roupa, você! - João se irrita.
– Você mesmo disse que tinha uma missão, agora me diz que não!
– Na verdade, eu não dou os presentes diretamente, apenas incentivo que pessoas especiais, pessoas como você, que são puramente boas e por isso podem me ver e escutar, presenteie as crianças por mim. - se explica.
– Como assim?
– Ao redor do mundo existem pessoas boas, pessoas que recebem minha visita, que me escutam, que atendem o meu chamado e fazem o que podem para presentear as milhares de crianças que não só precisam, como merecem receber um presente no dia de hoje. Contudo, nem todo mundo pode me ver, e nem todo mundo que me vê pode ajudar muito, mas os pedidos... Ah, os pedidos chegam aos milhares, são muitas crianças, mas poucos com coração puro. - lamenta. – Durante todo o mês, eu passo nas casas daqueles que sei que são capazes de me ver e sempre busco por novas pessoas bondosas; intercedo pelos pedidos dos que mais necessitam, para que nenhuma criança fique de mãos vazias... Aquelas crianças em que sei que os pais podem presentear, fico feliz, mas sei que muitas não tem isso, faço o que posso, as pessoas que me ajudam fazem o que podem também, mas... Isso é tudo. - sorri fraco ao ver a tristeza no olhar do garoto que agora pouco estava transbordando de felicidade.
– Ainda estou a buscar pessoas que podem me ajudar, talvez eu ainda consiga algo, nunca desisto, até o último momento, tentarei. - o velho garante, mas é tarde demais, nada mais é capaz de animar João. – Moro na Vila da Bandeira. - ele responde sem ânimo.
Papai Noel entende, o menino não quer mais ficar ali e não se sente bem com a nova revelação. Nada deixa o velho mais triste que isso, ver uma criança triste na noite de Natal.
Quando João se dá conta, ele já está em frente a sua casa. Sua mãe está com os olhos inchados na porta do barracão em que vive, as lágrimas impediram que ela percebesse a forma estranha com que o filho surge pela rua, mas ao vê-lo, ela corre em sua direção e o abraça forte.– Eu queria comprar o presente de Milena, mãe! - o menino se justifica, antes mesmo que a mãe tenha a chance de dizer alguma coisa. – Eu tentei. - A mãe não diz nada, o alívio por ver o filho só a faz chorar mais ainda, e enquanto isso ela o beija e o toca, para garantir que ele está bem.
...
João passa a noite quase que em claro, só sente o sono dominar seu corpo quando o sol já começa a nascer.
O menino não sabe que horas são, mas a luz do dia já invade o quarto que divide com sua velha avó quando escuta um barulho de buzina vindo da rua.
Crianças gritam eufóricas e o ronco de um caminhão desperta a atenção de todos. João parte para a rua, lá, sua mãe, avó e irmã já se encontram a observar um jovem rapaz descer da boleia do caminhão e abrir a carroceria.
Brinquedos que nem mesmo foram embrulhados começam a sair aos montes de lá e vão diretamente para mão das crianças carentes do bairro.
Tímida, Milena se mantém junto a família observando a bagunça que se formou ali. O jovem rapaz, que descera do caminhão, pega uma caixa tão grande que o tampa por completo. Por não estar embrulhado é bem claro do que se trata: Uma cozinha de brinquedo completa, com pia, fogão, bancada, colheres, panelas, até mesmo uma mini batedeira. O homem deixa a caixa bem em frente a família de João. Milena pula de felicidade. Heloísa não sabe se ri ou se chora, Dona Margarida abraça ao rapaz desconhecido tão forte que o mesmo chega a perder o ar por alguns segundos.
Após receber agradecimento de todos, João se põe bem perto do benfeitor e sussurra uma pergunta.
– Como você sabia? - o rapaz benfeitor não hesitou em responder de volta.
– Papai Noel me contou.