terça-feira, 20 de outubro de 2020

Capítulo 1: Inimigos a serem combatidos (Red Blood Lipstick)

Após 16 horas de puro descanso, Sofia se prepara para mais um turno no hospital, desta vez ela não faria plantão, trabalharia apenas por 6 horas e logo depois poderia ir a ONG de Vanda, onde ela lhe contará sobre o jornalista e juntas elas decidirão a melhor forma de pará-lo.




Durante seu turno ela faz seu trabalho com gosto, apesar de enfermagem não ter sido uma escolha totalmente sua, Sofia com o tempo se apaixonara pela profissão.




O seu último paciente do dia passaria por um atendimento rápido, um homem que havia entrado numa briga e precisava de alguns pontos perto da sobrancelha e abaixo do nariz.




Sofia não pode deixar de reparar no paciente a sua frente, suas feridas, apesar de precisar de pontos, não são muito grandes, e, a julgar pelo sangue que mancha toda a sua blusa social branca, a briga tinha sido feia. Seu olho já começa a inchar e sua esclerótica está totalmente avermelhada, o canto direito do seu lábio está bem vermelho e não há dúvidas de que irá ficar roxo. Enquanto ela termina os pontos na sobrancelha, ela percebe que a mão do homem está bem machucada nos ossos dos dedos, o mesmo deveria ter socado muito o seu oponente.


– Você é a chefe das enfermeiras. - o homem diz enquanto ela se prepara para começar a dar dos pontos no nariz do paciente.


– Sim. - ela responde, apesar de saber que não havia sido uma pergunta.


– Você consegue entrar no sistema? - ele pergunta e Sofia não pode deixar de estranhar sua questão. – Sou policial. - ele se justifica.


– Devo lhe parabenizar? - pergunta irônica e inicia os pontos.


– Preciso de informações do sistema.


– Você é policial, peça uma autorização judicial e qualquer um abrirá o sistema para você. - diz concentrada no procedimento que está fazendo.


– Não posso. - ele responde.


– Então não posso te ajudar.


– Você estaria me fazendo um grande favor. - Sofia termina a segunda incisão e pausa antes de finalizar o terceiro e último, para olhar melhor o paciente.


Ele é claramente forte. Alto, cabelo castanho claro, mesmo após apanhar tem o topete intacto, olhos claros, por baixo de todo o sangue, vermelhidão e inchaço ele provavelmente é bem bonito, padrão demais para o gosto de Sofia, mas ainda assim inegavelmente bonito. Contudo o que Sofia realmente quer analisar é o nível de sobriedade do homem, pois sua conversa indica um grau alterado, somado ao fato dele ter tido uma briga feia, a enfermeira aposta que o mesmo está bêbado.


– Eu estou dando pontos nos seus ferimentos, creio que isso já é favor o suficiente. - responde.


– Estou investigando a morte do meu irmão, ele veio para esse hospital, preciso da ficha dele. - responde e Sofia vê pela sua dicção que o homem não está bêbado, talvez transtornado, mas apenas isso.


– A delegada responsável pelo caso provavelmente irá resolver essa situação. - ela responde e começa o último ponto debaixo do nariz do homem.


– Não, não vai. Fecharam o caso. - ele diz e Sofia não fala nada, apenas segue com seu trabalho. – Falaram que foi overdose, mas ele não mexia com essas coisas, eu sei que ele foi assassinado. - ao terminar o ponto Sofia suspira e tenta acalmar o paciente.


– Eu sei que é difícil, mas acontece muito, muitas vezes não enxergamos que termos alguém com vícios dentro de nossa casa, a não ser quando é tarde demais. - diz gentilmente.


– Não, ele não morava com a gente, ele estava na moradia dos estudantes, ele passou na faculdade daqui e se mudou.


– Mais comum ainda, infelizmente jovens fazem esse tipo de coisa. - ela começa a fazer o descarte dos materiais que precisam ser descartados e guardar os outros que podem ser reaproveitados.


– Você não está entendendo, tem algo estranho nesta história! - ele grita.


– Senhor, eu sinto muito pelo que você está passando, mas eu exijo respeito no meu ambiente de trabalho. - diz séria e o paciente bufa. – Se a polícia determinou que o caso foi uma overdose, o senhor deveria aceitar, mas se não quer, vá a justiça e peça pela reabertura do caso, no mais, não há nada que eu possa fazer pelo senhor. Passar bem. - vira as costas. Ela odiava se irritar com seus pacientes, mas ela odiava ainda mais que gritassem com ela.


Após se acalmar, Sofia troca de roupa, bate o ponto e ruma para a ONG.


A ONG de Vanda se chama Recomeço, lá mulheres e crianças que passaram por situações de violência são acolhidas e assim tem o apoio necessário para enfrentar seus traumas. Serviços como assistência médica, psicológica, cursos profissionalizantes e abrigo temporário são oferecidos gratuitamente. A maior parte do abrigo é financiado pela própria Vanda, que decidiu seguir uma vida bem simples, com pouco, para garantir o sucesso do trabalho voluntário, mas muitos também se colocavam a disposição de fazer doações, seja monetária ou com serviços trocados, a psicóloga, por exemplo, é uma voluntária, que atende a todos sem cobrar nada de Vanda, assim como a professora de gastronomia e a professora de defesa pessoal.


Sofia também ajudava voluntariamente, principalmente na questão da assistência médica, mas seu trabalho ia muito além deste e era um cargo quase que exclusivo e muito secreto.


A ONG fica numa rua calma, numa casa que foi adaptada para receber a infraestrutura necessária: Uma cozinha industrial, uma pequena biblioteca, uma pequena quadra poliesportiva, uma sala para as psicoanálises, um pequeno consultório para emergências e primeiros-socorros, banheiros, sala de artes, recepção, um grande quarto com espelhos que servia tanto para aulas de dança, ioga e de música; dois quartos dormitórios que podiam acolher 4 pessoas cada, escritório e a secreta sala de reuniões.


Sofia estaciona na esquina e passa direto pela recepção, apenas cumprimentando Sandra, que é uma das meninas que foi ajudada pelo projeto e atualmente havia sido contratada para trabalhar como recepcionista da ONG.


A enfermeira encontra Vanda na cozinha industrial, a mesma checa a lista de pedidos feito pela professora de gastronomia, mantimentos que seriam utilizados para a próxima aula, porém antes mesmo de dizer 'oi', Sofia percebe que algo está diferente na benfeitora.


– Está acontecendo algo? - pergunta, após se cumprimentarem. Vanda hesita. Ela sempre foi de compartilhar tudo com Sofia, a mesma havia sido sua primeira protegida, mas as coisas estavam saindo do seu controle e isso era algo difícil de se admitir.


– Vanessa. - se limita a dizer.


– Vanda, ela não vai falar nada, ela pode se sair mais prejudicada falando do que se ficar calada. Não tem como ela nos denunciar sem se denunciar também - Sofia a acalma.


– Eu também achava isso, mas as coisas vem ficando complicadas... - suspira. – Há alguém investigando um dos nossos casos. - a mulher confessa e Sofia logo lembra do jornalista, claro que Vanda já sabia sobre ele, ela sempre está um passo a frente de tudo. – Eu sempre faço o possível para manter nossos casos o mais afastados dos policiais, o que é ruim, já que muitos deles cometem crimes que também não são apropriadamente julgados, mas creio que deixamos um caso passar despercebido. - Sofia então percebe que talvez ela não esteja falando sobre o jornalista.


– Matamos um policial? - Sofia pergunta sussurrando.


– O irmão de um. - Vanda responde sem pudor. – o policial não é da cidade, mas vem se enturmando entre os policiais daqui e é claro que estão tomando suas dores, em algum momento terei que ceder a pressão e reabrir o caso. Se juntam a denúncia de Vanessa com o caso do irmão do policial, nosso grupo estará em risco. - confessa.


Sofia então se lembra do paciente que atendera por último, seria ele o policial em questão? O caso parece bater.


– Eu acho que posso te ajudar. - Sofia diz. Ela facilmente pode encontrar o endereço do policial e garantir que o mesmo desapareça.


– Sim, você pode. - diz Vanda. – Você foi a minha primeira protegida, a primeira que treinei, a primeira que escalei para as missões, você me ajudou a escolher e a treinar as outras garotas, confio em você como a ninguém mais para garantir a continuidade desse grupo. - Vanda segura as mãos de Sofia e a olha diretamente nos olhos. – Preciso me afastar da liderança por um tempo, só para focar nesses problemas e resolvê-los com calma e sabedoria. - diz Vanda. – Preciso que você tome as rédeas do grupo, que lidere as outras meninas... Na verdade, quero apenas que lidere as missões que já estavam programadas e que depois fiquemos um tempo paradas, esperando que a poeira abaixe, assim tenho mais confiança que nós sairemos ilesas. - diz.


– Vanda... Eu nem sei o que dizer...


– Apenas aceite. Por favor. - quase que implora.


– E se eu falhar?


– Você nunca falhou antes, e te treinei bem o suficiente para que você saiba o que fazer... É algo temporário. Aceite.


– Tudo bem. - Sofia aceita ainda receosa. Vanda estava lidando com muitos problemas. Vanessa, uma desertora do grupo, estava ameaçando desmarcar a todas, denunciando o secreto grupo da ONG Recomeçar. O tal policial podia lhe obrigar a abrir um caso que iria ligar Sofia e Rosa (outra das protegidas de Vanda) a morte de seu irmão e isso poderia se desenrolar muito mais, chegando a todas as 4 protegida e a sua líder e protetora, Vanda. E pior, no meio disso tudo, ainda havia o jornalista.


Sofia sabia que deveria falar com Vanda sobre o jornalista, mas decide não fazê-lo, a protetora estava tão atordoada com os problemas que ja sabia da existência, não havia necessidade de colocar mais um nas suas costas. Sofia decidirá junto as outras garotas o melhor a se fazer.


                                                                                ...


Quando todas já estão presentes na sala de reunião, Sofia explica a situação de Vanda e a decisão da mesma de colocá-la temporariamente na liderança. Ninguém parece se opor a tal decisão.


O grupo era originalmente formado por 5 meninas que passaram por grandes traumas, as 5 foram acolhidas por Vanda e todas tiveram ajuda e treinamento para se tornarem as defensoras das injustiçados. Elas fazem a justiça com as próprias mãos, onde as leis ou os juízes falham, elas corrigem.


Contudo, Vanessa havia se delisgado do grupo após uma discussão. As regras de convivência e a constante doação a causa não lhe condizia e por isso a mesma fez tal decisão. Tudo estaria bem se a mesma agora não estivesse ameaçando destruir todo o projeto. Ninguém sabia se ela tinha as provas necessárias, mas ela tem o conhecimento de toda a organização, se lhe dessem ouvidos, tudo que Vanda construíra cairia em ruínas.


Nem todas as meninas que eram ajudadas na ONG subia para o grupo seleto de vingadoras, às 4 remanescentes tinham papéis essenciais para que tudo funcionasse.


Sofia havia sido encaminhada para a faculdade de enfermagem e empregada como chefe das enfermeiras no melhor hospital da cidade para que pudesse acobertar ou praticar sua justiça dentro do mesmo.


Rosa, uma menina de cabelos longos, castanho escuro, alta e magra de corpo atlético, de pele branca e olhar marcante, se formara em química. Apesar de se destacar em vários aspetos, como luta e mira, sua especialidade era produzir venenos quase que imperceptíveis aos exames post mortem.


Lisa é a que Vanda gosta de brincar falando que é a assassina perfeita. Sua baixa estatura, seu cabelo curto, liso e preto feito o céu da noite, seus traços delicados e sardas nas bochechas, a fazem parecer completamente indefesa, mas numa luta pode derrubar alguém com o dobro do seu tamanho e sua personalidade levemente sádica, a faz ter uma técnica de matar um tanto controversa.


Para finalizar tem Jane, a mais nova do grupo, mas talvez a que tenha o passado mais sombrio. O caminho para recrutá-la fora mais longo, as regras para ela foram mais rígidas, mas ainda assim a jovem de cabelos loiros escuro, de olhos grandes e pele branca e aveludada, de corpo sinuoso e rosto fino; venera Vanda como nenhuma outra do grupo, pois a mesma lhe deve a vida. A admiração é tanta que Jane chama Vanda de mãe, tal é sua importância para ela. Talvez pela infância perturbada que teve, seus métodos são de longe os mais assustadores, Jane não apenas se vinga matando, ela se vinga torturando.


– Então é isso? Vanda terá que nos deixar- Rosa pergunta.


– Não exatamente. - Sofia responde. – Vocês não sabem de tudo, mas temos mais alguns inimigos a serem combatidos. 





Olá, como prometido, ontem postei o capítulo de "A Origem de Lincoln Campbell" e hoje vim com a continuação de "Red Blood Lipstick". Como deixei claro anteriormente, esse início é bem introdutório, e aos poucos irei apresentando os personagens principais e os dilemas que irão enfrentar. O próximo capítulo também será mais leve e será o último dessa parte de introdução geral. Logo logo vocês poderão conhecer ainda melhor cada garota desse grupo e ver como elas agem. 
Então, fiquem comigo, volto na próxima semana com um capítulo totalmente novo! 







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